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Nem só de enganches vive o futebol argentino

Nem só de enganches é feito o futebol argentino. Há uma longa lista de atletas de outras posições que fizeram sucesso no futebol brasileiro, sendo Guiñazu um importante exemplo recente. Hoje o Futebol Portenho trará os nomes de jogadores que poderiam despertar o interesse do mercado brasileiro.

Há algum tempo que os argentinos têm sofrido para encontrar goleiros de alto nível. Mas há goleiros bons o bastante para despertar interesse de clubes com problemas na posição. Um deles é o experiente (34 anos) Sebastian Peratta, do Newell’s, para muitos o melhor goleiro do Apertura.

Outro goleiro experiente (30 anos) que teve boa temporada foi Cristian Campestrini, do Arsenal de Sarandí. Assim como Peratta, é jogador competente e seguro, ainda que longe de espetacular. Não são jogadores para fazer dinheiro, mas para resolver o problema de uma equipe sem preocupações.

Na zaga a situação é mais complicada. Sebá Dominguez, do Velez e Rolando Schiavi, do Newell’s, fizeram boa temporada, mas suas passagens frustradas por Corinthians e Grêmio os tornam pouco desejáveis para outros clubes brasileiros. Caso semelhante é o de Leandro Desábato, do Estudiantes, envolvido em caso de racismo com o brasileiro Grafite, quando jogava pelo Quilmes. Como a grande revelação do Apertura no setor (Federico Fernandez, do Estudiantes) já foi vendido para o Napoli, sobrariam ainda menos alternativas.

A melhor talvez seja Hugo Nervo, que aos 19 anos foi peça chave para a boa defesa do Arsenal de Sarandí, terceiro colocado no Apertura. O jogador tem passagens pelas seleções nacionais de base e possui alto potencial.

Vale apenas notar que Nervo na Argentina é tido como jogador que pode jogar como lateral ou zagueiro de área. Mas clubes brasileiros preferem laterais que saibam apoiar, o que não é o caso de Nervo, basicamente um defensor pelo lado do campo (algo muito comum no país vizinho). O jogador no brasil poderia ser apenas zagueiro de área.

Uma posição em que a Argentina muito poderia contribuir com o futebol brasileiro seria o meio campo. Naquele país o conceito de volante-zagueiro não chegou, o que significa que não têm vez os famosos brucutus. Os volantes têm função primordialmente defensiva, mas não atuam colados na zaga. São meiocampistas defensivos, que precisam ter bom passe.

Um ótimo exemplo é Rodrigo Braña é, ao lado de Verón, um dos esteios da ótima fase do clube nos últimos anos. Sua contratação seria cara, tanto mais que já possui 31 anos, mas seria jogador para chegar, vestir a camisa e mudar o nível da meia cancha da equipe que o contratasse. Excelente na marcação e com ótimo passe, Braña reina no meio campo Pincha, para que Verón possa brilhar à vontade.

No mesmo estilo, outra boa opção é Claudio Yacob, do Racing. Aos 23 anos, Yacob é volante de alta qualidade, com passagem pelo selecionado argentino. Combinando alto poder de marcação e boa qualidade de jogo, trata-se de atleta que não existe no futebol brasileiro

Também do Estudiantes é Gabriel Mercado, que fez ótimo Apertura atuando pelo lado direito do meio campo da equipe de La Plata. Aos 23 anos, possui experiência anterior no Racing, de onde foi dispensado pelo treinador Miguel Angel Russo. Mas teve ótimo semestre no Pincha, demonstrando mobilidade, poder de marcação e boa chegada à frente.

Não se pode esquecer os atacantes. Um nome que despontou recentemente foi Denis Stracqualursi, do Tigre. Vice-artilheiro do Apertura, o jogador de 23 anos é alto (1,90) e tem faro de gol. O tipo de jogador que os brasileiros adoram ter como “referência” de seus setores ofensivos. O fato de jogar em um clube pequeno poderia facilitar a transação, embora se comente que o destino do jogador seja o Chile.

Finalmente, há duas boas duplas de atacantes que já estão entrosadas. Burrito Martinez e Santiago Silva, do Velez, e Luciano Leguizamón e Mauro Óbolo, do surpreendente Arsenal. Martinez e Leguizamón são típicos segundos atacantes, que caem pelos lados do campo, fazem cruzamentos e assistências e também marcam seus gols. Óbolo e o uruguaio Silva fazem mais o papel de referência, e são artilheiros natos (Silva foi o artilheiro do Apertura, com 11 gols).

Há prós e contras nesses atletas. A dupla do Arsenal é bastante experiente (Leguizamon tem 29 anos, e Óbolo 28), o mesmo valendo para Santiago Silva, de 30 anos. Não seriam jogadores para construir uma carreira em um novo clube, mas justamente pela idade podem não custar tão caro.

O caso de Martinez é diferente. Aos 25 anos, é pedido por muitos para a seleçao nacional, e marcou um gol sensacional na última partida do Apertura, contra o Racing. Tem muitos anos de carreira, e pode ser visto como alguém para não apenas resolver os problemas ofensivos da equipe como também como possível fonte de receita em uma futura negociação.

Seriam jogadores de alto investimento, principalmente a dupla do Velez. Mas quando se pensa no quanto clubes brasileiros freqüentemente gastam com jogadores repatriados em má fase ou com importações duvidosas (se pense por exemplo em quanto o Flamengo desembolsou para ter Leandro Amaral, Borja, Val Baiano, Diego, Deivid e não resolver seu problema ofensivo), o custo-benefício pode ser bem superior.

E não é demais lembrar: a moeda argentina vale menos da metade da brasileira, e os clubes do país vizinho estão em situação financeira ainda pior que os nossos. Pode ser a época ideal para ir às compras do outro lado da fronteira.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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