Seleção

Copa América: os argentinos que já defenderam o Paraguai

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Martino, hoje pela Argentina mesmo. E Ortigoza, herói do San Lorenzo campeão da Libertadores

A Argentina tem expressiva comunidade de imigrantes paraguaios, e não é de hoje: já nos anos 50 a comunidade fundava o Deportivo Paraguayo. Já houve até jogadores vizinhos na seleção argentina: Constantino Urbieta Sosa, curiosamente ex-jogador de Nacional e San Lorenzo, campeão e vice da última Libertadores, jogou a Copa de 1934 – estava no Godoy Cruz, sendo o único jogador do Tomba na Albiceleste no século XX. Delfín Benítez Cáceres, ídolo de Boca e Racing, atuou uma vez nos anos 40 e o ex-velezano Heriberto Correa participou das eliminatórias à Copa de 1974. E há os da rota inversa, acentuada nos últimos anos.

O primeiro hermano na Albirroja treinou-a na primeira Copa do Mundo, em 1930. Mas José Laguna também tem história na Copa América: jogando pela Argentina, marcou o primeiro gol do primeiro Brasil x Argentina da competição, em 1916, partida na qual ele curiosamente estava na verdade na plateia, sendo “convocado” no improviso para substituir um titular. Primeiro presidente do tradicional Huracán, ele era negro e treinou o Paraguai também na Copa América, em 1945.

Novo argentino na Albirroja, só nos anos 70: Adolfo Lazzarini, que passou pelo trio de ferro Olimpia, Cerro Porteño e Libertad, sendo o ponta-direita reserva do Olimpia campeão da Libertadores de 1979 (sobre o Boca), a primeira do clube e do futebol paraguaio. Jogou as eliminatórias à Copa de 1978. Como ele, Jorge Amado Nunes também se iniciou no futebol guarani, no Cerro Porteño. Foi à Copa do Mundo de 1986 e chegou a defender o Vélez, sem render.

Eduardo Luján Manera, ex-jogador do Estudiantes tricampeão da Libertadores nos anos 60, tentou levar o Paraguai à Copa de 1990, sem êxito. Oscar Valdez (que como jogador brilhou no Valencia e defendera a seleção espanhola) treinou o país em 1990 e Héctor Corte, nas eliminatórias de 1993, ambos sem melhor sorte – embora os comandados de Corte quase tenham eliminado a Argentina, classificada à repescagem apenas pelo saldo de gols.

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Nunes (1986), Rojas (1998) e Acuña (1998, 2002 e 2006) jogaram Copas do Mundo

A Copa do Mundo paraguaia seguinte foi a de 1998 e contou com outros argentinos de nascimento que iniciaram a carreira na terra das raízes: Roberto Acuña, criado no Nacional, e Ricardo Rojas, no Cerro Corá. Acuña passou por Boca e pelo Independiente de sua Avellaneda natal (venceu a Supercopa 1995 sobre o Flamengo) e defendeu a Albirroja por longevos dezoito anos e outras duas Copas mais, em 2002 e 2006. Rojas foi mais breve na seleção mas teve mais êxito na Argentina: jogou muitos anos no River, virando folclore pelo gol de cobertura (vaselina, para os argentinos) que fechou um 3-0 no Boca em plena Bombonera, em 2002, maior goleada millonaria sobre o rival no estádio dele.

Quando Gerardo Martino, líder daquele belo Newell’s de Marcelo Bielsa nos anos 90, assumiu a seleção após títulos treinando Cerro e Libertad, mudou o curso: ao invés de abrigar argentinos do campeonato local, ela passou a importa-los do campeonato vizinho mesmo. A maioria não tinha mesmo chances de defender a Albiceleste: o primeiro foi Jonathan Santana, surgido no San Telmo, passou por River, San Lorenzo e Independiente, onde foi rebaixado em 2013. Foi o primeiro.

Sergio Aquino, ex-pupilo de Martino no Libertad, veio a seguir e foi a regra que virou exceção: ele começou a carreira no Paraguai, tendo antes defendido os rivais Cerro e Olimpia. Estreou em 2009 na Albirroja mas não se firmou. O nome seguinte, em 2009, foi Néstor Ortigoza. Autor do gol do título da Libertadores de 2014 pelo San Lorenzo (por sinal, sobre o Nacional paraguaio), ele já brilhava em 2010 no Argentinos Jrs campeão argentino pela última vez. Nesse período, Darío Ocampo chegou a ser convocado mas jamais entrou em campo pelo Paraguai.

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Santana e Barrios, da Copa de 2010, e o mais novo argentino, Bobadilla

O próximo reforço foi Lucas Barrios, naturalizado de emergência para a Copa de 2010 para suprir a ausência do baleado Salvador Cabañas. Barrios, por sua vez, nunca rendeu na Argentina, mas brilhava no Borussia Dortmund de Jürgen Klopp. Ele até poderia ter defendido o Chile, que sondara-o por seus gols por Cobreloa e Colo-Colo, pelo qual foi o maior artilheiro do futebol a nível mundial em 2008. Mas ele preferiu defender a terra da mãe. Como Santana e Ortigoza, foi ao mundial da África do Sul e integrou os vices de Martino na Copa América de 2011, embora já sem brilhar.

Em 2012, as novidades foram Jonathan Fabbro, ex-Atlético Mineiro e que acabou se convertendo em raro “estrangeiro” a defender Boca e River – ele se destacou no Cerro Porteño semifinalista da Libertadores 2011, quando os azulgranas (em sua melhor campanha no torneio e treinados pelo argentino Leonardo Astrada) deram muito trabalho, com gol dele, ao futuro campeão Santos; e Ricardo Mazacotte, que já atuava no Unión de Santa Fe embora formado no Nacional. Outro poderia ter sido Juan Iturbe, formado na base do Cerro Porteño (reserva daquele time de 2011) e que defendia o Paraguai nas seleções juvenis, mas ainda em 2010 ele optou pela Argentina natal.

A saída de Tata Martino para o seu velho Newell’s, porém, fez-se sentir e os guaranis acabaram de fora da Copa de 2014. Em 2015, voltaram a acertar com argentinos: o técnico mais vezes campeão do River Plate, Ramón Díaz, é o novo treinador da seleção. Dentre os convocados, Ortigoza, Barrios e o estreante Raúl Bobadilla, um formado no River que está no alemão Augsburg.

Esta nota é reprodução parcial, revista e atualizada de outra publicada em 2014 no Futebol Portenho, logo após Ortigoza marcar o gol do inédito título do San Lorenzo na Libertadores: clique aqui.

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O Paraguai na Copa de 1930: o técnico Laguna, de calça comprida, é o último em pé. E o atual treinador, Ramón Díaz

 

 

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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