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Futebol argentino já teve seu “gol do terremoto”. E foi em um clássico!

Por Leandro Paulo Bernardo

O gol hoje divulgado como causador de terremoto, do Leicester City contra o Norwich City, é apenas mais um capítulo histórico na “guerra fria” entre o futebol inglês e argentino, mesmo com o gol sendo marcado por um hermano – Leonardo Ulloa, que manteve no finalzinho de partida a surpreendente liderança dos Foxes. Tudo porque um primeiro “gol do terremoto” ocorrera no campeonato argentino de 1992, em um dérbi de La Plata, sendo provocado pelo jogador uruguaio José Perdomo. Recordação que inevitavelmente voltará à tona como mais um tempero extra para o próximo fim-de-semana, cujo clássico da rodada será o platense!

El Chuenco, crucial na conquista da Copa América de 1987, sempre fora decisivo em clássicos: era um líder no Superclásico uruguaio e marcara gol no dérbi da Andaluzia pelo Betis contra o Sevilla (do seu compatriota Pablo Bengoechea), ainda que houvesse uma rivalidade negativa ao jogador uruguaio: o Derby della Lanterna, entre Sampdoria e Genoa, então clube de Perdomo. Foi quando o polêmico treinador da Sampdoria, Vujadin Boškov (falecido em abril de 2014), disparou uma frase para desestabilizar a equipe rival: “se eu soltar meu cachorro, ele joga melhor do que Perdomo”

Em La Plata, onde o treinador do Gimnasia LP em 1992 era Gregorio Pérez, assistente de Oscar Tabárez na seleção uruguaia no mundial de 1990, prevaleceu a boa escrita de Perdomo. Outros da “colônia uruguaia” gimnasista eram o lateral Guillermo Sanguinetti (segundo jogador com mais partidas pelo clube), o volante Gerardo Miranda e o atacante Hugo Guerra. Em 5 de abril de 1992, no Estádio Jorge Luis Hirschi, casa do Estudiantes, estiveram no Clásico Platense de número 113, pela 7ª rodada do Clausura.

O Gimnasia vinha com uma sequência de sete resultados negativos no campeonato. Mas desde os anos 80 havia perdido só duas vezes em quatorze encontros com o rival, vencendo-o cinco vezes e ganhando-o nos pênaltis em outra. Em um dérbi historicamente marcado por ser parelho em torcedores e vitórias apesar do desequilíbrio imenso entre as salas de troféus, os alviazuis chegaram a ter nesse período dez jogos seguidos de invencibilidade, sequência jamais igualada pelos alvirrubros nem mesmo nos últimos dez anos (quando o retorno de Juan Sebastián Verón impôs uma maior supremacia dos pincharratas também nos clássicos).

Perdomo2
A cobrança

Naquele clássico de 1992, aos nove minutos do segundo tempo, houve uma falta para o Gimnasia. O cobrador habitual do Lobo era o meia Carlos Javier Odriozola, mas Perdomo pediu a bola. Foi para cobrança… E marcou um golaço, superando o ótimo arqueiro Yorno, a mais de 35 metros de distância, gol que decidiu o jogo.

As vibrações e a comemoração dos hinchas triperos foram registradas no sismógrafo do departamento de Sismologia e Informações Meteorológicas do Observatório Astronômico La Plata, da Universidad Nacional de La Plata, como se houvesse sido produzido por um terremoto de mais de seis graus na Escala Richter. Perdomo ficou conhecido como Terremoto. E o gol ganhou a alcunha de “O gol do Terremoto”.

Disputaram aquela partida:

Estudiantes: Marcelo Yorno; Juan Carlos Ramírez, Pablo Erbín, Juan Marcelo Ceferino Fontana, Leonardo Squadrone; José Pezoa (substituído por Sergio Almirón), José Soto, Raúl Aredes, Rubén Capria; Freddy Vera e Félix Torres. Técnico: Eduardo Flores.

Gimnasia: Hernán Cristante; Guillermo Sanguinetti, Jorge San Esteban, Darío Ortiz, Sergio Dopazo, Gerardo Miranda, José María Bianco, José Perdomo, Carlos Javier Odriozola; Guillermo Barros Schelotto (substituído por Omar Monaco) e Hugo Guerra. Técnico: Gregorio Pérez.

Após o triunfo no clássico, o Gimnasia embalou 12 resultados positivos e terminou aquele torneio em oitavo lugar. Conseguiu, então, uma vaga na Liguilla pre-Libertadores. Eliminou o Platense nas quartas de final, mas foi derrotado pelo Vélez Sarsfield nas semifinais. Contudo, garantiu uma vaga na Copa Conmebol de 1992. O Estudiantes terminou em 17º, posição que duas temporadas depois lhe custaria rebaixamento de um plantel que contava com os jovens Martín Palermo e Juan Sebastián Verón.

Já o time que disputou a primeira competição internacional do Gimnasia contou com Pablo Bengoechea. Mas em 1993 Gregório Pérez foi treinar o Peñarol e levou Bengoechea e Perdomo, que enfim jogaram juntos em clubes. Bengoechea é o atual treinador do Peñarol, onde Perdomo treina os garotos sub-15. Don Gregorio retornou ao Gimnasia em 1999 e dirigiu a seleção da Armênia de 2013 até o ano passado. Também treinou o Olimpia, onde um de seus auxiliares foi Gustavo Barros Schelotto, outro jovem daquele time gimnasista de 1992 e atual dupla técnica do gêmeo Guillermo no Boca.

Perdomo e Bengoechea só foram colegas clubísticos no Peñarol pois o “Terremoto” não foi longevo no Gimnasia. Teve problemas físicos e não atuou pelo clube do Bosque no segundo semestre de 1992. Disputou só 16 jogos pelo Lobo, marcando três gols, incluindo aquele que lhe tornou um folclórico ídolo apesar da passagem breve. E que certamente será relembrado no próximo fim-de-semana.

Da Redação

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