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Da final da Copa ao (forte) America-RJ: 40 anos sem o beque José Della Torre

Ser zagueiro do Racing, por muito tempo, era quase um trampolim para ser zagueiro da seleção. Foi assim com Armando Reyes, integrante do recordista hepta seguido da Academia nos anos 10. Foi assim com José Salomón, que chegou a ter por trinta anos o recorde de jogos pela Argentina, ao atuar na virada da década de 30 para a seguinte. Foi assim com Roberto Perfumo nos anos 60, antes da crise severa que atingiu o clube de Avellaneda. E foi por duplicado na primeira Copa do Mundo: em 1930, a dupla titular da Albiceleste era composta pro Fernando Paternoster e José Della Torre, o único argentino a participar dos cinco jogos da campanha vice-campeã, e que teria diversas idas e vindas pelo America-RJ. Ontem fez-se 40 anos sem El Pechito, que merece ser relembrado.

Filho de Pompeo Della Torre com Enriqueta Denna, nasceu em 26 de março de 1906 em Buenos Aires e morou a maior parte da vida com seus pais, em um chalé na rua Republiquetas (atual Crisólogo Larralde), número 1834 – em Núñez. Seu pai não aprovava o futebol, chegando a queimar os uniformes de José – “e hoje é um entusiasta espectador dos jogos do Racing e um grande admirador meu!”, declararia o filho como a grande anedota esportiva da vida. Ele dera os primeiros passos a sério na bola ainda em 1920, em uma liga independente do bairro. Ainda atuava como volante central, passando então pela equipe sub-17 do extinto Del Plata e prosseguindo à equipe sub-18 do Sportivo Balcarce, onde já era experimentado como zagueiro. Em 1922, já estava em outro time daquela zona norte, o San Isidro. A estreia no futebol adulto veio em 1925, justamente em confronto com o Racing, que era o time do coração de Della Torre.

A respeito daquela estreia, declararia já em 1939, à revista La Cancha: “me esqueci da minha admiração pelas cores que vestiam os adversários, já que desde pequenino sempre fui um fanático racinguista; me esqueci da minha inquietude por fracassar, da minha responsabilidade como eixo da linha média, e joguei com uma vontade enorme, extraordinária… e quando terminou o jogo com um empate em um gol por bando, e alguns de meus companheiros vieram me felicitar, acreditava estar sonhando, um sonho bonito, tão bonito, que os apartei tratando de não acordar”.

“Os beques do Racing”, diz a El Gráfico sobre a sua dupla com Paternoster, reeditada na seleção de 1930. À direita, afasta de qualquer jeito, fiel a um estilo sem enfeites

Afinal, o contexto era esse: o Racing terminaria como campeão invicto, mas não bateu o San Isidro em um 1-1, a despeito desse clube terminar o torneio em antepenúltimo – em contraponto ao domínio que exercia no rúgbi argentino, esporte que já era seu foco desde os anos 10 (o San Isidro emendou nada menos que treze campeonatos seguidos da bola oval naqueles tempos, até desativar seu futebol no início dos anos 30). O novato ainda foi usado outras dezesseis vezes no certame, embora também defendesse o Sportivo Balcarce a pedido dos amigos na segunda divisão, logrando o acesso com um 5-1 no Nacional de Adrogué.

Della Torre também defenderia dois clubes em 1926, em treze jogos pelo San Isidro, 22º de 26 times liderados pelo Independiente; e em nove partidas pelo Argentino de Quilmes, 8º de dezoito clubes liderados pelo Boca em uma liga rival. Em paralelo, sagrava-se campeão pela seleção da província de Buenos Aires no campeonato argentino de seleções regionais, bastante prestigiado na época. Ainda como volante central, ele inclusive marcou um gol, no impiedoso 8-1 sobre a seleção de La Rioja.

Assim, ao fim daquele ano sua transferência ao Racing foi acertada. Ele assim relembraria, já nos anos 40: “em 1926, joguei meu último ano no San Isidro, para passar a fins desse mesmo ano ao Racing Club, onde atuei como centromédio nos dois primeiros encontros, para logo jogar como zagueiro. Posteriormente e em um dia memorável, estreei juntamente com Fernando Paternoster – meu grande camarada de tantas jornadas inesquecíveis – enfrentando o Vélez Sarsfield no campo deles. Ganhamos ajustadamente e desde então até 1933 segui firme no Racing, vestindo a sua gloriosa casaca”.

Último em pé no segundo jogo da Argentina na Copa de 1930, contra o México: o técnico Olázar, Peucelle, Orlandini, Zumelzú, Paternoster, Spadaro e Della Torre; Varallo, Stábile, Bosio, Demaría e Chividini

Então o maior campeão argentino, o Racing terminou apenas em sétimo no torneio de 1927 (que marcou a unificação das ligas), mas o zagueiro conseguiu inclusive marcou um gol no Clásico de Avellaneda, em movimentada derrota de 7-4. Em 1927, Della Torre também logrou o bicampeonato pela seleção bonaerense no campeonato argentino de seleções regionais, ainda que só usado na semifinal contra o Chaco.

Della Torre inclusive reeditou naquela ocasião a dupla com Paternoster, considerando justamente essa a grande atuação da sua vida. Ele a relembraria em 1936, ainda que para criticar a própria plateia: “80% do público, pelo menos, não sabe nada de futebol, só contar os gols e isso nem sempre. Posso lhes proporcionar esse dado: jogando um interprovincial, integrando eu a equipe da Província contra o Chaco, o público me aclamou como um Deus, porque eu me propus, fazendo acrobacia, em vez de jogar com consciência; assim, realizei toda classe de peixinhos, bicicletas e chapéus, quando não havia necessidade disso, e teria sido mais lógico rechaçar de acordo com a maneira clássica. Mas eu me havia proposto rir internamente da ingenuidade do público e, como a partida dava para isso, os obriguei a me aplaudir, quando deviam ter me vaiado… esse é o público que se acha entendido e sabichão. E sua ignorância, como lhes digo, corre parelhadamente com sua maldade. Lhes asseguro que, lembrando disso, tive muitas vezes desejos de pendurar as chuteiras”.

Em maio de 1928, Della Torre voltou a integrar a seleção provincial em amistoso contra o Motherwell. Em tempos em que times britânicos, já profissionalizados, eram vistos como senhores do futebol, os escoceses justificariam o nariz empinado ao vencerem por 3-0 a própria seleção argentina e, pelo mesmo placar, um combinado dela com a uruguaia. Della Torre não atuou nesses outros jogos, apenas pela província. E não foi superado: ela ganhou por 2-1. Assim, ele, sem nenhuma experiência prévia pela Argentina, esteve a ponto de ser chamado às Olimpíadas de 1928, mas foi cortado na véspera do embarque à Amsterdã. A estreia pela viria semanas após os Jogos, em amistoso não-oficial em 8 de julho de 1928, uma derrota de 1-0 para o Celta de Vigo – que, porém, levou de 8-0 na revanche já no dia seguinte.

Argentina de paletó para a final da Copa do Mundo de 1930: o técnico Olázar, Juan Evaristo, Monti, Bottaso, Paternoster, Suárez, Della Torre e o massagista Sola; Peucelle, Varallo, Stábile, Ferreira, Mario Evaristo e o preparador físico Tramutola

O campeonato argentino de 1928 se alongaria até meados de 1929 e o Racing terminou em quinto, enquanto que no campeonato de seleções o combinado da província caiu cedo, em choque prematuro com a seleção da cidade de Buenos Aires (sempre representada por combinado próprio). Em junho de 1929, então, um novo clube britânico chegou ao Rio da Prata: o Chelsea, que já havia ganho da seleção por 1-0 (sem Della Torre) para então ser derrotado pelo Racing pelo mesmo placar. Não bastou para o zagueiro ser chamado à Copa América. Mas, a despeito do título da Albiceleste, retornou de imediato à seleção em agosto, atuando em novos amistosos não-oficiais: o 4-1 sobre o Torino e o 0-0 com o Bologna na excursão conjunta dos dois últimos campeões italianos da época.

Vitorioso contra italianos e britânicos, ele foi derrotado duas vezes pelo Racing naquele mesmo mês contra o Ferencváros, classificado exatamente por ele como “o único time estrangeiro que me impressionou bem, não porque seja extraordinário o seu jogo, e sim pela lição de disciplina e cultura que nos deram e que tão distante está das que se observam nos quadros nacionais”. Na sequência do ano, a seleção bonaerense sofreu zebra no campeonato de seleções regionais, eliminada para Salta no primeiro jogo. Mas, em paralelo, o Racing ficou a quatro pontos de ir à final do campeonato argentino de 1929. Della Torre foi então confirmado para a Copa do Mundo – curioso cenário das suas únicas cinco partidas oficiais pela Argentina!

Só ele foi usado em todos os jogos da seleção naquela campanha, inclusive reeditando a partir do segundo confronto a dupla entrosada com Paternoster. A revista El Gráfico de 12 de julho de 1930 atestava como eles se completavam: apelidado de Marqués, o colega era visto como moderno e Della Torre, avaliado como de estilo clássico, similar ao dos britânicos, afastando o perigo de qualquer jeito – sua inovação era usar o peito para domínio de bola, rendendo-lhe o apelido de Pechito. Sereno e austero, primava pela potência, e com mais eficiência defensiva, ainda que não fosse exatamente de jogo brusco.

Já sem o paletó, os argentinos comemoram a virada para 2-1 na final de 1930, antes da nova virada favorecer os uruguaios. Della Torre aparece ao centro da imagem, atrás do artilheiro Stábile

Ainda segundo a El Gráfico, Della Torre era visto como um zagueiro limpo, que evitava gols assim como evitava lesões nos adversários. Mas não deixava de ser criticado exatamente pelo perigo que gerava em disputas aéreas: ele, que só usava o cabeceio em situações extremas, preferia levantar o pé também naquelas horas. E foi justamente em uma dividida aérea perdida contra Héctor Castro que o Uruguai matou a final da Copa: a Celeste vencia por 3-2 desde o início do segundo tempo, levando então bastante sufoco até ampliar o placar nos minutos finais, graças ao cabeceio exitoso do Manco Castro.

Curiosamente, enquanto ocorria o Mundial, se desenrolou o campeonato de seleções regionais, a não contar com os convocados à Copa. Já no campeonato argentino o Racing terminou apenas em sexto. Sobreveio então o rompimento dos principais clubes do país com a associação argentina. O pretexto era pelo fim do passe, mas o movimento permitiu a criação de um campeonato rebelde abertamente profissional, ainda que não milionário para os jogadores – Della Torre ainda precisava dividir-se entre os gramados e seu serviço na Aduana, e declararia sobre os cartolas argentinos que “nem todos são iguais: uns são piores que os outros, mas nenhum é melhor”. Naturalmente, os jogadores da nova liga foram afastados da seleção e do campeonato de províncias, organizados pela associação “oficial”, reconhecida pela FIFA até a rendição vir em 1935, com a absorção da oficial pela “pirata”. 

Della Torre permaneceu titular do Racing pelos dois primeiros campeonatos da nova era; em 1931, a Academia ficou em quinto, mas perdeu o certame de 1932 por um único ponto, logrando em seguida a Copa Beccar Varela na virada do ano – uma espécie, grosso modo, de Copa da Superliga da época. Foi o único título oficial do Pechito pelo clube. Em 1933, Della Torre, já considerado veterano, atuou somente sete vezes pelo Racing e conseguiu o próprio passe. Em 1934, então, o America-RJ tornou-se o primeiro clube brasileiro a apostar largamente em argentinos, importando uma penca de oito hermanos, ainda que sob protestos e acusações de aliciamento das equipes de origem.

O Racing campeão da Copa de 1932: Stagnaro, Pompey, González, Botasso, Scarcella e Della Torre; Bugueyro, Fassora (ambos colegas dele também no America-RJ), Devincenzi, Del Giúdice e Perinetti

Della Torre rumou à Tijuca juntamente com outro racinguista, o atacante Alberto Fassora, acompanhados de Juan Rivarola (membro da Argentina campeã da Copa América de 1929); Ismael Arrese, atleta da seleção pelo Platense e depois ídolo no San Lorenzo; a dupla velezana composta por Manuel de Sáa, também ex-jogador da seleção, e Oscar Dedovitis; por Juan Carlos Ponzonibio, que já havia defendido o Milan; e por Juan Mariani, reserva no Boca. Vale ressaltar que na época os rubros tinham mais títulos do que o Vasco e somente um a menos que Flamengo e Botafogo. Assim, o terceiro lugar, hoje uma posição que seria exaltada, foi visto como uma decepção.

Os argentinos logo voltaram à sua terra. No caso de Della Torre, foi ao Ferro Carril Oeste, historicamente um clube que sempre priorizou sua faceta poliesportiva em detrimento de maior enfoque no departamento de futebol. O veterano atuou 24 vezes em uma campanha cujo oitavo lugar representava justamente a mais alta colocação verdolaga até então. O zagueiro seria ainda personagem na estreia oficial de Adolfo Pedernera pelo River, em anedota que se tornou famosa na mitologia riverplatense.

Considerando por Alfredo Di Stéfano como o maior jogador que vira, Pedernera deu uma sequência de três chapéus no veterano, que, serenamente, o aconselhou assim, no relato do craque: “fui a seu encontro vermelho como um tomate. E me disse: ‘garotinho, tudo bem que me drible uma vez, duas vezes. Mas a terceira já é zombar do adversário. Não faça mais’. Só pude responder-lhe: ‘me desculpe, senhor’. Foi a primeira lição que aprendi no futebol”. Sem rancor, Della Torre elogiaria Pedernera em 1945: “é dos que levantam a cabeça”.

Três imagens de Della Torre pelo America-RJ e ele no Ferro Carril Oeste. Defendeu essas duas equipes como jogador e como técnico também

Para 1936, o time do bairro de Caballito usou dezesseis vezes o beque e já não superou o 10º lugar. O zagueiro ainda jogou pelo Atlanta em duas partidas do início do torneio de 1937, exatamente contra a dupla Boca e River, pois, “em 1937, regressei ao Rio para atuar novamente no America, entidade esta que não abandonei na qualidade de jogador até o ano de 1941. Cumpria 21 anos exatamente de futebol oficial. Desde aquele 1920 onde meu peito teve a satisfação de vestir a camisa azul e branca do Sportivo Balcarce, até o ano comentado em que deixei de ser jogador, havia passado duas décadas de inesquecíveis passagens. Uma vida jogando o futebol!”.

No novo ciclo americano, Della Torre ainda foi colega de diversos outros argentinos: Hortensio Pellizari, Roberto Bugueyro, Cilenio Cuello, Juan Manuel Baigorria e o único a vingar, Héctor Gritta (a ficar nove anos no clube), com quem o veterano, como jogador-treinador, formou dupla de zaga. Já decadente, o America, igualado em títulos com o Flamengo em 1935, não frequentou o pódio entre 1936 e 1945. Mesmo assim, em 1942 El Pechito voltou ao Racing, para exercer a nova função, começando o primeiro de seus diversos ciclos como treinador na Academia, também decadente: ficou em 8º em 1942 (ainda que capaz de um 6-1 na célebre La Máquina do River) e em 1943 e em 6º em 1944.

Em 1945, o ex-zagueiro passou a dirigir o Platense, o que não era um demérito: era o clube argentino que mais havia exportado ao futebol italiano e um dos últimos pequenos que não havia sido rebaixado ainda. Ficou em 7º e prosseguiu carreira no Chile, comandando em 1946 o Everton de Viña del Mar; foi 10º de treze times, mas Della Torre foi novamente resgatado pelo America em 1947. Não havia como competir com o disparado Vasco (que só ali superou os rubros em títulos cariocas) e seu Expresso da Vitória, mas os americanos terminaram em terceiro, a um ponto do vice.

Registro da entrada de Della Torre no Brasil em 1948 e ele como treinador do Racing, orientando o jovem Omar Corbatta

Della Torre, porém, não seguiu na Tijuca, voltando ao Ferro Carril Oeste para assumi-lo em plena segunda divisão. Os verdolagas eram terceiros, mas terminaram subindo por decreto após a famosa greve de 1948. Na elite, fizeram o suficiente para não cair em 1949 e em 1950. Para 1951, Della Torre esteve uma quarta e última vez no America, sem o mesmo êxito da passagem anterior. Seu trabalho seguinte se deu no Newell’s, já em 1953: foi o penúltimo, escapando da queda nos critérios de desempate contra o Estudiantes. Salvação que rendeu um retorno ao Racing em 1954, sem desatola-lo do 10º lugar, a pior colocação até então da Academia. Em 1955, ele esteve no Palestino, mas já não era o comandante ao fim do ano em que o time logrou seu histórico primeiro título chileno.

A redenção veio em 1958. Della Torre, de volta ao Racing, conseguiu o título argentino, o primeiro de sua vida – e, considerando a conquista da Copa de 1932, El Pechito tornou-se o primeiro campeão como jogador e treinador na Academia, precedendo os históricos Juan José Pizzuti e Alfio Basile. Em paralelo, a seleção fracassava na Copa do Mundo e seu treinador, Guillermo Stábile, deixou o cargo que ocupava desde 1941.

Embalado pelo título nacional, Della Torre substituiu-o em triunvirato com José Barreiro e Victorio Spinetto com vistas à Copa América que a Argentina sediaria em 1959. Fizeram antes três amistosos preparatórios não-oficiais, primeiramente contra o Atlanta (em 1º de março), um 2-2 onde vencia até os cinco minutos finais – para então encarar, curiosamente, a dupla Grenal, batendo por 2-0 os tricolores no Olímpico em 12 de abril e repetindo o placar dois dias depois diante dos colorados, também no estádio gremista. O título argentino veio, reintroduzindo algum orgulho circunstancial por levar a melhor sobre o Brasil campeão mundial, justamente na única Copa América em que Pelé participou.

Último em pé, como técnico do Racing campeão argentino de 1958: preparador físico D’Amico, Bono, Dellacha, Negri, Murúa, Gianella, Cap e Della Torre; Corbatta, Pizzuti (depois sucessor como treinador racinguista), Manfredini, Sosa e Belén.

A Albiceleste só voltaria a ser campeã em 1991, após seu maior jejum continental. Della Torre reassumiu o Racing, dando lugar em 1960 a Mario Boyé após o vice para o Atlanta na Copa Suécia. Em 1961, em novo ciclo no Ferro, salvou-o do rebaixamento na rodada final em uma trajetória marcada por uma insólita expulsão: em derrota de 4-1 para o Atlanta, Della Torre ordenou a saída de seu próprio jogador Osvaldo Biaggio, revoltado com o descumprimento de ordens. Seguiu trabalhando no Platense em 1962 (vice-campeão da segunda divisão, mas só o campeão ascendia), Palestino em 1963 (salvo do rebaixamento chileno por um ponto) e como técnico diferente do Racing para o segundo turno de 1964. Mesmo em 6º, o time, contando com César Menotti e o ídolo santista Dorval, teve o segundo melhor ataque. Mas o velho ídolo não ficou para 1965.

Della Torre era um treinador que procurava ensinar: “quando a cabeça manda nos pés, se triunfa. Quando os pés mandam na cabeça, se fracassa. Tem que estar com a evolução. O futebolista se sente mais profissional. Não se deve deter-se. Os de antes eram outros tempos. Havia, como agora, jogos ruins. Eu nunca ouvi nenhum jogador dizer a outro: ‘tchê, jogue como Della Torre’. Sem dúvidas, se avançou”. Já marcado pela desorganização gerencial mesmo quando era campeão, o Racing, sem Della Torre, chegou a flertar com as últimas posições no torneio de 1965 até convocar o antigo artilheiro Juan José Pizzuti como bombeiro. Deu tão certo que gestou-se o elenco campeão mundial em 1967. Pizzuti manteve o time no páreo por outras taças até 1969, quando deixou-o para assumir a seleção.

Sem seu maior técnico e perdendo na sequência os pilares Agustín Cejas, Alfio Basile, Roberto Perfumo e Juan Carlos Rulli, a Academia voltou a afundar e nesse contexto Della Torre foi chamado uma última vez em 1971, como o segundo dos quatro treinadores racinguistas do ano. Foi seu último trabalho de relevo; em 31 de julho de 1979, um dia após o aniversário de 49 anos da final de 1930, Della Torre tornou-se o sexto titular argentino a falecer, após Juan Botasso (1950), Guillermo Stábile (1966), Paternoster (1967), Juan Evaristo (maio de 1978) e Pedro Suárez (abril de 1979). Dos uruguaios, só Ernesto Mascheroni ainda vivia. El Pechito não acompanhou a medalha de ouro que seu bisneto Nicolás Della Torre conseguiria já em 2015 com a seleção argentina de hóquei sobre grama nos Jogos Pan-Americanos. Mas vivera para poder ver a Albiceleste, enfim, campeã mundial.

Em 2016, entrevistamos o último destaque argentino do America, Matías Sosa, que conhecia a história de José Della Torre – mas soube por nós da estadia americana do ex-zagueiro. Clique aqui e confira.

Atualização em 13-01-2013: nesse dia, o bisneto Nicolás Della Torre (nascido já em 1990) recolocou a família em um Mundial, ao estrear na Copa do Mundo do hóquei sobre grama – vitória de 1-0 sobre a África do Sul.

Como treinador da seleção campeã da Copa América de 1959 sobre o Brasil campeão mundial: ele está ao meio, como quarto homem de agasalho azul

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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