Córdoba de la Nueva Andalucía, maior cidade argentina depois da Capital Federal, completa hoje 440 anos. A cidade dos Pampas que nasceu peruana, passou à Argentina ainda na época colonial, liderou a ofensiva contra as invasões britânicas em Buenos Aires no início do século XIX para em seguida opor-se à independência (a retaliação não poupou nem heróis contra os ingleses, como Santiago de Liniers, o mesmo que batiza o bairro do Vélez) e é dona de sotaque único – complicado de entender até para regiões vizinhas – já produziu, por seu quarteto principal, belas páginas do futebol do país.
O Quarteto
O mais velho deles é o Club Atlético Belgrano, embora bem mais jovem que o pioneiro Córdoba Athletic Club (de 1882), hoje voltado ao rúgbi como muitos dos primeiros clubes argentinos de futebol – ver aqui. Em contraponto àqueles tempos de grande influência britânica na modalidade, o Pirata foi fundado em 1905 poucas semanas após o Dia da Bandeira, inspiração para cores e nome, referente ao autor dela, Manuel Belgrano, justamente um dos líderes da independência. A seguir, o Club Atlético Talleres, seu arquirrival, oriundo das oficinas (talleres, em espanhol; o singular taller tem a mesma raiz de “ateliê”) da ferrovia Central Córdoba. Comemora neste ano seu centenário: é de 1913.
O fundador de La T era um inglês que não hesitou em impor as cores de seu clube do coração, o Blackburn Rovers. O Instituto Atlético Central Córdoba foi criado em 1918 por pessoas do setor dos locomotores da mesma ferrovia (que formou ainda três Club Atlético Central Córdoba, em Rosario e Santiago del Estero e Tucumán. Era o nome original do Talleres). Por fim, em 1924, foi a vez de aparecer o Club Atlético Racing, inspirado em um dos cinco grandes do futebol argentino, o Racing Club, de Avellaneda – dele “herdou” também o escudo, as cores e o apelido de La Academia.
O clássico principal, entre Belgrano e Talleres, é o mais realizado do futebol argentino, com total de 388 jogos. O Belgrano tem leve vantagem no total, com 132 vitórias a 130, além da maior goleada (8-1, em 1914) e maior tabu, 26 jogos entre 1982 a 1996. O rival tem mais vitórias em jogos não-amistosos: 93 a 76. O clássico secundário, entre Instituto e Racing, passou por 152 jogos oficiais, o último em 2002. Melhor para os alvirrubros: 66 vitórias suas a 48 do rival.
Atualização em 27-04-2014: cabe uma rápida menção ao Club Atlético General Paz Juniors, de 1914, um “quinto grande”. Foi o primeiro time da cidade a ir longe nacionalmente: vice da Copa da República de 1943 (espécie de Copa Argentina da época). Também venceu a 3ª divisão em 2000, mas não conseguiu muito mais do que os rivais. Hoje está na 4ª. Saiba mais do Juniors clicando aqui.
Época de Ouro
Belgrano e Talleres são também os maiores campeões da liga cordobesa, com 27 títulos cada. Ela já serviu de classificatório aos antigos Torneios Nacionais. Disputados de 1967 a 1985, reuniam os melhores das ligas do interior com os melhores do campeonato argentino (historicamente restrito à Grande Buenos Aires, La Plata e Rosario), renomeado Metropolitano durante a vigência do Nacional. O Belgrano foi o primeiro clube cordobês a figurar em um Nacional, em 1968.
Ironicamente, porém, seus rivais teriam mais sucesso, ainda que nenhum tenha sido campeão. Talleres (estreante no ano seguinte), Instituto e Racing fizeram belas campanhas a partir da década de 70, a ponto de serem incluídos diretamente na elite do próprio Metropolitano, respectivamente em 1980, 1981 e 1982. Atualmente, a situação se inverteu: o Belgrano é o único cordobês na elite e, talvez, o mais conhecido clube da cidade atualmente, após rebaixar o River Plate em 2011.
A melhor campanha do Belgrano naqueles tempos foi um 9º lugar geral no Nacional de 1977. Figurou no grupo do futuro campeão, o Independiente, e foi quem mais lhe deu trabalho na duríssima primeira fase, em que apenas o líder de uma chave de oito equipes avançava. Mas até ali, o Pirata terminou ofuscado: o Talleres foi ainda mais longe e foi justamente quem enfrentou o Independiente na final, das mais épicas do país. Falamos aqui. Perto daquele e de outros bons momentos, ter sido o primeiro adversário profissional de Maradona (e vencendo: 1-0 no Argentinos Jrs, em 1976) fica um orgulho menor.
O vice de 1977 foi o maior momento dentre outras campanhas dignas de La T, 4ª e 6ª colocada, respectivamente, nos octagonais finais que decidiram os Nacionais de 1974 e 1975; semifinalista dos Nacionais de 1976 (caiu para o River), 1978 (novamente para o Independiente), 1982 e 1984 (ambas para o futuro campeão Ferro); e que, em sua primeira participação no Metro, terminou em 3ª. Seus atacantes brigavam pela artilharia: Oscar Facchetti foi 5º em 1975 (12 gols); Luis Ludueña foi o de 1976 (12); Humberto Bravo foi 4º em 1977 (9) e 2º em 1979 (10); José Reinaldi foi o de 1978 (16) e 2º no Metro de 1982 (17), cuja artilharia ficou com Carlos Morete, já no Independiente. Ainda pelo Talleres, El Puma fora vice-goleador no Nacional daquele ano (17). Guillermo Hoyos foi vice em 1984 (9).
Se o Talleres ficou cheio de homens-gol, o Instituto viu nascer El Matador: Mario Kempes surgiu em La Gloria e foi o principal personagem da estreia dela no Nacional, em 1973, em um time que contava também com Osvaldo Ardiles e Miguel Oviedo. Meia década depois, os três estariam no primeiro título mundial da Argentina, com os dois primeiros sendo protagonistas. Kempes foi o 3º artilheiro daquele Nacional, com 9 gols, e, já pelo Rosario Central, iria no ano seguinte à sua primeira Copa.
O máximo que o Instituto conseguiu nos Nacionais foram as quartas-de-final, já sem Kempes, em 1979 e 1981 (em ambos, fora líder do grupo que tinha Boca, San Lorenzo e Estudiantes), ano em que teve o artilheiro do torneio – Raúl Chaparro. Outro atacante de destaque foi Oscar Dertycia, 3º artilheiro do Metro de 1984 (17), 4º na temporada 1986-87 (16) e 5º na seguinte (15). Na de 1988-89, ele enfim seria o artilheiro, mas já pelo Argentinos Jrs. Pela Gloria, nesta mesma temporada Ariel Cozzoni foi o 3º e, na seguinte (já pelo Newell’s), o 1º.
Já o Racing tem um vice, como o Talleres, e a queda de um grande, como o Belgrano. Em ambos, o técnico era Alfio Basile, o mesmo que conduzira o rival Instituto às ditas campanhas de 1979 e 1981. La Academia foi vice no Nacional de 1980, o primeiro que disputou. Uma campanha em que superou Central, Estudiantes, Vélez e o próprio Racing “original” na primeira fase, passou pelo Argentinos Jrs de Maradona nas quartas, pelo Independiente nas semis e parou em reencontro com o Central na decisão. O Racing também chegou às quartas em 1982, eliminado ali pelo vizinho Talleres. O troco veio um ano depois, quando tirou La T nas oitavas.
Também em 1983, rebaixou um grande: o próprio Racing de Avellaneda, onde Basile, como jogador, fora ídolo. Por sinal, era para o Racing cordobês ter sido rebaixado: fora o último de 19 clubes no Metro, mas acabou salvo pelos promedios (instaurados a partir dali), que por sua vez condenaram o “original”. O grande jogador daquele elenco era o ponta Luis Amuchástegui, vice-artilheiro do Nacional de 1981 (12), 1983 (9) e, já pelo River Plate, também no de 1985. Mario Bevilaqua (1987-88, com 17 e 1989-90, com 16) e Juan Comas (1988-89, com 19) também foram vices. Roberto Gasparini foi 4º em 1982 (12).
Anos 90-atualmente
Os anos 90 marcaram o fim da melhor época da dupla secundária: Instituto e Racing caíram juntos ao fim da temporada 1989-90. Pior para La Academia, que depois de dois anos já estava de fora também da segundona. Na temporada 2012-13, caiu para a 4ª; está abaixo de outros clubes da província de Córdoba, o Alumni de Villa María (que o rebaixou) e o Belgrano de San Francisco (que subiu junto com o Talleres à 2ª). Nessa categoria regional, se juntará em 2013-14 a General Paz Juniors, também da cidade, e a outros nanicos da província: 9 de Julio e Tiro Federal (Morteros), Alianza (Coronel Moldes), Sarmiento (Leones) e Estudiantes (Río Cuarto).
Em 1991, enfim o Belgrano surgiu na elite do campeonato argentino, levando a melhor sobre o Banfield pela última vaga de acesso. O Pirata também teve seus goleadores: Eduardo Quiroga fora vice no Nacional de 1971 (9) e, modernamente, Luis Artime (maior goleador do clube e filho do superartilheiro de mesmo nome) foi o 3º (7) em 1994, assim como Danilo Tosello em 1996 (10), temporada do primeiro descenso. O Talleres caíra em 1993, mas logo voltou após uma temporada, batendo justo o Instituto pela última vaga de acesso. Só que imediatamente caiu de novo e assim a temporada 1996-97 foi a primeira em quase três décadas sem nenhum cordobês no futebol argentino de alto nível.
La T e Pirata voltaram em 1998, como campeão e vice da segundona. No ano seguinte, o Talleres teve seu maior momento: venceu a última Copa Conmebol, em insólita final contra os alagoanos do CSA, saga que falamos aqui. O segundo time do interior com maior torcida no país (só está abaixo do Rosario Central) também celebrou um 4º lugar no Apertura 2000, resultado que o colocou na Libertadores de 2002, a única edição a contar com um cordobês. Tem chances de voltar na de 2014, caso vença a Copa Argentina, onde está nas quartas-de-final, com direito a ter eliminado o Belgrano e o grande Newell’s do momento no caminho. No centenário, já saboreou o título da 3ª divisão, na temporada 2012-13.
Na elite, o canto do cisne do Talleres foi um 3º lugar no Clausura 2004, que o levou à Sul-Americana naquele ano, mas que foi insuficiente para evitar seu rebaixamento por conta dos promedios após campanhas ruins a partir de 2001. Desde então, não voltou mais à 1ª divisão. O Belgrano caiu em 2002, voltou em 2006 e logo caiu em 2007. Ressurgiu em grande estilo em 2011, atraindo mídia mundial ao pôr a pá de cal na hecatombe “rebaixamento do River”. O Pirata quase havia voltado já em 2008, ficando perto de rebaixar outro grande na repescagem, o Racing de Avellaneda. O oponente livrou-se de cair perante outro time de Córdoba, inclusive vencendo na cidade.
O Instituto, ocasionalmente, conseguiu voltar à elite (1999-2000, 2004-06) e ainda é lembrado pelo belo desempenho (“o melhor futebol do país”, segundo Riquelme) na temporada 2011-12 na segundona, a contar com o River. La Gloria foi líder por boa parte, perdendo o acesso ao fim muito por conta da impaciência da própria torcida, a ameaçar os próprios jogadores.
Na seleção
Primeiro fundado entre os quatro e primeiro a aparecer no Nacional, o Belgrano também foi o primeiro cordobês a ter um jogador seu na seleção: o meia José Dellavalle, 8 vezes entre 1920-22, participando do primeiro título argentino na Copa América, em 1921. Mais de meio século passou para pintar um segundo: ninguém menos que Mario Kempes, em 1973, do belo Instituto daquele ano; por ele, jogou apenas uma vez. Logo iria ao Rosario Central.
Ambos foram os únicos antes de César Menotti assumir a seleção em 1974. Menotti foi o primeiro a dar grande valor aos jogadores do interior, de onde saíram muitos da primeira Argentina campeã mundial. Em 1975, convocou contra a Bolívia uma seleção com jogadores de Córdoba, Jujuy, Salta e Tucumán, todos estreantes na Albiceleste, usando 14, um recorde de debutantes. A escalação foi Quiroga, Galván, Pavón, Ocaño e Oviedo (Giordano), Cárdenas, René Alderete (Villa) e Ardiles, Astegiano, Valencia e Antonio Alderete (Ludueña). Astegiano e Antonio Alderete marcaram nos 2-1, em Cochabamba.
A partir dali, apareceram do Talleres os pontas Antonio Alderete (só jogou aquela vez) e Héctor Bocanelli (2 vezes, só naquele ano), o zagueiro Luis Galván, o meia Luis Ludueña (só aquela), o lateral Victorio Ocaño (6, até 1980), o goleiro Oscar Quiroga (só aquela) e o armador José Valencia. O Belgrano forneceu os laterais Rafael Pavón e José Suárez (ambos 3 vezes, só naquele ano).
Do Instituto, saiu Ardiles (pelo clube, só naquela; seguiria na seleção vindo do Huracán) e, do Racing, o meia Miguel Oviedo, ambos na Copa de 1978 juntos de Galván e Valencia. Só Oviedo não seria em algum momento titular nela, mas é o único convocado à seleção por dois clubes cordobeses: era do Talleres em 1978, sendo vice de 1977. É quem mais jogou vindo da Academia, 4 vezes, todas naquele 1975. Por La T, foram 5, de 1978-79. Antes, também integrara aquele Instituto de 1973.
Clube cordobês de maior sucesso na época, o Talleres também foi dominando as convocações. O centroavante Humberto Bravo, outro vice de 1977, recebeu 4 chances em 1978 e foi um dos três últimos cortados da lista final da convocação – ficou famoso como um dos “acompanhantes” de Maradona nisso. Outro centroavante, José Reinaldi, apareceu 2 vezes, em 1979, assim como o lateral Alberto Tarantini (5 vezes, só naquele ano). Em 1980, o zagueiro José van Tuyne jogou 4 vezes.
Van Tuyne e Tarantini iriam à Copa de 1982 já por Racing de Avellaneda e River, respectivamente. Para a Copa, Menotti levou o goleiro Héctor Baley. Embora estivesse na de 1978 (pelo Huracán), El Chocolate foi a última novidade de La T na seleção. Valencia e Galván também estiveram na Copa de 1982 e, por um clube de Córdoba, são os mais duradouros na seleção: foram respectivamente 41 e 34 jogos de 1975 a 1982, todos com a dupla vindo do Talleres. Fora eles, houve o caso de Rolando Mannarino, usado duas vezes já em 1991, mas ambos em jogos não considerados oficiais, onde a Argentina enfrentou as seleções do Resto da América e do Resto do Mundo.
Além da dupla Kempes e Ardiles, o Instituto oficialmente só forneceu outros dois à seleção, sem sucesso: os atacantes Raúl Chaparro (1982, 1 vez) e Oscar Dertycia (1984-85, 14 vezes, além de três não oficiais até 1987) não conseguiram ter nela o mesmo faro de gols por La Gloria – houve ainda as aparições não-oficiais de Víctor Heredia em 1981, contra a seleção santafesina e os clubes Libertad, Godoy Cruz e Hércules de Alicante. Já o Racing, como o Belgrano, teve três até hoje: fora Oviedo, também Luis Amuchástegui (3 vezes entre 1981-83), e o ponta-esquerda Juan Urruti (1983, 1 vez), ambos também sem êxito pela Albiceleste.
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