Especiais

25 anos do Bi-Mundial – Argentina 1 x 0 Uruguai

Passada a primeira fase, a Argentina se classificou em primeiro lugar no seu grupo, o A. O regulamento da Copa de 86 trouxe a volta das partidas de eliminatórias simples, cujo sistema não era utilizado desde a Copa de 70. O cruzamento previa o enfrentamento do primeiro colocado do grupo A contra um dos melhores terceiros colocados. Os quatro melhores terceiros se classificaram ao lado dos campeões e vices de cada grupo.

À Argentina coube nada menos que o Uruguai, que esteve no grupo E. Com dois empates (1 x 1 com a Alemanha e 0 x 0 com a Escócia) e uma derrota (o avassalador 6 x 1 contra a Dinamarca, pior derrota da história da Celeste em Copas) os uruguaios obtiveram a classificação no lugar da Hungria. Os magiares, que também somaram dois pontos, tinham um saldo de gols negativo de sete gols, enquanto os uruguaios tinham o saldo negativo de cinco.

Assim, 56 anos depois Argentina e Uruguai voltaram a se encontrar em uma Copa do Mundo. Na última vez que eles se enfrentaram numa Copa, o título da edição de 1930 esteve em jogo. Na ocasião, o Uruguai venceu por 4 x 2. Mas desde 1901 argentinos e uruguaios travam históricos embates no que é o “Clássico do Rio da Prata”. É uma das maiores rivalidades do futebol e em 180 jogos foram 84 vitórias argentinas, 55 triunfos uruguaios e 41 empates.

Em campo as genialidades de Diego Maradona e Enzo Francescoli. O “Pibe de Oro” contra o “Príncipe”. Francescoli era o maior astro do River Plate e artilheiro do time, que na época da Copa era o campeão argentino. Posteriormente, o “Millo” viria a ser o campeão da Libertadores e campeão do Mundial Interclubes, mas já sem o uruguaio, que se transferiu para o Racing francês. Além deles, um velho conhecido da torcida brasileira estaria em campo. Darío Pereyra, que fez fama jogando na defesa do São Paulo, seria escalado pelo técnico Omar Borrás no meio-campo, sua posição de origem.

Como em todo Argentina x Uruguai que se preze, o clima que antecedeu a partida foi tenso. Jornalistas dos dois países trocaram farpas na mídia. Numa tarde ensolarada de segunda-feira, cerca de 26.000 pessoas foram ao estádio Cuauhtemoc em Puebla para prestigiar a terceira partida das oitavas-de-final da Copa de 1986.

Maradona já era uma grande realidade e tinha provado isso na primeira fase. Jorge Barrios, encarregado de marcar o craque, era desafeto do “Pibe'” desde as categorias de base. Logo aos quatro minutos de jogo, Maradona começou a aprontar para cima da defesa uruguaia: numa jogada pela esquerda fez o cruzamento para Valdano, que foi travado por Gutiérrez. Sete minutos depois, novamente Diego entra pela meia esquerda e, após se desvencilhar da marcação, cruza com perfeição para Valdano. O jogador do Real Madrid chegou atrasado e não conseguiu concluir para o gol de Álvez.

A Argentina era melhor em campo e quase marcou aos 20 minutos. Numa cobrança de falta pela direita, Maradona chutou forte e a bola explodiu no travessão. O jogo era duro, com faltas ríspidas de lado a lado. O árbitro italiano Luigi Agnolin teve trabalho para coibir a violência e ainda no primeiro tempo deu cartão amarelo a Garré por uma entrada em Francescoli e em Francescoli pelo revide no lateral argentino.

Pasculli coloca a Argentina na frente

Os argentinos continuavam a dominar o jogo e o gol saiu aos 41 minutos. O hoje técnico da Argentina Sergio Batista foi derrubado pela meia-direita, mas como a bola sobrou para Burruchaga a lei da vantagem foi aplicada corretamente por Agnolin. O ponta passou a bola para Valdano, mas a bola não lhe chegou. Na corrida, o zagueiro Acevedo tentou cortar e acabou dando um passe para Pedro Pablo Pasculli. O atacante do Lecce da Itália, que tinha sido campeão da Libertadores em 85 com o Argentinos Juniors, livre na área, tocou com categoria no canto esquerdo de Álvez.

Ainda no primeiro tempo o Uruguai quase empatou aos 44. Num lançamento de Bossio, o atacante Wilmar Cabrera passou do ponto ao tentar tocar de cabeça e a bola sobrou para Francescoli. O “Príncipe” dominou e se preparava para bater para o gol quando um pé surgiu na sua frente. Não foi o pé de Ruggeri e nem de Brown. Foi o pé do próprio Cabrera, que chutou precipitadamente para fora do gol.

O treinador uruguaio Omar Borrás voltou para o segundo tempo com Da Silva no lugar do incipiente Cabrera. Maradona continuou fazendo a festa na defesa uruguaia, porém pelo lado direito. Logo aos dois minutos o “Pibe” carregou a bola até a linha de fundo após ter saído de dois zagueiros e cruzou rasteiro para Pasculli, que chegou atrasado e perdeu a chance do segundo gol. Aos 16 minutos, o técnico Omar Borrás mandou sua equipe de vez para a frente ao sacar o zagueiro Acevedo e colocar o talentoso meia Rubén Paz, que atuava no Internacional.

Maradona seguia impossível. Aos 20 minutos fez uma jogadaça pelo meio e esticou a bola na direita para Valdano. O “Filósofo” carregou a bola até a área e cruzou para o “Pibe”, que completou para o gol. Num lance em que somente houve falta na intepretação do árbitro, o gol foi anulado. A “Celeste” melhorou e aos 27 Rubén Paz quase empatou, num chute cruzado pela direita. Aos 42 um chutaço de esquerda de Venancio Ramos encontrou um Pumpido muito bem colocado, que espalmou a bola e conseguiu pegar o rebote. Francescoli também tentou aproveitar e atingiu levemente o goleiro, que aproveitou para ganhar todo o tempo do mundo.

Não houve tempo para mais uma façanha uruguaia. Aos 47 minutos Agnolin encerrou o jogo. A Argentina passava para as quartas-de-final da Copa, vingava a derrota na final da Copa de 30 e mandava os uruguaios de volta para a casa. Dali a dois dias sairia o adversário da Argentina. Seria a Inglaterra, com quem a Albiceletes faria um dos jogos mais sensacionais da história das Copas.

Veja os melhores momentos da reedição da final da primeira Copa do Mundo na Copa do México:

Ficha técnica:

ARGENTINA – Pumpido, Brown, Ruggeri e Garré (Olarticoechea); Cuciuffo, Giusti e Batista; Burruchaga e Maradona; Pasculli e Valdano
Técnico – Carlos Bilardo

URUGUAI – Álvez, Gutiérrez, Acevedo (Rubén Paz), Rivero e Santín; Barrios, Bossio, Darío Pereyra e Francescoli; Cabrera (Da Silva) e Venancio Ramos
Técnico – Omar Borrás

Árbitro – Luigi Agnolin (Itália)
Estádio – Cuauhtemoc (Puebla)
Público – 26.000

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

15 − 3 =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.