O mais impressionante é que estreou profissionalmente no futebol exatamente naquele 1966. A tempo de também estar entre os pré-convocados à Copa do Mundo daquele ano, embora não tenha sido confirmado – e sim seu irmão mais velho, Ermindo Onega, que defendia o River já havia nove anos.
“Comecei a jogar no River em 1959. Dois anos antes, Renato Cesarini viu jogar Ermindo, ali em nosso povoado (…), e gostou tanto dele que o trouxe a Buenos Aires. Nesse ano de 1959, sabendo que meu irmão estava só na capital, meu pai decidiu transportar toda a família. Em poucos dias em Buenos Aires, me apresentei no River para que me testassem. (…) Meu jogo agradou e fiquei. Comecei no nono quadro”, explicou sobre os inícios. Renato Cesarini era o técnico que formara La Máquina, celebrado elenco dos anos 40, e visto como visionário por muitos de seus comandados. A ponto dos irmãos Onega fundarem anos depois em Rosario um time chamado Renato Cesarini para revelar talentos.
Mas não era por estar na sombra do irmão que Daniel inicialmente foi apelidado de El Fantasma, e sim porque costumava ser imprevisível aos goleiros e defensores, movimentando-se bem para aparecer repentinamente na hora de concluir. Os Onega são um raro de caso de irmãos de sucesso equiparado por um mesmo clube: ambos alcançaram os cem gols pelo River, Ermindo exatamente com cem e Daniel com 118. Cinco deles, sobre o Boca, em um total de 252 jogos pelo Millo.
Daniel está entre os grandes ídolos em Núñez mesmo não conseguindo títulos. Deu o azar de pertencer à geração do terrível jejum de títulos entre 1957 e 1975, apesar das reconhecidas boas equipes que o River formava. A começar por aquela própria Libertadores de 1966. Após uma primeira fase marcando diversos gols em representantes de Peru, Venezuela e Paraguai, ele foi decisivo no quadrangular-semifinal especialmente contra o Independiente. O Rojo era bicampeão seguido e, apesar do quadrangular conter também o Boca, os de Avellaneda foram o principal obstáculo à final.
Foi necessário até jogo-extra para definir essa vaga. Daniel marcou dois nos 4-2 em casa e outro nos 2-1 no neutro estádio do San Lorenzo pelo jogo-extra. A decisão foi contra o cascudo Peñarol, que fez 2-0 em Montevidéu. Em Buenos Aires, o River conseguiu um chorado 3-2 (gol do irmão Ermindo Onega no fim) que pelo regulamento da época forçava uma finalíssima em campo neutro. E Daniel Onega apareceu cedo, abrindo o placar na chilena Santiago com seu 17º gol no torneio. Jorge Solari (tio de Santiago Solari, ex-Real Madrid na década passada e formado no clube Renato Cesarini) ampliou.
Aos 20 do segundo tempo, o placar ainda apontava 2-0 e a taça parecia garantida aos argentinos. Mas aí Spencer diminuiu. E oito minutos depois o veterano Julio César Abbadie empatou. A lenda daquela partida é que, ainda com o escore em 2-0, o veterano goleiro do River, o irreverente Amadeo Carrizo, enfurecera os aurinegros ao defender matando no peito uma tentativa ao seu gol. Com a moral bastante elevada com o empate-relâmpago, o Peñarol entrou mais aceso na prorrogação e Spencer virou aos 12 do primeiro tempo-extra, com Pedro Rocha liquidando aos 4 do segundo.
O evento foi tão traumático ao River que ali se originou o xingamento gallinas, que com o tempo passou a ser aceito entre parte dos torcedores como apelido – mas não experimente usá-lo livremente. Três semanas após aquela decepção, Daniel estreou pela seleção, em um 1-1 amistoso com a Polônia, atuando por 45 minutos ao lado de Ermindo também na Albiceleste – eles compartilhariam mais 28 minutos juntos nela na partida seguinte, contra a Itália em Turim, uma derrota de 3-0. Eram os amistosos preparatórios à Copa do Mundo e Daniel não foi confirmado. Ironicamente, o artilheiro recordista de uma só Libertadores e um dos maiores goleadores do River (é o oitavo) jamais marcou gols pela Argentina, apesar das treze oportunidades, somadas entre 1966 e 1972.
Em 1966, o River seria vice também no campeonato nacional, para o grande Racing da época. O time poderia ter sido campeão também no nacional de 1968, se vencesse o mesmo Racing (novamente o concorrente pela taça) na última rodada. Empataram, com gol de Daniel, e foram alcançados pelo Vélez, o que forçou um triangular final. Nele o fim venceu o Racing e teria vencido o Vélez, com Daniel marcando, mas o oponente empatou e evitou com a mão em cima da linha o gol da vitória do Millo.
O juiz não notou a irregularidade, ocorrida a dez minutos do fim, e o jogo ficou no 1-1. O Vélez, então um time de futebol modesto, terminou campeão (foi seu primeiro título argentino) ao vencer depois o Racing somando mais gols. O River enfrentaria novo dissabor com um pequeno em 1969, ao chegar na final argentina para levar de 4-1 do nanico Chacarita.
Novos vices incríveis vieram ainda em 1969, quando o River foi vice do Boca no Torneio Nacional em confronto direto no Monumental com dois gols arquirrival vindos de um volante, o futuro palmeirense Norberto Madurga; e no metropolitano de 1970, somando os mesmos pontos do Independiente mas tendo menos vitórias – e com o Rojo marcando o gol do título a dez minutos do fim em pleno clássico com o Racing (e outro em pênalti onde o juiz ordenou que a cobrança fosse repetida duas vezes). Paralelamente, Daniel frustrava-se na seleção, integrando o elenco que não conseguiu a vaga na Copa de 1970 ao empatar em plena La Bombonera com o Peru.
Daniel Onega foi uma das estrelas que entraram em greve em 1971. O técnico do River, o brasileiro Didi (contratado exatamente por aquele sucesso na seleção peruana), não se fez de rogado e colheu bons resultados usando os juvenis e Onega terminou emprestado ao Racing. Um daqueles garotos promovidos por Didi foi Carlos Morete, espécie de Martín Palermo do River: sem muita técnica com a bola, mas ainda assim um grande goleador (o décimo maior do River). Indagado se jogadores nascem ou se fazem um goleador, respondeu mencionando Daniel:
“Se nasce, o olfato não compras em nenhum lado, vem do berço. Assim como há jogadores que dão uma mudança terrível em sua evolução, como Daniel Onega, que passou de centroavante a um armador excepcional, o inverso não se dá. Não fazes um centroavante. É uma raça especial”. Daniel foi reconhecido por manter bom nível com essa mudança, iniciada nos idos de 1969. Foi quando seu irmão Ermindo, encarregado da armação, foi jogar no ex-algoz Peñarol. O caçula, por sua vez, foi um dos pilares no último bom momento do Racing antes da longa decadência: vice do San Lorenzo com os alvicelestes no Metropolitano. Tanto que o River não aceitou prorrogar o empréstimo e assim El Tito o defendeu mais algumas vezes em 1973.
Ainda em 1973, Daniel passou ao futebol espanhol, ao Córdoba, afastando de vez suas chances de ir à Copa de 1974. Em 1978, ele enfim foi campeão nacional, pelo Millonarios colombiano. Mas bastante argentino também: Onega e o treinador Pedro Dellacha (capitão da Argentina na Copa de 1958 e técnico do Independiente vencedor da Libertadores em 1972 e 1975) eram os hermanos mais ilustres na panelinha que tinha ainda Juan José Irigoyen, Daniel Promanzio e Aníbal Tortorielo. Foi o único título que a equipe de Bogotá teve entre 1972 e 1987 na liga local.
Ermindo Onega infelizmente faleceu em um acidente de carro em 1979, ano da criação do clube Renato Cesarini, onde Daniel integrou os elencos iniciais, originalmente voltados à liga municipal rosarina (o clube chegaria a disputar até a primeira divisão argentina brevemente, nos anos 80). Atualmente, é sócio em uma rede de lojas de material esportivo juntamente com outro ex-goleador do River, Luis Artime – justamente o homem que, ao sair do clube em 1965, abriu espaço para Daniel entrar no time adulto. Falamos do execepcional Artime neste outro Especial.
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