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Batista: De (quase) desistente a (quase) técnico da Selección

Quando era assistente técnico de Oscar Ruggeri no San Lorenzo, entre 2005 e 2006, Sérgio Batista ficou assustado com a pressão exercida sobre ele e seu colega. A hinchada azulgrana exigia resultados de tal maneira que, por vezes, eles tinham de ficar horas trancado no vestiário até que os animos se acalmassem. Diante deste cenário e do medo da demissão a cada dia, veio a mente do Checho a frase inevitável: “Preciso procurar outra profissão”.

Mas a medida que o tempo passou, novas oportunidades mais tranquilas surgiram para Batista. Os resultados obtidos com as categorias de base da Seleção Argentina lhe trouxeram mais alegria (campeão mundial sub-20 em 2007 e medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim, em 2008). Além disso, Júlio Grondona, homem forte da AFA, se sentiu agradecido por isso. Tanto que deu ao Checho uma chance de chegar a um ponto que ele jamais chegaria se desistisse: o comando da Albiceleste principal.

Sobre esta reviravolta, e sobre o confronto vital para sua permanência no cargo (hoje, contra a Espanha), Sérgio Batista conversou com o site oficial da Fifa. Veja alguns trechos da entrevista.

Checho, em uma entrevista no Torneio Olímpico de Pequim, você confessou que tinha chegado a pensar em abandonar a carreira de técnico. Hoje, você está à frente da seleção principal. Uma mudança e tanto, não é verdade?
É verdade, cheguei a pensar assim quando trabalhava como assistente do técnico Oscar Ruggeri no San Lorenzo. Foi por causa da loucura e da doença do futebol. Não conseguia sair de campo, precisava ficar fechado seis horas em um vestiário por questões de segurança. Foi então que disse que queria me dedicar a outra coisa.

O que o perturbou mais?
Essa doença de estar brigando com o pessoal a cada três jogos e pondo em risco a própria continuidade. Aqui tudo depende dos resultados: quem ganha é Gardel e quem perde não serve para nada. Assim não dá! É necessário entender que o futebol é um jogo em que se pode perder, inclusive quando há um ótimo trabalho.

Você sempre foi tão tranquilo quanto aparenta?
Eu aprendi. Antes brigava muito. Dizia quando não gostava de algo, confrontava mais. Agora aprendi a pensar, a ficar tranquilo. O futebol não é a coisa mais importante da vida, é algo secundário. Existem outras coisas muito importantes. Mas o futebol é um jogo. Hoje estou aqui, amanhã não — é necessário encarar tudo com tranquilidade.

Não é um pouco contraditório buscar tranquilidade e ao mesmo tempo assumir como técnico da seleção?
Para mim é algo muito claro. Antes eu era visto por 40 mil pessoas, mas agora são 40 milhões. Tenho a chance de alegrar todo um povo, e por enquanto estou aproveitando. Se eu for confirmado, vou aproveitar da mesma maneira. Conhecendo a responsabilidade do cargo, é claro. As pressões são outras, muda tudo, mas ainda assim insisto: é só um jogo.

É difícil ver um treinador interino confessando que quer ficar com o cargo. Normalmente a resposta vem com frases feitas…
É que sei que sou interino, mas trabalho como se fosse treinador fixo. Quero ser técnico da seleção argentina e me sinto capacitado para tanto. Quando assumi, foi para ter esta possibilidade. Espero que não me avaliem pela vitória ou derrota nos amistosos, mas pelo meu trabalho realizado com os juniores e a seleção olímpica: o relacionamento com os jogadores, a metodologia de trabalho, o gerenciamento do grupo… A decisão não é minha, mas é claro que eu gostaria de ficar.

Como você avalia o apoio público dos jogadores?
Tenho de agradecer a eles. No aspecto pessoal, é uma satisfação enorme ver o Messi, o melhor jogador do mundo, dizer que quer vir, que se diverte e está feliz. Quero destacar o quanto todos são legais e comprometidos, como demonstraram no amistoso com a Irlanda.

É muito difícil administrar um vestiário com tantos astros?
Sim, é muito difícil. Fico observando os jogadores. Se percebo algo estranho, faço uma reunião e intervenho. Muitas vezes é melhor ter uma boa pessoa do que um bom jogador que prejudique a convivência. Enfim, estes rapazes nunca criaram nenhuma inconveniência comigo. Além do mais, são jogadores importantíssimos.

Falando de estrelas, Juan Román Riquelme voltará a ter as portas abertas na seleção?
Ele é um jogador de nível de seleção que pode contribuir muito com a equipe e com os garotos. Quando estiver bem, certamente vai ter a oportunidade que sempre teve comigo. Temos uma boa amizade, estivemos juntos na Olimpíada.

Já se falou muito sobre a personalidade do Riquelme. O que você poderia dizer a respeito?
Ele é uma pessoa especial, com uma personalidade que é necessário saber entender. Não fala muito, só quando precisa. Insisto que é preciso saber conviver com ele, pois tem uma personalidade forte.

Sobre sua convocação para a partida contra a Espanha. Como contribuem jogadores como Javier Zanetti, Esteban Cambiasso, Andrés D’Alessandro e Gabriel Milito?
Com a experiência. É necessário fazer um projeto para 2014, mas não dá para começar só com garotos. As equipes são formadas por experiência e juventude. Os rapazes aprendem com os mais velhos, dentro e fora do campo. E também temos a Copa América em poucos meses. Não me importo com a idade, mas com a forma física e futebolística.

O caso do Zanetti já é emblemático no futebol argentino…
Gosto muito dele, é um jogador que se encaixa na minha ideia de equipe. Hoje, ele é o ideal. Tem projeção, bom domínio de bola e muitas partidas pela seleção. Pode ensinar o que é a seleção aos jogadores que representam o futuro, com Pablo Zabaleta e Marcos Angeleri. Por outro lado, o Heinze pode ensinar o mesmo a Emiliano Insúa e Clemente Rodríguez, por exemplo.

E o D’Alessandro?
Está em um momento excepcional. Sempre foi um jogador espetacular e, além da habilidade, tem muita personalidade. Pode jogar em diversas posições e está em um bom momento.

E o jogo contra a Espanha? É possível ganhar?
Creio que sim. Eu respeito e gosto da maneira como os espanhóis jogam. Eles têm muitos jogadores técnicos e, diferentemente de nós, muitos anos de trabalho. Não devemos copiar a maneira como a Espanha joga, mas sim o seu projeto. Faz dez anos que o país vem trabalhando para ganhar a Euro e a Copa do Mundo com os mesmos jogadores. Nós também temos excelentes atletas de ótimo nível técnico. Tomara que seja uma bela partida. Tenho confiança de que a Argentina pode ganhar.

Voltando ao futuro da seleção, onde Sergio Batista se vê em julho de 2011?
Tomara que seja na Copa América, no comando da seleção principal. Estou trabalhando para isso, para ficar até 2014. Sei que a decisão não é minha, mas tenho o sonho, a ideia e o objetivo de estar na Copa América e na Copa do Mundo.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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