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15 anos sem o goleiro argentino do Real Madrid penta europeu: Rogelio Domínguez

O Real Madrid enfileirando as cinco Ligas dos Campões seguidamente vencidas (Domínguez esteve nas três últimas) e, à frente, a taça do Mundial Interclubes

Amadeo Carrizo é comumente visto como maior goleiro argentino, após uma carreira em alto nível com 22 anos apenas de River. Mas se há quem prefira Ubaldo Fillol, também não é absurdo questionar no mito Carrizo a própria condição de maior arqueiro argentino dos anos 50. Naquela época, alguém exibiu qualidade ímpar e construiu currículo até superior, chegando a ser por dois anos o dono da posição na seleção – titularidade perdida não por declínio e sim por ir jogar na Europa quando isso mais atrapalhava do que ajudava, mesmo que fosse para defender o Real Madrid de Alfredo Di Stéfano. Há 15 anos, falecia Rogelio Antonio Domínguez López, que, ao pendurar as luvas no Flamengo, em 1969, seguia sendo um raríssimo jogador a disputar a final tanto da Liga dos Campeões como da Taça Libertadores – e a jogar os principais clássicos da Argentina (Boca x River e o de Avellaneda), Uruguai, Espanha e o tradicional Fla-Flu, fora as rivalidades por seleções.

El Flaco (“O Esguio”) nasceu em 9 de março de 1931 na cidade de San Miguel, na Grande Buenos Aires. Viveu grande parte de sua vida no bairro portenho de Villa Luro, onde o Vélez se sediou até o início dos anos 40 para então mudar-se à vizinhança de Liniers. Curiosamente, só iria defender esse clube já no fim da carreira, começando nos juvenis do River quando possuía 15 anos. Porém, só foi usado em uma partida oficial do campeonato juvenil pelo Millo, seguindo em 1947 ao Sportivo Dock Sud, sob empréstimo – e logo depois em definitivo, após os dirigentes millonarios não reclamarem no tempo hábil a devolução da promessa. O bom desempenho no Docke valeu uma transferência aos juvenis do Racing em 1948. Ele não tardou a conseguir títulos pela equipe juvenil e pela de aspirantes, e ainda como jogador da base integrou a seleção que em março de 1951 recebeu a medalha de ouro na primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, sediados no próprio Cilindro – erguido para aquela ocasião, afinal.

O goleiro “calhou” de estar em um Racing que recobrava a aura vencedora dos anos 10 e 20. A Academia havia ganho os campeonatos de 1949 (encerrando jejum de 24 anos) e 1950 e em 1951 confirmou o primeiro tri seguido do profissionalismo argentino. O técnico racinguista Guillermo Stábile concedeu a Domínguez uma única partida nessa campanha; o jovem de vinte anos era a terceira opção para o gol e participou do 1-1 com o Estudiantes pela 21ª rodada; o goleiro titular era Antonio Rodríguez, que logo deixaria o futebol pela política, e o reserva imediato era Héctor Grisetti. O tetra escapou por um ponto em 1952, mas Domínguez teve de esperar até 1953 para se firmar na posição. Terceiro colocado, o Racing teve justamente a terceira melhor defesa, mas foi Domínguez o goleiro menos vazado. Após um decepcionante 10º lugar em 1954, o clube de Avellaneda foi vice em 1955 com seu goleiro fixo sendo novamente o arqueiro titular menos vazado no certame. Assim, a despeito da falta de títulos, ele estreou em 28 de fevereiro de 1956 pela seleção, pelo Campeonato Pan-Americano – um torneio extinto que unia a Copa América com a Concacaf, não devendo ser confundido com os Jogos Pan-Americanos.

Os clubes argentinos do Domínguez jogador: Racing, River (seguindo Omar Sívori) e Vélez

Não virou ídolo duradouro na Albiceleste, mas teve estatísticas notáveis. Domínguez sabia combinar a estatura incomum de 1,90 metros para a época com seu bom senso de posicionamento (sabia antecipar-se, algo incomum para a época) e ótimos reflexos para fechar ângulos, tendo uma das melhores médias de gols sofridos na seleção: foram 21 partidas oficiais, com quinze gols sofridos. Não foi vazado em mais da metade das partidas (doze). E só uma vez foi derrotado, em jogo que não valia nada pela Copa América de 1957, contra os donos da casa (o Peru) uma rodada após o título se garantir por antecipação aos hermanos. O goleiro de fato somava às suas qualidades físicas uma mentalidade vencedora e bastante personalidade. Sua marca de dezesseis jogos seguidos sem derrotas pela Argentina só derrubado pela grande sequência do elenco treinado por Alfio Basile entre 1991 e 1993. A Argentina, mesmo invicta, terminou vice do Pan-Americano de 1956 para o Brasil. No decorrer do ano, o Racing ficou em quarto, com Domínguez comandando outra vez a melhor defesa do campeonato.

Com vitórias pela seleção em amistosos contra Itália e Tchecoslováquia, ambas por 1-0, terminou o ano considerado o melhor goleiro da América e seguiu titularíssimo na seleção para a Copa América realizada em março de 1957, ganha com sobras pelos Carasucias de Lima: 8-2 na Colômbia, 3-0 no Equador, 4-0 em pleno clássico com o Uruguai, 6-2 no Chile e título confirmado com um 3-0 sobre a base do Brasil que um ano depois ganharia o Mundial – em atuação onde Domínguez foi avaliado pelo Jornal dos Sports como “infinitamente superior” a Gilmar (de fato substituído no intervalo por Castilho), salvando em especial “gol certo” de Pepe com o jogo ainda em 1-0. Mas o sucesso voltou-se contra a própria seleção, que viu grandes clubes europeus sondarem os destaques. A ascendência italiana, que permitiria cidadania a fim de não ocupar vaga de estrangeiros, favoreceu a ida do trio ofensivo Humberto Maschio, Antonio Angelillo e Omar Sívori à Serie A. Já o goleiro, filho de um galego de Ourense e neto materno de um casal espanhol, iria para La Liga: sondado inicialmente por Barcelona e Atlético de Madrid, fechou com o Real por 2,5 milhões de pesos.

Em tempos em que não existia o costume de se convocar jogadores do exterior para a seleção, aqueles quatro acabaram de fora da Copa do Mundo. Não que Domínguez lograsse de imediato a titularidade madridista, que ficou com o capitão Juan Alonso na metade final da conquista da Liga dos Campeões de 1957-58. Mas já ocupava de vez a posição na temporada seguinte, quando a colônia argentina (que reunia não só ele e Alfredo Di Stéfano, mas também o atacante Héctor Rial e o técnico Luis Carniglia) prevaleceu por 2-0 na final contra o Stade de Reims de Just Fontaine e Roger Piantoni (e outros membros da França bronze em 1958) após eliminar nas semis o rival Atlético, em prévia aos duelos madrilenhos recentes pelo torneio. Na temporada 1959-60, o rival eliminado na semifinal foi o Barcelona. Domínguez também foi o titular na primeira disputa do Mundial Interclubes, segurando o 0-0 com o Peñarol no Centenário antes dos espanhóis aplicarem um impiedoso 5-1 no Santiago Bernabéu. Foi o fim do mais dourado ciclo merengue; o penta europeu durou até a queda para o Barcelona nas oitavas-de-final da temporada 1960-61.

Na Argentina campeã da Copa América de 1957

Domínguez não era infalível, com a torcida blanca reconhecendo sua capacidade para as defesas mais espetaculares contrastarem com alguns gols bobos, mas seguia prestigiado: o compatriota Helenio Herrera, que comandava o Barcelona até 1960, quando rumou para fazer história na Internazionale, pediu-o de imediato para os cartolas milaneses. O goleiro, de fato, não chegou a ser usado na temporada 1960-61, mas, sob aconselhamento do técnico argentino Juan Carlos Lorenzo e do ex-colega Néstor Rossi, preferiu aceitar oferta do River no início de 1962, de olho em uma chance de ir à Copa do Mundo. O time de Núñez tinha Carrizo como dono da posição, mas a lenda, traumatizada com o 6-1 sofrido para a Tchecoslováquia em 1958, se recusava a servir a Albiceleste. No Chile, Antonio Roma foi o goleiro titular nas duas primeiras partidas, vencendo por 1-0 a Bulgária mas perdendo de 3-1 para a Inglaterra. Cabia à Argentina derrotar a Hungria e Domínguez foi chamado, sem sofrer gols. Mas seus colegas também não marcaram e o 0-0, após a vitória inglesa sobre os búlgaros no dia seguinte, eliminou precocemente os hermanos.

Com moral, Domínguez ainda participou de dois jogos em especial em agosto de 1962: no dia 15, defendeu pela última vez a Argentina, em vitória de 3-1 sobre o Uruguai pela Copa Lipton, e nove dias depois participou de um Superclásico histórico, onde o River virou com três gols em três minutos um duelo que perdia por 1-0 no Monumental. Porém, Carrizo logo retomou a posição. Domínguez viu do banco o Millo ficar no vice naquele ano e em 1963 (quando ainda recebeu convocações à Copa Roca, embora não jogasse e sim Edgardo Andrada), em meio ao terrível jejum de dezoito anos vigente em Núñez entre 1957-75. Em 1964, o clube trouxe a promessa Hugo Gatti e cedeu o veterano ao Vélez. Ainda sem nenhum título na elite, o Fortín germinava o elenco que encerraria em 1968 esse jejum, angariando boas campanhas: Domínguez era o goleiro do elenco que chegou a ficar a um ponto da liderança do Boca ao fim do primeiro turno de 1964, sentindo na sequência o desfalque do ídolo Daniel Willington, suspenso por sete rodadas. No campeonato seguinte, La V Azulada terminou em terceiro, embora as atuações do goleiro começassem a ser vistas sob declínio. Ele nunca chegou a ser intocável, alternando-se com José Miguel Marín.

Em 1966, Domínguez acertou então transferência ao futebol uruguaio – para defender o modesto Cerro. Ali, teve a companhia de outro argentino ídolo racinguista, o atacante Rubén Marqués Sosa. O time conseguiu o “título simbólico” de melhor time pequeno do país, com um bronze no pódio quase sempre dominado pela dupla Nacional e Peñarol, terminando três pontos abaixo dos aurinegros; até hoje, só a campanha vice em 1960 foi mais alta na história cerrense. Domínguez e Sosa foram então incorporados pelo gigante Nacional, campeão doméstico e cada vez mais obcecado com a Libertadores, vencida já três vezes pelo rival. Vivenciaram em 1967 a campanha mais larga de um time na competição; só a primeira fase teve doze jogos, onde o Nacional teve doze gols sofridos e 34 marcados, terminando na liderança com nove vitórias e duas derrotas. O triangular semifinal rendeu encontros contra o grande rival e também o Cruzeiro; o Peñarol, curiosamente, também usaria um goleiro argentino: na ausência de Ladislao Mazurkiewicz, os aurinegros trouxeram Néstor Errea, titular do Boca vice em 1963 e que seria guarnecido por um jovem Elías Figueroa.

Em seu único jogo de Copa do Mundo: um assistente, Domínguez, Ramos Delgado, Sacchi, Cap, Marzolini, Sáinz e o técnico Lorenzo; Pando, Facundo, Pagani, Oleniak e González

A classificação à decisão se definiu nos Superclásicos e o sonho esteve vivo como nunca até então: o Nacional venceu por 1-0 o primeiro deles. No segundo, teve Héctor Cincunegui expulso ainda aos 5 minutos do segundo tempo, com o jogo em 1-1. Aos 31, o superartilheiro Alberto Spencer pôs o rival na frente, mas no antepenúltimo minuto o brasileiro Célio, com assistência do argentino Sosa, conseguiu empatar para quem jogava com dez. Apesar do feito, a taça terminaria longe do Gran Parque Central. Reencontrando o Racing, agora como adversário, Domínguez ficou no vice-campeonato para o ex-clube. Até então, só dois jogadores haviam disputado a final de La Copa e também da Liga dos Campeões: o brasileiro Julinho Botelho (Fiorentina em 1957, Palmeiras em 1960) e outro argentino, Ernesto Grillo (Milan em 1958, Boca em 1963). Vale dizer que só em 1996 apareceu alguém campeão dos dois torneios, Juan Pablo Sorín, e que só 2003 se viu quem vencesse ambos após disputar as duas finais – Dida e Roque Júnior.

Domínguez seguiu por mais um ano no Nacional, sendo lembrado como um goleiro que passou a impor lei de talião contra a malandragem dos atacantes do Peñarol, inclusive lesionando seriamente o joelho de Spencer em um Superclásico de 1968. Porém, um 5-1 sofrido em amistoso com o Boca em agosto fez o técnico brasileiro Zezé Moreira optar por passar a utilizar o conterrâneo Manga. O argentino jogou pela última vez como tricolor em 1º de setembro, um 2-0 sobre o Sud América pelo campeonato uruguaio. Descontente com a reserva, acertou com o Flamengo, estreando ainda em 24 de novembro, sem ser exigido em 0-0 com o Náutico nos Aflitos pelo Robertão. Chegou sob desconfiança por sua idade, perto dos 38 anos. O time era dirigido por Válter Miraglia, ex-médio do clube nos anos 40 – na virada do ano, cederia o posto ao experiente Elba de Pádua Lima, o Tim, também vindo do futebol argentino, recém-campeão invicto com o San Lorenzo. O Flamengo de Tim começou o Campeonato Carioca de 1969 hesitante, perdendo pontos aqui e ali, mas ao fim do primeiro turno começou a engrenar, enfileirando vitórias e grandes exibições.

O grande impulso para a reação foi um memorável 3-0 sobre o Vasco na última rodada do turno, no qual Domínguez saiu aclamado – pela torcida, que gritou seu nome no estádio quando ele saiu substituído por Sidnei por lesão no segundo tempo, e pela crônica esportiva, incluindo o próprio Canal 100. Ele também foi muito elogiado na histórica vitória por 2-1 sobre o Botafogo, recordada pela adoção literal do urubu como mascote pela torcida rubro-negra. O caso de amor com a torcida seguiu até a penúltima rodada do returno, quando veio o Fla-Flu. A vitória era fundamental para seguir com chance de título e, mesmo às voltas com uma distensão no tendão-de-Aquiles, Domínguez foi confirmado entre os titulares. Acabaria falhando no primeiro gol, soltando a bola aos pés do ponteiro-esquerdo Lula. O Fla empataria com Liminha, mas logo depois o Flu passaria à frente no lance mais polêmico do jogo, quando Cláudio, em impedimento, recebeu de Flávio e tocou para as redes. Foi quando Domínguez partiu em disparada para cima do árbitro Armando Marques, reclamando da irregularidade, e acabou expulso aos 38 minutos do primeiro tempo.

Atrás de Di Stéfano celebrando uma Liga dos Campeões e voltando ao Cilindro como jogador do Nacional, onde também disputou final continental: foi o terceiro a conseguir isso na Europa e na América

Na etapa final, o Flamengo, com dez, tornaria a empatar, mas Flávio faria o terceiro dos tricolores, que ficariam com a taça por antecipação. Para a massa rubro-negra, a culpa da derrota recaiu não sobre o polêmico árbitro, que já havia validado no ano anterior um gol de mão do rival em outro Fla-Flu, mas sobre o goleiro, chamado de “gaveteiro” – termo da época para jogadores subornáveis e costumeiramente usado após falhas de goleiros (a própria transferência de Manga do Botafogo ao Nacional devera-se a insatisfação similar dos alvinegros). Dali em diante, o argentino seria flamenguista por apenas mais oito partidas, a última delas em agosto: vitória de 1-0 sobre o San Lorenzo em amistoso no Maracanã. E o próprio time azulgrana seria a parada seguinte de Domínguez. Com as luvas penduradas na Gávea, ele chegou como técnico ao bairro de Boedo em 1971.

Domínguez fez um bom trabalho, já exibindo sua marca na nova função: primava por um futebol ofensivo elogiado pelo bom jogo, mas não tão preocupado em resguardar a defesa nem em trabalhos táticos exaustivos, tampouco em estudo profundo dos rivais; seus treinos eram rachões. Um estilo boleirão que dava certo enquanto mantinha o grupo, que naquele momento reunia ídolos históricos dos cuervos, capazes de proporcionar um quinto lugar no Metropolitano (com um 3-1 em La Bombonera sobre o Boca, um 6-2 no Racing em casa e um 3-0 dentro de Avellaneda e um 5-1 sobre o rival Huracán, maior goleada do clássico até 1995) e uma final do Nacional, perdida para o Rosario Central – a quem ironicamente havia goleado por 4-1 no Metro e por 5-1 na primeira fase do próprio Nacional, onde o Huracán foi abatido por 3-0. Era a base do elenco que em seguida faria história tornando-se o primeiro time argentino a vencer em um mesmo ano tanto o Metropolitano como o Nacional, mas o ex-goleiro já não estaria na glória: foi embora após um conflito com Victorio Cocco e Carlos Veglio, suspensos pelo treinador após a semifinal com o Independiente. Os jogadores foram os respaldados pela presidência e Domínguez rumou ao Chacarita.

Na época, vale dizer, o Chaca era um time de prestígio; campeão em 1969, havia sido terceiro colocado no Metro e vencido o Bayern Munique pelo Troféu Joan Gamper em 1971. Sob o ex-goleiro, ficou em 8º no Metro de 1972, mas a seis pontos do vice em um torneio embolado; como grandes momentos, chegou a impor um 4-1 no clássico com o Atlanta e a bater por 3-1 o Independiente recém-campeão da Libertadores. O Nacional de 1972 não foi tão auspicioso aos funebreros (em 10º num grupo de treze), mas Domínguez terminou contratado pelo Boca. Seu primeiro mérito foi incorporar dois futuros ídolos eternos, Vicente Pernía (trocado com o Estudiantes por Ignacio Peña e Rubén Galletti) e Jorge Benítez (trocado com o Racing por Víctor Trossero e Oscar Malbernat). Também veio um jogador efêmero, mas elogiado, Carlos Guerini – logo ídolo do mesmo Real Madrid que tanto aplaudira o goleiro. Domínguez também não titubeou em afastar ídolos históricos do porte dos laterais Silvio Marzolini e Rubén Suñé, ainda que a impressão fosse que desentendimentos dos atletas com o presidente Alberto Jacinto Armando que realmente preponderassem. A despeito de começar perdendo um Superclásico, o Boca de Domínguez engatou cinco vitórias seguidas que incluíram um 6-0 no Chacarita.

No Flamengo, onde pendurou as luvas (à frente dele, o também argentino Narciso Doval). E como treinador do San Lorenzo, antes da primeira decisão por pênaltis do futebol argentino: semifinais do Nacional de 1971

O time ainda logrou um 6-1 no Newell’s, um 5-2 no River e um 7-1 no All Boys, mas não conseguiu a consistência do campeão Huracán, terminando no vice. O desempenho no Nacional já foi esquecível, com o quinto lugar no grupo, em uma campanha irregular com nove vitórias e cinco derrotas. Para o Metropolitano de 1974, a estreia foi das mais promissoras – um 5-2 no Superclásico histórico, a marcar a estreia de Fillol e, sobretudo, o recorde de gols de um só jogador no duelo (os quatro de outro estreante, Carlos García Cambón). Vieram cinco vitórias e um empate nas seis partidas seguintes, incluindo um 7-1 no Argentinos Jrs. O título parecida fadado aos xeneizes, que então perderam cinco jogos seguidos, a pior sequência desde o ano em que brigaram para não cair, em 1949. Na quinta delas, objetos chegaram a ser atirados em campo. Sobreveio uma recuperação que permitiu ao Boca terminar em segundo no grupo e rumar ao quadrangular final, mas derrotas nos dois primeiros jogos encerraram por antecipação as chances de título. Para o Nacional, os auriazuis chegaram a vencer nove jogos seguidos, incluindo um 9-0 sobre o Puerto Comercial.

Só que, após liderar tranquilamente seu grupo, o time voltou a fraquejar na fase decisiva, perdendo as quatro primeiras partidas, terminando na vice-lanterna do octogonal final. O ambiente em 1975 já estava marcado por desentendimentos internos de diversos jogadores destacados com os cartolas, a custar algumas partidas a Rubén Sánchez, Roberto Rogel, Osvaldo Potente, Enzo Ferrero, Alberto Tarantini e García Cambón. Ainda assim, o clube só perdeu um jogo dos primeiros 22 que fez no Metropolitano, chegando a golear com o time reserva por 4-0 o Independiente tetra da Libertadores. Chegou a cheirar o cangote do River na luta pelo título, mas terminou em terceiro. Para o Nacional, não houve como relativizar mais a falta de resultados com bom futebol: o Boca não avançou de fase, terminando em quarto lugar após perder os últimos cinco jogos, significando o fim da linha para Domínguez e alguns ídolos (Sánchez, Rogel e Ferraro, sobretudo). O ex-goleiro segue como técnico que por mais tempo e jogos durou na Casa Amarilla sem conquistar títulos, além de quinto no geral. Curiosamente, no ano seguinte o Boca faturaria Metropolitano e Nacional sob o comando de Juan Carlos Lorenzo, o mesmo que lhe sucedera no San Lorenzo campeão de ambos em 1972.

Com um 3-2 em Núñez sobre o River e um 4-0 no Racing como resultados mais expressivos, Domínguez conseguiu classificar o Gimnasia LP como segundo colocado do Grupo B ao dodecagonal final do Metropolitano de 1976 – para então ficar na vice-lanterna da fase. O Lobo ficou em antepenúltimo em seu grupo no Nacional, mas Domínguez arranjou um retorno ao San Lorenzo em 1977. O clube agora estava sob terra arrasada que, em prazo relativamente curto, acarretaria na perda do próprio estádio Gasómetro. Em consequência, as boas figuras eram poucas e o treinador só durou ao fim do primeiro turno, substituído por Oscar Calics.

Racing de 1986. Domínguez, como técnico, é o penúltimo na fileira do meio

O ex-goleiro foi reconstruir sua imagem no interior, assumindo em 1978 o Atlético Tucumán. O time se desfizera de seu grande craque, Ricardo Villa, ao Racing (Villa, de fato, venceria Copa de 1978 e se destacaria no Tottenham Hotspur), e nesse contexto Domínguez virou ídolo: faturou as ligas tucumanas de 1978 e 1979, ano em que conduziu o Decano à sua melhor campanha no Torneio Nacional, parando nas semifinais. Êxito que passou longe no Quilmes, em 1980: campeão argentino em 1978, o Cervecero terminou rebaixado com o novo técnico. Domínguez seguiu carreira em uma nova surpresa do interior argentino, o Loma Negra. O clube de Olavarría esteve muito perto de classificar-se aos mata-matas do Nacional de 1981 no lugar do futuro campeão River, que, treinado pelo ex-colega Di Stéfano, levou a melhor nos critérios de desempate para só então decolar uma campanha acidentada. Na fase áurea do Loma, Domínguez era o comandante de um histórico triunfo amistoso sobre a seleção soviética, já em 1982. Assim, após 25 anos, regressou com cartaz ao Racing, mas sem toque de Midas.

A Academia fez um péssimo Metropolitano de 1982 e, ainda que chegasse aos mata-matas do Nacional no primeiro semestre de 1983, não venceu nas cinco primeiras rodadas do Metropolitano de 1983. Domínguez foi demitido no início da campanha que culminaria no rebaixamento racinguista. Ele ainda teve um retorno em meio à temporada 1986-87, onde os recém-reingressados da segundona terminaram em quinto. Por fim, a falta de um empresário próprio também lhe custou novos trabalhos em um futebol cada vez mais moderno; seu trabalho seguinte mais conhecido foi no Everton de Viña del Mar entre 1989 e 1990. Há quem mencione um passo final pelo Racing no Clausura 1995, mas o treinador era o xará Rodolfo Domínguez.

Uma enfisema pulmonar que lhe internou no Hospital Piñeyro, no bairro de Flores, acarretou o ataque cardíaco que levou-lhe há 15 anos – infelizmente, não houve homenagens formais a ele na final da Copa América entre Brasil e Argentina, ocorrida dois dias depois. Hoje jaz no cemitério da Chacarita aquele que dizia que “se nascesse de novo, voltaria a ser goleiro”.

Colaboraram Emmanuel do Valle, historiador do Flamengo, e Esteban Bekerman, dono da única livraria de futebol em Buenos Aires

https://twitter.com/RacingClub/status/1153667330586664960

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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