Esnobado pela seleção argentina, Zárate defenderá a chilena
“Me surpreendeu quando Mauro chegou no primeiro ano na Itália, onde arrebentou, meteu 17 gols, 19 assistências, ganhou a Copa da Itália, a Supercopa e na seleção de Diego [Maradona] iam jogadores que haviam metido apenas 3 gols. Isso nos surpreendeu a todos. Mauro estava muito doído porque via que iam jogadores que não mereciam estar, e ele não. Merecia uma chance, não tenho dúvidas.”
A declaração acima foi feita em 2011 por Rolando Zárate, o Roly, em entrevista à quase centenária revista argentina esportiva El Gráfico. Já no ocaso da carreira (ex-Real Madrid, estava prestes a ser rebaixado com o Huracán), mencionou diversas vezes o irmão caçula Mauro, colocando-o inclusive como disparadamente o mais vencedor e talentoso de uma família repleta de outros jogadores: além deles dois, Sergio e Ariel também foram atacantes. Sergio Zárate, um dos primeiros argentinos a desbravar o futebol alemão (confira), e o próprio Rolando tiveram suas chances na seleção argentina principal.
Já o mais novo jamais recebeu chances, seja de Alfio Basile, Maradona, Sergio Batista ou Alejandro Sabella. A gota d’água foi perceber que também não parece estar nos planos do atual técnico da Albiceleste, Gerardo Martino. O Zárate mais jovem foi campeão mundial pela Argentina, mas na categoria sub-20, em 2007, inclusive marcando o gol do título sobre a República Tcheca – a foto que abre a nota é a da comemoração. No torneio, foi colega de Agüero, Romero, Piatti, do desconhecido Di María e até mesmo de Damián Escudero, então seu colega de Vélez. Mauro era a grande joia do clube, que revelou seus irmãos – Sergio esteve em alguns jogos do título argentino de 1993 e Mauro e Rolando foram colegas no de 2005. Mas, em vez de sair para um grande clube europeu, foi ao Qatar.
Rolando simplificou, na mesma entrevista: “apareceu o Benfica, o Spartak Moscou, mas ninguém punha a grana (…). Mauro dizia ao Vélez: ‘o Benfica ofereceu 12 milhões’. E a resposta era ‘não’. ‘O Valencia ofereceu 13’. ‘Não’. ‘Al Sadd ofereceu 20’. ‘Me interessa’, disse o Vélez. (…) Mauro disse aos qatarianos: ‘eu quero isto, isto, isto e isto’. E lhe responderam a tudo que sim. Pediu para acabar o contrato em três anos, que lhe dessem dias para vir à Argentina e cláusulas frouxas para ir a empréstimo a outras equipes interessadas. E lhe saiu perfeito, porque em seis meses foi à Inglaterra, voltou, foi à Lazio, fez um torneio bárbaro e o compraram. (…) Estava claro o tema: nós sabíamos que aos 23 anos terminava o contrato, Mauro ficava com o passe na mão e totalmente salvo no [campo] econômico. Isso tratamos de fazer-lhe entender, porque a princípio ele não queria ir”.
Se o início na Lazio foi bem (neto de italianos por parte da mãe, chegou a ser cogitado para a Azzurra), com o tempo desandou. A própria compra definitiva, em 2009, foi problemática, com o presidente do clube sendo suspenso pela federação por irregularidades no negócio. A média de gols foi caindo, Mauro chegou a ser fotografado supostamente fazendo a saudação fascista entre torcedores e teve uma passagem fracassada na Internazionale. O reencontro com as redes veio na velha casa: voltando ao Vélez em 2013, foi o artilheiro do último campeonato. Dos que já conseguiram mais de uma vez a artilharia na Argentina, as dele foram as mais espaçadas, pois a anterior fora no Apertura 2006, oito anos antes.
A boa fase o fez sonhar com a Copa 2014, mas só lhe rendeu uma transferência ao West Ham. Zárate teria lugar cativo na Copa se aceitasse a oferta do Chile, país de seu pai – seu avô Juvenal foi ex-jogador da Roja. Enfim cansou-se e deve aparecer na Copa América de 2015 pelo país vizinho, que será o anfitrião. Atualmente, não chega a ser exatamente uma pena para uma seleção que conta com Messi, Lavezzi, Higuaín, Agüero e a volta de Tévez, mas é fato que Maurito merecia alguma chance no passado.
Se de fato defender a seleção chilena, Zárate será o 13º argentino a jogar por ela: listamos os outros aqui. Destaque especial ao defensor Rodolfo Almeyda, presente em três Copas América (1955, 1956 e 1957), ao atacante Oscar Fabbiani (artilheiro da rica liga dos EUA em 1979, ano em que também jogou a Copa América. É tio de Cristian El Ogro Fabbiani, ex-River) e ao meia Matías Fernández, o mais duradouro: joga pelo Chile desde 2005, esteve na Copa 2010 e só não foi à de 2014 por lesão – nela, Gustavo Canales e Pablo Hernández estiveram na pré-lista, mas acabaram não confirmados pelo técnico, o também argentino Jorge Sampaoli.