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Argentina e Holanda, uma ligação histórica para além das (muitas) Copas do Mundo

Não é só qualitativo, por conta da final da Copa do Mundo de 1978, a primeira ganha pela Albiceleste. Há quantitativo, e muito: o Mundial do Qatar representará simplesmente o sexto duelo entre Argentina e Holanda em Copas. Nas estatísticas do torneio, a Oranje ultrapassará os cinco duelos cada já travados pelos hermanos contra Itália, Inglaterra e Nigéria e ficará abaixo apenas da soma das seleções alemães; foram quatro vezes contra a Ocidental, uma contra a Oriental e três contra a Alemanha reunificada (e dos sete Brasil x Suécia). Boa hora para relembrar o intercâmbio das duas nações para além do casal Willem-Alexander e Máxima Zorreguieta, monarcas desde 2013 do Reino dos Países Baixos – como vem se pedindo para referir-se ao país adversário.

Um primeiro antecedente data de 1928, quando a seleção argentina embarcou pela primeira vez para fora da América do Sul – para disputar pela primeira vez as Olimpíadas, nos Jogos de Amsterdã; foi um intercâmbio ainda indireto porque a seleção da casa ficou de fora do páreo já na primeira partida, contra o futuro campeão Uruguai. A Argentina enfrentou EUA, Bélgica, Egito e duas vezes o próprio Uruguai, na campanha que rendeu a prata olímpica. Por muito tempo, ficou-se somente naquilo mesmo. Os diálogos boleiros eram mais frequentes com a antiga colônia da África do Sul, cujos bôeres/africânderes servem até hoje de base para a poderosíssima seleção de rúgbi. Foi vencendo em 1965 dentro de Joanesburgo a equipe B sul-africana, os Junior Springboks (de excursões desde os anos 30 pelo Rio da Prata, sempre invictos) que a seleção argentina da bola oval virou Los Pumas. Nos primórdios dessas duas seleções, houve até quem conseguisse defender ambas, Barry Heatlie.

A ascensão laranja ao futebol de alto nível foi mesmo tardia e se mostrou, primeiramente, a partir dos times. O Feyenoord, a primeira equipe holandesa a vencer a Liga dos Campeões, em 1970, disputou e ganhou o Mundial Interclubes daquele ano em cima de um Estudiantes tricampeão seguido de Libertadores (na época, a grafia oficial ainda era Feijenoord). Logo o rival Ajax tratou de responder com um tricampeonato seguido pela orelhuda (entre 1971 e 1973), e igualmente faturou um Mundial Interclubes sobre um contínuo vencedor de Libertadores: em 1972, sobre o Independiente tetra seguido em La Copa daquele ano até 1975.

Roberto Perfumo manda Ruud Krol pelos ares na Copa 1974. Na Copa 1978, a camisa de Leopoldo Luque mostra como o time do camisa 13 Neeskens também não era santo sem a bola. Fotos de outro craque: Masahide Tomikoshi, autor também da imagem que abre essa nota

A caçada a Cruyff em Avellaneda, no jogo de ida, pesou para que o time de Amsterdã se recusasse a repetir os duelos em 1973 – ano em que o próprio Independiente tampouco conseguiu datas para disputar a Copa Interamericana, o tira-teima entre os campeões de Libertadores e da Concacaf, então vencida por um time da Guiana Holandesa (o Transvaal). O atual Suriname ficaria independente dali a dois anos e preferiu continuar na Concacaf ao invés de disputar torneios da Conmebol. Já o Mundial foi possibilitado com a participação do vice europeu, a Juventus, e mesmo em jogo único em território italiano o Rojo enfim ganhou pela primeira vez, já na quarta tentativa, a taça que vinha lhe faltando.

O ano de 1974, então, marcou o início do histórico propriamente dito entre Argentina e Holanda. Não ainda pela Copa do Mundo, mas em amistoso em Amsterdã que já serviu de aperitivo do que os laranjas fariam na Alemanha Ocidental. No mesmo estádio olímpico dos Jogos de 1928, o “Futebol Total” da equipe da casa impôs em 26 de maio um 4-1 (na ordem assinada por Johan Neeskens, Rob Rensenbrink, Rubén Ayala, Pleun Strik e Arie Haan) prontamente ratificado dali a exatamente um mês, em 26 de junho, em Gelsenkirchen: 4-0 no jogo que abriu a segunda fase de grupos, famoso por até mesmo o temperamental marechal Roberto Perfumo pedir que o goleiro Daniel Carnevali demorasse a buscar a bola para que não levassem de dez.

Cruyff abriu e fechou aquela surra completada por Ruud Krol e Johnny Rep, mas as lembranças ruins da visita ao Independiente em 1972 e saber do colega argentino Juan Carlos Heredia (seu parceiro no Barcelona) que o pai deste quase fora sequestrado pela ditadura, somada a uma tentativa de sequestro sofrida em 1977 pela família Cruyff, pesaram para a lenda máxima do futebol holandês abrir mão de vir ao Mundial de 1978. Na imagem que abre a matéria, os holofotes acabaram se dividindo entre Daniel Passarella, Américo Gallego (depois respectivamente técnico e assistente técnico da Argentina em uma revanche dali a vinte anos), Willy van de Kerkhof, Oscar Ortiz, Neeskens, Leopoldo Luque, Daniel Bertoni e um encoberto Wim Jansen.

Dennis Bergkamp prestes a impedir uma semifinal Brasil x Argentina na Copa 1998, apesar do bote de Roberto Ayala. Fernando Redondo voltando à seleção, nesse amistoso com Edgar Davids e Michael Reiziger em 1999

Vitória escocesa cultuada (até em Transpotting) à parte, a Laranja Mecânica soube se virar sem seu líder, inclusive quando precisava não ser santa sem a bola; naquele 25 de junho de 1978, Rensenbrink esteve a uma bola na trave do Monumental de Núñez, aos 45 minutos do segundo tempo da final, de ser o artilheiro da Copa de 1978 e campeão. Mas foi prensado a tempo por Jorge Olguín e a prorrogação viu Mario Kempes tomar para si a artilharia isolada e o título: El Matador, justamente o único remanescente do lado humilhado quatro anos antes, já havia aberto o placar que o reserva Dick Nanninga igualou a nove minutos do fim. E recolocou a Argentina na frente aos 14 minutos do primeiro tempo da prorrogação. Aos 9 do segundo, o ponta Bertoni então liquidou tudo.

O quarto duelo se deu na suíça Berna, em amistoso de 22 de maio de 1979, pela festa de 75 anos da FIFA. O técnico César Menotti dessa vez não abriu mão de Maradona, mas nem Diego impediu um 0-0. E o amistoso foi decidido nos pênaltis mesmo, em disputa interminável: terminou em 8-7 para a campeã do mundo (inclusive com conversão de Dieguito) apesar dos desperdícios de Olguín e Osvaldo Ardiles para os sul-americanos e de René van de Kerkhof, Jan Peters I e Jan Peters II para os europeus. O quinto encontro tardou até aquele 4 de julho de 1998, quando uma hipotética semifinal entre Brasil e Argentina foi impedida justamente pelos holandeses. Que buscarão no Qatar reeditar esse papel de estraga-prazeres protagonizado por Patrick Kluivert aos 12 minutos de jogo e Dennis Bergkamp no minuto 90, limitando o talismã Claudio López (minuto 17) a coadjuvante naqueles 2-1 em Marselha.

Novos amistosos vieram em 31 de março de 1999 e em 12 de fevereiro de 2003, ambos no estádio do Ajax. O primeiro marcou o retorno de Fernando Redondo à seleção, encerrando brevemente um ostracismo imposto desde a Copa de 1994 a El Príncipe – antes do próprio craque optar, após mais dois jogos (ambos contra o Brasil), por renunciar aos intensos métodos táticos de Marcelo Bielsa. Dessa vez, o gol no finzinho foi de Gabriel Batistuta, mas apenas para igualar o placar aberto por Edgar Davids. No de 2003, o volante que voltava após ausência notável era Esteban Cambiasso, esquecido desde dezembro de 2000 mas então em alta após emendar o Clausura 2002 pelo River com a reconquista espanhola do Real Madrid em La Liga de 2002-03. Santiago Solari, Facundo Quiroga e Javier Saviola eram outras caras que Bielsa relembrara após tê-los descartado para a Copa de 2002. Deu Holanda, a três minutos do fim, com Giovanni van Bronckhorst.

Mudaram as estações, nada mudou: Lionel Messi, titular pela primeira vez em Copas no duelo de 2006, é o único remanescente dali. E um raro sobrevivente de 2014 também

E então as Copas do Mundo voltaram a ver Argentina x Holanda, primeiramente em 21 de junho de 2006, quando entraram em campo em Frankfurt pela terceira partida da fase de grupos, ambas já classificadas por antecipação. O 0-0 sem graça ficou para a história apenas por servir como primeiro jogo de Messi como titular em Copas do Mundo; La Pulga até havia deixado um primeiro gol na rodada anterior, nos 6-0 sobre a Sérvia e Montenegro, mas saindo do banco. Muito diferente foi o contexto no estádio do Corinthians em 9 de julho de 2014, agora uma semifinal de Copa do Mundo, embora o placar final fosse outro 0-0 – muito por conta da prensa de Javier Mascherano em Arjen Robben já no finzinho da prorrogação. Masche então exaltou a Sergio Romero que aquele era o dia “em que te convertes em herói”.

Chiquito, que nunca convencera plenamente no gol da seleção, teve mesmo sua grande noite, pegando as cobranças de Ron Vlaar (logo a primeira da Oranje) e do craque Wesley Sneijder enquanto Messi, Ezequiel Garay, Sergio Agüero e Maxi Rodríguez tornavam em vão os acertos de Robben e Dirk Kuyt. Louis van Gaal, mesmo técnico adversário no Qatar, precisou utilizar sua terceira substituição logo no sexto minuto da prorrogação para trocar seis por meia dúzia (saiu o esgotado Robin van Persie, entrou Klaas-Jan Huntelaar) e não pôde repetir a sacada de acionar o gigante Tim Krul para substituir Jasper Cillessen apenas para os penais. Van Gaal, com o grupo na mão especialmente após assumir enfrentar um câncer, conseguirá dessa vez aprontar algo?

Os argentinos mais ilustres de origem holandesa – para o futebol

É o icônico estádio do Boca que possui provavelmente a principal referência holandesa no futebol argentino. O endereço oficial de La Bombonera é o número 805 da rua Brandsen, que nasce nas margens da foz do Riachuelo e atravessa os bairros de La Boca e de Barracas – até parar relativamente próxima do estádio do Huracán (já no bairro de Parque de los Patricios). O nome da rua, empregado também em cidades pelo país, é homenagem a um dos militares glorificados no processo de independência: o francês Frédéric (que virou Federico) de Brandsen, atualmente um dos ilustres vizinhos de Evita no cemitério da Recoleta.

O holandês Van Kamenade em 1923 e a polêmica de sua convocação à seleção argentina naquele ano para enfrentar os escoceses do Third Lanark

O pai do coronel Brandsen era um diplomata holandês nativo de Arnhem e que estava em Paris a serviço na época do parto, e o sobrenome levava originalmente outra grafia – versões variam entre Brantsen, Brandzen e até Brandtzen. Mas até mesmo a seleção argentina já refletiu a pequena imigração holandesa no país, com ao menos três sobrenomes típicos dos Países Baixos (havendo possibilidade de ancestralidade nas regiões flamengas da vizinha Bélgica, cabe frisar). Eis aqueles que chegaram à seleção principal:

Juan van Kamenade, oficialmente, registrou uma só partida pela Argentina, em derrota de 3-2 em Avellaneda para o Uruguai em 8 de dezembro de 1923. Esse zagueiro foi inclusive o último jogador do sumido Estudiantes de Buenos Aires a ser aproveitado pela seleção, quando a equipe alvinegra, hoje de Caseros, vivia seus últimos anos de relevo. Van Kamenade, que vinha de defender o Boca em 1922, até chegou a entrar em campo outras vezes pela Albiceleste, em jogos não-oficiais. Notadamente, em um 1-1 com o clube escocês Third Lanark, em 24 de junho daquele mesmo ano.

Sua convocação inclusive polemizou, diante do fato sabido – segundo a imprensa da época – de que ele não seria argentino nato e sim holandês mesmo. O livro Quién es Quién en la Selección Argentina não conseguiu dados de seu local de nascimento, mas muito provavelmente Juan nasceu como Jan, Johan ou Johannes, as versões holandesas para o nome João. Naquela mesma excursão do Third Lanark, Van Kamenade também integrou um curioso combinado de Argentina e Uruguai, derrotado por 3-2 em 8 de julho.

Independiente de 1933, onde o ruivo De Jonge é o penúltimo jogador em pé, ao lado do goleiro. Curiosidades: o 2º jogador em pé é Juan Corazzo, avô materno de Diego Forlán. E alguns agachados jogaram no Brasil: Hugo Lamanna (1º) no Vasco, Vicente Rojas (3º) no Santos e Antonio Sastre (penúltimo) no São Paulo

O mesmo livro também não sabe em que ano nasceu Rodolfo de Jonge, mas cravou que foi mesmo em Buenos Aires. Formado no San Telmo, alternava-se entre volante e lateral e inicialmente estreou pela seleção de forma um tanto enganosa: em 9 de julho de 1931, em um 3-1 no Paraguai pelo troféu binacional Copa Chevallier Boutell. Isso foi pouco após o cisma causado pela nascente liga profissional, que escancarou um profissionalismo na realidade já praticado sob vista grossa desde os anos 20 e selecionou somente os clubes mais financeiramente atrativos. O Defensores de Belgrano, equipe onde De Jonge ainda jogava, não era um desses e ficou de fora.

Permanecer no Defe, por outro lado, permitiu a De Jonge e outros do “amadorismo marrom” chegarem à Albiceleste – que acabaria representada na Copa de 1934 por atletas daquelas equipes menores, uma vez que a federação argentina reconhecida pela FIFA era a da liga oficialmente amadora. O jogador não foi ao Mundial de 1934 precisamente porque teve sua qualidade reconhecida já em 1932 pelo Independiente, uma das forças da liga profissional, ainda formalmente “pirata”. Na virada de 1934 para 1935, a liga “oficial” rendeu-se aos fatos consumados e foi absorvida pela entidade profissional, desde o início campeã de público e crítica. Exatamente em janeiro de 1935, a Argentina enviada ao Uruguai para a Copa América já estava representada por atletas mais condizentes com a real qualidade do futebol do país.

De Jonge atuou em três partidas daquela Copa América – no 4-1 no Chile, no 4-1 no Peru e na derrota de 3-0 para o anfitrião Uruguai, rodada que premiou os rivais com o título. E seguiu ligado ao Independiente após pendurar as chuteiras, como empregado na sede social do Rojo. Já na virada dos anos 70 para os 80, o rosarino José van Tuyne chegou à seleção como um zagueiro “corpulento, algo lento, de forte arremate e apto para o jogo aéreo”, nas palavras do mesmo livro Quién es Quién en la Selección Argentina. Estreou em 18 de julho de 1979, em plena Copa América, como jogador do Rosario Central, seu clube desde 1974. Foram ao todo onze jogos oficiais e sete não-oficiais, como opção de banco à dupla Daniel Passarella e Luis Galván.

Van Tuyne é o primeiro em pé nessas imagens por Rosario Central e seleção. Pode dizer que foi colega de Kempes e de Maradona, os agachados mais à direita em cada foto

Curiosamente, Van Tuyne esteve na seleção por clubes de três províncias diferentes, algo raro: em 1980, estava com os cordobeses do forte Talleres (3º colocado no Metropolitano) da época, ao passo que entre 1981 e 1982 reforçava o Racing. E foi ao Mundial da Espanha, embora não entrasse em campo. Dali ele deixou um Racing desestruturado economicamente (o time de Avellaneda terminaria rebaixado dali a um ano e meio) para rumar ao lucrativo narcofútbol colombiano, destacando-se no Millonarios. Em julho desse 2022, contou ao portal Infobae o que fez após pendurar ainda aos 30 anos as chuteiras na equipe de Bogotá: havia combinado com a esposa em cumprir o contrato até o fim, sem renova-lo, para que então voltassem a Rosario para ela retomar os estudos em Direito. De fato, Van Tuyne se afastou do futebol por completo; de acordo com aquela nota ao Infobae, passou a dedicar-se à criação dos filhos e, longe dos estádios, administrar um hangar náutico e negócios rurais.

Com fenótipo já denotando mestiçaem indígena, Claudio Dykstra não chegou à seleção, mas foi um habilidoso volante em tempos complicados do Boca, seu clube de 1982 a 1987, período sem qualquer título; a grafia original seria Dijkstra, como no famoso algoritmo de computação. Por sua vez, o sobrenome de Van Tuyne é uma corruptela de Tuin, que significa “jardim” em holandês; Julio Cruz, apelidado de El Jardinero por realmente chegar a cuidar do gramado do seu Banfield nos anos 90, inclusive teve o apelido traduzido ao pé da letra para De Tuinman ao virar goleador no título do Feyenoord na Eredivisie de 1998-99 – último da equipe de Roterdã na liga até o desjejum em 2017. E o próprio Banfield, aliás, inspirou-se em Cruyff e colegas para desde os anos 70 adotar o laranja como cor frequente nas camisas reservas, mesclando-o ao verde, branco e preto tradicionais no Taladro.

Futebol holandês na seleção argentina

Julio Cruz foi precisamente o primeiro jogador que a Argentina aproveitou da liga holandesa, já em 9 junho de 1999 (Argentina 2-2 México, amistoso com gol dele em Chicago), exatamente pelo embalo daquele título e artilharia com o Feyenoord; até então, o atacante estava mal marcado por simularem em seu rosto um corte na tentativa de se buscar no tapetão pontos perdidos para a Bolívia em 1997 nas eliminatórias, em incidente similar ao do goleiro chileno Roberto Rojas. Não chegou a ir à Copa América, mas a boa temporada lhe serviu de trampolim ao futebol italiano (primeiramente, com o Bologna), cavando como talismã da Internazionale uma vaga na Copa de 2006.

O goleiro Sergio Romero com Louis van Gaal, então seu treinador no AZ campeão em 2009. À direita, Darío Cvitanich com uma camisa “holandesa” do seu Banfield. Seus golzinhos pelo Ajax quase o levaram à seleção croata

De certa forma, o primeiro sucessor de Cruz foi o meia-atacante Mauro Rosales, ainda no Newell’s quando integrou o ouro olímpico nos Jogos de Atenas, em agosto de 2004. Foi contratado pelo Ajax já no dia 30 daquele mesmo mês, data final da janela europeia de verão – foi com aquela venda que os rojinegros puderam buscar ninguém menos que Ariel Ortega como reposição e engatarem rumo ao título no Apertura. Apenas quatro dias depois de ser vendido, Rosales fez seu último jogo pela Argentina, antes mesmo de estrear pelo novo clube. Foi no 3-1 sobre o Peru pelas eliminatórias à Copa de 2006. Curiosamente, justamente ali marcou seu único gol pela seleção adulta, abrindo o placar em Lima; foi também a última partida de Bielsa como técnico da Argentina, diante da renúncia dias depois de El Loco, que aproveitou o inédito ouro para sair por cima após tantas críticas pelo vexame em 2002 e pelo vice traumático na Copa América em julho.

Outra curiosidade é que o primeiro time holandês a ser representado com continuidade na Albiceleste estava fora do trio de ferro: o AZ, equipe emergente nos anos 2000, era o clube de Sergio Romero entre 2007 e 2011. O goleiro foi prontamente contratado do Racing pela equipe de Alkmaar após vencer o Mundial sub-20 de 2007 e, ironia do destino, lá teve sua habilidade em decisões por pênaltis aprimorada pela comissão técnica do mesmo Van Gaal a quem faria sofrer em São Paulo em 2014. Já como jogador do clube, foi titular no bicampeonato olímpico em 2008. Mas foi só com o embalo do segundo e último título holandês do AZ, na Eredivisie de 2008-09 (o outro fora celebrado ainda em 1981), que Chiquito enfim chegou, em 2009, à seleção principal. Ainda em 2011, rumou à Sampdoria. Mesmo frequentemente reserva nos clubes seguintes, seria o (discutido) titular até 2017 na seleção.

O Ajax, por sua vez, demorou até o ciclo recente para propiciar assiduidade a argentinos – após o atacante Darío Cvitanich calhar de não poder (pelos critérios da FIFA na época) ser aproveitado nem mesmo pela Croácia de um bisavô seu, apesar do anúncio que a seleção quadriculada chegou a fazer por ele em 2009. Foi com o lateral Nicolás Tagliafico, já um jogador de seleção quando fora contratado prontamente em janeiro de 2018 após faturar a Sul-Americana com o Independiente sobre o Flamengo no mês anterior.

O Feyenoord chegou à seleção argentina com Julio Cruz e o Ajax teve continuidade com Lisandro Martínez e Nicolás Tagliafico. O PSV só conseguiu na sub-20, com Maxi Romero

Tagliafico pôde ir ao Mundial da Rússia e em junho de 2021 recebeu em Amsterdã a companhia do zagueiro Lisandro Martínez, credenciado por ter estreado na seleção em março, ainda como jogador do emergente Defensa y Justicia. Eles dois representaram o Ajax na seleção vencedora da Copa América de 2021 (finalizando o pior jejum da seleção principal) e em julho de 2022 deixaram os Godenzonen – rumo ao Lyon e ao Manchester United, respectivamente, clubes com os quais se fazem presentes no Qatar.

Quem acabou de fora da Copa de 2022 foi Marcos Senesi. Em junho, se tornou o segundo jogador do Feyenoord usado pela seleção adulta, ao participar do 5-0 sobre a Estônia com os históricos cinco gols de Messi. Mas calhou de ser a única partida até o momento realizada pelo defensor, transferido em agosto da Kuip ao Bournemouth inglês. Senesi segue como última novidade holandesa na Argentina: Lucas Ocampos, outro ausente no Qatar, fez ainda em março de 2022 a sua por enquanto última partida pela seleção, ainda antes de ser emprestado em agosto pelo Sevilla ao Ajax. Há ainda o caso de Santiago Giménez, adquirido em julho de 2022 pela equipe de Roterdã. Poderia representa-la no Qatar pois foi pré-convocado pelo México como naturalizado, mas acabou cortado.

E o PSV? O time de Eindhoven inegavelmente é histórico incubador de brasileiros. Para a seleção argentina, por enquanto, só conseguiu espaço na sub-20 – com a presença, ainda em 2019, de Maximiliano Romero (sem parentesco com Sergio) no Sul-Americano da categoria naquele ano. As sucessão de lesões físicas de Maxi impediram que se firmasse e ele vem sendo sucessivamente emprestado à liga argentina, integrando atualmente o Racing após algumas temporadas no Vélez.

Kempes e Bertoni festejam o segundo gol do artilheiro na final de 1978. Depois o próprio Bertoni faria o dele para fechar os 3-1. O deitado Ernie Brandts e o caído Jan Poortvliet se rendem antes mesmo da bola encostar na rede

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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