Não foi a maior goleada do clássico (que foi 7-0 para o Independiente em 1940), nem o dérbi de mais gols (houve dois 7-4, um para cada lado, em 1927 e 1931), nem valia o título como em 1967, 1970 ou 1983 – todos favoráveis ao campeão, o Independiente. Mas o placar bem sinaliza como aquele encontro de 21 de setembro de 1975 foi emocionante. E histórico, também: ninguém marcou tantos gols em um só Clásico de Avellaneda quanto o racinguista Alberto Mario Jorge, quatro vezes ali.
Além da fria estatística, aquele resultado foi um desengasgo aos torcedores da Academia, que já vinham se acostumando ao sofrimento. O Racing não vencia nada desde seu maior título, o mundial em 1967, o primeiro mundial do futebol argentino como um tudo, inclusive. Para piorar, o arquirrival vinha empilhando taças, o que também incluiu um mundial (em 1973) e um recordista tetra seguido na Libertadores, concluído exatamente alguns meses antes naquele ano de 1975: clique aqui.
Como tudo pode sempre ficar pior, o Independiente vinha mantendo o Racing de freguês havia alguns anos. Não só isso: também ultrapassou reverteu naquele período o número de vitórias no clássico, uma vantagem que foi alviceleste até 1974. Para adicionar ainda mais requintes de crueldade, ultimamente vinha goleando: os rojos ganharam os clássicos anteriores por 4-1 e 5-1, ambos também em 1975, e já haviam aplicado os mesmos resultados também no ano anterior.
Mais motivos para gozações em Avellaneda? Na mesma noite em que o Independiente garantiu o tetra da Libertadores, o Racing perdeu por 4-3 para o Boca um jogo que ganhava de 3-0. Para “arrematar”, a Academia não sabia o que era vencer o grande rival desde 1972. E desde 1968 não o derrotava no Cilindro, o estádio racinguista. Foi na própria casa que o Racing levou aqueles dois 5-1, em 1974 e 1975. Assim como foi nela também que perdeu de virada no finalzinho por 3-2, resultado que fizera do grande rival o campeão nacional de 1970.
O jogo de quarenta anos atrás foi válido pela primeira rodada do torneio nacional de 1975. Assim como a rodada do fim de semana retrasado no campeonato de 2015, ela foi reservada aos clássicos. Mario Kempes fez os três em um 3-0 do Rosario Central sobre o Newell’s, atuação brilhante que acabou ofuscada pela de La Pampa Jorge. Outros dérbis foram Atlanta 2-1 Chacarita, Argentinos Jrs 2-1 All Boys, Boca 1-2 River, Huracán 0-1 San Lorenzo, Estudiantes 2-1 Gimnasia LP, Ferro Carril Oeste 1-2 Vélez, San Martín 0-0 Atlético (o clássico de Tucumán), Talleres 2-1 Belgrano (clássico de Córdoba) e Colón 1-1 Unión (clássico de Santa Fe).
Os gols de Jorge foram todos de bola parada, três deles de pênalti. No primeiro, já aos três minutos. O peruano Percy Rojas, que dali a um mês faturaria a Copa América com a sua seleção, empatou logo aos 7. Daniel Bertoni, futuramente autor do último gol da Copa e 1978, virou aos 23. No finzinho do primeiro tempo, mais dois gols: novamente de pênalti, Jorge empatou aos 43, mas o xerife uruguaio Ricardo Pavoni, também de pênalti, repôs os rojos na frente aos 45.
O primeiro tempo cheio de equilíbrio foi sucedido por uma etapa complementar onde só deu Racing. Aos dez minutos, acertando seu terceiro pênalti, Jorge empatou em 3-3. Dez minutos depois, a Academia virou, com Carlos Squeo, raro homem de sucesso naqueles anos ruins (havia ido à Copa de 1974). De falta, Jorge praticamente definiu aos 34 minutos, fazendo 5-3, pois o arquirrival só diminuiria no último minuto – gol do beque Francisco Sá, o homem mais vezes campeão da Libertadores (seis).
Para a forra racinguista ser completa há quatro décadas, o árbitro Humberto Dellacasa expulsou três rivais: Pavoni e a lenda máxima Ricardo Bochini, grande responsável por tantas alegrias rojas (e, por tabela, por tanto sofrimento alviceleste) e que havia anotado seis gols nos seis últimos dérbis (incluindo três em um 4-1 no ano anterior). A tarde foi realmente iluminada para Jorge, pois seu índice de gols pelo Racing não é dos mais altos, fazendo só 39 tentos em 167 partidas.
El Pampa estava no Racing desde 1970, substituindo o vazio deixado pelo mito Humberto Maschio. Não marcou outra vez no clássico, mas aqueles mágicos noventa mitos bastaram para lhe colocar no panteão dos ídolos da Academia. Quando liderava a artilharia daquele torneio nacional, com doze gols, ele deixaria o clube naquele mesmo ano, contratado pelo time mexicano do León.
Apesar do início explosivo e de contratações promissoras (o lateral Rubén Glaria e o volante Roberto Espósito eram do grande San Lorenzo três vezes campeão entre 1972 e 1974; o paraguaio Heriberto Correa, ex-Vélez, havia jogado pela seleção argentina; o tanque Roberto Díaz vinha da segundona para virar o maior artilheiro dos últimos 40 anos do clube), o Racing não iria muito adiante, perdendo a classificação ao octagonal final por cinco pontos em uma época onda a vitória ainda valia 2 e não 3 – os classificados de sua chave foram Talleres e o nanico Temperley.
Nascido no primeiro dia de 1950, Jorge chegou a ser pré-convocado para a Copa de 1978, mas não se viu em condições de disputar a competição e priorizou a carreira no México. Após parar de jogar, dirigiu por muito tempo as categorias de base racinguistas e chegou a ser técnico interino da equipe principal, em 2000 (sua melhor tarde na função foi um 6-0 no Unión). Alberto Jorge foi rapidamente lembrado no oscarizado filme O Segredo dos Seus Olhos – na narração daquela cena do jogo contra o Huracán, é ele quem inicia a armação da jogada que termina em uma paulada no travessão adversário:
“Linda noite para a prática do futebol! O Huracán recebe no Tomás A. Ducó o Racing Club de Avellaneda nesta noite esplêndida para a prática do esporte! O Racing, que não vem com um bom pé no campeonato, quer desquitar-se nada menos que contra o Globo de Parque de los Patricios, um dos candidatos a ganhar o título! Arranca Jorge, leva a bola, deixa no caminho Brindisi (grande manobra!), vai levando a bola pela esquerda… Ataca a equipe do Racing, ilude perfeitamente Houseman, joga a bola para o Gringo Scotta… perigo de gol! Dá para o Panadero Díaz, perigo de gol, perigo de gol, atirou, pegou no travessão!! Incrível como se salva o Huracán, espetacular!! O público do Racing gritava ‘gol’…”.
A narração acima contém alguns erros anacrônicos que já renderam um outro especial – que concluiu que aquela partida na vida real só poderia ter ocorrido justamente naquele ano de 1975, aliás: clique aqui. Abaixo, as escalações do clássico histórico – destaque ao ex-gremista Néstor Scotta, autor do primeiro gol do Brasileirão para os que se opõem à unificação com os torneios pré-1971:
Racing: Carlos Leone; Jorge Buzzo e Heriberto Correa; Rubén Glaria (Jorge Brítez), Roberto Espósito e Rodolfo Domínguez; Hugo Gottardi (Horacio Cordero), Carlos Squeo, Néstor Scotta, Alberto Jorge e Roberto Díaz. Independiente: José Pérez; Francisco Sá e Ricardo Pavoni; José Lencina (Daniel Cuiña), Rubén Galván e Alejandro Semenewicz; Agustín Balbuena, Percy Rojas, Ricardo Ruiz Moreno, Ricardo Bochini e Daniel Bertoni.
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