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75 anos do primeiro Riquelme do Boca: Ángel Rojas, o “Rojitas”

Com Pelé antes da final da Libertadores de 1963

Em 1995, Daniel Passarella estava no auge de seu prestígio como técnico, recém-chegado à seleção após um ciclo consagrador no clube do qual tornou-se sinônimo, o River. O ex-zagueiro é um personagem talvez único no futebol nesse sentido: jogou, treinou e presidiu o rival do time pelo qual torcia originalmente, pois ele era Boca. E ele não negou resquícios disso naquele ano, em longa entrevista à El Gráfico, na hora de responder seus ídolos: “meu pai Uberto, minha mãe Élida e Rojitasfoi a curta resposta de nº 87. Rojitas é como a torcida xeneize chamava o prata-da-casa Ángel Clemente Rojas, maestro ao longo dos saborosos anos 60 para a massa auriazul. Hoje Angelito, como também era chamado, faz 75 anos.

Passarella não estava sozinho nessas duas coisas: ser um torcedor do Boca que se assimilou millonario sem perder a admiração pelo ídolo de infância. Literalmente, pois seu colega de River e depois assistente técnico no clube e na seleção, Alejandro Sabella, também foi boquense na juventude e teorizou em 2010 que o ídolo influenciou-lhe até no uso da perna: “com a mão sempre fui destro, mas com o pé tenho minhas dúvidas. Creio que eu era destro e como jogava com a 10 e todos os camisas 10 eram canhotos, comecei a chutar com a canhota todos os dias e fiquei canhoto. Me encantava como jogava Rojitas”. Outro a nascer torcedor do Boca para depois defender o River foi René Houseman, o endiabrado ponta da seleção de 1978, que já nos idos de 1973 declarava que “meu ídolo era Rojitas. Ficava louco quando movia a cintura”. Maior craque do Independiente, Ricardo Bochini também listou-o como ídolo, embora torcesse pelo San Lorenzo: “Rojitas, pela habilidade”.

Formado no Boca, Omar Larrosa não pôde virar ídolo lá, chegando a ser defenestrado ao futebol da Guatemala antes de reerguer-se no Huracán e no Independiente a ponto de ser convocado à Copa do Mundo de 1978. Mas ele resumiu bem o que Rojitas representou, ao listar em 2017 seus ídolos de infância: “gostava dos que jogavam bem: Federico Sacchi, Ermindo Onega… no Boca predominava mais a garra nesses tempos, até que apareceu Rojitas; Angelito mudou tudo”. Ou nem tanto: Norberto Menéndez, raríssimo ídolo da dupla Boca e River, opinou em 1973 que “no Boca gostam mais dos lutadores do que dos jogadores. Certeza de que essa torcida jamais terá outro jogador como Rojitas”. Já o tal Sacchi, que também defendeu o Boca, também foi suficientemente sutil: “espetacular, parecia que não se movia, mas era só começar a galopar que os rivais ficavam longe”.

No Boca, poucos homens teriam a mesma propriedade para opinar como o ex-lateral Roberto Mouzo. Afinal, ele ainda é o recordista de jogos pelo clube, defendido ininterruptamente por ele entre o fim dos anos 60 e o início dos 80. Indagado em 2009 sobre quem seria o maior ídolo auriazul, não titubeou: “Rojitas. E El Mellizo, dos últimos tempos”, respondeu em referência ao apelido de Guillermo Barros Schelotto, na época o jogador xeneize com mais títulos. De fato, ao lançar em 2010 uma edição especial escolhendo os cem maiores ídolos da equipe, a revista El Gráfico colocou na capa seis nomes, cinco dos quais familiares aos brasileiros: o próprio Schelotto, Riquelme e Palermo datam das Libertadores em série com muitas vítimas brasucas nos anos 2000, Maradona dispensa comentários e Rattín é um nome conhecido de Copas do Mundo. O tupiniquim mais leigo no futebol só não reconheceria o tal Rojitas.

Riquelme, Palermo, Schelotto, Maradona, ele e Rattín foram os seis que estamparam a capa da revista especial da El Gráfico a eleger os cem maiores ídolos do Boca

Rattín não se resumiu à polêmica expulsão na Copa de 1966 contra a Inglaterra. Se Mouzo tem o recorde de partidas, o volante tem um recorde de longevidade no Boca. E foi na mesma linha, em 2013: “se tenho que dizer um só, escolho Rojitas”. Já Maradona confessou em 2008 que Rojitas foi um raro homem a quem pedira autógrafo na vida, além de também colocar ele à frente dos outros homens que listou como maiores ídolos xeneizes. “Lembro que quando passei ao Boca, a El Gráfico me juntou com Rojitas e fomos comer juntos. Foi maravilhoso. Eu vi Rojitas jogar uma vez: já estava grande, mas fez duas ou três coisas bárbaras…”. O apelido também servia para diferencia-lo de um colega com as mesmas iniciais que também virou grande ídolo boquense, o centroavante Alberto Rojas, que em contraposição era apelidado de El Tanque. Ele mesmo tratou de diferenciar ambos: “éramos distintos; Ángel, um grande habilidoso, e minhas virtudes eram a inteligência e o cabeceio. As pessoas se divertiam com Rojitas, que não tinha obrigação de fazer gols, eu sim tinha essa obrigação”.

O outro Rojas pôde estar com a Argentina nas Copas de 1958 e de 1966 e aí reside outra diferença que freia uma fama internacional ao xará: Rojitas não foi tão valorizado pela seleção, sendo esquecido na hora das Copas juntamente como o Riquelme dos anos 70 (Mauro Zanabria) e o próprio Román, com bola para estar nas de 1998, 2002 e 2010 embora só tenha ido à de 2006. Zanabria era o camisa 10 do Boca campeão pelas duas primeiras vezes na Libertadores, em 1977 e 1978, e um de seus colegas era Heber Mastrángelo, com gols decisivos nas finais continentais e mundiais. Fanático pelo clube embora tenha inicialmente defendido o “inimigo” River, Mastrángelo foi outro reverente ao malabarista dos anos 60 a votar em 2013 pelo maior ídolo do time: “Rojitas, Valentim, Rattín, Riquelme… mas escolho primeiro Rojitas”.

Outro membro daquele Boca bi da Libertadores era o ponta Carlos Veglio (foi inclusive dele o único gol argentino nas finais contra o Cruzeiro em 1977), homem mais vezes presente em títulos boquenses na Libertadores, pois estava nas de 2000, 2001 e 2003 como auxiliar de Carlos Bianchi. Com essa propriedade, opinou em 2017 que “é difícil. Como garoto, eu via Angelito Rojas, e era uma coisa espetacular. E… te diria que Rojitas e Riquelme”.

“Rojas, o neném de ouro”, em capa de 1963 da El Gráfico. Nas outras imagens, tira um sarro do veterano Amadeo Carrizo em diferentes Superclássicos

O livro oficial do centenário do clube sintetiza, na seção destinada aos cem maiores ídolos: “muitos poucos foram tão amados pelos fãs como Angelito. Um fantástico driblador com o talento de improvisar na mais complicada das situações, ele era um conjurador com a bola em seus pés. Ele era um ídolo do bairro antes mesmo de sua primeira aparição no time principal. Irreverente e astuto, ele podia esconder a bola e fazê-la aparecer em outro lugar. Rojitas foi tão famoso como a requebrada de sua cintura”.

Feita toda a introdução para contextualizar a imagem de Rojitas, contemos sua trajetória, enfim. Era o clássico garoto humilde que preferia a várzea aos deveres escolares. Nascido em Sarandí, ele chegou a bater bola na infância com Raúl Bernao e Miguel Santoro, ambos futuros membros do primeiro time argentino a vencer a Libertadores, o Independiente de 1964. Já conciliando o futebol desde a pré-adolescência com um trabalho na fundição de um tio que lhe obrigava a comparecer às cinco da manhã, chegou a ser levado pelo padrinho ao River quando tinha 13 anos. “O porteiro me exigiu uma citação que eu não tinha e não nos deixou passar. Ao nos repor da amargura, decidimos ir ao Boca. Nessa época estava (o ex-vascaíno) Gandulla nas inferiores. Joguei só meio tempo e em seguida me disseram que fosse a um lugar de Palermo para tirar a radiografia e assinasse em seguida porque no domingo começava um torneio de base. Estreei como centroavante contra o Huracán. Ganhamos de 3-1 e meti dois gols”, relembrou ele já em 1968.

Em 1962, ele chegou a ser cedido a uma filial do clube, o Arsenal de Llavallol, onde passaria a ser remunerado – o suficiente para lhe agradar no que poderia parecer um passo atrás. “Foi uma alegria enorme. O futebol começa a retribuir-me em grana meu esforço como jogador. Logo chegou Adolfo Pedernera, um homem que seria decisivo para meu porvenir futebolístico. Embora me pagassem e estivesse em uma instituição importante, o futebol seguia sendo para mim nada mais do que uma diversão. Um jogo que gostava como louco. Não pensava que podia chegar a ser algo importante para minha vida, muito menos ser um jogador de primeira divisão. Na temporada seguinte, voltei ao Boca para ingressar no sub-19 nos tempos em que seus jogos eram preliminares do jogo principal”.

Na seleção (é o jogador ao meio nas duas fotos), só jogou duas partidas oficiais. À esquerda nas duas fotos, Raúl Bernao, amigo de infância. Héctor Veira, o outro jogador na foto da direita, jogaria no Corinthians

A estreia no time adulto veio aos 18 anos, em amistosos na Patagônia em março de 1963. No dia 2, jogou os 90 minutos de um 10-0 sobre o Ferrocarriles del Estado de Chubut, e no dia seguinte atuou em todo o 7-1 no combinado de Comodoro Rivadavia. Faltava a estreia oficial e o boca-a-boca já corria pelas arquibancadas de quem acompanhava as partidas juvenis do time, até que 19 de maio a promessa enfim tivesse sua oportunidade no campeonato adulto, pela 4ª rodada. O reforço consagrado Omar Corbatta anotou os três gols de um 3-0 no Vélez, sem ofuscar a estreia auspiciosa do jovem, pois todos os gols tiveram participação do novato: foram dois de pênalti e outro em falta praticadas naquele atrevido jogador ainda desconhecido dos velezanos.

O primeiro gol foi assinalado na 8ª rodada, o único de um 1-0 sobre o Gimnasia LP – por sinal, o clube do xará Alberto Rojas na época, e três dias depois já estreava na Libertadores, no 1-0 sobre a Universidad de Chile (era a terceira partida do Boca na competição) em 26 de junho. Em 6 de julho e em 9 de julho, participou de vitórias amistosas sobre a própria seleção argentina (2-0) e Barcelona (2-1) para, na retomada do campeonato argentino, anotar dois em 3-2 sobre o futuro campeão Independiente pela 10ª rodada…

A revista El Gráfico já havia sido profética após aquela estreia contra o Vélez, em nota nomeada “nasce um ídolo no Boca?”, onde descreveria que “seu trabalho contra o Vélez justifica sua promoção ao time principal. Ele provou ser um jogador dotado tecnicamente, com grande leitura do jogo. Talentoso, com um bom toque de primeira e sem egoísmo em oportunidades de gol. Deixou o campo aplaudido como um vitorioso. Ele pode ser um ídolo que o Boca vem há tanto tempo esperando”. Rojitas reconheceria em 1968 que “tudo havia transcorrido com tanta rapidez que me parecia mentira”. Afinal, entrava em campo e via como colega seu próprio ídolo de infância, o veterano Ernesto Grillo, ex-camisa 10 de um Independiente que fez 6-0 no Real Madrid dentro da capital espanhola em 1953 (ano em que também marcou o gol emblemático da primeira vitória da Argentina sobre a Inglaterra), voltando a vazar o Real pelo Milan na final da Liga dos Campeões de 1958. Foi de Grillo, inclusive, que copiou uma jogada característica de se pendurar com os dois pés na bola.

A grande ironia estética foi Rojitas jogar em um time de uniforme igual ao do River, o peruano Deportivo Municipal. Depois rodou por Racing, Lanús e Argentino de Quilmes

Primeiro clube argentino a focar na Libertadores, o Boca relegou o torneio doméstico a segundo plano e chegou à decisão contra o Santos de Pelé, com Rojitas titularíssimo naquela reta final. O título continental não veio, mas o clube reforçou sua expressão internacional com uma boa turnê pela Europa na virada de ano, com Rojitas vencendo novamente o Barcelona (2-1) além de Napoli (2-0), Internazionale (1-0), o Eintracht Frankfurt recém-vice da Liga dos Campeões há alguns anos (1-0) e deixando um gol no 2-2 com o Hamburgo. Um primeiro freio na carreira veio exatamente na pré-temporada de 1964, ao romper ligamentos do joelho direito contra o Huracán, em abril. Ele reapareceu após três meses, em amistoso com o Botafogo (vitória de 1-0 sobre Garrincha e colegas) seguido por novo triunfo, três dias depois, sobre o Barcelona (3-1, com gol dele). Mas, avaliado como sem ritmo suficiente, terminou por atuar pouco na campanha campeã argentina de 1964, onde só deixou três gols. Foi utilizado mais em amistosos, como um outro triunfo sobre o Real Madrid, anotando os dois gols de um 2-1 em agosto.

Em 1965, sim, Rojitas voltou à boa forma, participando ativamente de uma série invicta de dezoito jogos, nos quais em oito seguidos o time sequer sofreu gols – seriam dezenove jogos assim nas trinta rodadas do torneio. O ataque é que não foi tão prolífico e ainda assim o meia-armador se sobressaiu, marcando quinze dos 35 gols da campanha lembrada pelo Superclásico decisivo na antepenúltima rodada, com os auriazuis buscando a virada por 2-1 que lhes isolou dois pontos à frente do grande rival na tabela. Nas duas rodadas seguintes, Rojitas deixou sua marca para não dar chances ao azar, empatando nos últimos 15 minutos contra o San Lorenzo no Gasómetro (em golaço onde a bola bateu no travessão antes de entrar) e deixando outro em 3-1 sobre o Atlanta na rodada final. Àquela altura ele já havia estreado pela seleção, ainda em 14 de julho, com gol marcado inclusive – um 1-0 sobre o Chile pelo troféu binacional Copa Carlos Dittborn.

Em 17 de agosto, ele reapareceu em 4-1 sobre a Bolívia pelas eliminatórias da Copa de 1966, mas ficou nisso. Ele só defenderia a seleção uma outra vez, em amistoso não-oficial contra o clube inglês Sheffield United, já em 31 de maio de 1967. O livro Quién es Quién en la Selección Argentina esclarece: “dono de uma habilidade notável, poucas vezes vista, (…) teve todas as condições de escrever enormes páginas na história do futebol argentino. Mas seu pouco apego às responsabilidades profissionais conspiraram notavelmente contra suas possibilidades”. Entre o jogo contra a Bolívia e o início da Copa de 1966, a seleção teve nada menos que três técnicos e nenhum lembrou dele, que no início do ano tentou mostrar serviço: fez seis gols na primeira fase da Libertadores de 1966 e teve atuações destacadas no segundo e no terceiro Superclásicos que aquele torneio (em duas fases de grupos) teve. Em triunfo de 2-0, o adversário Roberto Zywica foi expulso “ante a impotência para detê-lo uma vez que o homem do Boca recebia e arrancava armado” no relato da El Gráfico.

Não são poucos os que colocam Rojitas e Riquelme como os dois ídolos máximos do Boca, especialmente o pessoal antigo

No terceiro, a revista registrou que “cada vez que localizava a bola nos pés de Rojitas, o trâmite se transformava. Ali no fundo, o River era tão frágil como o Boca. A habilidade de Rojitas comprometia todas as saídas exageradamente ‘vigorosas’ de Guzmán e mostrava um Matosas não muito seguro nem na antecipação nem na interceptação. A única pausa eram os pés de Rojitas. Cada vez mais só. Cada vez mais obrigado a resolver só contra as várias dúzias de infrações que Guzmán lhe cometia cada vez que saía a busca-lo longe de sua posição”. Era um quadrangular-semifinal e o Boca vencia fora de casa por 2-0, mas levou o empate e acabou adiante de fora do páreo. Rojitas terminou esquecido, mas seis colegas seus foram à Inglaterra sem que o campeonato argentino pausasse. O Boca, que vinha três pontos atrás do líder Racing, entrou em uma maré de resultados ruins depositados nas costas do maestro, exilado a partir de agosto no time B após o retorno dos colegas mundialistas. Só atuou duas vezes em setembro, outra em outubro e outra em dezembro.

Ele reapareceu no Metropolitano de 1967, sem evitar uma campanha pobre, ficando sem jogar entre julho e dezembro. A rotina não mudou em 1968, com travessuras esparsas em Superclásicos – no Metropolitano, em 0-0 marcado pela tragédia da Porta 12, surripiou o gorro do veterano Amadeo Carrizo, o mítico goleiro rival que estava prestes a estabelecer exatamente naquela etapa da carreira um recorde de invencibilidade no país. No Nacional, o meia (que deixou gols em amistosos contra Flamengo e Santos, respectivamente 2-0 e 1-1) enfim desencantou na rivalidade, marcando no triunfo por 3-1 em uma campanha que recolocava o Boca no páreo: embora quinto colocado, o time ficou a somente um ponto dos líderes – o campeão Vélez, o próprio River e o Racing. A retomada foi confirmada em 1969, em que o Boca liderou seu grupo no Metropolitano no embalo de um primeiro turno invicto. Para seu azar, embora segundo colocado no outro, o River teve pontuação superior e jogou pelo empate na semifinal. A igualdade prevaleceu, mas o Boca teria em meses um troco saboroso.

O Torneio Nacional de 1969 viu nove gols de Rojitas, incluindo duas tripletas (5-0 no Talleres e 3-0 no Quilmes) na campanha marcada pela única volta olímpica que os xeneizes deram diante do River dentro do Monumental. Os dois rivais disputaram o campeonato rodada a rodada e tiveram um duelo direto na última, e dessa vez o empate favorecia os auriazuis, que buscaram o 2-2, com Rojitas fornecendo uma assistência de quarenta metros no lance do segundo gol. Após um Metropolitano de 1970 irregular como terceiro colocado e uma participação pobre na Libertadores, o Boca retomou o poderio no Nacional. Rojitas chegou a perder espaço nos últimos jogos ao ser julgado como fora de forma, mas não abriram mão dele na final. E mostrou estrela: o Rosario Central vencia por 1-0 até os onze minutos finais, quando o meia deixou quatro adversários para trás e pôde marcar mesmo prensado pelo marcador José Mesiano e pelo goleiro Ramón Quiroga.

Seu jogo de despedida em 2002 e a estátua inaugurada em 2014

Na prorrogação, Rojitas deixou meio time adversário no chão antes de rolar a bola para Jorge Coch anotar o gol da virada e do título. Em 1971, porém, já não houve como se livrar de jogos esparsos pelo ano, marcado pela tumultuada eliminação na Libertadores – em que quase todos foram expulsos contra o Sporting Cristal. Rojitas apareceu quinze vezes em campo após a pré-temporada e chegou a ser sacado entre junho e outubro. Mas se deu ao luxo de um canto do cisne em Superclásico em 10 de junho, marcando nos doze minutos finais os dois gols que empataram a partida em 3-3 dentro do Monumental. Visto sob declínio precoce, foi repassado em 1972 ao Deportivo Municipal, do Peru (gerando grande “ironia estética”, pois o uniforme desse clube é quase igual ao do River…). Voltou em 1973, mas só foi usado pelo time B, salvo um amistoso em dezembro contra o Aldosivi (vencedor por 2-1). Ainda assim, causava furor, a ponto de ser escalado em combinado eleito pela imprensa para enfrentar a seleção argentina em 9 de julho.

Mesmo seus jogos pelo time B atraíam bom público, conforme relatado pelo único do clube lembrado para a Copa de 1978, o lateral Alberto Tarantini, que iniciara a carreira exatamente em 1973: “(jogar com ele) foi uma das melhores coisas que me aconteceram. O estádio lotava. Ángel era um mostro, para mim o maior ídolo que o Boca teve na história. As pessoas o amavam, foi um superdotado”, relatou El Conejo. Apesar da devoção da massa, a imagem de jogador pouco comprometido prevaleceu entre os diretores, que o venderam em 1974 ao Racing. Ali, Rojitas começou marcando um gol em vitória por 3-2 na segunda rodada sobre o forte Huracán, mas não faria mais nenhum; a Academia chamara de volta seu grande treinador dos anos 60, o disciplinador Juan José Pizzuti, que conseguiu em um clube já em crise campanhas razoáveis no Metropolitano (a um ponto da classificação) e no Nacional (3º no grupo).

Em 1975, Rojitas já tinha de recomeçar na segunda divisão, marcando só um gol por um Nueva Chicago mais próximo do rebaixamento do que do acesso. Em 1976, conseguiu o acesso com o Lanús, mas em dois anos como grená não deixou gols. Voltou à segundona em 1978 para pendurar as chuteiras no Argentino de Quilmes, anotando um gol na campanha que terminou a um ponto da queda. O Boca tardou, mas lhe retribuiu depois: o velho ídolo teve aos 57 anos de idade, em maio de 2002, seu jogo de despedida, e foi presentado aos 70 anos com uma estátua no museu boquense, nas instalações de La Bombonera. E toda a cidade de Buenos Aires também, outorgando-lhe uma distinção de personalidade destacada em 2015. Seus 79 gols oficiais pelo Boca ainda o colocam um gol acima de outro personagem irreverente da história xeneize, Carlitos Tévez – com o clube tendo o cuidado de juntar ambos em uma celebração hoje, prévia à partida contra a LDU que confirmou os auriazuis em nova semifinal de Libertadores.

Com velhos colegas (a seu lado, o gigante Rattín) ao ser condecorado pela legislatura de Buenos Aires, em 2015
https://twitter.com/BocaJrsOficial/status/1166700642104225797

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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