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Elementos em comum entre Grêmio e Estudiantes

A faceta copeira nas competições sul-americanas é a similaridade mais evidente entre Grêmio e Estudiantes, que tiveram anos particularmente especiais em 1968 e 1983 em contraste com rebaixamentos no início dos anos 90. Além disso, três homens defenderam ambos. Curiosamente, todos foram campeões da Libertadores de 2009 pelo Pincha e não tiveram êxito no Tricolor.

Grêmio e Estudiantes têm ambos títulos alusivos aos anos de 1967 (Estadual; Argentino), 1968 (Estadual; Libertadores e Mundial), 1983 (Libertadores e Mundial; Argentino), 1995 (Estadual e Libertadores; segunda divisão argentina), 2006 (Estadual; Argentino) e 2010 (idem). À parte das conquistas internacionais, o título estadual gremista em 1968 teve o caráter especial de significar o heptacampeonato gaúcho, então a marca recordista no Estado e que superava o hexa do famoso “Rolo Compressor” do rival Internacional nos anos 40.

Já o ano de 1983 significou os primeiros títulos alvirrubros desde o tri na Libertadores entre 1968-70, e os únicos na elite argentina entre aquela fase áurea e o retorno de Juan Sebastián Verón. Pois foram na realidade dois títulos, em um bicampeonato argentino no qual, em um mesmo semestre, os platenses venceram o Nacional de 1983 e o Metropolitano ainda válido pelo ano de 1982. A conquista do Metro credenciou o treinador Carlos Bilardo à futura seleção campeã de 1986 e classificou os pincharratas àquela Libertadores de 1983, na qual os dois oponentes de hoje protagonizaram a célebre “batalha de La Plata” (com o clube argentino já treinado por Eduardo Luján Manera, campeão do Nacional) na fase semifinal.

Além daqueles dois confrontos pela semifinal da Libertadores de 1983, os clubes se encontraram outras seis vezes em competições sul-americanas antes do duelo de hoje. Todas foram pela velha Supercopa, torneio que existiu entre 1988 e 1997, reunindo somente campeões da Libertadores. Nas edições inicias a competição já começava no mata-mata, com os gaúchos prevalecendo em 1989 (3-1 no agregado) e os argentinos, em 1990 (2-1 agregado). Na edição final de 1997, caíram ambos na fase de grupos. Os duelos foram 0-0 em La Plata e 3-2 no velho Olímpico. Partidas que registraram uma boa dose de expulsões, mas nada que supere no imaginário a “batalha”.

A despeito da fama daquela partida, aquele Estudiantes do início dos anos 80 era visto como um contraponto ao time ardiloso dos anos 60, com um belo futebol praticado pelo quarteto do meio campo: José Daniel Ponce, Miguel Ángel Russo (autor do gol do empate na “batalha”), Alejandro Sabella e Marcelo Trobbiani. Todos ganharam chances na seleção do ex-comandante Bilardo na época, embora sucumbissem depois com a concorrência descomunal com Maradona e a meia cancha do ainda mais vitorioso Independiente (Jorge Burruchaga, Ricardo Giusti e o reserva Ricardo Bochini), bem sentida pelo Grêmio em 1984.

Sabella como elegante volante no Estudiantes. No Grêmio, faltou físico

Somente Trobbiani ficou para a Copa de 1986 (o amarelo que tomou antes do início da “batalha” e a expulsão antes dos 30 minutos são enganosos. Era refinado e em seu único toque na bola no mundial, ao ser usado somente nos minutos finais da decisão, usou o calcanhar). De qualquer forma, a convocação à seleção entre os idos de 1983 e 1984 fez justiça a Sabella, que enfim exibia melhor a luz própria ofuscada nos tempos de River nos anos 70, onde tinha a concorrência do ídolo Norberto Alonso. Já em fim de carreira, El Pachorra apareceu no Grêmio em 1986, sem físico adequado às exigências tricolores. Conseguiu taças estaduais, mas sem se firmar. Em entrevista à El Gráfico, teceu os seguintes comentários sobre a experiência:

“Do Valdir Espinosa, no Grêmio, me ficou uma frase: ‘o futebol é uma luta pelos espaços; o que melhor e mais rápido os ocupa, ganha’. (…) Como jogador, fui com 30 anos e pensei: ‘enfim vou treinar menos, vou me divertir’. Para quê? Fui ao sul do Brasil, em território gaúcho. Cheguei, fui à avaliação médica e havia três brasileiros em macas, com cicatrizes de 20 centímetros, todos operados nos ligamentos. Nunca treinei tanto em minha vida como aí, turno duplo todo dia. Antes do segundo jogo, tinha que subir a escada em espiral da concentração e o fiz quase de joelhos, usando as mãos e os pés”.

A carreira pós-jogador de Sabella foi semelhante à de jogador em alguns aspectos: um querido coadjuvante no River, agora como assistente de Daniel Passarella, e como nome principal no Estudiantes. Na nova função, levantou a Libertadores de 2009 e o Apertura 2010, ainda hoje as últimas taças pincharratas, credenciando-se para assumir a seleção – em trajetória que ficaria criticada exatamente pelas convocações consideradas excessivas de jogadores alvirrubros medianos.

Curiosamente, nenhum dos outros dois jogadores que passaram pelas duas equipes, ambos campeões com o Estudiantes em 2009, chegaram a ser convocados por Sabella na seleção. No caso de Rolando Schiavi, pela idade – currículo não faltava a um dos raríssimos jogadores que estiveram em finais de Libertadores por três camisas diferentes, junto com o brasileiro Vítor (São Paulo, Cruzeiro e Vasco) e o uruguaio Luis Cubilla (Peñarol, River e Nacional).

El Flaco primeiramente jogou a de 2003 pelo campeão Boca. Já era experiente na época e foi um reforço festejado para o Grêmio em 2007. Porém, perdeu a posição para Teco no decorrer da campanha vice-campeã do Tricolor em La Copa para ex-colegas xeneizes, jogando as duas partidas decisivas saindo do banco. Schiavi voltou à Argentina para jogar no Newell’s. Em depoimento também à El Gráfico em 2009, contou brevemente sobre a experiência:

Rolando Schiavi e Gastón Fernández, fundamentais na Libertadores de 2009, foram fugazes no Grêmio

“Fui bem (no Grêmio), pedi para ir embora e não queriam me deixar. Estava bem, gostava, mas no Brasil ficas viajando. Jogam milhares de partidas e as distâncais são largas, vives nos aviões. Pablo Marini me chamou para ir ao Newell’s e não duvidei”.

O fato é que foi em empréstimo ao Estudiantes em 2009 que o defensor relançou a carreira. Titular da reconquista continental em julho de 2009, Schiavi se tornou dois meses depois (já como jogador de volta ao Newell’s) o mais velho estreante da seleção argentina, ainda sob Maradona. No time de Rosario, foi vice argentino no segundo semestre e em pouco tempo voltava ao próprio Boca para uma nova final de Libertadores, em 2012.

Já a melhor fase do atacante Gastón Fernández havia passado quando Sabella assumiu a seleção, e a concorrência midiática tampouco ajudava La Gata, que jamais defendeu a Argentina. Promessa não lapidada do River, veio a ter mais regularidade como artilheiro do San Lorenzo campeão de 2007. Mas foi no Estudiantes que virou um misto de filho pródigo com ídolo histórico, em relação de idas e vindas – inicialmente, emprestado pelo Tigres mexicano naquele 2009.

A impressão que ficará é a do artilheiro do clube naquela Libertadores, incluindo o gol do empate no Mineirão na decisão contra o Cruzeiro. Ou a de quem, após passagem frustrada pelo time mexicano, voltou para treinar entre os reservas pincharratas para acabar bem aproveitado no título argentino de 2010, onde participou da jogada do primeiro gol da partida do título. Ainda teve outras duas passagens pelo time de La Plata, um delas após se desligar de sua frustrante estadia no Grêmio no ano passado (treze jogos e nenhum gol no Rio Grande, embora tenha participado do início da campanha vitoriosa na Libertadores).

Fernández já não reencontrará os colegas brasileiros, acertando nova saída do Pincha há poucos dias. Por quanto tempo?

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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