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35 anos sem Alberto Zozaya, 1º artilheiro do profissionalismo argentino

Se o Estudiantes foi nomeado dessa forma por ter sido criado por estudantes, o clube já foi apelidado de Profesores. Melhor dizendo, seu ataque mais poderoso já foi. Alberto Máximo Zozaya era o centroavante do quinteto ofensivo em questão, e por algum tempo também foi o maior goleador dos alvirrubros – ainda detém a melhor média de gols por partidas pela equipe de La Plata. Especialmente no campeonato de 1931, o primeiro da era profissional nas Américas. Zozaya (a pronúncia no sotaque portenho é uma mistura de “Sossádja” com “Sossácha”) foi o artilheiro do certame inaugural.

Além de artilheiro, Don Padilla foi também o autor do primeiro gol daquele campeonato. Foi aos quatro minutos nos 3-0 contra o Talleres de Remedios de Escalada, sobre Ángel Bosio, o goleiro titular da seleção recém-vice-campeã mundial em 1930. Foi justamente a primeira temporada Zozoya como titular. Já dedicamos um especial sobre aquele ataque fabuloso dos pincharratas (clique aqui), primeiro time a, no profissionalismo, fazer sete e oito gols em um só jogo. Foi nos 7-0 sobre Chacarita e nos 8-0 sobre o Lanús. Em ambas as partidas, o centroavante marcou quatro vezes.

O jogo contra o Lanús poderia ter tido ainda mais bola na rede se o árbitro não o encerrasse na metade do segundo tempo, em razão do abandono grená. Potente e oportunista, de bom cabeceio e controle de bola, Zozaya também fez quatro nos 5-1 sobre o Argentinos Jrs, além dos três nos 3-2 fora de casa no reencontro com o Lanús. Na Argentina, ainda é muito comum a visão de que o certame de 1931 foi o primeiro campeonato argentino. Zozaya, portanto, seria o primeiro artilheiro. Tal percepção (equivocada, por desconsiderar o rico amadorismo de lá) começou a mudar quando a AFA, em 2013, reforçou que os torneios anteriores são oficiais.

Lauri, Scopelli, Zozaya, Ferreira e Guaita: os “Professores”

Ao todo, Don Padilla somou 33 gols em 34 jogos em 1931, quase um terço dos 103 gols do Estudiantes. O clube, apesar do poderio ofensivo, foi vice do Boca. Em 1932, começou no mesmo embalo: logo na primeira rodada, um 6-1 no arquirrival Gimnasia LP, com dois gols de Zozaya, em plena década mais bem nivelada entre os arquirrivais de La Plata. Essa foi a maior goleada do clássico platense até os 7-0 da campanha campeã nacional de 2006 embalada pelo reforço Juan Sebastián Verón. Em 1932, porém, Zozaya faria “só” vinte gols e o Estudiantes ficaria a dez pontos do campeão River.

O nível cairia nos torneios seguintes. Em 1933, os Profesores se desmancharam. O centroavante foi o último daqueles cinco atacantes a seguir no clube, até 1939. E quem afinal eram os outros quatro? O capitão da seleção argentina vice da Copa de 1930, o meia-esquerda Manuel Ferreira, e outro jogador daquele elenco, o meia-direita Alejandro Scopelli (vice-artilheiro do campeonato de 1931); um campeão pela Itália na Copa de 1934, o ponta-esquerda Enrique Guaita; e um futuro jogador da seleção francesa, o ponta-direita Miguel Ángel Lauri, presente no último título francês do Sochaux.

O River era desde 1931 apelidado de Millonarios por quebrar recordes de transferências: Carlos Peucelle em 1931, Bernabé Ferreyra em 1932, este sendo por mais de vinte anos a contratação mais cara do futebol a nível mundial. Manuel Ferreira foi o próximo, em 1933, mesmo ano em que a Roma comprou Scopelli e Guaita. Scopelli, que como Guaita também jogaria pela Azzurra, viria a ser um dos argentinos mais globalizados de seu tempo, enquanto o colega se tornaria o primeiro estrangeiro artilheiro da moderna Serie A.

Com Arturo Naón, maior artilheiro do Gimnasia LP (jogaria no Flamengo); com Enrique “Chueco” García no brevíssimo passo pelo Racing; e treinando o Gimnasia em 1960

Tendo a companhia de Lauri até 1937, Zozaya continuou marcando seus gols. Justamente em 1933, baixando a contagem para dezessete em um campeonato no qual o Estudiantes caiu para 10º, estreou pela Argentina. Teria eficácia de quase um gol por jogo pela Albiceleste: foram nove partidas e oito tentos, com todos os gols saindo em cinco jogos seguidos. Sua estreia, porém, foi na época uma partida não oficial, em uma seleção com jogadores profissionais – enquanto a AFA permanecia amadora. E por isso levou só jogadores amadores à Copa do Mundo de 1934. Eliminada logo na primeira partida, ela se renderia em 1935 à nova era.

Ainda pelo Estudiantes, Don Padilla chegou a marcar em 1934 os três gols da vitória por 3-1 sobre o campeão Boca. E em 1935 somou 21 gols mesmo passando quatro meses parado em razão de uma fratura, com destaque aos três fora de casa em um 5-2 em outro gigante, o Racing, além de dois gols em um 3-0 da Argentina no Uruguai.

Em 1936, suas grandes tardes foram os quatro gols em um 7-1 no Tigre e os três em um 5-0 no Talleres de Escalada, além do único gol em nova vitória hermana contra os uruguaios. Acabou chamado à Copa América de 1937, realizada em casa, no que seria sua única competição pela seleção. Passou em branco nos dois jogos decisivos com o Brasil, mas não fez feio até lá, marcando nas demais partidas. Em especial, os três em um 6-1 no Paraguai. Na figura abaixo, Zozaya é o penúltimo na fila do meio.

Argentina de 1937: o preparador Lago Millán, o técnico Seoane, o goleiro Estrada, Iribarren, Lazzatti, Fazio, Cuello, Martínez (jogou no Fluminense), Emeal (jogou no Vasco), o goleiro Bello e o delegado Sola; Minella, Colombo, Blotto, García, Zozaya e De la Mata; Tarrío, Varallo, Ferreyra, Cherro, Guaita, Scopelli, Peucelle e Sastre (ídolo do São Paulo)

Aquela Argentina tinha três dos cinco Profesores consigo: fugindo do exército italiano convocado para lutar na Abissínia, Guaita e Scopelli voltaram à terra natal, acertados com o Racing. Não tinha como dar errado e os hermanos terminaram campeões. Porém, abdicaram de disputar a Copa do Mundo de 1938. Acreditavam que tinham o direito de sediar o evento, na expectativa de que houvesse alternância entre Europa e Américas para tanto – a edição de 1934 já havia se realizado no Velho Continente e lá acabou permanecendo em 1938. Uma pena ao se levar em conta que o Brasil, freguês dos argentinos na época, foi longe no primeiro mundial da França.

Em 1940, Don Padilla buscou repetir no Racing o sucesso individual dos ex-colegas Guaita e Scopelli (de 31 gols em 57 jogos pela Academia e 44 em 60, respectivamente), mas não passou de dois jogos oficiais pelo novo clube e no mesmo ano teria uma passagem igualmente obscura pelo nanico uruguaio Bella Vista. Chegou a fazer sucesso como técnico do Estudiantes, cargo ocupado na metade final da década de 40, na qual o Pincha sempre rondava os cinco primeiros lugares – treinou justamente aquele que lhe ultrapassaria em gols pelo clube, o ponta Manuel Pellegrina. Nesse período, dirigiu o elenco em parte da campanha campeã da Copa da República (precursora da Copa Argentina) de 1945.

Zozaya também treinaria o rival Gimnasia LP, na virada dos anos 50 para os 60. E até o Benfica, que enxergava os rivais Belenenses, Porto e Sporting terem todos contado com o serviços do ex-colega Scopelli. Nascido em 13 de abril de 1908 na província de Entre Ríos, em Gualeguaychú, o centroavante adotou para sempre La Plata, onde faleceu naquele 17 de fevereiro de 1981.

Como técnico do Estudiantes campeão da Copa da República de 1945: é o segundo homem em pé
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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