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Argentinos nos 105 anos de história do Corinthians

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7-1 foi pouco com Tévez?

O auto-declarado “clube mais brasileiro” levou a alcunha muito a sério na maior parte de sua história, que hoje chega aos 105 anos. O primeiro corintiano importado só apareceu em 1974, e foi argentino, iniciando uma relação problemática. Mas o único que vingou compensou os demais desamores. Carlitos Tévez pode ter saído de forma desgastada como é a relação hermana com o Corinthians, mas passados quase dez anos só consegue despertar saudade na massa alvinegra.

A rigor, o Timão contou com vários estrangeiros até 1974. Um dos fundadores, Luigi Fabbi (que depois migrou aos primórdios do Palmeiras), era italiano, assim como o primeiro presidente, Michele Battaglia. Ainda no primeiro ano dessa história, em 1910, jogaram outros italianos, Perrone e Police. Mas todos estes forasteiros haviam crescido no Brasil, assim como José Ufarte, que atuou nos anos 60 sob o apelido de “Espanhol” antes de voltar à terra natal e se consagrar pelo Atlético de Madrid.

A restrição não ocorria a técnicos. José Tiger (1944), Jim Lopes (1961) e Nelson Filpo Núñez (1965 e 1976) treinaram o Timão, mas nenhum teve sucessos. Tiger pegou a fila dos anos 40, com o nascente São Paulo e o Palmeiras dividindo as taças. Lopes e Filpo Núñez vivenciaram o jejum mais complicado, os 23 anos entre 1954 e 1977. Núñez, ironicamente havia dirigido o Palmeiras no mesmo ano de 1965, fazendo história: o arquirrival forneceu toda a delegação para a seleção brasileira inaugurar o Mineirão, incluindo o técnico. Assim, ele é o único estrangeiro que já dirigiu o Brasil.

Carlos Buttice havia crescido e iniciado a carreira na sua Argentina, passando pelos rivais Huracán e San Lorenzo, onde brilhou mais. Pelos azulgranas, foi o goleiro do primeiro campeão profissional argentino invicto, em 1968. As acrobacias renderam-lhe o apelido de El Batman e algumas convocações à seleção. Já tinha uma ligação com o Corinthians antes de desembarcar no Parque São Jorge: ainda pelo Sanloré, defendeu em amistoso um pênalti cobrado por Rivellino. O petardo foi tão forte que lhe “tatuou” no peito o crucifixo que vestia por baixo da camisa.

Buttice vinha fazendo sucesso no Bahia. Faltou pouco para se consagrar também no Corinthians. Até hoje ele se gaba de ter sido o goleiro argentino que mais enfrentou Pelé (quatorze vezes), sem ter sido vazado. Os alvinegros viviam o jejum de 23 anos que parecia que se encerraria no vigésimo, mas o título foi dramaticamente perdido para o Palmeiras. O argentino não teve culpa, mas, como o próprio Rivellino, foi mandado embora. Eles se reencontrariam na primeira Copa Pelé, em 1987, espécie de mundial de veteranos bastante valorizado no Brasil na época. Buttice foi o grande destaque.

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Buttice, Veira e Sebá Domínguez

O argentino seguinte havia sido colega de Buttice naquele San Lorenzo invicto de 1968. Héctor Veira, aliás, foi eleito o maior ídolo sanlorencista no centenário do clube, em 2008, especialmente por suas numerosas passagens como técnico. A mais festejada, no início dos anos 90, tirando o time do Papa de um jejum de 21 anos sem títulos, em 1995: veja aqui. El Bambino veio em 1976 ao Corinthians para tira-lo de seca parecida. Estava negociado com o Palmeiras, mas Vicente Matheus o aliciou. Mas a travessura do folclórico presidente não deu certo.

A excessiva boemia de Veira já o fazia decadente mesmo em 1968 (não foi titular no título invicto) e seu físico já estava ainda mais alquebrado. Saiu pela porta dos fundos em 1977 – pouco antes daquele redentor Estadual começar. Personagem obscuro no Brasil, é bastante amado na Argentina, a ponto de leitores da principal revista esportiva do país, a El Gráfico, terem escolhido-o para ser o entrevistado especial da edição de 94 anos da revista, em 2013. Nela, comentou que “era bravo o campeonato paulista, dizia sempre ao Loco Doval, que jogou no Flamengo e Fluminense: ‘meu futebol é para o Rio de Janeiro, não para São Paulo'”. É a resposta 34 da entrevista, neste link.

Veira venceria como técnico as primeiras Libertadores e Mundial do River, em 1986. Nessa função, Armando Renganeschi passara pelo Corinthians em 1978. Mais ligado aos rivais São Paulo (como jogador) e Palmeiras (como treinador – foi vice da Libertadores 1961 e foi quem recomendou a contratação de Ademir da Guia), não emplacou no Parque São Jorge. E novos argentinos só apareceriam por lá no século XXI. O zagueiro Fernando Ávalos passou sem glória em 2001, atuando só cinco vezes.

Os seguintes vieram há dez anos via MSI: Tévez, Sebastián Domínguez, Daniel PassarellaJavier Mascherano. Carlitos foi um sucesso estrondoso, o grande símbolo do tetracampeonato brasileiro. Nem Ronaldo Fenômeno, seu ídolo, gerou a mesma mania alcançada pelo Apache. Para os corintianos, o 7-1 emblemático foi o aplicado no Santos naquele ano, com três gols do ídolo, e não o sofrido pela seleção brasileira. Entre a Fiel, fazia vender de camisas da Argentina até chupeta, em alusão à filhinha Florencia. Acabou aproveitado pela Albiceleste enquanto destruía como corintiano.

Sebá veio junto com status de revelação do último campeão argentino, o Newell’s. El Negro foi titular, mas decepcionou quem esperava um novo Gamarra, sendo apenas um zagueiro comum. Em 2006, entrou em declínio, vendido ao Estudiantes, para onde recém-voltou após recuperar no Vélez entre 2009 e 2015 o nível, aparecendo ocasionalmente na seleção. Passarella foi pior. O grande momento resumiu-se a um 5-1 no Cianorte pela Copa do Brasil, devolvendo goleada de 3-0. Mas os métodos do Kaiser terminaram boicotados e foi defenestrado após outro 5-1. Só que contra o São Paulo e no lado derrotado.

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Passarella (com o assistente Alejandro Sabella, técnico da Argentina na Copa 2014), Mascherano e Herrera

Já Mascherano teve azar. Convencido pelo amigo Tévez, apareceu na metade o Brasileirão e estreou de forma promissora, em um 3-1 no clássico com o Palmeiras. Mas El Jefe machucou-se seriamente algumas rodadas depois, não se consagrando muito com o título. A raça e aplicação tão soberbamente demonstrados na Copa de 2014 o fariam ídolo eterno, mas jogou pouquíssimo. O projeto MSI começou a desgringolar com a eliminação turbulenta na Libertadores em 2006 e Kia Joorabchian colocou no West Ham a dupla da seleção argentina, pouco depois da Copa do Mundo.

Os efeitos da polêmica parceria mostram-se nefastos a médio prazo. Dois anos após o tetracampeonato nacional, o Corinthians foi rebaixado. Germán Herrera foi o homem-gol da segundona, saindo aplaudido – ele já havia dito à Placar ainda em 2005, quando viera ao Grêmio, que sonhava em alcançar prestígio parecido ao de Tévez, de quem foi colega no mundial sub-20 de 2003. Dentre os estrangeiros do Corinthians, só Carlitos e o peruano Paolo Guerrero marcaram mais gols.

Em 2009, o patamar havia sido realavancado. Ronaldo havia chegado, projetando a marca do clube a níveis inéditos. Três hermanos apareceram no início da nova era. O primeiro, o lateral Sergio Escudero, vinha bem, mas lesionou-se de forma grave ainda em abril e só reapareceu nos gramados já em novembro. Não voltou a se firmar. Depois, a muito custo o Huracán quase campeão do Clausura (após 36 anos: entenda) liberou Matías Defederico, cujo pacote incluiu o obscuro Mariano Torres, jamais aproveitado, e um amistoso travado em fevereiro de 2010.

A negociação com Defederico foi complicada, com diversos capítulos: clique aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aquiaqui… até anunciarmos sua contratação (aqui. Ufa!). Este volante ofensivo veio anunciado como “um novo Messi”, um erro assim como escala-lo no ataque como se realmente tivesse o mesmo estilo de La Pulga. Não emplacou em São Paulo em parte por jogar fora da posição habitual. Mas tampouco voltou a repetir a bela regularidade de 2009 em outros clubes. Avaliamos em 2010 que sua dupla naquele Huracán, Mario Bolatti, era melhor. E que outro colega daquele time, Javier Pastore, era melhor que os dois juntos. Aparentemente, acertamos (veja).

O último argentino foi outro armador promissor que se estragou no Parque. Juan Manuel Martínez fazia grande tridente no Vélez de 2011-12 com outro fracasso corintiano, o uruguaio Santiago Silva, e Maxi Moralez. El Burrito veio após a Libertadores e não apreciou a reserva. Mesmo integrando o título mundial, viu-se perdendo lugar na seleção e forçou saída a ponto de ir ao Boca – mesmo declarando-se torcedor do River, clube onde haviam jogado diversos familiares seus. Martínez não se deu razão, passando três anos sem empolgar direito nos auriazuis. Foi recentemente dispensado.

Parte dessas histórias já havia sido contada em outros especiais que tiveram o Corinthians de objeto, relacionando-o a confrontos com argentinos pela Libertadores. Ei-los abaixo:

*Quem já passou por Boca Juniors e Corinthians

*Elementos em comum entre Corinthians e San Lorenzo

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Escudero, Defederico e Martínez

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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