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55 anos do inconfundível Oscar Dertycia

Sem rancores: uma lesão em choque com Maradona tirou de Dertycia a chance de ir à Copa de 1990 e os pelos do corpo. No ano passado, mais inconfundível que Dieguito, presenteou com uma camisa personalizada do Instituto o hoje técnico do Gimnasia LP

Na Argentina, Pelado significa outra coisa: careca; a palavra para nu é Desnudo. Ramón Díaz e Matías Almeyda receberam o apelido pelos cabelos muito curtos que tinham na juventude, a despeito da vasta cabeleira ostentada já no início de suas carreiras de jogadores. No caso de Oscar Alberto Dertycia Álvarez, o leigo poderia ser mais facilmente enganado pelo falso cognato. Outrora igualmente cabeludo, esse potente atacante (especialmente nos cabeceios, por sinal, além de mortal quando acionado em contra-ataques pela velocidade que tinha) do futebol cordobês e de história no espanhol simplesmente perdeu naturalmente todos os pelos, tal como o ex-goleiro noventista corintiano Ronaldo. Injusto, porém, é lembra-lo só pela aparência chamativa, especialmente no dia em que completa 55 anos. Afinal, não era à toa que o apelido de Dertycia fosse outro: após começar como El Cocayo (“O Cacau”), virou El Tiburón – “O Tubarão”.

Nascido em Córdoba, Dertycia defendeu três forças da cidade. Teve dois passos pelo rival Instituto, onde se formou, inclusive chegando à seleção ainda como jogador de La Gloria – foi, aliás, o último aproveitado dos alvirrubros na Albiceleste, após uma única chance dada em 1982 a Raúl Chaparro e ninguém menos que Osvaldo Ardiles e Mario Kempes, ambos ainda nos anos 70. Entre um ciclo e outro na equipe do bairro de Alta Córdoba, passou pelo Talleres, com algumas fontes errôneas na Wikipédia e até no Transfermarkt atribuindo-lhe um momento prévio no rival Belgrano. E no fim da carreira apareceu pelo “quinto grande” cordobês, o General Paz Juniors. Em seu país, ainda defendeu, com brilho, o Argentinos Jrs, pelo qual foi inclusive artilheiro do campeonato de 1988-89, credenciando-se para ir à Fiorentina ser o parceiro de Roberto Baggio.

O tal Chaparro havia sido artilheiro da liga em 1981 e seguira no clube pelo primeiro semestre de 1982, mas no segundo reforçaria o River. Isso, por outro lado, propiciou o precoce debute de Dertycia ainda aos 17 anos pelo time adulto. As aspas são de um monólogo de si publicado há alguns anos na El Gráfico:

“Estreei na primeira divisão com o Instituto em setembro de 1982, contra o Estudiantes. As pessoas se lembram sempre com muito carinho do gol do River a 35 metros, após uma tabela dupla com Ricardo Rentera. Ruggeri vinha por trás de mim e à frente, Gutiérrez, no gol estava Nery Pumpido. Não duvidei, dei e foi um golaço. Mas o que mais me lembro no Instituto foi um no Huracán. Recebi no vértice de grande área do meu campo de defesa, fui da área a área e fiz o 3-0. Nessa tarde me haviam criticado. Fiz o gol no minuto 90”, começou antes de falar sobre a grande conta pendente: “nunca fui capa da El Gráfico, e isso que fiz nove gols no River, nove no Boca, três no Independiente e fui artilheiro do futebol argentino”, resmungou. 

Pelo Instituto contra a dupla Boca e River, Dertycia marcou nove vezes em cada. Incluindo dois em um 5-1 nos xeneizes e três em um 4-1 (foto dessa tarde; é o caído) nos millonarios

Dertycia começou a vitimar os grandes já no ano de estreia: dos sete gols que marcou em 1982, vazou Racing, Boca (o único em duelo na Bombonera) e Independiente, além do campeão Estudiantes. Em 1983, já foram dez gols, incluindo em clássicos vitoriosos contra o Racing local (2-1) e o Talleres (3-2) e dois em um inapelável 5-1 no Boca, além de figuração pela Argentina na campanha vice para o Brasil no Mundial sub-20.

Já em 1984, a cifra subiu para dezessete, lhe deixando em terceiro na artilharia geral. Anotou em especial os dois de triunfo por 2-0 em um Independiente que no mesmo mês de julho em que o Rojo faturaria a Libertadores (e em 2 de agosto, Dertycia, ainda aos 19 anos, estrearia pela seleção); em cada duelo contra o San Lorenzo e em outro dérbi com o Talleres; e outros dois em novo triunfo expressivo sobre o Boca – um 4-2 no estádio Château Carreras, o atual Mario Kempes. Foram cinco jogos pela Argentina em 1984 e outros cinco oficiais, além de um amistoso não-oficial contra a liga mendocina, em 1985. Nesse ano, além de marcar dois em um 4-0 sobre o Talleres pelo Torneio Nacional, fez mais sete no primeiro turno do campeonato de 1985-86. Eles incluíram o primeiro de um 3-0 no Independiente, outro no Boca e o primeiro dos alvirrubros em vitória por 2-1 em clássico com o Racing de Córdoba.

Dertycia, assim, foi incluído na pré-convocação à Copa do Mundo de 1986, mas Bilardo só lhe usou em amistoso não-oficial contra o clube suíço Grasshoppers em 1º de abril. A aparição meteórica de Claudio Borghi em um Argentinos Jrs que em 1985 levantou Nacional, Libertadores e quase também o Mundial barrou-lhe de um lugar na lista final. Até hoje, é o último chamado oficialmente pela seleção vindo do futebol cordobês, e no profissionalismo só ele e Kempes foram dali usados fora do ciclo de César Menotti, único treinador a valorizar o futebol do interior. 

O cortado até terminou como convidado de honra dos campeões no desfile que fizeram no pátio da Casa Rosada. Mas a ausência em Copas foi a inegável outra queixa de Dertycia quanto à carreira, embora se permita sentir-se campeão por ter integrado a fase qualificatória: “a seleção é uma espinha para mim. Estive perto do Mundial de 1986, da Itália 1990 e dos Estados Unidos 1994. Para o México 1986, joguei as Eliminatórias e fiquei de fora no final. Me doeu muito. Apesar disso, me sinto campeão do mundo por isso”.

Atrás de Maradona na festa dada pela Casa Rosada aos campeões da Copa 1986: longe de ser intruso, era o convidado de honra. Também são distinguíveis o preparador físico Ricardo Echeverría (gravata vermelha), o atacante reserva Borghi (moletom vermelho e azul) e o goleiro reserva Héctor Zelada (paletó cinza, à direita)

A reação do atacante foi sentida no torneio argentino de 1986-87, onde ficou a quatro gols da artilharia por uma equipe que ficou apenas em 8º. A fúria incluiu cinco gols distribuídos no River campeão mundial no período, dois deles em um 3-2 no Monumental e uma tripleta em um 4-1 em Córdoba (resultado que fez a torcida até sonhar com o título, distando cinco pontos da liderança ao fim da rodada); dois em um 4-0 dentro de Buenos Aires no poderoso Argentinos Jrs da época; e um cada em dérbi com o Talleres e na dupla de Avellaneda.

Dertycia serviu onze vezes a Argentina ao longo de 1987 – e foi também à Copa América, embora sem ser usado. Isso por um time que no torneio de 1987-88 decaiu para o 13º lugar, mas com Dertycia terminando a três gols da artilharia, anotando dois gols de um 4-0 no Talleres e gols de honra em derrotas para Racing e Boca, líderes do primeiro turno. A fase era boa demais para se restringir a um elenco mediano e o atacante foi então adquirido pelo Argentinos Jrs. O Instituto sentiu: decaiu cada vez mais e enfim foi condenado pelos promedios ao fim da temporada seguinte. O novo clube foi apenas 7º no torneio de 1988-89, mas Dertycia correspondeu bastante. Ali, enfim, sagrou-se artilheiro da liga, com vinte gols. Incluíram, em especial, dois em um 3-2 no River, os três de um 3-0 no campeão Independiente e mais dois em 4-3 sobre o vice-campeão Boca.

Não foi o bastante para efetivar-se na seleção (embora se registrasse seu ótimo aproveitamento nos treinos, insuficiente para evitar que em 16 de seus 22 jogos pela Argentina saísse do banco), que preferiu testar para a Copa América o goleador do Independiente campeão, Carlos Alfaro Moreno. Mas rendeu o negócio com o estrelado futebol italiano e a Fiorentina levou-o ao calcio. E se a Viola não foi tão longe na Serie A (13º) e caiu na Copa da Itália ainda no triangular qualificatório às semifinais, o time de Florença foi longe no continente, decidindo a Copa da UEFA.

Só que o argentino mal pôde ficar em evidência, dando-se mal com a aposta. As chances que vislumbrava de ir à Copa do Mundo terminaram ao lesionar-se gravemente ainda no início de de 1990. Para aumentar a dor, foi em choque exatamente contra Maradona… a dor psicológica foi tamanha que rendeu-lhe o problema da alopecia, o que só reforçou-lhe o baque mental:

Na seleção com Passarella e Maradona. Artilheiro no Argentinos Jrs, teve sua ascensão com Baggio na Fiorentina freada pela lesão contra o próprio Maradona…

“Chegar à Itália foi positivo porque era o futebol mais importante, e além disso ali nasceram minhas filhas. Mas o negativo foi que em meu melhor momento, me lesionei. Era uma quarta-feira, jogávamos pela Copa da Itália. Rompi os ligamentos. Diego foi me visitar depois da lesão. Me trouxe dois relógios com a assinatura dele, camisas do Napoli, que os médicos terminaram agarrando. A relação com Maradona é excelente, sem problemas. Foi uma jogada fortuita no meio do campo que ninguém imaginou o que podia suceder. Voltei a jogar após dez meses. Perdi o Mundial de 1990, terminei o vendo pela televisão. Nesse processo, perdi os cabelos. A mudança de visual foi um processo doloroso e triste. Passei de ter cabelo a não ter pelo pelos nervos. Eu não demonstrava os nervos, mas sim, estava nervoso: me faltavam os amigos, a família, o entorno que tinha na Argentina. Não soube demonstrar o que me passava, traguei tudo e tive esse estresse de nervos que me provocou uma alopecia universal, com a perda total do pelo”.

“Vivi com depressão e estresse o Mundial de 1990. Me lesionei em janeiro e perdi um grande momento meu na Itália. Perdi muitas coisas e ainda me doem, mas a vida e a bola me deram outras revanches. Me lesionei em 21 de janeiro e voltei a jogar em 30 de dezembro no Cádiz. Cheguei ao Cádiz com El Bambino [Héctor] Veira como técnico. Para mim, foi uma explosão voltar a jogar, sentir que podia. Depois fiz gols no Barcelona, nos salvamos do rebaixamento, ganhamos a repescagem e fui ao Tenerife”. O Cádiz, de fato, ficou em antepenúltimo em La Liga de 1990-91, um ponto acima do rebaixado diretamente mais bem colocado – pois a colocação, pelo regulamento da época, permitia a sobrevida de uma repescagem com o quarto colocado da segundona, o Málaga.

Na reta final, o argentino deixou o dele em um 4-0 no Barcelona, em seu primeiro título no tetra espanhol erguido na Era Cruijff. Na repescagem, cada time venceu em casa por 1-0, com a careca do argentino dando a assistência para o gol da sua equipe, que adiante levou a melhor nos pênaltis em noite dramática. Na Espanha, aprimoraria a técnica e se livraria de certa pecha ruim de atacante que usava mal intencionalmente sua potência nas divididas. Se o Cádiz era treinado pelo folclórico Veira, ex-jogador relâmpago de Corinthians e Palmeiras que é o maior ídolo do San Lorenzo, o Tenerife tinha o atrativo de uma colônia argentina já formada na época com Fernando Redondo (ex-colega de Dertycia no Argentinos Jrs), Gerardo “Tata” Martino e o técnico Jorge Solari.

Só que o time das Canárias também teria de lutar contra o rebaixamento ao fim da temporada 1991-92. A fuga terminou com êxito ainda mais memorável: virando para 3-2 uma derrota parcial de 2-0 para o então líder Real Madrid, permitindo que o Barcelona ultrapassasse o rival e fosse bi seguido. E o Tenerifazo não se resumiu àquele 7 de junho de 1992. A zebra teve novo capítulo um ano depois, com a colônia argentina com Redondo e Dertycia já estando fortalecida com Ezequiel Castillo (outro ex-colega de Argentinos Jrs), Juan Antonio Pizzi e a comissão técnica com Jorge Valdano e Ángel Cappa. Dessa vez, o Tenerife fez a melhor campanha de sua história em La Liga, chegando a um quinto lugar que lhe deu inédita vaga continental, na Copa da UEFA.

Claudio Borghi (de cinza), Oscar Ruggeri, Oscar Garré (quase escondido), Luis Islas (de vermelho), Dertycia, o preparador físico Ricardo Echevarría, o médico Raúl Madero, o chefão Julio Grondona, o técnico Carlos Bilardo, o assistente Carlos Pachamé e José Luis Cuciuffo, também figura cordobesa: a seleção na reta final pré-Copa 1986. Só Dertycia não iria

O que não mudou foi uma nova rodada final enfrentando um Real Madrid na liderança, agora com um triunfo mais tranquilo no arquipélago: Dertycia aproveitou lançamento do compatriota Castillo para abrir um 2-0 que seria maior se um belo sem-pulo seu não fosse para fora e se Castillo aproveitasse uma chance na cara do gol propiciada por um calcanhar do Cocayo. Assim, pela segunda vez seguida o Barcelona terminou passando o rival e sendo (tri)campeão com a providencial vitória canária: “em Madrid, ainda se lembram. Me transformei em uma espécie de carrasco do Real com a camisa do Tenerife. Lhes fiz gols nas últimas rodadas e o Barcelona terminou saindo campeão. A ilha estava revolucionada. A dupla era Dertycia-Pizzi e nos ia muito bem. Ainda há uma peña em Tenerife com meu nome”.

Ele seguiu no Tenerife por mais um ano e, na pré-temporada, fez Rogério Ceni sofrer o primeiro gol da carreira no troféu amistoso Santiago de Compostela. Depois o foco foi maior na Copa do Rei, onde a equipe chegou pela única vez às semifinais. Isso não foi o bastante para ser recogitado à seleção, satisfeita com a boa fase do inábil Ramón Medina Bello (o surpreendente artilheiro da Albiceleste nas eliminatórias) como opção de banco para o tridente Batistuta, Caniggia e Balbo. Com ainda 29 anos, El Tiburón reforçou o Albacete para a temporada 1994-95 após alguma polêmica (“enquanto eu falava com eles, minha esposa estava acertando o contrato com o Real Betis. Mas eu já havia dado a palavra e isso era mais importante”).

Dessa vez, a caça se voltou contra o caçador: o novo clube, em fuga contra o rebaixamento, jogou a repescagem contra o Salamanca e embora começasse vencendo fora de casa por 2-0, o time da dupla de Dertycia com o jovem Fernando Morientes simplesmente levou de 5-0 no próprio campo. Emoções desagradáveis seguiriam com o atacante em seu retorno à Argentina, conforme repercutido até pelo jornal catalão Mundo Deportivo em agosto: “o ex-atacante do Albacete não está passando bem após seu regresso ao futebol argentino. Desde que assinou com o Talleres, recebeu ameaças em sua casa e vem aparecendo pichações com a palavra ‘traidor’ promovida por um grupo de seguidores do Instituto”, noticiou-se no dia 26.

No dia 29, o mesmo Mundo Deportivo reiterou: “Os seguidores do Instituto, seu clube de origem, lhe declararam ‘persona non grata’ e lhe dedicaram pichações nos muros (‘careca filho da p…’, ‘Dertycia traidor’), e alguma ameaça verbal. Apesar disso, longe de amedrontar-se, Óscar Alberto Dertycia respondeu com um precioso gol em sua estreia e uma esplêndida atuação ante o San Martín de San Juan (4-1). O Talleres é líder, com nove pontos”. Essas duas consultas na generosa hemeroteca virtual do jornal permitem constatar o equívoco difundido a leigos de que o atacante teria primeiro passado pelo Belgrano em 1995 antes de supostamente rumar apenas em 1996 ao rival; sem nunca ter defendido La B, em La T ele fez vinte gols na segundona argentina de 1995-96. Se esses dois clubes protagonizam o principal clássico cordobês, as rixas do Instituto com os tallarines estavam especialmente acesas por conta da final que ambos travaram pela segunda vaga de acesso à elite na temporada 1993-94. O Albiazul levara a melhor, ainda que logo fosse rebaixado de volta à Primera B ao fim da temporada 1994-95. Dertycia seria o grande reforço para nova caminhada rumo à divisão principal.

Dertycia chegando ao Cádiz chamando a atenção pela alopecia. E arrebentando o então líder Real Madrid pelo Tenerife na rodada final de 1992-93: Barcelona campeão

Naquele monólogo, Dertycia se defendeu: “algum dirigente do Instituto botou a conta no meu nome por esse passo pelo Talleres. Mas se soubessem tudo o que dei pelo Instituto… não sei se alguém o faria. Com 19 anos, dava grana para que eles repassassem a meus companheiros, e isso que acabava de começar. Esses dirigentes que me culpam certamente nunca colocaram um peso. Eu botei dinheiro e deixei muita grana ao clube. A bola sempre dá voltas e algum dia voltarei a trabalhar no clube que me formou como jogador de futebol e para ser uma pessoa de bem”. Naquela temporada 1995-96, a segunda divisão implantou Apertura e Clausura, com seus vencedores fazendo finais pelo título e acesso direto.

Embora liderasse o Apertura inicialmente, o turno terminou levado pelo Huracán Corrientes, com El Cocayo tendo seu grande momento com os quatro gols em um 6-2 no outro San Martín, o de Tucumán. La T faturou o Clausura, com Dertycia vazando duas vezes o Unión em um 4-1. Nas finais, marcou em ambos os jogos contra os correntinos, começando por um auspicioso 2-2 fora de casa. Mas, para surpresa geral, o recente embalo tallarin foi brecado cruelmente com um 4-1 sofrido em Córdoba. O clube do bairro Jardín precisou juntar-se aos mata-matas pelo segundo acesso, onde caiu nas semifinais após duas derrotas de 3-1 para… o Unión.

“Coisas do futebol: depois daquele passo pelo Talleres, fui ao Instituto, e, em um clássico, fiz um gol no Talleres. O futebol é assim. Tenho 93 gols no Instituto, não pude chegar aos cem, é outra conta pendente. Mas sei que vou voltar a ser útil para La Gloria“, refletiu o ex-atacante. Se não chegou aos cem, Dertycia pode se orgulhar: os 93 gols em torneios da AFA, 83 deles na primeira divisão, fazem dele o maior artilheiro do Instituto em certames argentinos, desconsiderando-se a liga cordobesa. Seu retorno ao clube de formação se deu para a segunda divisão de 1996-97, dividida em quatro grupos, dois com times da Grande Buenos Aires e outros dois reunindo os do interior.

Os três melhores de cada chave e os dois melhores quartos colocados avançariam à fase seguinte. Os alvirrubros foram um dos 4º colocados sobreviventes, muito por conta daquela vitória por 1-0 com gol de Dertycia sobre o ex-clube. Na segunda fase, ele se destacou com uma tripleta em 6-3 no Atlético Tucumán, mas a equipe de Alta Córdoba deixou nos critérios de desempate de avançar aos mata-matas que formavam a terceira fase.

A volta a Córdoba no fim da carreira: Talleres (com o recém-falecido Walter Parodi), outra vez Instituto (lance do seu gol no próprio Talleres) e enfrentando-o pelo General Paz Juniors

Após experiência com um único gol marcado pelo Temuco no Chile, ele voltou a Córdoba em 2000 para suprir a saída de Alveiro Usuriaga na única temporada do General Paz Juniors na segunda divisão nacional, sem evitar o imediato rebaixamento de volta à terceira. Dertycia tivera ainda assim um desempenho aceitável para a idade elevada a serviço do vice-lanterna, deixando seis gols em 25 jogos na penúltima etapa da carreira. Na última, no Peru, em 2002, voltou a ser artilheiro por um rebaixado, o extinto Coopsol.

Mais do que a queda, sofreu em ver-se parando: “o dia seguinte é duríssimo. Me deprimiu deixar de jogar. Me acabaram os aplausos, as felicitações, as coisas lindas. Me apagou a luz. Não sei se ‘deprimido’ é a palavra correta, mas sim vazio. Não seguir concentrando, jogando, perder o ritmo do treinamento… são coisas que passam, é preciso saber tratar, levar. No total estive por vinte anos no futebol e os desfrutei muitíssimo. Não fiz jogo-despedida. Sinto que ainda não terminei o luto por ter deixado o futebol. Sigo treinando, capacitando-me. Jogo na UCFA, o torneio amador de Córdoba, e estou presente em jogos beneficentes da Fundação Córdoba Deporte. Ainda desfruto no campo de jogo e quero seguir fazendo isso”.

Outra terapia? “Meu quarto de lembranças é sagrado. Às vezes, quando estou baqueado ou não estou bem, me meto nesse quarto e começo a olhar as camisas ou imagens e me preenchem. Vejo as fotos com quem joguei e me produzem uma satisfação única”.

Além dos jogos amadores, Dertycia, que chegou a assumir interinamente o cargo de técnico do Instituto em 2014, atualmente se ocupa em cargo na secretaria cordobesa de esportes.

https://twitter.com/InstitutoACC/status/1234843187396726784
https://twitter.com/erojayblanca/status/1234890641882144768
https://twitter.com/Cadiz_CF/status/1234915029524328448
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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