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Crise da defesa argentina e lições do passado

Partida contra a Alemanha no Mundial mostra o reflexo da defesa argentina: 4x0 vergonhoso que rendeu a eliminação

Após perder por 1 a 0 para o Japão, não só a capacidade do técnico Sergio Batista foi colocada em dúvida, mas também de toda zaga argentina. Dessa forma, parece um momento de colocar o setor em balanço – mesmo acreditando que não há bons jogadores argentinos na atual safra defensiva – e tentar ver onde que pode estar errando.

Se analisarmos muito bem as quatro equipes argentinas finalistas em Copas do Mundo, veremos alguns pontos básicos que separam o futebol argentino de outrora com o agora praticado.

Em 1930, em tempos ainda de 2-3-5, a dupla Olazar e Tramutola apresentaram uma lição atemporal na montagem de setor de uma seleção nacional: o entrosamento. A defesa titular da Argentina era Paternoster e Della Torre, ou seja, a defesa do Racing de Avellaneda.

A escolha era praticamente óbvia. Em 1929 e 1930, apesar de não ter ganho nada, o Racing tinha a melhor defesa da Argentina. Inclusive, em 1930, ficou a um gol apenas de ganhar o título de melhor defesa: 30 contra 29 do River Plate.

No entanto, falando do futebol recente, a Argentina possui duas características defensivas próprias: aquela pregada pelos defensores de Menotti e aquela dos partidários de Bilardo.

Em 1978, Menotti escalou uma linha de 4 defensores. Na final da Copa contra a Holanda foi: Olguín, L. Galván, Passarella e Tarantini. Interessante perceber que os quatro podem ser considerados zagueiros clássicos. Olguín, provavelmente, só jogou na lateral direita com Menotti e Tarantini, substituto de Carrascosa, era lembrado pelo seu fôlego, mas mesmo assim não avançava muito.

Era essa linha que proporcionava Menotti ter quase uma delantera com Bertoni, Ardiles, Luque, Kempes e Ortiz, ficando apenas Gallego enquanto xerife. O futebol ofensivo tinha uma base defensiva sólida.

Com o “Bilardismo”, a linha de 4 vira 3 zagueiros. Seja em 1986 – com Cuciuffo, Brown e Ruggeri – ou em 1990 – com Serrizuela, Simón e Ruggeri –, o que determinava a boa marcação não era o trio da zaga, mas sim quatro dos cinco meias postos em campo.

Em 1986, essa divisão era ideal: além de Enrique e Batista fazendo o trabalho de sempre, Olarticoechea e Giusti eram meias defensivos clássicos colocados nas alas para defender e proporcionar que Burruchaga avançasse, Maradona ficasse livre e que Valdano fosse o centro-avante.

No entanto, o neobilardismo recente de Maradona e Batista parece esquecer isso. O meio começa jogar para servir Messi e não marcar, chegando até colocar mais atacantes (Tévez, por exemplo) ou enganches (D’Alessandro neste jogo contra o Japão) em lugar dos meias.

Dessa forma, a espinha dorsal defensiva do bilardismo, que é o meio, fica descompensada e parece que a culpa foi somente da zaga. Um exemplo mais vívido disso foi a eliminação argentina pela Alemanha nesta Copa de 2010. Com um meio alemão “espalhado”, a Argentina não conseguiu nem marcar nem criar.

A grande resposta, talvez, para os problemas da defesa está onde fica a dorsal defensiva da equipe. No futebol antigo, era o entrosamento e no menottismo era a linha de quatro para ser a base de uma delantera. Talvez hoje, no Neo-Bilardo, as equipes precisam voltar os olhos para o Narigón e ver que problema de zaga, normalmente, é um problema de meio.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

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