Elementos em comum entre Cruzeiro e Boca
Mais coisas além da origem italiana (que no Boca originou o apelido xeneize, derivado de zeneise, que significa “genovês” no idioma da Ligúria) e da camisa azul ligam Boca e Cruzeiro, que, aliás, tem no amarelo uma “terceira cor” informal (graças ao goleiro Raul). Ambos copeiríssimos em seus países, já até decidiram a Libertadores, em 1976, no primeiro título do time argentino. Por outro lado, a Raposa pode se gabar por uma raríssima vitória brasileira em La Bombonera sobre o oponente pela competição.
Afinal, pode-se até dizer que as torcidas dos dois já se uniram dado aos também frequentes choques dos mineiros com o River, na decisão de 1976 da Libertadores e de 1991 da Supercopa, o torneio que entre 1988 e 1997 reuniu só os campeões de Libertadores. Assim, quando chegou à decisão de 1977, o Boca enfrentava o detentor do título. Venceu por 1-0 em casa e levou o troco no Mineirão, quando usou camisas amarelas, supersticiosamente trocada por brancas na neutra Montevidéu. Após o 0-0 na terceira finalíssima, Hugo Gatti terminou herói ao pegar a única cobrança desperdiçada na noite uruguaia.
Se a Supercopa era o torneio que reunia campeões da Libertadores, a Conmebol resolveu inchar seus troféus em 1992 ao inventar o torneio que só reunia campeões da Supercopa, a Copa Master. Sem surpresas, esse torneio só durou duas edições, e os campeões foram justamente Boca, em 1992, e Cruzeiro, em 1994. A edição inaugural foi toda realizada no estádio do Vélez e começou já nas semifinais, nas quais os argentinos tiraram o Olimpia em jogo único, gol de Roberto Cabañas logo no primeiro minuto. Na final, superaram os mineiros por 2-1.
Pouco após aquele título, o Boca desfez no fim de 1992 seu maior jejum nacional, onze anos. O título do Apertura da temporada 1992-93 recolocou o clube na Libertadores para 1994, mas até lá o racha interno entre as panelinhas falcones e palomas desfigurou o time campeão. Nisso, o time terminou de modo vexatório na lanterna do seu grupo na Libertadores, tomando o famoso 6-1 do Palmeiras. Contra o Cruzeiro do jovem Ronaldo (que marcou no Mineirão) e do veterano Toninho Cerezo, perdeu os dois jogos por 2-1, na primeira vitória brasileira sobre os xeneizes na Bombonera pela Libertadores desde o Santos de Pelé na final de 1963.
Em 1996 e 1997, os dois se encontraram na Supercopa. Na primeira, os pênaltis favoreceram os brasileiros, após o 0-0 na Argentina não significar classificação hermana com o 1-1 seguinte no Mineirão pelas quartas. Melhor para o time que tinha Dida, em campanha encerrada nas finais com o campeão Vélez. Na outra, o time não pôde contar com o astro Maradona, lesionado, mas fez prevalecer o fator casa com o 1-0 na estreia. Só que no reencontro no Brasil os argentinos já estavam praticamente eliminados e caíram por 2-1.
O último duelo continental foi válido pelas oitavas da Libertadores de 2008, com o time mais copeiro prevalecendo com duas vitórias por 2-1, abrindo 2-0 no placar tanto na Argentina como em Belo Horizonte, ainda que não resistisse ao Fluminense nas semifinais. Fora das competições oficiais, houve ainda espaço para dois amistosos, ambos no Mineirão. Em 1968, um jogo movimentado já registrava placar em 2-1 com 16 minutos. Tostão ampliou para 3-1 ainda no primeiro tempo, com Antonio Rattín descontando. Em setembro de 1985, a dupla Boca e River embarcou para um quadrangular amistoso com Atlético e Cruzeiro. Na época, Alfredo Di Stéfano defendia o Boca, como treinador, e viu seus comandados perderem de 2-0. Tentos de Mirandinha e Tostão… que, claro, não era aquele.
Os dois clubes puderam comemorar uma tríplice coroa em 2003, com os argentinos abocanhando, nessa ordem, Libertadores, Apertura e Mundial; enquanto os mineiros saborearam Estadual, Copa do Brasil e Brasileirão (na época, visto ao menos aos olhos alheios como o primeiro do clube). Eles também foram campeões em torneios alusivos aos anos de 1930 (Estadual; Argentino), 1943, 1944, 1965 (idem), 1969 (Estadual; Argentino e Copa Argentina), 1977 (Estadual; Libertadores e Mundial), 1990 (Estadual; Recopa Sul-Americana), 1992 (Estadual e Supercopa; Copa Master e Argentino), 1993 (Copa do Brasil; Copa Ouro), 2000 (Copa do Brasil; Libertadores, Apertura e Mundial), 2001 (Copa Sul-Minas; Libertadores), 2004 (Estadual; Copa Sul-Americana), 2006 (Estadual; Clausura e Recopa Sul-Americana), 2008 (Estadual; Apertura e Recopa Sul-Americana), 2011 (Estadual; Apertura), 2015 (Brasileiro; Argentino e Copa Argentina) e 2018 (Estadual; Argentino).
Vamos a quem defendeu ambos – desde já ressaltando que não é o caso de Heraldo Bezerra, brasileiro que defendeu a seleção espanhola e faleceu como jogador do Boca em acidente de carro em março de 1977; o Cruzeiro que defendera era o de Porto Alegre.
Lima: o ponta-esquerda tricampeão mineiro no início dos anos 70 e vice brasileiro em 1974 vinha de uma passagem longa mas sem títulos naqueles anos de jejum do Corinthians. De janeiro a maio 1968, havia sido emprestado pelos alvinegros ao Boca, mas não conseguiu lugar no time. Curiosamente, ele, como xeneize, fora titular naquele amistoso contra o Cruzeiro naquele ano. Foi precisamente sua última partida pelo Boca, participando mais de amitosos (sete) do que de jogos competitivos (seis).
Charles: centroavante revelado no Bahia campeão brasileiro de 1988, chegou à seleção e manteve boa fase no Cruzeiro, onde foi artilheiro do time campeão da Supercopa 1991 (sobre o River). Chegou assim com muito cartaz ao Boca, com passe comprado por ninguém menos que Maradona. Ele esteve no time campeão argentino de 1992, finalizando o maior jejum nacional do clube, mas sem agradar, só atuando nas cinco primeiras rodadas. Jogou ainda dois amistosos, contra o Sevilla do próprio Maradona. Não marcou gols e foi devolvido ao Brasil.
Silvio Rudman: volante revelado no Argentinos Jrs, onde fazia dupla com Fernando Redondo. Partiu dali para o Independiente mas esteve longe de vingar como o colega, trotando o mundo em times pequenos de México, Itália, Espanha e até por Honduras e Guatemala. Antes do flop se consumar, foi pedido por ninguém menos que César Menotti para o Boca no segundo semestre de 1994. Não vingou e no início de 1995 foi testado pelo Cruzeiro, atuando em um 2-2 amistoso com o Guarani de Divinópolis. Foi considerado caro demais para um jogador fora de forma e dispensado.
Jorginho Paulista: vinha de um bom momento no Vasco. Campeão brasileiro e da Mercosul em 2000, o clube também fez uma fase de grupos com 100% de aproveitamento na Libertadores de 2001. A invencibilidade caiu logo nas oitavas, em duas derrotas para o Boca, o que não impediu os argentinos de se interessarem pelo lateral, que pertencia à Udinese. Jorginho, porém, não se mostrou um bom marcador e tampouco repetiu o ímpeto ofensivo, durando 15 jogos entre o Apertura e a Copa Mercosul. Seu empréstimo foi repassado ao Cruzeiro no início de 2002. O problema foi concorrer na posição com Juan Pablo Sorín. Foi repassado no mesmo ano ao São Paulo, sendo mais lembrado pela dívida gerada pelo clube do que pelas atuações.
Joffre Guerrón: fez as categorias de base no Boca, mas já estava de volta ao seu Equador quando se profissionalizou. Foi o grande nome do time da LDU que, treinado por Edgado Bauza, venceu a Libertadores em 2008. A façanha rendeu negócio com o Getafe e a lembrança dos brasileiros do carrasco do Fluminense permanecia viva em meados de 2009, quando o Cruzeiro buscou o empréstimo do atacante junto ao clube espanhol, onde não se firmara. Tampouco vingou na Raposa, sendo desligado por indisciplina interna após um ano.
Sebastián Prediguer: volante que começou em alta no Colón, rendendo um negócio com o Porto que viria a significar apenas sucessivos empréstimos. Conseguiu ter mais partidas pelo Boca do que pelo Cruzeiro mesmo só defendendo os xeneizes por três vezes; na equipe brasileira, chegara na esteira de Walter Montillo e Ernesto Farías, que também pertencia ao time português. Mas sequer estreou pela Raposa.
Juan Manuel Sánchez Miño: lateral e volante que surgiu de modo promissor no Boca do início da década, equipe eficiente ainda que pouco vistosa, mas campeã do Apertura 2011 e da Copa Argentina em 2012, além do vice na Libertadores 2012 – ano em que Sánchez Miño chegou a ser convocado à seleção para o Superclássico das Américas. Em 2014, rumou ao futebol europeu. Não se efetivou no Torino e tampouco se adaptou ao Cruzeiro em 2016, ficando só de janeiro a junho.
Ramón Ábila: um clássico atacante do estilo “tanque”, sobressaiu-se no Huracán que desfez em 2014 um jejum de 41 anos sem títulos expressivos, marcando nos mata-matas contra Boca, Estudiantes e na semifinal com o Atlético de Rafaela na campanha campeã da Copa Argentina. Ainda viria em paralelo o retorno à elite argentina, após três anos. Em 2015, ganhou a Supercopa Argentina e foi um dos artilheiros da Sul-Americana, com seus gols sobre Sport Recife, Defensor e River levando o outrora relegado Globo a uma final continental. A taça não veio, mas o “Wanchope” chegou com moral a um Cruzeiro que brigava para não cair. Nove gols nas primeiras onze partidas preveniram a queda e renderam o negócio com o Boca ano passado. Ábila mantém um índice razoável de gols, mas não reencontrará ex-colegas; descobriu-se suspensões que deverá cumprir nessa fase da Libertadores.
Alexis Messidoro: meia proveniente da base do Boca, estreou no time adulto com gol em amistoso com o Emelec, em janeiro de 2016, mas terminou pouco aproveitado em jogos competitivos – cinco entre abril e maio daquele ano, sendo titular nos quatro primeiros. Passou a ser sucessivamente emprestado, ficando no Cruzeiro de setembro de 2017 a janeiro desse ano, quando foi repassado ao Talleres. Jogou ainda menos no Brasil (quatro).
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