Bochini abre o placar "com o cérebro"
*Por Leandro Paulo Bernardo
Caso o amigo leitor tenha mais de quarenta anos ou próximo disso, certamente vai recordar de grandes jogos do Campeonato Brasileiro onde os protagonistas não foram campeões. Algo do tipo Santos e Fluminense em 1995 ou o famoso Gre-Nal do século. Um desses jogos no futebol argentino completa 30 anos hoje, um estupendo Boca x Independiente.
O campeonato naquela época contava com 20 times, no sistema de pontos corridos e todos se enfrentando em jogos de ida e volta. Havia uma enorme expectativa, pois seria o primeiro após a conquista mundial da Albiceleste e com os clubes argentinos dominando a Taça Libertadores; marcava ainda o retorno para a elite do Rosario Central e do Racing. Todavia, o clima de violência estava afastando o público do estádio (a média em 1975 era de aproximadamente 7600 pessoas por jogo; em 1985, era de 4600). Entre 1983 e 1986, ocorreram oito assassinatos por brigas de torcidas, além da crise econômica que o país passava… Um clássico entre Boca e San Lorenzo teve menos de cinco mil pagantes.
Em outubro de 1986, o River finalmente conquistava sua primeira Libertadores e praticamente saía da briga pelo título nacional, focado no Mundial. Do lado do Independiente, uma baixa considerável iria marcar o clube: o ótimo arqueiro Luis Islas sofreu uma fratura na perna e passaria um bom tempo ausente. Enquanto outro jovem arqueiro garantia os bons resultados do San Lorenzo, José Luis Chilavert, que havia sido contratado do Guaraní do Paraguai.
A penúltima rodada foi disputa no dia 26 de abril de 1987, e dentre as partidas havia um clássico entre Boca e Independiente em La Bombonera. Até aquele momento, o Rosario Central liderava com 46 pontos, o Boca tinha 45, Independiente e Newell’s tinham 44, San Lorenzo tinha 42, Ferro e Racing tinham 41. O regulamento ainda previa que se duas equipes terminassem empatadas, haveria um jogo extra para decidir o título.
Os xeneizes eram comandados por Cesar Luis Menotti e vinham de dez vitórias e dois empates nas últimas partidas. O quarentão Hugo Gatti fazia um excelente campeonato e o ataque contava com o “Tridente” formado por Comas, Rinaldi e Graciani. Os rojos vinham com uma equipe muita entrosada; já haviam negociado Burruchaga com o Nantes, mas ainda tinham a cadência cerebral de Giusti, Bochini e Marangoni no meio. No ataque, Percudani, autor do gol do último título mundial do clube, sobre o Liverpool em 1984, contava com o auxílio do peruano Franco Navarro.
A partida iniciou a toda velocidade, mas o gol demorou. Veio em um avanço de Marangoni, onde Navarro chutou cruzado para ótima defesa de Gatti, que ainda defendeu o rebate de Bochini. A bola correu para a lateral da área e foi cruzada… Bochini “cabeceou com o cérebro” para milimetricamente colocar a bola no ângulo e longe do alcance de Gatti. Um a zero Rojos e final do primeiro tempo.
O Boca se agigantou e buscou o empate. Após um cruzamento, Tapia deu uma forte cabeçada e empatou a partida, aos gritos de raiva do zagueiro do Independiente, achando que o goleiro havia falhado. Enquanto isso, o líder isolado Rosario Central acabou vencendo sua partida por 4-1 contra o Unión, o que tornou o final do clássico mais aguerrido. O Boca avançava mais e era empurrado por sua torcida, mas estava sujeito aos contra ataques; em um desses, depois de um toque de calcanhar de Percudani, Giusti devolveu para o centroavante, que tocou na saída do solitário Gatti: 2-1.
O Boca se inflamou ainda mais e, em outro congestionamento na área do Independiente, Graciani se jogou e o juiz marcou o pênalti. Comas converteu e àquela altura o Boca ainda estava vivo pelo título, enquanto o Independiente estava fora da briga. O Newell’s entrava no páreo ao vencer o Racing de Córdoba. No momento que o juiz estendia o braço para avisar o tempo a ser acrescido, gerado principalmente pelo empate em 2-2 também nas expulsões (Rinaldi e Abramovich do Boca, Villaverde e Giusti do Independiente), Marangoni “girou sobre o eixo da maestria” e fintou três jogadores do Boca.
Maranga ficou cara a cara com Gatti, mas tocou na diagonal para Percudani definir o clássico… 3-2 para os Rojos e o Boca perdia assim a chance de conquistar o campeonato. E também o goleiro para a última rodada, pois El Loco Gatti partiu para cima do juiz e ingressou ao time dos expulsos no jogo. Para a última rodada, o Independiente sofreu com o resultado da guerra (expulsos e lesionados) e em outra batalha, ficou no empate por 3-3 com o Vélez.
O drama pelo título foi transferido aos clubes de Rosario, com os canallas conseguindo um raríssimo bicampeonato seguido entre segunda e elite (a única vez que isso ocorreu no profissionalismo argentino) vencendo a competição após um empate contra o Temperley. Os leprosos venceram o Deportivo Italiano e chegaram ao vice-campeonato, prenúncio do excelente time que viria para a próxima temporada, ainda que a decepção fosse naturalmente imensa entre todos no Newell’s, com direito ao técnico Jorge Solari culpar a própria torcida de pecho fría – algo ainda muito associado aos rubronegros: detalhamos aqui o drama rosarino.
A sequência da temporada terminou com a luta pela segunda vaga na libertadores, a famosa Liguilla. Boca e Independiente fariam a final, com novo êxito para os Rojos… Mas aí é outra história. A de hoje, por sua vez, pode ser resumida por uma declaração que Percudani certa vez deu a esse escritor: que, em muitos momentos, o ex-atacante é felicitado do três vezes ao ano; no aniversário próprio, no do último mundial conquistado pelo Independiente ou ainda quando alguém lembra desse jogo inesquecível e dos seus dois gols.
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