Seleção

Copa América: time dos melhores argentinos dos rivais

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Martino e Ortigoza, vices pelo Paraguai em 2011

Exportador há mais de um século para seleções estrangeiras (Paul Romano defendia a França nos idos de 1911), o futebol argentino já recheou quase todas as da Conmebol – ou todas mesmo, se consideramos a passagem de um só jogo de Nelson Filpo Núñez em 1965 pelo Brasil. Técnicos hermanos, aliás, abundam na Copa América de 2015: Jorge Sampaoli no anfitrião Chile, Ricardo Gareca no Peru, Ramón Díaz no Paraguai, José Pekerman na Colômbia e Gustavo Quinteros pelo Equador – e Quinteros no passado foi jogador e técnico da Bolívia. Tampouco é e foi diferente com jogadores na competição continental mais antiga do planeta. Hora de relembra-los.

Resolvemos não considerar aqueles crescidos no exterior ainda que nascidos na Argentina. Por isso, estarão ausentes na escalação o goleiro Fernando Muslera (2011), o lateral-direito Marcelino Pérez (1935) e o volante Gustavo Matosas (1987), todos campeões pelo Uruguai. O mesmo já valeria para o “venezuelano” Miguel Echenausi e ao “chileno” Matías Fernández, que mesmo sem este critério dificilmente entrariam: o lateral-esquerdo Echenausi jogou três pela ainda incipiente e goleada Vinotinto dos anos 90, e o meia Fernández foi reserva nas duas edições em que participou, em 2007 e 2011.

Matías Fernández está novamente participando da Copa América, juntando-se na edição 2015 a Vicente Vuoso, do México; Damián Lizio, da Bolívia; Esteban Dreer, do Equador; e a três “paraguaios”, Lucas Barrios, Néstor Ortigoza e Raúl Bobadilla, no grupelho dos nativos argentinos que adotaram outra casaca. Curiosamente, nem todos os jogadores abaixo foram oficialmente naturalizados: Larraz jamais teve a cidadania equatoriana e Raffo só a recebeu na velhice. A escalação reflete bem a seleção que mais aproveitou argentinos na história, a Bolívia, e a que mais vem usando-os recentemente, o Paraguai:

GOLEIRO: Javier Elizaga pegou pênalti de Carlitos Tévez em 2007, mas o Equador de adoção não avançou de fase. Oscar Ibáñez foi um correto guarda-metas do Peru em 1999, 2001 e 2004, mas sempre caiu no primeiro mata-mata. Carlos Trucco leva pela titularidade na última boa campanha boliviana, o vice em casa em 1997. Já havia sido titular na última Copa do Mundo de La Verde, em 1994.

DEFENSORES: não há lateral-direito de ofício, pois Marcelino Pérez (ex-Vasco nos anos 30) passou a infância já no Uruguai. Pinçamos uma dupla chilena e uma boliviana: pela direita, Florencio Barrera, que ficou a dois pontos do título ainda inédito à Roja em 1945, e Rodolfo Almeyda, vice em 1955 (o Chile jogava pelo empate na última rodada, mas perdeu o jogo e o título justo para a Argentina) e terceiro em 1956. Pela esquerda, Roberto Cainzo e Eduardo Espinoza, ambos no único título da Bolívia, em 1963 – com Espinoza alternando-se como lateral e volante. Vence assim o paraguaio Ricardo Rojas, que não fez nada demais em 1997.

VOLANTES: Néstor Ortigoza foi vice pelo Paraguai em 2011, e Luis Cristaldo, pela Bolívia em 1997, além de ser o homem com mais jogos por La Verde. Já Ortigoza, em boa fase no Argentinos Jrs campeão pela última vez, em 2010, foi até convidado em 2009 por Maradona para defender a Argentina mesmo. Faria o autor do gol do inédito título do San Lorenzo na Libertadores, ano passado. Outro argentino da Albirroja, Jonathan Santana, foi substituído em todos os jogos em 2007 e tampouco foi 100% titular em 2011, onde ainda foi expulso na semifinal. Vale menção Eulogio Vargas, campeão pela Bolívia em 1963 em um torneio onde Brasil e Argentina não enviaram seus principais nomes.

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Trucco, Barrera, Almeyda, Cainzo e Espinoza

MEIAS: Roberto Acuña já foi o recordista de jogos pelo Paraguai, disputando quatro edições pela grande geração dos anos 90, que merecia sorte melhor do que cair sempre no primeiro mata-mata – mas para a ótima Colômbia (nos pênaltis) em 1995, para o Brasil em 1997 e para a camisa pesada do Uruguai (de novo nos pênaltis) em 1999. Fica pelo flanco direito, pois Carlos Raffo foi o meia-esquerda do Equador nas edições de 1959 e 1963, da qual foi o artilheiro. Autor de dez gols em suas treze partidas pela Tricolor, ele é o único equatoriano goleador de uma Copa América.

ATACANTES: a grande decepção, apesar do gol sobre a terra natal anteontem, é por hora Lucas Barrios. Havia sido o maior artilheiro do mundo em 2008 pelo Colo-Colo, sendo sondado pelo Chile. Mas adotou a cidadania paraguaia da mãe às pressas em 2010 para repor na Copa do Mundo a vaga do quase assassinado Salvador Cabañas. Chegou à Copa América de 2011 vindo do bi alemão com o belo Borussia Dortmund de Jürgen Klopp, mas fez só um gol e acabou reserva em plena final.

Assim, ele perde para o equatoriano Jorge Larraz e para o uruguaio Atilio García. Hugo Lóndero foi vice pela Colômbia em 1975, mas na reserva. Ariel Graziani fez dois gols que permitiram ao Equador superar a Argentina na fase de grupos em 1997, com os tricolores caindo apenas nos pênaltis (contra o México), mas a dupla eleita produziu mais. Larraz defendeu o mesmo país quando a seleção de lá era saco de pancadas. E foi o destaque solitário em 1957, marcando cinco dos seis gols de sua seleção, incluindo o do 1-1 na primeira vez em que ela não perdeu para a Argentina natal dele.

Aquela foi também a primeira vez que a Albiceleste levou gol de um filho seu, com Larraz até cavando transferência ao futebol espanhol. Já García é uma verdadeira lenda no Uruguai. Maior artilheiro do Nacional, pelo qual fez mais de um gol por jogo (464 em 435), manteve a boa média nas poucas partidas pela Celeste – se naturalizou tarde, infelizmente. Por uma seleção apenas quarta colocada, foi o vice-artilheiro da edição de 1945, um gol a menos que os goleadores Norberto Méndez (da campeã Argentina) e Heleno de Freitas (do vice Brasil). E isso pois jogara abalado com os gritos de “traidor da pátria” que ouvia em cada parada da viagem de trem que cortou a Argentina rumo ao Chile, onde ocorreu o torneio.

TÉCNICO: nenhum argentino conseguiu ainda vencer a Copa América por uma seleção forasteira. A probabilidade é alta como nunca em 2015, mas por hora o posto é justa e ironicamente do técnico atual da Albiceleste. Gerardo Martino soube anular duas vezes o Brasil em 2011 e recolocou o Paraguai na final após mais de trinta anos. Nem a geração dos anos 90, mais talentosa, chegou tão longe quanto os pupilos do Tata. Que sem ele decaíram a ponto de não irem à Copa do Mundo ano passado, encerrando ciclo de participações seguidas que perdurava desde 1998.

Atualizações após a Copa América de 2015: Lucas Barrios subiu no nosso conceito ao marcar três dos quatro gols do Paraguai, incluindo dois sobre a Argentina natal, mas avaliamos que segue abaixo dos desempenhos alcançados pelo trio eleito. Alteraríamos, sem dúvidas, o técnico, trocando o lamentável Gerardo Martino por Jorge Sampaoli, o primeiro a vencer com o Chile.

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Cristaldo, Acuña, Raffo, Larraz e Atilio García

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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