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Independiente x Peñarol: revivendo a decisão de 1965

Independiente e Peñarol formam, com o Boca Juniors o trio de equipes com mais títulos de Libertadores. Serão 12 títulos em campo no confronto desta semana, sete do Rojo e cinco do Manya. Não surpreende que os dois clubes tenham protagonizado confrontos históricos pelo torneio. Um deles, a grande final de 1965.

O Independiente havia deixado para trás os 12 anos sem títulos ao vencer o campeonato argentino de 1960. E nos anos seguintes começou a montar uma nova grande equipe que restauraria a grandeza do clube. Após vencer o Nacional de 1963, o Rojo se tornaria no ano seguinte o primeiro clube argentino a vencer a Libertadores. Nascia a mística do “Rey de Copas”.

E essa equipe tinha uma característica peculiar: sua espinha dorsal era formado por jogadores formados no próprio clube. O mais destacado deles era o lendário Raul Bernao (abaixo). Torcedor fanático do Rojo, era um daqueles legítimos jogadores que a Argentina produzia naquele tempo: habilidoso e ótimo driblador, abastecia os centroavantes da equipe com bolas açucaradas. Outro destaque era o goleiro Santoro, que disputaria o mundial de 1974 pela albiceleste.

E essa equipe chegou à edição de 1965 da Libertadores para defender seu título. Vale lembrar que nos anos 1960 o torneio ainda não havia encontrado sua fórmula ideal, o que só ocorreria em 1971, quando foi adotado o sistema que seguiria até fins dos anos 1980. Nos anos 1960 cada edição do torneio tinha uma fórmula diferente, algumas bastante confusas.

Em 1965 a fórmula era simples. Cada país enviou um representante para a primeira fase do torneio (a exceção foi a Colombia, que não participou). Essas nove equipes foram divididas em três grupos de três equipes. O três vencedores das chaves se juntariam ao Independiente para as semifinais.

Ao Independiente coube enfrentar o Boca Juniors na disputa por uma vaga na final. A equipe da Bombonera vivia grandes dias, e os confrontos foram históricos. Mas ao fim de três jogos, o Rojo chegou à grande decisão. Seu adversário seria o Peñarol. Que havia simplesmente eliminado o Santos nas semifinais, em três jogos arrepiantes: o Peixe venceu por 5 a 4 na Vila Belmiro e perdeu por 3 a 2 em Montevidéu, forçando uma terceira partida, em Buenos Aires, vencida pelos uruguaios por 2 a 1.

E bastava olhar a escalação do Peñarol para ver que não havia sido por acaso que a equipe havia conseguido suplantar o Santos. No gol o grande Mazurkiewicz, que daria grande trabalho ao Brasil na copa de 1970. Forlán, que depois jogaria no São Paulo (pai de Diego Forlán) estava na zaga. No setor de ataque dois craques: Sasía (muito lembrado pelos brasileiros por sua atuação marcante na grande briga entre as seleções brasileira e uruguaia no sul-americano de 1959) e Pedro Virgílio Rocha, “El Verdugo”, que desfilou todo o seu talento em gramados brasileiros. No banco, outra lenda do futebol mundial: Roque Máspoli era o treinador.

O primeiro jogo foi duro. Jogando em casa, o Independiente tentou atacar, mas o Peñarol tinha fama de saber se defender muito bem quando preciso. E os uruguaios quase conseguiram levar o empate para Montevidéu. Mas a sete minutos do fim Bernao fez o gol que explodiu a metade vermelha de Avellaneda.

Mas em Montevidéu a história seria diferente. Os uruguaios simplesmente não deram chance, abrindo dois gols no primeiro tempo, com Gonçalvez e Reznik. No primeiro minuto do segundo tempo Pedro Rocha liquidou a fatura. Nos últimos minutos o Independiente diminuiu, mas o gol não teve importância. Naquele tempo o saldo de gols não era critério de desempate (o que teria dado o título ao Peñarol). Assim, os dois gigantes se enfrentariam de novo, agora em Santiago do Chile.

E no dia 09 de abril de 1965, uma sexta-feira, as duas equipes entraram no gramado do Estádio Nacional para decidir aquela Libertadores. Pelo lado do Rojo, Manuel Giúdice mandou a campo Santoro, Navarro, Decaria, Ferrero e Acevedo; Guzmán e Bernao; Mura, De la Mata, Avallay e Savoy. Do outro lado os aurinegros vinham com Mazurkiewicz, Perez, Varela, Forlán e Gonçalvez; Caetano e Ledesma; Silva, Rocha, Reznik e Joya.

Após a grande vitória na segunda partida, os uruguaios eram favoritos. Mas dentro de campo a história foi outra. Aos 10 minutos o Rojo já estava em vantagem, ampliada na metade do primeiro tempo por Bernao. Logo em seguida o valente centroavante Avallay ampliou para 3 a 0. Mas ainda não era o fim: os uruguaios descontaram no fim do primeiro tempo, com Joya, e prometiam vir com tudo após o intervalo. O segundo tempo seria a prova decisiva para o Rojo.

(Clique aqui para ouvir o gol de Bernao, com a narração do lendário José Maria “El Gordo” Muñoz, titular por décadas do microfone da Rádio Rivadavia)

Como seria de se esperar nos jogos de Libertadores daquele tempo, os últimos 45 minutos foram tumultuados. Ao fim, três jogadores foram expulsos: Ledesma e Sasía, do Peñarol, e Navarro, do Independiente. Mas na bola os argentinos levaram a melhor: aos 37 minutos o volante Mura marcou um dos raros gols de sua carreira. O Independiente se sagrava bi campeão da Libertadores ao vencer um grande time do Peñarol (que viria a ser campeão do torneio no ano seguinte) por um inquestionável 4 a 1. Nascia a lenda do “Rey de Copas”.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

4 thoughts on “Independiente x Peñarol: revivendo a decisão de 1965

  • Imagino que escrevesse este texto com a mão no coração, por ter de relatar algo contra o Peñarol. Osso do ofício. hehe
    Muito bom, velho. Mereces um dose.
    Abraço.

  • Tiago Melo

    o pior é que apos o seu comentario reli o post e vi como o coração manya pulsa nas entrelinhas do texto. mas juro que nao era a minha intenção, rsrs

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