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Nos 45 anos do título brasileiro, relembre os argentinos do Atlético Mineiro

Ontem o Atlético Mineiro celebrou os 45 anos do seu título brasileiro. Um bom gatilho para relembrarmos os argentinos da história atleticana, de êxito relativamente recente com hermanos. Mas com história antiga.

Os primeiros surgiram nos anos 40, quando o futebol brasileiro tinha olhos voltados não à Europa mas sim ao país vizinho, tamanhas as goleadas sofridas para a seleção rival. Nesse complexo, chamado de Platinismo, clubes tupiniquins buscavam até argentinos veteranos e/ou de segunda linha e ainda assim muitos deles faziam grande sucesso: Sastre no São Paulo, Valido no Flamengo, Echevarrieta no Palmeiras, Rafagnelli no Vasco, Rongo no Fluminense…

No Galo, os três primeiros argentinos foram daqueles tempos e todos já tinham carreira no Brasil. O meia Guido Baztarrica, revelado no Atlanta e com passagens por Boca e Peñarol, veio do Fluminense em 1945 e saiu no início de 1946, mesmo ano da estadia de José Villalba, estrela do “Rolo Compressor” do Internacional: ainda é o segundo maior artilheiro colorado nos Grenais.

Baztarrica até marcou contra o Cruzeiro no estadual, mas em derrota de 3-2. No campeonato, os alvinegros terminaram atrás de todos os rivais. O Cruzeiro foi campeão enquanto América e Villa Nova, ambos de poderio maior antes do futebol mineiro virar um duopólio, fecharam o pódio. Já Villalba esteve no título estadual de 1946, que depois de trinta anos isolou novamente o clube como maior campeão mineiro, à frente do América, mas o argentino esteve fora da titularidade. Em amistoso de fim de ano, chegou a dar a vitória ao Galo contra a Raposa.

Baztarrica, Villalba e Valsecchi: os primeiros argentinos do Galo

No início de 1948, o centroavante Roque Valsecchi, com passagem por Boca e Botafogo, fez alguns amistosos, mas no campeonato competiu – e ganhou – pelo rival América, em sua primeira conquista desde o deca seguido de 1917-26. Roberto Saporiti também só durou em caráter amistoso, em 1968. Na Argentina, fora formado no Independiente e consagrou-se como auxiliar técnico de César Menotti na Copa de 1978 e treinador do Argentinos Jrs campeão pelas primeira vez, em 1984.

O primeiro argentino a realmente experimentar uma idolatria foi o goleiro Miguel Ángel Ortiz, com um estilo excêntrico semelhante ao do conterrâneo Hugo Gatti: jogava com faixa na cabeça e bermudas. Além disso, cobrava pênaltis em tempos em que gols de goleiros (fez sete pelo Atlético) eram muito mais humilhantes. Foi justamente ele o primeiro goleiro a fazer gol na Libertadores, ainda pelo Montevideo Wanderers, em 1975, sobre o Unión Huaral. Chegou aos cem jogos pelo Galo.

Mancuso pelo Galo: só com camisa de treino

Outro formado no Atlanta (que viveu sua fase áurea do final dos anos 50 ao início dos 70), Ortiz, campeão estadual de 1976, não se eternizou em função de quases. No Brasileirão de 1976, o Galo foi eliminado no último minuto da semifinal pelo Internacional. Na final estadual de 1977, o argentino virou bode expiatório pela derrota para o Cruzeiro ao levar três gols de Hebert Revetria. Além de limado, foi muito bem substituído por João Leite. Ainda assim, sofreu menos de um gol por jogo (62).

Em 1998, uma trapalhada da diretoria atleticana encabeçada por Paulo Cury chegou a trazer dois argentinos como grandes reforços para a temporada. O mais conhecido deles era Alejandro Mancuso, que teve boas passagens por Palmeiras e Flamengo. Ao lado do zagueiro Héctor Almandoz (ambos ex-Vélez, onde Almandoz vencera a Libertadores em 1994), os dois foram recepcionados pelo torcedor, apresentados oficialmente, treinaram, mas nunca chegaram a entrar em campo com a camisa do Atlético. Desacertos salariais foram o principal motivo da não concretização com Mancuso e lesão no joelho, o do colega.

Outro argentino a ficar no quase como Ortiz, mas muito querido pela massa, foi o zagueiro Carlos Galván, o hermano seguinte realmente efetivado, já em 1999. Formado no Racing e semifinalista da Libertadores de 1997 pelo time de Avellaneda, entendia de raça e sofrimento, o que bastava para compensar a técnica não tão apurada. Foi vice do Brasileirão e selecionado entre os dez melhores zagueiros do campeonato na premiação Bola de Prata. 

Ortiz, Galván e Capria, de bom desempenho

Outro zagueiro, Diego Capria teve uma passagem fulminante em 2000. Após quase um ano inteiro lesionado em um treino, jogou praticamente só um mês (em outubro), espaço no qual jogou dez vezes e marcou ótimos três gols, o mais lembrado em uma bomba de falta na classificação alvinegra sobre o Boca pela Copa Mercosul. Foi a única eliminação boquense para brasileiros entre 2000 e 2008. Revelado no Estudiantes e ex-colega de Galván no Racing, venceria a edição seguinte da Mercosul pelo San Lorenzo, inclusive batendo o pênalti do título sobre um outro rival atleticano – o Flamengo.

Capria com Palermo, ex-colega de Estudiantes

O novo século não começou generoso ao Galo e os primeiros argentinos não se firmaram: o volante Livio Prieto, ex-Independiente, veio no início de 2005, não superou problemas físicos e saiu ainda no início da campanha do rebaixamento. Da base do Boca, o meia Jonathan Fabbro, que depois defenderia a seleção paraguaia, não chegou a cinco jogos em 2006, número de partidas do atacante Mariano Trípodi (outro de grife boquense) em 2009.

O ano de 2012 marca o início de um renascimento atleticano, com uma série de títulos anuais só interrompida neste 2016. Damián Escudero, produzido pelo Vélez e de rodagem no Brasil, esteve no título estadual. A conquista da Libertadores 2013 foi chamariz para os três seguintes: o defensor Nicolás Otamendi, outro ex-Vélez, passou o primeiro semestre de 2014 emprestado pelo Porto buscando um lugar na Copa de 2014.

Hoje criticado pela fragilidade, o meia Jesús Dátolo, que também veio em 2014, teve seus momentos – como um dos gols na épica semifinal contra o Flamengo na vitoriosa Copa do Brasil de 2014. O atacante Lucas Pratto veio em 2015 e virou sucesso instantâneo ao manter a boa fase iniciada no Vélez. Se ainda só tem o título estadual de 2015 (ano em que foi Bola de Prata no Brasileirão), neste 2016 ele tornou-se o primeiro atleticano importado pela seleção argentina. 

Prieto, Escudero e Otamendi foram os outros que puderam somar mais jogos

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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