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La Guitarrita, a pizzaria do ídolo do Papa Francisco no San Lorenzo

Direto de Buenos Aires – vai passar o carnaval em Buenos Aires e sua programação inclui o Monumental  e seu museu do River? Aproveite a passagem por essa zona, distante do centro turístico, para outros passeios. Como o de almoçar em La Guitarrita, pizzaria na esquina das ruas Cuba e Manuela Pedraza, em Núñez. Há filial também em Palermo, na Niceto Vega com Gurruchaga (rua apimentada de turistas seduzidos por outlets de grifes).

Decorada com diversas camisas, flâmulas (há de Corinthians e Palmeiras), caricaturas (como a do brasileiro Silva “Batuta”, ex-Flamengo, Vasco, Corinthians, Santos e Barcelona que é ídolo no Racing) e fotos de clubes de futebol e até rúgbi, a pizzaria foi aberta em 1963 por René Pontoni e Mario Boyé. Eram ambos craques da geração argentina dos anos 40, ocultada pela Segunda Guerra Mundial. A geração era tão boa que foi tri da Copa América, ainda um recorde na competição exclusivo dos hermanos. Ele veio em anos seguidos (1945, 46 e 47), mas, repita-se, era tão boa a geração que só cinco jogadores estiveram em todo o tri.

Boyé (a pronúncia é “Bodjê”, ou “Bochê” se você quiser carregar um sotaque portenho) e Pontoni foram justamente dois desses cinco. Ídolo de Boca e Racing, Boyé era apelidado de El Atómico pelas bombas e foi o primeiro ponta a ser artilheiro do campeonato argentino, em 1946. Naquele ano, o San Lorenzo foi campeão com o melhor ataque da década dourada – 90 gols, mais do que a celebrada La Máquina do River: era o Terceto de Oro, do qual Pontoni era o centroavante.

Pontoni por seleção, San Lorenzo, Santa Fe (com o “rival” Di Stéfano) e em sua pizzaria

O Papa Francisco tinha dez anos na época e assegurou ter assistido todos os jogos que seu San Lorenzo fez em casa, mencionando expressamente isso e Pontoni em carta com selo oficial do Vaticano apenas uma semana depois do conclave que elegeu Jorge Bergoglio a Sumo Pontífice. Falamos disso e da carreira de Pontoni, ex-Portuguesa de Desportos e que deixava Alfredo Di Stéfano no banco da seleção (afinal, o ídolo do Papa fez 17 gols em 17 jogos pela Argentina), nesta matéria kibada até pelo Milton Neves.

Pontoni e Di Stéfano, curiosamente, foram “rivais” também em duelos nos clássicos San Lorenzo x Huracán e, no Eldorado Colombiano, por Santa Fe (o ídolo do Papa fora colega de Charlie Mitten, que para ir à atrativa liga pirata da Colômbia deixou a seleção inglesa e o Manchester United!) e Millonarios, na rivalidade de Bogotá.

Dentre as opções do cardápio, destaque aos nomes futboleros das pizzas “Atómica”, La Máquina” e “Don Grillo”. Esta última é referente por sua vez a Ernesto Grillo, ídolo de Independiente, Boca e Milan que fez em 1953 o gol da primeira vitória da Argentina sobre a Inglaterra, quando a Albiceste usou os cinco atacantes do Independiente (nenhum clube conseguira isso até então). Pedimos metade “Atómica” e metade três queijos e ficou impossível decidir a mais saborosa.

O sócio Boyé, ídolo no Boca: parceria de seleção e de negócios virou elo familiar, pois suas esposas eram irmãs entre si

Outra dica turística em Núñez é visitar o memorial de direitos humanos que funciona na antiga ESMA, a Escola de Mecânica da Armada (é necessário agendar previamente pelo site, mas nada burocrático), principal centro de tortura e extermínio da última ditadura argentina (mas antes e depois também – foi por estacionar em frente nos anos 60 que Victorio Casa, outro ídolo do San Lorenzo, foi metralhado a ponto de perder o braço). Exatamente ao lado situa-se a sede do Defensores de Belgrano, simpático clube do ascenso argentino onde René Houseman começou a carreira e Ariel Ortega terminou.

A ex-ESMA é bastante perto também da sede do Obras Sanitarias, clube proeminente no rúgbi, basquete e em receber shows de rock. Vá atrás dessa e das outras atrações do distante Núñez a partir da estação Congreso de Tucumán, ao fim da linha D do metrô (ou subte, na gíria local) portenho. E, claro, não deixe de visitar a Entre Tiempos, dica bem mais perto do centro, a uma quadra da Avenida 9 de Julio. É uma livraria riquíssima voltada exclusivamente ao futebol argentino.

Atualizações após essa matéria:

Clique aqui para conhecer a carreira de Boyé, em nota publicada em 30-07-2017, quando teria feito 95 anos.

Clique aqui para acessar nota ampliada sobre Pontoni, publicada em 18-05-2020, quando teria feito 100 anos.

Caricatura do brasileiro Silva pelo Racing, carreira de Pontoni em HQ e flâmulas de Corinthians e Palmeiras em La Guitarrita

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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