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River Plate costuma levar a pior em duelos contra o Racing

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Bedoya celebra seu gol crucial em 2001. O Racing acabaria campeão depois, pela última vez

O River vinha apresentando o melhor futebol argentino no ano, mas perdeu ontem a liderança para o cambaleante Racing, que vem se superando na base do coração. Os de Avellaneda não vão surpreender-se, dado seu histórico recente mal-assombrado, caso percam o título, mas deram grande passo para encerrar jejum de treze anos – por sinal, na última vez em que foram campeões, foi exatamente sobre o River com um confronto direto em Avellaneda na reta final terminando crucial. De fato, o Racing costuma levar a melhor quando eles decidem. Mas que abra o olho, pois nem sempre terminou campeão.

Confira o histórico de outras disputas entre a dupla:

1908: naquele ano, nenhum dos cinco grandes, todos fundados no século XX, havia chegado à elite. Eles, logicamente, ainda eram clubes de porte minúsculo que lutavam por um lugar ao sol nas divisões inferiores. River e Racing fizeram a final da segundona. E o River ganhou os dois jogos da final: primeiro por 2-1, anulado após invasão de campo da torcida depois do segundo gol. Na reedição da decisão, aplicou um inapelável 7-0 e, dos futuros grandes, sagrou-se o primeiro a chegar na elite, da qual só cairia 102 anos depois. Ainda é um recorde de permanência seguido na Argentina. Saiba mais.

1913: se o River foi o primeiro grande na elite, o Racing foi o primeiro grande a ganhá-la. Na primeira fase, ficaram igualados em pontos, 24 para cada. Na segunda, ficaram no mesmo grupo e a igualdade persistiu, ambos com 31. Fizeram então um tira-teima. Nos dois jogos anteriores do certame, o River vencera em Avellaneda por 2-1 e na segunda fase empatara em 0-0, mas no mais importante deu Academia: 3-0 e passagem à final, onde bateria o San Isidro. Saiba mais.

1917 e 1918: Racing soma seu quarto e quinto títulos seguidos primeiro com uma derrota em 20 jogos, que não foi para o vice River, cinco pontos atrás, em 1917. Em 1918, os de Avellaneda vencem 17 dos 19 jogos, empatam os outros dois (um, contra o River) e ficam onze pontos na frente do Millo. Na época a vitória só valia 2.

1920 e 1921: em 1920, enfim o River é campeão argentino pela primeira vez, 2 pontos à frente do Racing, apesar dos alvicelestes vencerem fora de casa por 2-1 no returno. O problema é que só empataram em Avellaneda na primeira metade, 0-0. No ano seguinte, o roteiro volta ao “normal”: Racing campeão, River vice, doze pontos atrás.

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River que subiu em 1908

1932: no primeiro campeonato profissional vencido pelo River, ele empatou em pontos com o Independiente e venceu-o em um tira-teima. Mas o Racing também disputou a taça até a última rodada, terminando um ponto atrás da dupla. A derrota para o River em Avellaneda, ainda no primeiro turno, fez a diferença adiante. Também perdeu dele na 29ª rodada, fora de casa.

1949: se o Racing está há 13 anos sem ser campeão, na época estava há 24. Oficialmente, o jogo do título fez 65 anos por sinal exatamente ontem, em 23 de novembro, um 2-1 no Boca. Mas a partida que lhe deixou folgado na liderança foi contra o River. O Millo havia terminado o primeiro turno líder um ponto na frente e na 22ª rodada eles se encontraram no Monumental, onde os donos da casa jamais haviam perdido para o Racing. Mas tudo tem uma primeira vez e Julio Gagliardo, pelo único gol da vitória, passou a usar cartões de apresentação que o relatavam como autor do gol.

1951: roteiro semelhante a 1932. Racing e Banfield fizeram o tira-teima final após dividirem a liderança, mas o River teve chances até a última rodada e terminou 1 ponto atrás da dupla. O Racing se tornou o primeiro tricampeão profissional. Na vigésima rodada, os gigantes fizeram grande duelo em Avellaneda, um 5-3 para os donos da casa.

1952: o Racing lutava pelo tetra seguido no profissionalismo, marca até hoje não alcançada por ninguém. Duelou até o fim com o River mas um 2-2 em casa na penúltima rodada com o Rosario Central fez a diferença: ficaria 1 ponto atrás. A derrota em casa para o concorrente, ainda na oitava rodada, também, bem como os 2-2 no Monumental no início do returno.

1953: o Racing ficou em terceiro, mas só 3 pontos atrás, tendo chances até a última rodada. Mas o troféu praticamente foi perdido na antepenúltima em confronto direto no Monumental. Deu River 2-1.

1955 e 1956: em 1955, o Racing foi vice do River, mas 7 pontos atrás, embora a taça só tenha sido definida na penúltima rodada: uma pena, pois os dois se enfrentariam na última rodada. Ter ficado no 2-2 em casa na 15ª fez a diferença. Em 1956, apesar da quarta colocação, esteve menos distante, com 4 pontos a menos. Mas a disputa do campeão River foi com o surpreendente Lanús.

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O instante do gol de Cubilla a quebrar os 39 jogos invictos do Racing em 1966 e os aplausos aos campeões do mundo em 1967 – mas quem sairia aplaudido após o jogo seria o River

1966: o recorde de invencibilidade no campeonato argentino já foi do Racing, 39 jogos entre 1965 e 1966 (depois superado pelos 40 do grande Boca de 1998-99). O River deste 2014 ameaçou chegar perto, parando nos 31. Em 1966, eles disputaram a taça e na 26ª rodada duelaram no Monumental, com o Racing 2 pontos à frente. Coube ao River ruir aquela invencibilidade, com destaque ao uruguaio Luis Cubilla: ele fez a jogada para o gol de cabeça de Oscar Más e aproveitou rebote para selar a vitória. O jogo foi em um 4 de setembro e o Racing não perdia desde 26 de setembro do ano anterior.

A comoção foi tanta que o presidente racinguista, naqueles outros tempos, parabenizou: “quero fazer extensiva minhas congratulações a todos os garotos porque, dento de nossa pena momentânea nos fica o orgulho de ter perdido o invicto frente à equipe de uma entidade prestigiosa com a que temos sido protagonistas de lutas inesquecíveis”. Mas, adiante, o River ficaria no vice, 5 pontos atrás. Eram os duros 18 anos de jejum entre 1957 e 1975. E o Racing mal imaginava que após aquele título ficaria praticamente o dobro de tempo na seca, 35 anos até 2001…

1967: eles se encontraram quatro vezes na Libertadores: na fase de grupos e no quadrangular-semifinal. O Racing venceu as duas em casa, empatou as duas fora e foi à final, vencendo pela primeira e única vez o torneio. Adiante, seria o primeiro time argentino campeão mundial. Naqueles outros tempos, o primeiro adversário dos titulares racinguistas após a façanha (um dia após o título a Academia enfrentou o Vélez, mas com reservas) foi o River, que se enfileirou para aplaudir os alvicelestes para depois ganha-los em Avellaneda por 4-2.

1968: Racing e River terminaram o nacional empatados na liderança com 22 pontos. O detalhe é que ambos se enfrentaram na última rodada e quem vencesse seria o campeão, mas ficaram no 1-1 em Avellaneda. Naquela rodada, o Vélez venceu o Huracán e também chegou aos 22 pontos, forçando um triangular final. Em turno único, o River venceu por 2-0 os de Avellaneda. Mas quem terminaria campeão seria o Vélez, pela primeira vez aliás. Saiba mais.

1979: Racing e River ficaram no mesmo grupo de dez clubes na primeira fase do nacional. Só os dois primeiros avançavam. A Academia ficou em quinto, mas só dois pontos atrás do líder River, que adiante seria campeão. Na chave embolada com Argentinos Jrs, Vélez, Newell’s e Unión também na briga, os de Avellaneda empataram no Monumental e venceram por 3-1 em casa a quatro rodadas do fim da fase, mas dois empates nas duas últimas rodadas lhe limaram as chances.

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Lances da Libertadores 1997: Claudio Úbeda marcando de cabeça e César Delgado selando a eliminação do River

1988: houve quatro duelos decisivos. Primeiramente, na primeira edição da extinta Supercopa Libertadores, torneio que reunia só campeões da Libertadores. Se pegaram na semifinal. O Racing venceu em Avellaneda por 2-1 e perdia no Monumental por 1-0 até o zagueiro Néstor Fabbri marcar de cabeça no último minuto. Os alvicelestes depois bateriam o Cruzeiro na final, na única taça racinguista entre 1967 e 2001 (Saiba mais). Depois se enfrentaram em outra semifinal, da liguilla, repescagem que reunia entre 1986 e 1992 os melhores colocados abaixo do campeão argentino por um lugar na Libertadores. O Racing arrancou um 3-3 e depois venceu por 1-0, mas perderia a final para o San Lorenzo.

1993: em rara grande campanha nacional após os anos 60, o Racing ficou em terceiro no Apertura, mas só um ponto atrás do campeão River, ao qual venceu por 1-0 na 12ª rodada. O torneio só foi concluído em 1994 e a Academia começou o novo ano na liderança, quando veio a inflexão: só empatou em 2-2 com o Ferro Carril Oeste após estar vencendo por 2-0. Tivesse vencido esse jogo e o roteiro poderia ser outro, pois o time só voltou a vencer três rodadas depois.

1997: recém-campeão da Libertadores, o River teve direito de estrear nas oitavas. O Racing se classificou apenas como terceiro no seu grupo. A dupla se cruzou nas oitavas e, apesar dos momentos diferentes, a Academia eliminou o campeão em pleno Monumental. Após um 3-3 em Avellaneda, o segundo jogo terminou em 1-1 mas o regulamento da época forçou disputa por pênaltis. E o ídolo millonario Enzo Francescoli teve sua noite de vilão, com o goleiro racinguista Ignacio González pegando-lhe a única cobrança desperdiçada na disputa.

O Racing de César Delgado e Claudio López, trinta anos depois de 1967, ensaiou repetir o título, eliminando o Peñarol e vencendo nas semifinais o Sporting Cristal por 3-2. Mas na volta, no Peru, perdeu de 4-1. No segundo semestre, eles se encontraram na fase de grupos da última edição da Supercopa e o River desengasgou: venceu os dois jogos por 3-2 e adiante venceria pela primeira vez o torneio, sobre o São Paulo. Ainda é o último troféu internacional do Millo.

2001: Racing e River voltavam a disputar o campeonato, no Apertura, última chance dos Millonarios a ganharem algo no seu centenário. A oportunidade de ouro veio a quatro rodadas do fim, em um confronto direto. Em plena Avellaneda, um empate em 1-1 em tese seria ruim ao Racing, mas serviu-lhe para manter vantagem de 4 pontos para as três últimas rodadas. Além disso, empatou aos 41 do segundo tempo. Autor do gol, o colombiano Gerardo Bedoya acabou eleito em 2011 entre os cem maiores ídolos do clube pela revista El Gráfico – ele também cruzaria a bola para o gol do título, de Gabriel Loeschbor, sobre o Vélez na rodada final. Em plena crise econômica que quase cancelou o campeonato, o Racing voltava a ser campeão argentino após 35 anos. Saiba mais.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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