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65 anos do primeiro “Ratón” Ayala

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Ratón é o apelido de Roberto Ayala, grande zagueiro argentino da virada do século. Herdou o apelido de Rubén Ayala (não há parentesco entre eles), que por sua vez era atacante, de grande sucesso no San Lorenzo e no Atlético de Madrid – foi dele o gol do título mundial rojiblanco, por sinal contra os compatriotas do Independiente. Hoje Rubén, que não deve exatamente ter apreciado o Mundial de Clubes mais recente, faz 65 anos.

Nascido em Humboldt, no interior da província de Santa Fe, passou por Magán e pelo Amor y Lucha, dois cubes locais, antes de tentar a sorte nas divisões de base de grandes clubes de Buenos Aires. De físico esmirrado e com pouca resistência física, não era visto como um atacante. Esteve nas inferiores do Racing como lateral-direito e chegou às do San Lorenzo em 1964. Passou a volante-armador até enfim ser posto no ataque. Mas o físico não convenceu o técnico brasileiro Tim a usa-lo no vitorioso Torneio Metropolitano 1968, em que o CASLA tornou-se o primeiro campeão argentino profissional invicto.

A estreia profissional de Ayala deu-se semanas depois, em amistoso com o Nacional no Centenário de Montevidéu, em tempos em que o adversário e o estádio tinham muito mais mística que atualmente. E o estreante marcou o único gol do jogo. Em jogos de campeonato, foi usado pela primeira vez em 21 de outubro, substituindo Abraham Amado contra o Independiente Rivadavia pelo Torneio Nacional.

Ayala demorou para se firmar como centroavante titular, porém. Tanto que quando deixou o clube, somou 53 gols (cinco, no clássico com o Huracán) em 132 jogos, média inferior a meio gol por jogo. Em 1970, jogou só 16 vezes e marcou apenas uma, por exemplo. Por anos o titularíssimo na posição foi Rodolfo Fischer, quarto maior artilheiro da história do clube e que poderia tranquilamente ser o maior (tem só 23 gols a menos que o segundo e 64 que o primeiro) se não passasse vários anos no Brasil, para onde se transferiu em 1972 – marcou dois naqueles 6-0 do Botafogo no Flamengo, ainda naquele ano, e como alvinegro tornou-se o primeiro que a seleção convocou do exterior: falamos dele, que jogou também no Vitória, neste outro Especial.

1972 foi ano dos mais gloriosos do San Lorenzo. Mesmo vendendo Fischer no decorrer do Torneio Metropolitano, o San Lorenzo o ganhou ainda assim. E venceria também o Torneio Nacional, tornando-se o primeiro clube a vencer os dois campeonatos argentinos do ano. Fischer não fez tanta falta exatamente porque Ayala explodiu, marcando 22 gols em 37 jogos. “Eu sabia que não era Pelé, mas El Toto Lorenzo me dizia que eu me parecia muito e, às vezes, me fazia acreditar”. El Toto era o apelido do técnico sanlorencista, Juan Carlos Lorenzo.

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Com o zagueiro Heredia, colega no San Lorenzo, seleção e Atlético. À direita, eles (agachados de casaco branco) com a taça intercontinental que os madrilenhos ganharam graças a gol de Ayala

Falamos neste outro Especial da conquista dupla de 1972, garantida por sinal no aniversário do Papa Francisco. No Metropolitano, o domínio foi tamanho que a taça veio com quatro rodadas de antecedência, e com um empate. No Nacional, o Ciclón foi novamente campeão invicto (ainda é o único clube a conseguir duas vezes isso na era profissional). Ayala, também usado como ponta, já vinha somando minutos entre os titulares em 1971, ano em que estreou na seleção. Foi o artilheiro da Albiceleste nas eliminatórias rumo à Copa 1974, com 5 gols em 4 jogos, e acabaria participando da Copa.

Ayala foi ao mundial da Alemanha já como jogador do Atlético de Madrid, que já havia contratado do San Lorenzo o próprio técnico Toto Lorenzo e também o zagueiro Ramón Heredia. O Atleti encheu-se de jogadores vindos da América do Sul, como também o brasileiro Heraldo Bezerra, que jogava no Newell’s, e o espanhol José Ufarte, ex-Corinthians e Flamengo. O atacante José Gárate havia nascido na Argentina. Assim, aquele elenco colchonero foi apelidados de Los Indios, algo reforçado depois pelas vindas do argentino Rubén Cano e dos brasileiros Leivinha e Luís Pereira.

O primeiro Ratón integrou o elenco que por muito pouco não foi campeão da Liga dos Campeões de 1973-74, por questões de segundos frente a um Bayern Munique que começava a tornar-se uma potência europeia e era a base da seleção alemã ocidental semanas depois campeã mundial. Os germânicos se recusaram a enfrentar o Independiente pela Intercontinental e assim a vaga europeia ficou com os espanhóis. O Rojo vivia a fase mais brilhante de sua história (tetra na Libertadores entre 1972 e 1975) e aspirava isolar-se como único argentino campeão mundial mais de uma vez.

A Intercontinental, então disputada em jogos de ida e volta na casa dos postulantes, só ocorreu em 1975. Àquela altura, o técnico madrilenho era Luis Aragonés, que encerrara a carreira no ano anterior. O Independiente venceu a primeira, em Avellaneda, por 1-0. Até os 40 minutos do segundo tempo, o Atlético ia devolvendo o placar em Madrid, gol de Gárate após passe de Ayala. Isso forçaria prorrogação e depois decisão por pênaltis, em vez do jogo-extra de anos anteriores. Foi quando Ayala, em confusão na pequena área, marcou o segundo gol, uma pequena redenção ao clube, único campeão mundial que ainda não venceu no próprio continente. E também ao próprio atacante, que não havia jogado as finais europeias, na reserva justamente de Aragonés.

Ayala ficou seis anos no Atlético, onde foi também campeão da Copa do Rei na temporada 1975-76 e espanhol na seguinte – na época, este título deixava os rojiblancos com apenas uma liga vencida a menos que o Barcelona, sendo o Atleti o principal obstáculo do Real Madrid até a década seguinte. Não desconfiava que passaria dezenove anos sem ser campeão espanhol novamente, em 1996 (e outros dezoito anos após isso para nova taça, em 2014). Já o excesso de noitadas do argentino o fez ir em 1978 ao futebol do México, país onde se radicou após passagens por Jalisco e Atlante.

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Na seleção, antes do bigode e cabelo psicodélicos: é o primeiro agachado (o último, curiosamente, é Fischer. Ao centro está Carlos Bianchi. O penúltimo é o ex-palmeirense Madurga). E nas eliminatórias à Copa 1974, sua melhor fase

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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