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Há 60 anos, o Bahia, treinado por um argentino, era o 1º campeão brasileiro

Os campeões de 1959 vinte anos depois, em 1979, em reportagem da revista Placar (as identificações de Marito e Mário estão invertidas). Venceram os veteranos do Vitória por 3-0!

É verdade que o tal treinador só entrou na campanha campeã da primeira Taça Brasil exatamente naquela finalíssima, travada no próprio aniversário da cidade de Salvador. Também é verdade que Pelé, operado nas amídalas, não atuou – mas, com ele em campo, o Bahia havia vencido na Vila Belmiro e o Santos, repleto de outros craques, era bom o bastante para ser campeão mundial sobre o Milan em 1963, outra ocasião onde esteve desfalcado de seu grande astro. Assim como Carlos Volante teve estrela em ser o técnico do primeiro campeão brasileiro, o Bahia, em saga cujos 55 anos, em 2015, já haviam sido relembrados pelo Futebol Portenho nesta nota. Hora de atualiza-la e amplia-la após leitura do obrigatório Heróis de 59, gentilmente presenteado pelo próprio autor Antônio Matos ao redator.

Também já dedicamos (em 2017) esta outra nota à trajetória de Volante, um ex-jogador de Lanús e Platense com breve passagem pela seleção argentina antes de desenvolver carreira na Europa. E foi por lá que sua carreira brasileira começou: ele acabou improvisado como massagista da seleção tupiniquim durante o mundial de 1938 – sendo, de certa forma, o único argentino a participar de uma Copa pelo Brasil. O intercâmbio com os brasileiros o levou ao Flamengo naquele mesmo 1938. Ficaria até 1943, ganhando três títulos estaduais. Eram os anos de Platinismo no futebol brasileiro, algo que teve como pioneiro o America-RJ, que só em 1934 tivera José Della Torre (da Copa de 1930 e que há 60 anos acabara de triunfar sobre o Brasil como técnico da Argentina na Copa América de 1959), Alberto Fassora, Juan Rivarola (campeões da Copa América 1929), Ismael Arrese e Juan Mariani.

A Argentina tinha seleção sul-americana mais forte da época e que não raramente goleava a brasileira, fazendo com que clubes vizinhos corressem atrás de hermanos. Mesmo os de segunda linha ou em fim de carreira brilhavam: Antonio Sastre e José Poy seriam eleitos em 1982 para o time dos sonhos do São Paulo, onde Armando Renganeschi também foi bem. José Villalba, do “Rolo Compressor” do Internacional que em dado momento chegou a ser treinado pelo próprio Volante, é o segundo maior artilheiro dos Grenais. Nunca firmado de todo no Gimnasia LP, Juan Echevarrieta é o homem com melhor média de gols no Palmeiras e seu máximo artilheiro estrangeiro. Luis Rongo saiu da eterna reserva do River e do Peñarol para conseguir mais de um gol por jogo no Fluminense, ainda tendo certos recordes de artilheiro nas Laranjeiras. Obscuro na própria terra natal apesar do passo pelo Boca, Agustín Valido fez o gol do título do primeiro tri estadual flamenguista, em 1944.

Volante no Flamengo e os campeões de 1939, cheios de argentinos: ele, Valido, Orsi e Naón são os quatro primeiros em pé da esquerda para a direita. González é o nono

Valido foi um dos compatriotas de quem Volante foi colega no Flamengo. Alfredo González, que defenderia ainda Vasco e Botafogo e treinaria Bangu (campeão em 1966) e Fluminense, foi outro. Arturo Naón, maior artilheiro do Gimnasia LP, também, assim como Ricardo Alarcón, Julio Castillo e o consagrado Raimundo Orsi, campeão mundial pela Itália na Copa de 1934 (com gol na final). Volante foi o mais longevo: quando parou, era o forasteiro com mais jogos pelo Flamengo, 164. E originou o termo “volante” para o meia defensivo, sua posição em campo, enquanto o vascaíno Bernardo Gandulla ajudaria a popularizar um termo já empregado para os garotos que repunham a bola a campo. Nos anos 50, Volante começou, já como técnico, sua trajetória no futebol baiano. Foi campeão estadual na Vitória em 1953, o primeiro título leonino desde a revalorização do futebol no clube, campeão pela última vez em 1909. O argentino treinou outros rivais tricolores, Galícia e o Botafogo baiano, além do Fluminense de Feira de Santana; fora dos campos, também estabeleceu-se como corretor de imóveis em Salvador, trabalhando na Ibramex, empresa pioneira no ramo pelo estado.

Assim, o nome do argentino foi logo sondado em fevereiro daquele 1960 para substituir Geninho, técnico da grande campanha do Bahia na primeira Taça Brasil. Sob Geninho, o clube passou pelo CSA vencendo os dois jogos e por Ceará em Bahia na melhor-de-três. Depois, os tricolores chegaram a bater o Vasco no Maracanã, já pela semifinal, o que não tirava o favoritismo do Santos. Que, mesmo com Pelé em campo e marcando um dos gols, levou de 3-2 em plena Vila Belmiro na primeira final. A segunda final, realizada em 30 de dezembro de 1959, prometia coroar o réveillon baiano, mas os paulistas aplicaram um 2-0 na Fonte Nova. Na época, saldo de gols ou gols fora não contavam, ou o Bahia teria saído mais cedo: antes de levar a melhor no jogo-desempate, ficou no 0-0 fora e no 2-2 em casa contra o Ceará; da mesma forma, levou de 6-0 do Sport após batê-lo por 3-2 (a certeza pelo título, segundo o capitão Leone, viria a partir da vitória por 2-0 dentro em jogo-desempate dentro do Recife quatro dias após a goleada); assim como perdera em casa por 2-1 do Vasco após conseguir vencê-lo no Rio de Janeiro.

Não foi o anticlímax da derrota em casa para o Santos que custou o cargo de Geninho. Ele só deixou o Bahia já no fim de fevereiro; a terceira final, programada originalmente ainda para 6 de janeiro, vinha sendo continuamente postergada a pedido dos próprios santistas, que precisavam conciliar as finais do Paulistão (travadas em três partidas contra o Palmeiras entre os dias 5 e 10 que lesionaram Jair Rosa Pinto, outro desfalque há 60 anos), os desfalques para a seleção paulista no Brasileirão de seleções estaduais até a segunda quinzena de fevereiro e uma posterior excursão pela América do Sul com um jogo a cada três dias em média, cuja multa por cancelamento causava receio. O Bahia, vendo vantagens nas reiteradas postergações, que rendiam tempo para recuperar-se do baque psicológico e certo cansaço no adversário em meio a tantas viagens, não protestava. Mas a indefinição foi demais para seu técnico. Desgostoso com interferências em seu trabalho, Geninho também não resistiu mais às saudades do Rio de Janeiro, onde vivia e de onde era também era cobrado para reaparecer como servidor público ali lotado na Superintendência da Polícia Federal.

Volante como técnico do “Rolo Compressor” do Inter. Além de José Villalba, Moisés Beresi era outro argentino. Imagem do do excelente 1909emcores

O ex-jogador Ivon de Oliveira assumiu interinamente, mas Volante foi cogitado desde cedo para ocupar o cargo e o próprio Geninho teria se reunido com ele para convencê-lo em nome da diretoria tricolor. E embora também tenha-se divulgado que a prioridade para uma nova contratação seria a de Gentil Cardoso ou de Ramiro Guimarães (técnico do Vitória campeão de 1955) e também que Volante negaria a empreitada, no início de março o retorno do argentino a Salvador se efetivou – por 50 mil cruzeiros de luvas e 40 mil em salários. A seu favor, além da recomendação de Geninho, pesaram o conhecimento atualizado que tinha do Santos como recente técnico do Botafogo de Ribeirão Preto. Recomeçou de modo auspicioso, com um 5-0 no Ypiranga já em 13 de março, pelo estadual. Volante chegou a viajar dois dias depois ao sudeste para propor que o tira-teima fosse na Fonte Nova (o que ocorrera contra o Vasco), invocando prejuízos que seu clube teria sofrido com o adiamento da decisão. Nem isso ou a oferta de um repasse de 1 milhão de cruzeiros convenceram o Santos ou mesmo a ideia de que os dois finalistas fossem proclamados campeões; sugerida pelo próprio técnico santista, ela, por sua vez, esbarrou no fato de que a Taça Brasil havia sido criada exatamente para definir o único representante nacional para a primeira Libertadores, então ainda denominada Copa dos Campeões da América.

Além do jogo contra o Ypiranga do coração de Jorge Amado, Volante só teria um amistoso contra o Olaria para preparar-se: o Maracanã foi confirmado como palco da terceira final. Os jornais cariocas, em meio às reclamações pela perda do posto de capital federal para Brasília em poucas semanas, não escondiam o favoritismo santista, por mais que Pelé, com incômodo nas amídalas, fosse desfalque para opera-las na véspera – embora a cirurgia não fosse emergencial, Lula se permitiu a liberar o astro após consultar sua cartomante, que reforçou o otimismo de quem minimizou o momento do oponente após muitos dos jogadores finalistas terem sido surrados pela seleção baiana por 7-1 na semifinal do Brasileirão de seleção estaduais exatamente para a paulista (com oito santistas em campo). Confiança que se estendia aos cartolas, que chegaram a telegrafar para o San Lorenzo, já definido como primeiro adversário do representante brasileiro na Libertadores de 1960, propondo-lhe a inversão dos mandos de campo para que o primeiro embate fosse no Brasil, encaixando-o nas comemorações dos 48 anos dos praianos.

Mas havia espaço a ressalvas na imprensa: “mas será mesmo o Santos o vencedor da ‘Taça Brasil’?… O quadro do E.C. Bahia já demonstrou seu valor técnico indiscutível, com muitas façanhas (…). O conjunto armado por Geninho tem qualidade e eficiência, não há dúvida possível, e Carlos Volante, que substituiu recentemente o antigo grande meia do Botafogo na direção técnica do Bahia, sabe o que faz”, escreveu o francês Albert Laurence no seu jornal A Última Hora, na edição que saiu naquele 29 de março de 1960. Ele é pai de Michel Laurence, um dos fundadores da revista Placar, por sua vez pai do repórter Bruno Laurence. No Bahia, além de Geninho, sempre bem mais elogiado pelos campeões do que o argentino, outra baixa seria o lateral-direito (e capitão) Leone, ainda sentindo lesão no tornozelo sofrida em Ba-Vi de 22 de fevereiro válido pelo estadual de 1959, também só finalizado no ano subsequente – precisou contentar-se em ir ao Maracanã como espectador.

Recortes de jornais da época sobre a saída do técnico Geninho e chegada de Volante para o seu lugar

Outro presente nas arquibancadas no Maracanã e depois nos vestiários junto aos campeões foi o deputado Antônio Carlos Magalhães, que pôde ter uma dispensa não concedida nem ao próprio presidente tricolor – Osório Villas-Boas, que também era vereador por Salvador e precisou lá permanecer em função de uma importante votação na câmara municipal. Mas Volante não se fazia de rogado com o desfalque: “eu sei que teremos pela frente uma das maiores equipes de futebol do mundo. A melhor da América do Sul, pelo menos. Mas os rapazes, porém, não se preocupam com isso. Sabem que devem batalhar e vão dar o máximo dos seus esforços. (…) Ele [Pelé] jogando ou não, para nós é a mesma coisa. (…) O problema do Bahia, na verdade, é o próprio Santos”. Volante também declarou que “o Bahia está preparado para correr 2 horas atrás da vitória. Se depender do nosso fôlego, levaremos a taça para Salvador”.

O jogo poderia levar mais de duas horas, na verdade: pelo regulamento da época, em caso de empate ao fim dos 90 minutos e dos 30 de prorrogação, haveria mais 15 minutos extras enquanto um time não marcasse gol. Se ainda assim a partida terminasse empatada, o Santos seria campeão pelo critério do goal average. Mas se até nisso a igualdade pudesse remanescer previa-se decisão por pênaltis (com três cobranças para cada lado e não cinco), curiosamente décadas antes deste critério ser difundido. Mantendo a base deixada por Geninho, Volante deslocou o lateral-esquerdo Beto à direita para suprir a ausência do lesionado Leone, escalando para a esquerda o paraibano Nenzinho – de volta ao time após certo litígio desde outubro para renovar contrato, estava temporariamente no Santa Cruz. O próprio Beto também herdaria de Leone a braçadeira de capitão para aquele jogo.

Com o efeito suspensivo dado na noite da véspera pelo STJD (após sustentação oral de Otávio Villas-Boas, irmão do presidente) a Vicente retirando-lhe a suspensão de um jogo após a derrota na Fonte Nova e as recuperações do gripado Marito e do lesionado Alencar, a outra alteração de Volante se resumiu a promover a estreia de Mário para a vaga que normalmente era de Ari (ainda recuperando-se de cirurgia de dezoito pontos no fígado que ficou purulento após cotovelada contra o Vasco). Bombeiro (que, apesar do apelido, era bancário mesmo) vinha sendo o reserva usado desde a última semifinal, mas Mário, pretendido pelos cartolas desde uma boa impressão como adversário pelo Taubaté, era visto como mais experiente para um jogo daqueles – com 30 anos, era ex-reserva de Didi no Botafogo. O Santos, por sua vez, estreava para aquele jogo da Taça Brasil o futuro capitão do bi Mauro Ramos de Oliveira, na posição de Feijó.

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Clique para ver ampliado: Volante em entrevista e em treino antes da final e à direita, os capitães de Bahia e Santos.

Já o suspenso Dalmo deu lugar a Zé Carlos, recém-adquirido junto ao Taubaté. Pagão substituiria Pelé enquanto Mário Cacareco, ex-jogador de Volante no Botafogo de Ribeirão, foi usado na vaga usual do lesionado Jair Rosa Pinto. De início, embora as primeiras chances fossem baianas, incluindo um arremate de Léo sendo defendido arrojadamente pelos pés do goleiro Lalá e outro de Mário por cima do travessão, o Santos parecia confirmar o favoritismo: após Pepe obrigar Nadinho a trabalhar em uma cobrança de falta e depois na conclusão de uma tabelinha com Dorval e Pagão, Coutinho abriu o placar: Zito cobrou uma falta curta para o camisa 9, que tabelou rapidamente com Pagão e, mesmo sob marcação de Henrique, pôde desferir um chute certeiro de canhota já no bico da pequena área. Eram 27 minutos e aos 32 o placar quase foi ampliado, mas a trave salvou a conclusão de Dorval e Beto logo aliviou o perigo do rebote. Mas as declarações de Volante não foram fanfarronas: “muito diferente do comportamento que tivera nos dois primeiros jogos contra o Santos, a equipe do Bahia começou a partida de modo ousado, com a defesa menos fechada e muito mais preocupada em acionar com rapidez o seu ataque do que bloquear os avantes do Santos”, registrou o Jornal do Brasil.

Albert Laurence, por sua vez, escreveu que “todo o quadro dirigido por Carlos Volante demonstrou um cuidado louvável de fazer correr a bola no chão em série de passes ‘de primeira’ em meio às deslocações em plena velocidade”. O Santos perdeu Pagão, lesionado ao fim do primeiro tempo e substituído por Tite, que inverteu posições com Dorval. Mas de início soube se segurar, com as tentativas nordestinas no segundo tempo se resumindo a chutes de fora da área. Aos 38 minutos, então, o “ex-suspenso” Vicente empatou com um petardo de falta a furar a barreira aos 38 minutos. Cada time, com Dorval e Alencar, ainda acertou a trave um do outro na primeira etapa. E logo no início do segundo tempo veio a virada, com Léo marcando no primeiro minuto após sequências de cabeceadas em um escanteio, onde Formiga chegou a salvar em cima da linha tentativa anterior de Biriba. Não conseguindo empatar, os santistas se enervaram: Aos 24 minutos, Getúlio foi expulso por reclamar de falta sua onde tirara Biriba do campo. Aos 26, foi a vez de Formiga, após atingir Alencar.

Seria unânime entre os veículos que a virada nordestina foi merecida: a manchete esportiva do Última Hora foi “milagre do Bahia foi jogar melhor” e o Diário de Notícias resumiu que “Santos não foi digno oponente e caiu por 3 a 1”. Já para o Jornal do Brasil,”foi por todos os modos justa e a alegação de que o juiz Frederico Lopes prejudicou o Santos – o que é verdade – não explica o resultado. (…) E onde está a explicação para a vitória do Bahia? É fácil: ganhou porque foi o melhor quadro, porque esteve mais bem armado do que o Santos na maior parte do jogo e porque soube recuperar-se da afobação que lhe veio após a abertura do marcador pelo adversário”. O Bahia também não se furtou da violência mas sabia ser mais objetivo quando tinha a bola. Aos 31 minutos, Alencar (“o Pelé da Bahia”), deixando Mauro no chão e girando ao receber de calcanhar por um Léo desmarcado pela esquerda, anotou os 3-1. Aos 38 minutos, Dorval também foi expulso ao revidar entrada ríspida de Nenizinho e tentar socar Marito.

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Clique para ver ampliado. As fotos são do Jornal do Brasil e a manchete, do Última Hora

Os oito santistas ainda em campo passaram a reter a bola para evitar vexame maior: “no segundo tempo, o jogo valeu até aos 26 minutos. Mas sempre com o Bahia perdendo mais gols que o Santos, que perdeu só um, aos cinco minutos, com Coutinho”, observou o Última Hora, que ressaltou também que “é sempre muito fácil arranjar um culpado para resultados inesperados. “E muito mais fácil, ainda, quando se acusa o juiz. Mas apontar, também, o árbitro como único responsável (…) seria cometer injustiça com os próprios campeões do Brasil e afastar um pouco, igualmente, a responsabilidade dos dirigentes santistas”, completou o jornal, em alusão à excursão sul-americana que teria terminado por esgotar os alvinegros. O tricolor Léo, também se referindo a isso, declarou em euforia que “o time estava preparado para vencer. Vínhamos pensando na Taça Brasil há muito tempo. Se isso não sucedeu com o Santos, a culpa não é nossa. O Bahia jogou bem e esteve magnificamente dirigido. ‘Seu’ Volante sabe onde tem a cabeça”.

“O que vale é que nossa vitória foi clara e já ganhávamos de 2 a 1 quando eles começaram a ficar nervosos”, completou Léo – cuja idolatria faria o jovem José Adelmário Pinheiro apelidar-se de “Léo” Pinheiro antes de tornar-se o famigerado empreiteiro da OAS. E Volante? Em êxtase, frisou que “o Bahia entrou em campo para vencer, estava vencendo, tudo indicava que venceria, e nisso tudo, só sinto que os jogadores do Santos tenham agido daquela forma, empanando a vitória que reputo a mais brilhante do futebol baiano em todos os tempos”. O Globo definiu a peleja como uma “odisseia fantástica” de um título “único, inédito e de importância sem igual”, definindo que “todos os mestres na arte de calcular o futebol podem rasgar seus apontamentos, pois o primeiro campeão do Brasil é o Esporte Clube Bahia e não será sem motivos, pois venceu a melhor equipe do país e uma das melhores do mundo”. Em Salvador, o “pós-carnaval” contou até mesmo com Geninho, convidado a juntar-se com a esposa na volta da delegação, esportivamente saudada até por Ypiranga e o Botafogo baiano, rivais de outrora antes do Ba-Vi firmar-se a partir dos anos 50 como o grande clássico local.

O Santos tratou de reforçar-se, tirando Calvet do Grêmio e renovando com Pelé (pretendido por Milan e Internazionale, mas em tempos de menor disparidade econômica, esportiva e em prestígio com o futebol europeu) com compromissos a incluir carro e casa. Os campeões, enquanto isso, capitalizavam: agendavam excursões por Europa e África (onde o ponta-esquerda Biriba foi sondado para permanecer como professor no futebol na Argélia, ideia descartada em função da guerra de independência local) e preparavam-se para dali a um mês tornarem-se os primeiros brasileiros na Libertadores, enfrentando o San Lorenzo – que os eliminou de cara com gols em ambos as partidas marcados curiosamente por José Sanfilippo, ele próprio um futuro jogador do Bahia (tal como o goleiro Carlos Buttice, outro ídolo azulgrana), ao contrário de Leandro Romagnoli… mas isso já é outra história, cujos 55 anos em 2015 também foram relembrados na ocasião, neste outro Especial.

Para mais detalhes da campanha rumo à decisão, recomenda-se além do livro “Heróis de 59” também a leitura da nota de hoje feita pelos amigos da Trivela

Três imagens do livro “Heróis de 59”: o técnico Volante com a Taça Brasil, entre Marito e Alencar; e o carrasco José Sanfilippo pelo San Lorenzo trocando flâmulas com Mário pela Libertadores e anos depois como jogador do próprio Bahia
https://twitter.com/ECBahia/status/1244229435550773248

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

2 thoughts on “Há 60 anos, o Bahia, treinado por um argentino, era o 1º campeão brasileiro

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