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25 anos do Bi-Mundial – Argentina 3 x 1 Coreia do Sul

A partir de hoje o Futebol Portenho dará início a uma série de sete especiais que vão contar cada passo dado pela Argentina rumo ao bi-campeonato obtido na Copa do Mundo de 1986, realizada no México. Durante o mês do junho, convidamos você a conhecer um pouco mais sobre como Diego Maradona e sua turma chegaram lá.

Mas antes de começarmos a contar a história vitoriosa da Argentina naquela Copa, vale recordar as origens daquela seleção e a classificação para o Mundial, obtida de forma dramática num jogo que ficou para a história do futebol argentino.

Logo após a dura eliminação na Copa de 1982, a AFA decidiu fazer uma reformulação completa na seleção argentina. Cesar Luis Menotti, técnico campeão da Copa de 1978, foi apontado pela imprensa e por boa parte dos torcedores como o grande culpado por não ter conseguido levar a equipe ao bi-campeonato. Menotti havia mantido a base do time vencedor e incluído os jovens Ramón Díaz e Diego Maradona, que foram campeões mundiais juvenis em 1979.

A AFA agiu rápido e destituiu Menotti após o Mundial. Para o seu lugar, foi anunciado Carlos Salvador Bilardo. Ex-armador do mitológico time do Estudiantes tri-campeão da Taça Libertadores da América (1968 a 1970), Bilardo havia sido campeão metropolitano com o Estudiantes em 1982 e a boa campanha realizada à frente do “Pincha” chamou a atenção dos dirigentes da associação que comanda o futebol argentino.

Bilardo assumiu o comando da Argentina em 23 de março de 1983. Ainda em março foi à Europa e conversou com vários jogadores, inclusive Maradona. Na conversa, Bilardo fez uma proposta ao “Diez”:  assumir a capitania da equipe. Diego aceitou na hora e na volta a Buenos Aires o treinador afirmou que seu time era composto pelo “Pibe de Oro” e mais dez. Assim, ficava claro que o que Daniel Passarella havia sido para Menotti, Maradona seria para Bilardo. E então começou uma discussão que opõe dois estilos de jogo e que perdurará por todo o sempre na Argentina: o “menottismo” contra o “bilardismo”. Desnecessário dizer que a relação entre Passarella e Maradona também nunca mais foi a mesma.

O treinador, também conhecido como “Narigón”, mudou 18 jogadores para o primeiro amistoso sob seu comando, um empate por 2 a 2 contra o Chile. Do time de 82, apenas o goleiro Fillol havia sido mantido. Até o início das Eliminatórias para 86, a equipe havia conseguido apenas dois resultados expressivos: a vitória contra o Brasil por 1 a 0 em agosto de 1983, encerrando um jejum de 13 anos sem vencer o grande rival e uma vitória por 3 a 1 contra a Alemanha Ocidental, num amistoso realizado em Dusseldorf em setembro de 1984. A julgar pelos resultados, a caminhada para a Copa seria dura e sofrida.

Nas Eliminatórias, a Argentina fez parte do grupo A com Peru, Colômbia e Venezuela. Apenas o campeão do grupo se classificaria diretamente para a Copa. Após cinco rodadas, o time argentino tinha oito pontos contra sete dos peruanos. O último e decisivo jogo que decidiria a ida para o torneio mundial seria em Buenos Aires contra o próprio Peru. Bastava à Albiceleste um empate para confirmar sua classificação. Era o dia 30 de junho de 1985.

16 anos antes o Peru veio a Buenos Aires para enfrentar a Argentina num jogo que decidiria a classificação para a Copa de 1970. Os peruanos tinham a vantagem do empate e conseguiram um 2 a 2, eliminando os platinos em casa. A data ficou marcada na história como uma das mais tristes do futebol argentino e havia no ar um sentimento de revanche e de temor por uma possível repetição do pesadelo.

Ricardo Gareca se prepara para empatar o jogo contra o Peru

A Argentina fez 1 a 0, com Pasculli. Mas o valente selecionado peruano não se intimidou e virou para 2 a 1 ainda no primeiro tempo, com gols de Velázquez e Barbadillo. O resultado classificava o Peru e levava a Argentina para a repescagem. Faltando dez minutos para o fim, um lançamento longo de Burruchaga encontrou Daniel Passarella pela direita. O “Gran Capitán” chutou cruzado, a bola bateu na trave e caprichosamente bailou em cima da linha da meta. O hoje técnico do Vélez e na época atacante Ricardo Gareca empurrou violentamente para o fundo das redes, deu o empate e a classificação para a Copa de 86.

A forma com que a classificação foi obtida gerou protestos em todo o país. Até o governo argentino, por meio do secretário de esportes Rodolfo O´Reilly, gostaria que Cesar Luis Menotti voltasse. Mas Julio Grondona, à época já presidente da AFA, fez valer sua condição e bancou a manutenção de Bilardo. A Argentina ficou alocada no grupo A do Mundial, com a então campeã Itália, Bulgária e Coreia do Sul. Após 45 dias de treinos em solo mexicano, a Argentina fez sua estreia na Copa do Mundo contra os coreanos no dia 2 de junho de 1986.

Sob os olhares de mais de 60 mil pessoas que torravam ao sol do meio-dia (horário definido pela FIFA para agradar ao público europeu), a Argentina entrou no gramado do Estádio Olímpico e logo aos cinco minutos de jogo marcou o primeiro gol. Maradona bateu uma falta pela meia direita e a bola bateu na barreira. O próprio Diego meteu a cabeça na bola para passá-la a Valdano. O jogador do Real Madrid dominou e bateu cruzado.

Desde o começo a estratégia coreana era clara: parar Maradona com faltas. Ao todo foram 12 faltas no camisa 10 argentino, que em sua autobiografia contou: “Como me bateram, mãe! Parece pouco, mas me fizeram 12 faltas e me deixaram sangrando, sem brincadeira. E sabe em que momento mostraram cartão para um deles? Aos 44 minutos do primeiro tempo, para o número 17, que não me lembro como se chamava, mas eu já estava o chamando de Kung Fu”.

Maradona sofrendo contra os coreanos na estreia. Sofre entrada logo no início do oponente que em 2010 enfrentou-o como técnico da Coreia do Sul!

A marcação por pressão exercida pela equipe de Bilardo deu resultado e não deixava espaços para a Coreia jogar. Por isso, o segundo gol saiu aos 18 minutos e que se originou de uma outra falta. Novamente Maradona cobrou, mas pelo lado esquerdo. A bola viajou até chegar ao segundo pau, quando encontrou a testa do zagueiro Oscar Ruggeri. O “Cabezón”, da entrada da pequena área, completou de maneira firme para o gol.

Com 2 a 0, a Argentina se acomodou no jogo. A Coreia do Sul era um adversário fraquíssimo e continuava a se preocupar mais em parar Maradona com faltas do que efetivamente jogar futebol. Com isso, a defesa argentina mudou sua forma de atuação, com Ruggeri cobrindo as subidas do lateral-esquerdo Garré. Com maior liberdade pelas laterais, a Argentina ganhava um reforço para que os atacantes Pasculli e Valdano pudessem marcar mais gols.

O terceiro gol saiu no comecinho do segundo tempo. Maradona dominou pela meia-direita, entrou na área, viu Valdano sozinho pelo meio e cruzou. O “Poeta” só teve o trabalho de empurrar para as redes e liquidar o jogo para os argentinos. Com isso, os três gols argentinos saíram dos pés de Maradona, bancado por Bilardo desde o início de sua trajetória no comando técnico da Argentina.

A Coreia do Sul marcou o seu gol de honra aos 32 do segundo tempo. Park Chang-Seon dominou pela meia-direita e soltou um balaço de fora da área, pegando o goleiro Nery Pumpido adiantado. Muito comemorado pelos torcedores presentes no Estádio Olímpico, o belo gol não serviu para animar os asiáticos, que assim como os argentinos, estavam extenuados pelo forte calor mexicano.

Ainda que contando com o talento do “Diez”, com a vitória na estreia a Argentina trocava definitivamente o modo “menottista” pelo “bilardista”: jogo pragmático e vitórias “feias”. Não tinha a exuberância e nem a ofensividade dos times comandados por Menotti, mas vencia. E naquele momento a vitória era o mais importante, segundo as palavras do próprio Carlos Bilardo: “Se o desejo constante pela vitória é um sinal de loucura, então eu sou o homem mais louco do planeta”.

De certa forma o jogo contra a Coreia do Sul havia sido tranquilo para a Argentina. Mas o próximo jogo seria um grande desafio: enfrentar a atual campeã mundial, a Itália. O confronto estava marcado para o dia 5 de junho, em Puebla e será mostrado no post seguinte.

Veja os gols do jogo Argentina 3 x 1 Coreia do Sul:

Ficha técnica:

ARGENTINA – Pumpido, Brown, Ruggeri e Garré; Clausen, Giusti e Batista; Burruchaga e Maradona; Pasculli e Valdano
Técnico – Carlos Bilardo

COREIA DO SUL – Oh Yeon-Kyo, Park Kyung-Hoon, Chung Yong-Hwan, Kim Pyung-Seok e Cho Min-Kook; Choi Soon-Ho, Kim Joo-Sung e Huh Jung-Moo; Park Chang-Seon, Cha Bum-Keoun e Kim Yong-Se
Técnico – Kim Jung-Nam

Árbitro – Arminio Victorian Sánchez (Espanha)
Estádio – Olímpico Universitario (Cidade do México)
Público – 60.000

Alexandre Leon Anibal

Analista de sistemas, radialista e jornalista, pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte. Neto de argentinos e uruguaios, herdou naturalmente a paixão pelo futebol da região. É membro do Memofut, CIHF, narrador do STI Esporte (www.stiesporte.com.br ) e comentarista do Esporte na Rede, programa da UPTV (www.uptv.com.br ).

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