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70 anos de José Reinaldi, raríssimo ídolo em comum nos rivais Belgrano e Talleres

 

Celeste ou alviazul, Reinaldi brilhou em Córdoba

“Sou respeitado pelos torcedores de Belgrano e Talleres. Ando pela rua e me cumprimentam torcedores das duas equipes. Esse é outro orgulho, sou grato às pessoas de Córdoba que me respeitaram e me fizeram sentir bem. Na minha idade, que me saúdem os torcedores na rua é um mimo ao coração. Me convidam aos eventos de Belgrano ou do Talleres, e eu vou. Nunca tive problemas. O pessoal do Talleres em seu momento me recebeu muito bem, apesar de ter jogado no Belgrano. A primeira partida que joguei no Talleres foi um amistoso com o Independiente. Jogava Daniel Willington, ele com a 8 e eu com a 10. Em 15 minutos, as pessoas começaram a gritar ‘E já irão ver, já irão ver, quando toquem La Pepa e Daniel’. Em 1981, voltei ao Belgrano, comprado junto ao Talleres, e quando volto ao clube, os Piratas pintaram na entrada: ‘bem-vindo, Pepa’”.

A despeito do desempenho na Copa de 1986 e ao que se viu no Napoli dali até 1990, na Argentina é opinião corrente que o melhor Maradona foi a versão imparável vista no Argentinos Jrs entre 1978 e 1980. O corte da Copa de 1978 foi respondido por Dieguito com cinco artilharias nos seis campeonatos argentinos (dois por ano) travados naquele período, um recorde exclusivo dele no profissionalismo que o levaria ao Boca no início de 1981. A única artilharia que escapou foi a do Nacional de 1978, que ficou com José Omar Reinaldi, cuja declaração acima, dada em agosto de 2017 à revista El Gráfico, transmite outro feito notável de La Pepona: o de ser querido nos dois lados do Clásico Cordobés, o mais realizado do futebol argentino. Com títulos pelo River e passagem na seleção, Reinaldi faz hoje 70 anos e vale relembrar a trajetória de um raro ídolo comum a Belgrano e Talleres.

Reinaldi nasceu no interior cordobês, na cidade de Villa María: “Villa María é minha infância, que foi feliz. Como todo garoto, preferia jogar a bola a ir à escola. Foi uma infância muito linda, muito diferente da de hoje, com muita liberdade para estar na rua. A rua era nosso lugar de reunião para jogar bola”. Torcida pelo Boca, o que seria irônico por diferentes razões: além de ter defendido o River, o Boca foi exatamente sua maior vítima entre os cinco grandes argentinos, ao ser vazado seis vezes por ele, inclusive na estreia pelo Belgrano. “O sonho de jogar futebol eu tive sempre. Escutava o rádio e imaginava como eram os ídolos. Eu era torcedor do Boca e nessa época os repórteres radiais induziam que tivesses ídolos. Mas eram ídolos imaginários, não os conhecia, não os via. Se armava pelo que os locutores diziam”.

Em seu primeiro ciclo no Belgrano: as imagens carregado são do clássico cordobês de 1974 onde ele marcou os dois gols da virada que rendeu título regional sobre o então invicto rival

Outra ironia é que nos jogos de rua Reinaldi era posto como goleiro, dado o físico baixo e mirrado, só mudando para a outra extremidade quando efetivamente inscreveu-se nos infantis de uma equipe minimamente mais séria, por volta dos dez anos, onde aquela incongruência não poderia prevalecer. Aos 13 anos, foi então federado em um clube de verdade, aonde todos os seus colegas de rua foram, o Unión Central. Aos 15, já estava no time adulto e por ali ficou até vir à capital Córdoba, aos 18. Não ainda para defender um time local e sim para fazer a sua faculdade de arquitetura. O sonho antigo não morreu: em 1968, ele chegou a passar por testes no Ferro Carril Oeste, da capital federal, levado por Miguel Ángel López.

Para seu azar, o “padrinho” López (que nos anos 70 integraria o Independiente tetra da Libertadores) foi transferido ao River assim que Reinaldi chegou e não pode ajuda-lo mais. Após 40 dias de indefinição, mesmo com o novato aprovado pelo treinador José Scalise, os cartolas verdolagas concluíram não ser negócio fechar os cem mil pesos solicitados pelo Unión Central por aquele desconhecido e Reinaldi voltou a Córdoba. Após recusas de Instituto e Talleres, dividiu-se entre a universidade e o clube local Lavalle, onde tampouco foi feliz sem vias tortas; para começar, fechou com ele na véspera de ser convidado por López para testar-se no River, inviabilizando uma nova tentativa na capital federal, por enquanto. Depois o Lavalle em si também não o ajudou muito: “estive três meses, não me pagavam e era um problema, porque dependia disso para poder estudar. O primeiro ano do meu curso de arquitetura foi bancado pelo futebol, se não, não teria possibilidades de estudar. Quanto tive esse problema, não podia seguir em Córdoba. Joguei pela Faculdade de Arquitetura, e quem armava o time era o dono da cantina. Jogava pelo café com leite e os croissants da manhã. Sempre lembro desse cara, teve um gesto muito bonito… ou me via com cara de fome”.

A estadia no Lavalle, porém, serviu para que fosse captado pelo Belgrano após um duelo direto na liga cordobesa: “fui bem. Então, quando termina o torneio, o Belgrano se classifica ao Nacional e pedem por mim. Foi uma surpresa”. Vale explicar o contexto: até 1966, o campeonato argentino, apesar do nome, era um campeonato da Grande Buenos Aires com convidados de La Plata, Rosario e Santa Fe, sendo na prática um entre tantos torneios regionais pelo país. Em 1967, por interferência do ditador Juan Carlos Onganía, foi criado então o Torneio Nacional, a reunir os melhores do campeonato “argentino” (renomeado como Metropolitano) com os melhores de uma seletiva do interior, que reunia os melhores dos regionais. Em 1967, o campeão regional Racing de Córdoba e o vice Instituto não passaram pelo Torneio do Interior.

Reinaldi voltou ao Belgrano no segundo semestre de 1981 (à esquerda) e no primeiro semestre de 1984 (centro), além de jogos festivos de veteranos (à direita)

Em 1968, o campeão regional foi o Sportivo Belgrano de San Francisco, mas quem pôde passar pela seletiva foi o Belgrano, que assim se tornou o primeiro clube da província a figurar em alguma liga argentina. Para se preparar, o time arranjou o amistoso mais ideal possível: “meu primeiro jogo no Belgrano foi contra o Estudiantes. Vinha de jogar pela faculdade e de repente estava jogando com o Belgrano contra o Estudiantes campeão da América! Foi como um teste”. A estreia em campeonatos, por sua vez, foi na quarta rodada, contra o Boca. “Entrei no segundo tempo e fiz um gol. Perdemos de 3-1 (…). Sou grato a Raúl Hipólito Arraigada. Eu era um garoto em uma equipe com jogadores importantes, me pôs na quarta rodada de um campeonato e não me tirou mais. E não é que eu jogasse bem todas as partidas. Mas me bancou e isso me deu confiança. Tudo foi tão rápido, que influenciou para que deixasse a faculdade”. A torcida de La B não tardaria a cantar “já se vê, já se vê, La Pepona e seu balé”.

Ao todo, nas dez rodadas seguintes em que o campeonato durou, Reinaldi, embora atuando ainda como armador para Juan Carlos Mameli e não como centroavante, somou outros cinco gols e o Belgrano terminou como o time interiorano melhor colocado, à frente até de Independiente e Estudiantes. El Palito Mameli foi então levado pelo Nacional de Montevidéu, embora uma lesão inoportuna adiasse sua afirmação e reforçasse o boato de que os tricolores tinham a intenção de contratar na realidade Reinaldi, confundindo-se aos verem ambos com numeração invertida em um treino. Afinal, fora ele o jogador eleito pela El Gráfico como o melhor do interior naquele torneio: “fui a Buenos Aires, me deram um prêmio e logo estava na mesa com [Antonio] Rattín, [Alberto] Rendo… eram esses que eu escutava na rádio. Uma coisa é jogar contra eles e outra é estar sentado na mesma mesa”.

A outra força uruguaia também sondou Reinaldi, mas ao notar que ele ainda não havia finalizado o serviço militar obrigatório (nova ironia do destino: ele logo seria dispensado, pelo físico), o Peñarol desistiu de La Pepona, apelido decorrente da semelhança de seus cabelos com o de uma boneca, complementados com um bigode em um visual que lembrava Hulk Hogan antes do próprio lutador criar fama. “Me calhou viver uma época muito difícil em Córdoba, e ainda por cima estava em uma faculdade muito politizada. A rebelde contra o sistema era usar o cabelo comprido. Aqui a polícia te agarrava e de cortava o cabelo. Eu nessa época usava cabelo grande. Quando se é jovem, não tem medo. Era tudo uma cultura muito diferente, em uma cidade convulsionada. Os grêmios eram muito fortes e influenciavam muito na vida social. Mas nunca tive problemas: tive a sorte de ser conhecido pelo futebol”. Maio de 1969, de fato, viu o Cordobazo, um levante civil com greve geral que em médio prazo levou à deposição do ditador Onganía. Por sinal, esse movimento completará 50 anos em dois dias.

Torcedor do Boca, Reinaldi não virou exatamente ídolo no River, mas teve estrela: ao meio e à direita (de costas), comemora seu gol que garantiu no penúltimo minuto o Nacional de 1975

O Belgrano, fora do páreo em 1969 (com o campeão regional Talleres e Sportivo Belgrano representando Córdoba na seletiva do interior) e em 1970 (com La T prevalecendo sobre a campeã regional La B na seletiva), reapareceu em 1971 no Torneio Nacional. Àquela altura, o campeão cordobês já se qualificava automaticamente à competição e a taça regional foi dos celestes pelo segundo ano seguido. Os Piratas reuniam um timaço, com Reinaldi agora armando as jogadas para a dupla Juan Carlos Milonguita Heredia e Bernardo Cuchi Cos, ambos logo contratados pelo Barcelona, onde seriam ídolos. Mesmo ainda jogador do meio-campo, La Pepona fez seus golzinhos, somando cinco tentos no Nacional de 1971. O Belgrano terminou em terceiro em seu grupo, à frente dos tradicionais River, Gimnasia LP e Huracán, mas a dois pontos da classificação aos mata-matas, que reuniam somente os dois líderes das duas chaves.

“Me sinto orgulhoso de ter jogado nessa época para o Belgrano, porque essa equipe que participei mudou o futebol de Córdoba. Porque começou a treinar diferente, a jogar por coisas importantes. Jogar no Belgrano não era o mesmo que fazer nos outros clubes. Tive companheiros que foram figuras do futebol mundial. Fui um sortudo no futebol. Fui um bom acompanhante de grandes jogadores. Esse é meu orgulho. No futebol há guitarras solo, guitarras base, acompanhantes. Eu nunca fui guitarra, sempre fui um bom acompanhante. As guitarras eram os outros. Ficou orgulhoso em ter estado com eles”, contemporizou naquele relato de 2017 à El Gráfico; além de jogar com a dupla que seria adquirida pelo Barcelona, logo seria colega de um futuro campeão no Real Madrid, o ponta Carlos Guerini, também ídolo na dupla cordobesa. “Antes, todo o problema consistia em meter um bolão ou uma cortada para que aqueles três adiante se resolvessem, e como resolviam”, elogiava Reinaldi em 1972 à mesma El Gráfico.

Com o campeonato cordobês de 1972 encerrado no fim do ano, ganho pelo Instituto de Kempes e Ardiles, o título de 1971 do Belgrano serviu para coloca-lo também no Nacional de 1972, onde La Pepona registrou quatro gols e muitas assistências aos doze anotados por Chupete Guerini. Nada que o livrasse de cornetadas de que não se entregava 100%, ao qual retrucava à El Gráfico: “veja, me conhecem de cara pelo cabelo, antes de começar o jogo já sabem em quem têm que bater. Aqui está a prova, vamos ver se alguma vez deixei de pôr a perna quando foi necessário deixa-la… o que acontece é que tenho uma ideia muito particular de sacrifício: quando a bola está definitivamente perdida na disputa, quando a cortam para longe e já está fora, não corro. Mas quando ainda há uma mínima possibilidade de consegui-la, de alcança-la, me mato, jogo ao mesmo tempo com o corpo com a alma. Por fim, não acreditem que a área me queima. Ou desde onde faço os gols mesmo sendo volante? (…) Jamais joguei para a arquibancada, porque jogar para a arquibancada é fracassar, é carecer de personalidade, é aceitar as instruções de mil vozes alheias que pedem duas mil coisas distintas…”.

Faro de gol no Talleres, contra Independiente e para bater o Boca campeão de 1981

A perda do título cordobês para o Instituto em dezembro de 1972 não tirou La B do Nacional de 1973: como vice, jogou a seletiva do interior e prevaleceu sobre o San Martín de Mendoza. Reinaldi, que seguia morando em uma república estudantil, somou seis gols, incluindo sobre o Independiente campeão mundial no mês seguinte – e os celestes, tal como em 1971, terminaram a dois pontos de se classificarem à fase final. Em paralelo, o título regional foi renovado na edição de 1973, só finalizada em 1974. O Torneio Nacional de 1974 viu então Reinaldi somar dez gols, incluindo contra o Boca e quatro em um só jogo, no 5-1 sobre o All Boys. Mas foram seus embates regionais contra o Talleres que o levaram ao River. Afinal, o Millo requisitou para técnico justamente o treinador do rival. Em sua primeira grande campanha nacional, La T soubera em 1974 liderar seu grupo e terminar no quarto lugar geral, credenciando o técnico Ángel Labruna a voltar a Núñez, cujo clube não era campeão argentino há 18 anos, quando Labruna ainda jogava.

“Por que fui ao River? Na liga cordobesa, em 1974 jogamos a final contra o Talleres. O Talleres [então líder invicto] nos ganhava de 1-0, eu fiz os dois gols e fomos campeões. Don Ángel disse: ‘levarei este’. Ele sempre confiou em mim. Eu era o primeiro reserva. Me fez jogar nas duas pontas, nas duas meias, de centroavante. Nas cinco posições ofensivas. Sempre, sempre entrava. Não sei se jogava bem em todas essas posições, mas me botava sempre. Confiava muito em mim, e não lhe podia falhar (…). Cheguei a um clube que fazia 18 anos que não saía campeão. Quando hoje falam de pressão, lhes digo que não era fácil jogar nesse momento”. Já sobre jogar no rival do time pelo qual torcida, explicou que “o futebol te muda. A pessoa se faz torcedora da camisa que põe, por respeito a si mesmo e ao pessoal. Estreei no Belgrano contra o Boca e gritei esse gol com uma paixão… o objetivo é fazer gols. Era torcedor do Boca, e passei a ser jogador de futebol profissional, que se devia à camisa que defendia”. Ao todo, Reinaldi jogou dez vezes no Torneio Metropolitano de 1975, sem marcar gols, mas podendo festejar o encerramento imediato da maior seca millonaria. O colega Carlos Morete foi o artilheiro do torneio e vendido à liga espanhola, fazendo o River correr atrás de Leopoldo Luque junto ao Unión de Santa Fe.

A saída de Morete, de todo modo significou mais oportunidades ao cordobês, usando onze vezes no Nacional, com cinco gols, dois deles muito importantes. O Millo concorria contra o Estudiantes no octogonal final e ambos fizeram um duelo direto na penúltima rodada, com os platenses à frente. La Pepona marcou então o único gol, fazendo o River ultrapassar o Pincha. Ainda assim, o título parecia distante na rodada final, onde se visitava o Rosario Central: o Estudiantes vencia seu jogo e o River empatava, o que forçaria um jogo desempate. Reinaldi entrou no decorrer do jogo no lugar de Oscar Más e então, aos 44 do segundo tempo, se antecipou à defesa rosarina para emendar de cabeça um cruzamento e assegurar a dobradinha Metro e Nacional ao River. “Ganhamos dois campeonatos, Metropolitano e Nacional. O que mais lembro é do gol que fiz quando saímos campeões. Me lembro de tudo desse dia. São imagens que tenho gravadas, na memória está a jogada, o gol e o grito das pessoas. Nesse dia se jogou em Rosario e havia mais gente do River do que do local”.

Reinaldi no timaço do Talleres de 1980 (Lucca, ele, Bravo, Berta, Valencia e Guerini; Guibaudo, Oviedo, Pavón, Arrieta e Galván), com três colegas campeões da Copa de 1978; e no jogo festivo do centenário tallarin, em 2013

“Foi fantástico jogar nesse River, era um grupo bárbaro, grandes jogadores. Sabia que chegava para ser acompanhante de uma grande equipe, onde estavam Perfumo, Passarella, Jota Jota López, Alonso (…).. Fillol foi o melhor goleiro da história do futebol argentino, e eu joguei com ele. Perfumo foi o melhor zagueiro da história do futebol argentino, e eu joguei com ele. Joguei com Passarella, com Alonso, com Luque, com El Mono Más… me dá orgulho ter sido acompanhante deles, ter compartilhado com eles um vestiário, por como eram como companheiros”. Reinaldi ficou em Núñez até meados de 1976, saindo no meio da campanha vice-campeã da Libertadores, contratado pelo Barcelona de Guayaquil para já estrear com três gols diante do Deportivo Quito, ainda que não resolvesse a seca do clube pendente desde 1971 na liga equatoriana. Nada que afastasse o interesse do Talleres por ele.

Após o domínio belgranense na virada dos anos 60 para os 70, agora era La T quem dominava Córdoba, logrando títulos cordobeses seguidos desde 1974. O Torneio Nacional de 1977 foi justamente o mais perto que os alviazuis chegariam da taça, ofuscando inclusive um ótimo momento do rival, vice-líder de seu grupo em um campeonato duríssimo em que só os líderes avançavam aos mata-matas. O Talleres dominou a chave que tinha Racing, River e Vélez e adiante eliminou o Newell’s até perder o título nos minutos finais contra o Independiente, mesmo com três adversários expulsos. “Joguei nas melhores épocas de Belgrano e Talleres, quando tinha uma equipe fantástica. Uma equipe que fez o país falar”. Apesar do dolorido vice, o clube do bairro Jardín era o segundo mais representado na seleção campeã mundial dali a alguns meses (em especial, com o zagueirão Luis Galván, outro vira-casaca em Córdoba). Seleção que inclusive enfrentou-o em 16 de maio, quando o atacante reforçou o combinado cordobês em derrota de 3-1 no amistoso que inaugurou o estádio Chateâu Carreras, atual estádio Mario Kempes. Sobre a base da seleção, o River, anotou dois gols em um 3-0 em fevereiro pelo torneio de verão em Mar del Plata.

No segundo semestre de 1978, La T esteve novamente no páreo pelo Nacional, novamente sucumbindo ao Independiente, agora nas semis, após grandes tardes – como o 7-1 sobre o Juventud Antoniana (quatro gols de Reinaldi) e o 3-0 nas quartas sobre o forte Huracán da época para reverter a derrota de 2-1 na ida. La Pepona, que não contribuíra com gols no vice de 1977, se firmara como um matador. Foram vinte bolas deixadas na rede por ele. Na pré-temporada de 1979, ele ainda marcou os dois gols de 2-0 sobre o River no triangular amistoso que envolvia também o Boca, ganho pelos cordobeses com vitórias sobre a dupla, em março. Assim, em abril de 1979 ele foi um dos cinco tallarines convocados por César Menotti para uma série de amistosos da seleção. No dia 18, em jogo-treino com o clube Gutiérrez de Mendoza, até anotou um dos gols no 5-2; no dia seguinte, esteve nos 90 minutos do triunfo de 3-1 sobre a Irlanda, no Monumental. Uma semana depois, foi usado no 2-1 sobre a Bulgária e em 9 de maio esteve em amistoso não-oficial – ironicamente, contra a seleção cordobesa. Atuando só no primeiro tempo, abriu o placar no triunfo de 5-2, mas terminou não aprovado como possível alternativa a Leopoldo Luque e não teve mais chances.

Na seleção, com Maradona e João Havelange. Reinaldi foi o artilheiro isolado do único dos seis campeonatos argentinos que não teve Maradona na artilharia entre 1978 e 1980

Afinal, se na liga regional ele chegou a anotar dois gols em um 3-0 no Clásico Cordobés, seus números no Nacional de 1979 também não foram prolíficos, com três gols anotados, embora o Talleres continuasse figurando nos mata-matas. O time interiorano que jogasse três mata-matas alternados ou dois seguidos no Torneio Nacional passaria a ser contemplado com vaga no próprio Torneio Metropolitano e o Talleres foi o primeiro beneficiado pela regra, estreando em alto estilo no Metro de 1980: foi o terceiro colocado e meteu 3-0 no San Lorenzo e 5-0 no Independiente. Reinaldi somou onze gols nessa campanha e outros cinco no Nacional, que ironicamente não viu La T avançar aos mata-matas pela primeira vez em anos, por um ponto, a despeito de um 4-1 no Boca. Com 32 anos, após marcar em 3-0 em amistoso contra a seleção húngara em 10 de fevereiro de 1981 em Mar del Plata, La Pepona continuou demonstrando serviço no Metropolitano, onde deixou gols nos dois confrontos contra o campeão Boca de Maradona – o segundo, em vitória por 1-0, foi providencial para os alviazuis terminarem um ponto acima dos rebaixados. Para o Torneio Nacional, ele então voltou ao Belgrano, sob empréstimo. Deixou três gols na campanha em que faltou dois pontos para avanço aos mata-matas.

Em 1982, servindo integralmente o Talleres por Nacional (agora no primeiro semestre, em campanha semifinalista com 4-0 no Boca e 4-0 no Racing) e Metropolitano, ele somou 23 gols, terminando na vice-artilharia do Metro – onde reuniu dois hat tricks seguidos, sobre Huracán e Rosario Central. Para o Nacional de 1983, ele foi emprestado ao Loma Negra, líder do grupo que tinha o River contando com três gols do veterano. Assim, no Metropolitano o cordobês reforçou o tradicional Rosario Central. Na campanha ruim dos canallas (16º lugar), deixou bons treze gols, incluindo um hat trick no 3-2 sobre o Vélez e em 3-3 no clássico com o Newell’s. Em 1984, ele então voltou a defender as duas camisas de Córdoba, integrando o Belgrano líder de sua chave no Nacional e eliminado nas quartas pelo River para então deixar seus últimos gols no Metropolitano pelo Talleres. “Não sinto falta de jogar futebol, não sinto falta dessa adrenalina. Deixei de jogar porque estava saturado. Quando começa a te custar, já era. Deixei de jogar um domingo e no outro domingo era técnico”, resumiu.

Na nova função, comandou o próprio Talleres em meados dos anos 80 a ponto de ser em dado momento o terceiro técnico com mais vitórias na elite argentina pelo time (27, abaixo das 50 de Roberto Saporiti e das 36 de Labruna; depois, foi ultrapassado por José Omar Pastoriza e Frank Kudelka). Assumiu pela primeira vez em 1984, substituindo Humberto Maschio, e durou seguidamente até meados de 1986; deu lugar a Pedro Marchetta e assumiu então o Racing de Córdoba no lugar do ex-gremista Carlos Rodríguez. Mas ele voltou a La T logo em 1987 para nova sequência. Deixou o cargo em 1989 para iniciar uma campanha campeã equatoriana com o Barcelona – emendou dezesseis jogos de invencibilidade antes de preferir sair e ser então substituído pelo também argentino Miguel Ángel Brindisi.

“Sempre digo que para ser técnico primeiro deves fazer um bom exame de coração. Estás submetido a um estresse importante e há gente que não se dá conta”. Reinaldi seguiu a vida primeiramente na secretaria cordobesa de esportes e há vinte anos é comentarista local: “eu gosto. É interessante. Primeiro tem que saber escutar para poder opinar. Tem que ser respeitoso no que se diz e preciso para não confundir, ainda mais no futebol, onde há tanta paixão”. Paixão que soube dosar bem nas forças cordobesas: Reinaldi, com mais de cem gols por La B e La T incluindo jogos amistosos e competições regionais, está entre os maiores artilheiros da dupla e foi eleito pelo Futebol Portenho para o time celeste dos sonhos nos 110 anos do clube do bairro de Alberdi. Tem ainda outro feito, o de maior artilheiro do estádio municipal, o Mario Kempes (55 gols). Pouca coisa poderia ser mais simbólica a quem soube unir rivais.

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Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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