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Familiares na Seleção Argentina – Parte 8: Pais & Filhos (II)

Luciano Galletti

Os outros pares de pai e filho já não reúnem tantos destaques como os do especial anterior. Em 1999, havia sido a vez dos Solari (abordados no segundo especial da série) entrarem para a galeria, no que foram seguidos um ano depois, com a convocação de Luciano Martín Galletti. Ele e o pai, Rubén Horacio Galetti, como os Verón, também ficaram ligados ao Estudiantes.

O ponta-direita Rubén, que só surgiu no time depois da geração tricampeã sul-americana, teve apenas uma chance na Albiceleste. Em novembro de 1974, no início do trabalho de César Menotti, jogou 78 minutos contra o Chile, marcando um gol de pênalti. De fato, embora El Tano (que chegou a jogar no Boca Juniors e no River Plate) não fosse um atacante muito hábil contra marcadores, sabia definir para as redes.

O filho, jogador da mesma posição, retirou-se recentemente dos gramados, por problemas renais, em 2010, ainda aos 30 anos. Sua estreia foi na mesma partida em que Santiago Solari, que jogava pela segunda vez pela Argentina, marcou seu único gol por ela, em um 2 a 0 em amistoso contra o México. O outro gol da partida foi justamente de Galletti, que assim repetiu o pai ao marcar no debute.

El Huesito, ao contrário dele, conseguiu mais oportunidades. Chegou a ser testado por Bielsa em um dos amistosos pré-Copa 2002, e em outras partidas pós-mundial, época em que Luciano viveu bom momento no Real Zaragoza. Na equipe aragonesa, tornou-se ídolo especialmente após marcar o gol do inesperado título da Copa do Rei de 2004 sobre o Real Madrid, o que daria início à decadência da primeira “era galáctica” madridista. Acabou recebendo convocações ocasionais também de José Pekerman, incluindo lugar no time titular na Copa das Confederações de 2005.

O 1 x 4 contra o Brasil na final das Confederações acabaria por ser sua última partida pela Argentina, não lhe ajudando a estadia no Atlético de Madrid, para onde foi após o torneio; mesmo treinados por Carlos Bianchi, os colchoneros decepcionaram na temporada 2005-06 e Galletti, que vinha sofrendo também com uma pubalgia, perdeu as chances de aparecer na Copa de 2006.

Diego Perotti: o último filho na seleção de alguém já convocado pela Argentina

O quinto (e, por enquanto, último) caso deu-se no final de 2009, com Maradona oferecendo a primeira oportunidade de Diego Perotti na seleção. Seu pai, Hugo Osmar Perotti, é um dos maiores heróis do Boca Juniors. El Mono foi autor de dois gols nos 4 x 0 sobre o Deportivo Cali na final da Libertadores de 1978, cravando o bicampeonato continental bostero seguido. No Metropolitano de 1981 (atuando ao lado do próprio Maradona), fez três no confronto direto contra o principal concorrente ao título, o Ferro Carril Oeste. Sofreu com lesões, porém, encerrando a carreira já com 25 anos.

O Perotti pai foi um dos boquenses bicampeões sul-americanos solenemente ignorados para a Copa do Mundo de 1978 – deles, apenas o lateral Alberto Tarantini, sem clube naquela época, foi chamado. O ponta-esquerda só veio a estrear um ano depois da Copa, jogando suas duas partidas pela Argentina. Pode gabar-se que, em uma delas, o reserva que lhe substituiu em campo foi o mesmo Maradona, então jogador do Argentinos Juniors.

Perotti filho, por sua vez, recebeu a primeira chance na seleção (em um 1 x 2 amistoso contra a Espanha em Madrid) em função do bom momento de El Monito no Sevilla. Diego Perotti, surgido nas inferiores xeneizes, chegou a defender Maradona após o treinador sofrer punição da FIFA em razão das obscenidades verbais que disparou aos repórteres argentinos ao garantir a sofrida classificação da Argentina para a Copa de 2010, mas acabou não incluído no plantel que viajou à África do Sul. Demorou mais de um ano para uma segunda partida, estando nos famigerados 1 x 4 que os argentinos levaram da Nigéria em amistoso em Abuja em junho de 2011, pouco antes da Copa América, a qual ele também não esteve.

Os Juan Carlos Heredia: o pai no Sul-Americano de 1942 e o filho com a camisa da Espanha

Além deles, há outros casos que merecem rápida menção. Dois filhos de ex-jogadores da Argentina chegaram a defender outro país. Curiosamente, para ambos, foi a Espanha. O primeiro foi o atacante Juan Carlos Heredia. Na Argentina, defendeu os rivais Belgrano e Talleres de sua Córdoba natal, além do Rosario Central, do River Plate e do Argentinos Juniors.

Mas foi no Barcelona que El Milonguita virou ídolo, em momento em que o clube catalão vivia seca de títulos. Acabou chamado pela seleção espanhola em um dos primeiros jogos dela após a Copa de 1978. Porém, perdeu continuidade após voltar ao futebol argentino, em 1980, quando veio defender o River.

Seu pai tinha o mesmo nome, tal qual os De la Mata (vistos no referido especial anterior), e, como o filho, atuou no Rosario Central. Fora como jogador dos canallas que El Milonga disputara seis partidas pela Argentina entre 1940 e 1942, incluindo participação no Sul-Americano de 1942, onde foi o ponta-direita titular. Marcou uma vez, contra o Peru, neste mesmo torneio, em que a Albiceleste ficou no vice-campeonato para o Uruguai.

Mariano Pernía, pela Espanha, pôde disputar o que o pai Vicente, pela Argentina, não: uma Copa do Mundo. Vicente já declarou que não mudaria isso

O segundo foi o lateral-esquerdo Mariano Andrés Pernía Molina. Integrou o Independiente campeão argentino pela última vez, em 2002, mas sem ser figura, obtendo maior continuidade em pequenas equipes espanholas. Após destacada temporada 2005-06 pelo Getafe, foi incluído de última hora pelo técnico Luis Aragonés entre os chamados para a Copa de 2006; entrou para ocupar o lugar que originalmente seria de Asier del Horno (do Chelsea), que tivera de ser cortado. A estreia foi ótima: marcou de fora da área em amistoso contra a Croácia a um mês do mundial, onde foi titular e de onde arranjou transferência para o Atlético de Madrid.

Seu pai é Vicente Alberto Pernía, colega de Hugo Perotti no Boca bicampeão da Libertadores e também lateral (e piloto de corridas após deixar os gramados). El Tano Pernía carregou fama de jogador rude, que aproveitava para intimidar os adversários. Ela viria a lhe prejudicar por um lugar na Copa de 1978: vinha integrando a série de amistosos que a Argentina, já classificada como país-sede, estava realizando no ano anterior para preparar-se.

Pernía, que já havia ficado de fora do mundial de 1974, acabou deixando de ser chamado por pressão popular e da mídia após ser expulso em um 1 a 1 contra a Escócia, em Buenos Aires. Era a sua décima partida pela seleção. Seu filho e outros jogadores argentinos a terem passado pela Furia já tiveram um especial do Futebol Portenhoaqui.

Alexander Watson Hutton nos anos 80 do século XIX, década em que emigrou para a Argentina

Há também o caso de Arnold Watson Hutton Pencliffe. Seu pai não foi jogador, quanto mais da seleção, mas é considerado o patriarca do futebol argentino. Alexander Watson Hutton creditava ao esporte e ao ambiente acadêmico a moldagem de sua vida, após difícil juventude em sua Escócia natal, onde perdeu cedo os pais e os parentes que posteriormente lhe haviam adotado.

Quando emigrou para a Argentina, fez parte do corpo docente de escolas da comunidade britânica, dentre elas a St. Andrew’s Scots School, cujo time de futebol foi o vencedor do primeiro campeonato argentino, em 1891. Ele foi fundador de outra delas, a Buenos Aires English High School.

Foi nela que surgiu o Alumni, principal time da primeira década do século XX no campeonato argentino – cuja liga organizadora, antecessora direta da atual Associação do Futebol Argentino, havia sido fundada, em 1893, por Watson Hutton. Ambos os clubes foram abordados na recente série de especiais “Futebol e Rugby” do FP.

Arnold Watson Hutton antes de jogo pela Argentina em 1908

Arnold nasceu já na Argentina, mas vivia na Escócia das raízes, onde formou-se em medicina. Quando voltou à terra natal, foi jogar no mesmo Alumni ligado ao pai. Ao lado da família Brown (vista no primeiro especial da série e que também tinha origens escocesas), foi um dos símbolos da equipe, com a qual só não foi campeão argentino em 1908.

Em 1910, El Fantástico teve especial destaque individual: foi campeão e artilheiro do campeonato de futebol pelo Alumni, e venceu também o campeonato de rúgbi pelo Belgrano Athletic, onde também jogou futebol após o Alumni deixar o esporte no ano seguinte.

Watson Hutton filho defendeu a Argentina dezessete vezes, marcando seis, entre 1906 e 1913, sendo um dos goleadores do clássico do Rio da Prata – o Uruguai foi exatamente o único país que enfrentou. Além do futebol e do rúgbi, ele praticou ainda polo, tênis e críquete.

 

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

7 thoughts on “Familiares na Seleção Argentina – Parte 8: Pais & Filhos (II)

  • Po.. legal as materias .. mas eu gostaria demais se algum dia vcs podessem fazer alguma matéria sobre o Caniggia.. eu sempre fui mt fã dele.. acompanhei ele jogar até pelo Glasgow Rangers da Escocia.. seria mt legal ..não só pra mim, como pra todos que curtem o futebol argentino, Caniggia foi um glorioso jogador e idolo da Argentina pra sempre.. e fica facil de falar do Caniggia.. pois não é tão velho assim..sempre gostei mt do Caniggia,Ortega, Batistuta..enfim.. esses caras eram D+.. faloww..abraços..

  • Caio Brandão

    Curioso, Ezequiel. Pensei exatamente nisto hoje. O Pájaro terá seu especial sim. Mas a data redonda para isso só virá em março…

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