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25 anos do Bi-Mundial – Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental

O esperado dia chegou. No dia 29 de junho de 1986 o Estádio Azteca recebeu mais de 114.000 pessoas para conhecer o novo campeão mundial de futebol. De um lado, a Alemanha (à época ainda Alemanha Ocidental) chegava novamente à final da Copa ao derrotar uma extenuada França por 2 a 0. De outro, a Argentina, que comandada por Maradona em outra atuação mágica, venceu a Bélgica pelo mesmo placar.

A expectativa era enorme. A partida colocou frente a frente a eficiência alemã contra a magia de Maradona. Os alemães chegavam à sua quinta final exaustos pelos jogos contra o Marrocos nas oitavas-de-final, o México nas quartas-de-final (definida somente nos pênaltis) e contra a ótima seleção francesa de Michel Platini. Além disso, seu técnico, Franz Beckenbauer, poderia ser o segundo jogador na história dos Mundiais a conquistar um título como jogador e como técnico (o primeiro havia sido o brasileiro Zagallo). A Argentina chegou à final após despachar Uruguai, Inglaterra e Bélgica com atuações mágicas de Maradona, conforme você já pôde conferir aqui no Futebol Portenho.

Sob o sol causticante do meio-dia, o árbitro brasileiro Romualdo Arppi Filho apitou o início da partida. Como toda final que se preze, as equipes começaram o jogo fechadas, tensas. Desde o início do jogo a proposta alemã era clara: anular Maradona. Esse trabalho coube ao ótimo Lothar Matthaus, que não desgrudou por um segundo do “Diez”. Com o melhor jogador da Copa sem poder fazer muita coisa, a equipe argentina precisou dos seus outros jogadores para criar as chances de gol. A Alemanha também criava pouco: era o reflexo da ausência de Matthaus na armação das jogadas ofensivas.

Além disso, Maradona por pouco não prejudicou seus companheiros. Aos 17 minutos, após uma cobrança de falta perto da área argentina, ele reclamou de forma bem acintosa contra Arppi Filho, que lhe aplicou um cartão amarelo. Mas Diego teria mais a mostrar. Cinco minutos depois, ele deu um passe que quase colocou Burruchaga na cara de Schumacher. No rebote, a bola caiu com Cuciuffo na direita. O lateral do Vélez encontrou Maradona, que de calcanhar devolveu-lhe a bola. Cuciuffo dominou e foi derrubado por Matthaus. Na cobrança, Burruchaga fez um levantamento preciso que encontrou o zagueiro Brown. Com uma péssima saída de Schumacher, o “Tata”, que na Copa substituiu ninguém menos que Daniel Passarella, subiu mais que toda a zaga e marcou o primeiro gol da final da Copa de 86.

Brown sobe para marcar o primeiro gol argentino

Maradona continuava a ser marcado implacavelmente por Matthaus. Assim, só chutava a gol em cobranças de falta. Numa delas, na meia-lua da área, teve a chance de fazer o segundo, mas cobrou a falta com fraqueza e a bola foi defendida por Schumacher. Antes do final do primeiro tempo a Alemanha teve uma oportunidade, porém Rummenigge chegou tarde à bola e não conseguiu chutar no gol de Pumpido.

O segundo tempo começou mais aberto, Beckenbauer sacou o inoperante Allofs e colocou o bom atacante Rudi Voller. Por sua vez a Argentina voltou mais solta e com isso chegou ao segundo gol aos 11 minutos. Maradona começou a jogada ainda no campo de defesa e deu um passe curto para Giusti. O meia do Independiente dominou a bola pela meia-esquerda e aguardou inteligentemente o deslocamento de Valdano pelo mesmo lado. O passe foi perfeito e o atacante do Real Madrid teve a tranquilidade necessária para aguardar a saída de Schumacher e fazer 2 a 0 para a Albiceleste.

Fosse qualquer outro adversário poderíamos dizer que a fatura estava quase liquidada. Mas como do outro lado estavam os persistentes alemães, desatenções nunca podem ser permitidas. Assim, aos 29 minutos a Alemanha diminuiu. Numa cobrança de escanteio pela esquerda, Brehme cruzou, Voller escorou na primeira trave e a bola veio na direção do grande Karl-Heinz Rummenigge. O atacante, que mesmo contundido jogava a final, entrou de carrinho e Pumpido não conseguiu defender.

O desespero argentino aumentou e chegou ao ápice sete minutos depois. Em nova cobrança de escanteio pela esquerda, dessa vez Brehme levantou a bola em direção à segunda trave de Pumpido. Berthold ganhou na disputa áerea e a bola foi ao meio da pequena área, onde estava bem colocado Voller. O atacante que mudou a história alemã no segundo tempo da final virou-se rapidamente e usou a cabeça para empatar a grande final. Como em outras finais, a Alemanha ressurgia das cinzas para se colocar novamente no jogo.

Burruchaga toca para marcar o gol do título argentino em 86

Na final da Copa de 1954 os alemães pararam Puskas e companhia e conquistaram o primeiro título mundial contra a Hungria. Vinte anos depois, foi a vez da Holanda de Cruyff tombar diante dos germânicos, o que deu a eles o bi-campeonato mundial. Em 1986 a história poderia ter se repetido com Maradona. Poderia. Três minutos após o empate alemão, em uma das poucas vezes em que teve tempo e espaço suficientes para jogar, o “Pibe de Oro” tirou mais um lance mágico de sua cartola e deu um passe espetacular para Burruchaga na direita. O ponta do Nantes saiu em disparada, ganhou na corrida de Briegel, invadiu a área e tocou suavamente por baixo de Schumacher. Era o gol do título. Era o ato final de uma campanha quase perfeita. Era a coroação de Diego Armando Maradona como um dos maiores jogadores do mundo de todos os tempos.

Antes do início do Mundial, quando a Argentina chegou ao México sob a desconfiança de muitos torcedores e jornalistas, Carlos Bilardo foi profético: “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a sair”. Com um Maradona inspiradíssimo e outros bons valores como Pumpido, Burruchaga, Valdano e Ruggeri, oito anos depois a Argentina novamente ganhava a Copa, chegava ao bi-campeonato mundial de futebol e se igualava ao Uruguai e à própria Alemanha em número de conquistas. Além disso, consolidou o domínio do “bilardismo” sobre o “menottismo” na seleção, embora esse debate continue sempre muito acirrado entre os torcedores e admiradores da Albiceleste.

Melhores momentos da final:

Ficha técnica:

ARGENTINA – Pumpido, Brown, Ruggeri e Olarticoechea; Cuciuffo, Batista e Giusti; Enrique e Maradona; Burruchaga (Trobbiani) e Valdano
Técnico – Carlos Bilardo

ALEMANHA OCIDENTAL – Schumacher, Jakobs, Berthold, Forster e Briegel; Matthaus, Brehme, Magath (Hoeness) e Eder; Rummenigge e Allofs (Voller)
Técnico – Franz Beckenbauer

Árbitro – Romualdo Arppi Filho (Brasil)
Estádio – Azteca (Cidade do México)
Público – 114.600

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

4 thoughts on “25 anos do Bi-Mundial – Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental

  • Willian Alves de Almeida

    Legal, grande glória! Parabéns Alexandre, e a todos envolvidos na conquista.

  • Alexandro Ventura Leite

    Parabenizo ao Alexandre e aos outros que fizeram esse monumental trabalho sobre o Bi-Mundial. O site está virando um grande banco de dados sobre o que há de melhor no futebol argentino. Essa série de especiais esteve demais, muito bom mesmo as matérias, todas sem exceção.

  • Ricardo

    Arrepiante. Tenho a série de dvd’s da história das copas que a Abril relançou para a copa de 2010. Uma lição a copa de 86 (foi a minha primeira, tinha 9 anos; chorei na eliminação do Brasil pela França) para os mais jovens que acham Messi o máximo e justificam suas apagadas atuações pela seleção argentina dizendo que no Barcelona a companhia é melhor. Acho que embora bons jogadores, os comapnheiros do pibe de ouro longe estavam de ser brilhantes. Mas quem é gênio é isso mesmo: quando a coisa tá encardida, ele vai lá e assume a responsabilidade ( enão teve um só dos 7 jogos que ele não tenha sido decisivo)! Messi tem que comer muito feijão com arroz para ter a honra de lustrar as chuteiras de Maradona!

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