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Blog FP – Huracán: do céu ao inferno em 2 anos

Há 2 anos o Huracán encantava a Argentina com uma equipe talentosíssima. Comandada por Javier Pastore e treinada por Angel Cappa, aquele time era envolvente, jogava bonito e vencia. Só não chegou ao título por ser prejudicado pela arbitragem na última rodada. 2 anos depois a equipe está rebaixada para a B. Por mais que soe estranho, quem acompanha o Globo sabe que nesse intervalo, tudo apontava para esse triste fim.

Quando terminou o Clausura 2009, toda a comunidade quemera estava devastada pela perda do título naquela final contra o Vélez, que nenhum torcedor do clube jamais esquecerá. Mas havia muito mais com o que se preocupar. Era um momento de gravíssima crise econômica para os clubes argentinos, o que teve como uma das consequências a intervenção governamental, com o projeto Futbol Para Todos.

Sendo apenas um pequeno clube portenho, o Huracán sofreu particularmente com a crise. Terminou perdendo seus dois jogadores mais vistosos: Pastore foi para o Palermo e Defederico para o Corinthians, sem que o clube tenha feito caixa com essas vendas, que só serviram para pagar dívidas. Era o começo do colapso do clube de Parque Patrícios.

No Apertura 2009 a equipe tinha mantido o setor defensivo intacto, bem como o trio de talentosos volantes (Bolatti, Diaz e Toranzo, agora jogando como enganche para suprir a falta de Pastore e Defederico) da equipe que havia encantado o país. Era mais que o suficiente para fazer uma campanha intermediária. Mas não foi o caso: a depressão pela perda do título e a incapacidade de Angel Cappa de reorganizar a equipe após as perdas levaram o Huracán à lanterna do torneio, com apenas 14 pontos.

Cappa não resistiu aos resultados desastrosos e caiu ainda na reta final do Apertura 2010, substituido por Hector Rivoira. O clube perdeu jogadores como Bolatti para 2010, mas Rivoira conseguiria montar o melhor time do Huracán dos últimos 2 anos. Com uma defesa muito semelhante à do Clausura 2009, Esmerado e Toranzo como volantes, Machín e Peralta nas meias e um ataque formado por Franzoia e o jovem Gino Clara, a equipe ficou em 10o lugar, com 27 pontos. Tudo parecia ter voltado à normalidade.

O desastre começou a se desenhar quando começou a atual temporada. Afundado em dívidas, o clube perdeu quase todos os jogadores importantes, tanto os remanescentes da campanha do Clausura-2009, como Patrício Toranzo, como os reforços trazidos por Rivoira (Clara, Franzoia e Balvorin, os 3 atacantes que atuavam com frequencia no Clausura 2010, saíram) e a reposição era preocupante. As contratações mais conhecidas eram os veteranos Rolando “Roly” Zárate e Angel “Matute” Morales, ambos decadentes e em fim de carreira.

A equipe começou mal, e logo Chulo Rivoira foi demitido, para dar lugar a Miguel Angel Brindisi, ídolo histórico do clube. Logo em sua segunda partida, Brindisi recheou u Huracán de garotos das categorias e base e impôs um 3 a 0 ao arquirrival San Lorenzo que empolgou a todos e acendeu as esperanças. Mas a equipe começou logo em seguida a acumular derrotas, e encerrou o Apertura na 18a posição, com 16 pontos.

O desastre ganhou nítidos contornos quando o equipe perdeu mais jogadores dessa enfraquecida equipe, incluindo Montiglio, o melhor dos reforços do torneio anterior. Dos jogadores que chegaram apenas Javier “Cachorro” Campora conseguiu acrescentar ao clube, terminando o Apertura como artilheiro. A equipe, agora treinada por Tito Pompei, venceu uma partida e perdeu nove das últimas 10 rodadas. Assim, a derrota no desempate foi apenas a pá de cal em um clube que deu uma verdadeira aula de como se autodestruir em 2 anos.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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