Primeira Divisão

Boca x River – Cada vez menos Super

Ainda se trata de um duelo lendário, com a força que poucos tem de parar um país inteiro. E não só nas 2 horas de bola rolando e torcedores vibrando, mas nas semanas de expectativa que o precedem. Boca Juniors x River Plate, vulgo Superclássico, ainda tem uma importância semelhante a uma final de Copa para o coração dos argentinos. Contudo, o deste quinta-feira, às 15h45, nem de longe poderá interferir no destino do campeão no Clausura 2010.


Uma triste sina recente que envergonha o jogo das multidões na Argentina desde o ano passado. Tanto na Bombonera quanto no Monumental de Nuñez, aliás, os jogos tiveram situações semelhantes. Gol de Palermo com sua imortal perna esquerda para os Xeneizes. Gol de Gallardo em cobrança de falta contra Abbondanzieri para os Millonários. Ambos clássicos terminados em 1 x 1, e com nenhuma relevância na briga pela liderança na tabela. Mas um clássico que já decidiu titulos nacionais e semifinais de Libertadores não poderia perder o brilho de graça. Na verdade, acabou pagando o pato pelos erros de percuso dos dois esquadrões.

Para o Boca, a semente do fracasso começou a ser plantada em 2008, no início da gestão Pompílio. Ali começava a nascer a briga de Martin Palermo com o recontratado Riquelme, devido ao fracasso na Libertadores. No segundo semestre, esta richa não incomodou pois o artilheiro Xeneize estava lesionado. Além disso, revelações como Viatri, Forlin, Noir e Gaitán caíram do céu para conquistar o título do Apertura 2008. Mas a crise ainda estava “germinando”.

Pedro Pompílio faleceu, mas deixou dívidas e déficities de herança ao sucessor Jorge Ameal. De modo que o clube não precisou vender figuras vitais como Ledesma, Dátolo e Palácio como não puderam trazer substitutos a altura, com fracassos até de ídolos como Abbondanzieri e Insua. Some isto ao clima pesado da briga Roman x Martin e ao fraco comando de Ischia, no primeiro semestre de 2009, para entender porque nem mesmo Alfio Basile pode fazer nada diante de uma bagunça monumental.

O resultado é o que se vê hoje: uma equipe enfraquecida, de defesa insegura e lenta (com boa culpa de Luiz Alberto nisso), meio-campo ainda mais dependente de Riquelme deixando o ataque desabastecido, sobrevivendo apenas nos lampejos artilheiros de Palermo. Sem esquecer de Abel Alves, ex-interino, que começou com discurso disciplinador aos veteranos, mas que se contradiz por implorar pela volta de Ibarra a titularidade. Este é o Boca de pior arranque da história do profissionalismo.

Quanto ao outro lado, o do River Plate, igualmente viu má fase se iniciar em 2008. Também passou por um titulo enganoso no caminho, o do Clausura, graças a Carrizo, Ortega e Buonanotte em atuações memoráveis. Mas Simeone e o então presidente José Maria Aguilar não se deram conta disso.  O goleiro, o armador e ainda El Loco Abreu se foram, deixando um time combalido para trás. Bem para trás, pois a lanterna no Apertura ficou para a história como o pior campeonato da história Millonária, tal como acontece ao Boca hoje.

Nem mesmo a necessidade de apagar tamanha vergonha foi suficiente para que os resultados voltassem. Mais uma vez, num erro igual ao do rival, não puderam se reforçar com qualidade, e ainda se equivocaram nas maiores apostas: El Ogro Fabbiani, e a volta do irregular Gallardo. A defesa continuou falha, trazendo uma eliminação precoce na Libertadores, e novas campanhas modestas no Campeonato Argentino. Contudo, esta sequência precisa parar agora, nas mãos de Leonardo Astrada, pois no próximo semestre, sem os pontos do Clausura 2008, o River passará a brigar contra o rebaixamento.

Apesar disso, na temporada atual é a equipe de Nuñez quem tem uma crise menor. Afinal, contar com um time irregular soa melhor do que a sequência de decepções do Boca Juniors.As revelações Villalva e Funes Mori, quando não se perdem em ansiedade, mostram talento ofensivo. Ferrero vem se consolidando como o bom zagueiro que tanto fez falta durante os últimos anos. E claro, Gallardo, o especialista em clássicos, leva Astrada a um leve favoritismo diante da Bombonera lotada.

Diante destas falhas construídas ao longo dos últimos anos, a mística do Superclássico fica cada dia mais distante, viva com maior intensidade nos grandes jogos do passado. Hoje, o consolo ao vencedor será o alívio de fugir das posições indignas na tabela, e ao perdedor, a tristeza de saber que a crise conseguirá ser ainda mais terrível.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

14 thoughts on “Boca x River – Cada vez menos Super

  • Javier Obregón

    Caro Rodrigo, dicordo de você.

    As dívidas do clube não são da administração Pompilio, mesmo porque, não sei se você sabe, mas ele ficou menos de 6 meses no comando do clube, oficialmente.
    Ele assumiu após Macri assumir seu posto em Buenos Aires.

    As dívidas do clube são de Mauricio Macri, basta você ir até o bairro e conversar com as pessoas que por ali estão. Culpar o presidente que trouxe Riquelme é muito fácio. Agora, analisar realmente e ver os prejuízos que a gestão Macri trouxeram não é para qualquer um.

    Respeito sua opinião, mas basta ver os fatos.

  • Igor Argentino

    Concordo com Javier. Macri está para o BOCA como Florenino Pérez para o Real Madri. Investiu muito, mas deixou o ime afundando e com dívidas.

  • thiago xeneize

    pow esta travando…

  • Igor Argentino

    Que chuvinha.Logo hoje que o BOCA ia desencantar

  • Rodrigo Vasconcelos

    Javier.

    A divida de 113 milhões de pesos lógicamente não poderia ser construída só com o Pompilio. Macri e os anteriores também ‘ajudaram’ nisso.
    Mas com Pompilio/Ameal, o clube ficou com déficit financeiro em 2008/09 de mais de 10 milhões, com gastos absurdos que não foram só contratações.
    Diga-me você de quem é a culpa…

    Abraços

  • Javier Obregón

    Continuo a lhe dizer que a culpa não de Pompilio.
    Aliás, vc mesmo já meio que tirou a onda dele ao falar Pompilio/Ameal.

    Ele assumiu em junho, e morreu em outubro. Quem criou o déficit não foi Pompilio.

    E outra, não é pq o existiu este déficit, é que ele necessariamente foi criado neste ano. São coisas contruidas ao tempo no clube.

    E claro, após investimentos malucos, e focados somente na projeção pessoal, como ocorreu com Macri, uma coisa destas ocorreria com o Boca.

  • El Tuba

    se quede calado brazuca…River-Boca siempre és cada vez más grande…solo para ustedes brasileños amargos que no…pobres diablos

  • El Tuba

    Thiago, bueno amigo

    creo que no és argentino este que escribió

  • Márcio Millo

    isso é uma aberração da natureza. mas espero que um dia isso mude.
    aguante river!

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