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40 anos de dois recordes de gols na elite argentina

taverna

Não é de hoje que a elite argentina se divide em dois torneios anuais, formato vigente desde 1990. Entre 1967 e 1985, existiram o Metropolitano e o Nacional. Apesar do nome, o Metro costumava ser mais valorizado pelos puristas, pois nada mais era do que a sequência do antigo campeonato argentino, que, também apesar do nome, só abrangia filiações da Grande Buenos Aires, La Plata, Rosario e Santa Fe.

O Nacional opunha os melhores do Metro com os melhores das ligas do interior, em uma espécie de Copa do Brasil mas sem o formato puramente mata-mata (nos primeiros anos foi em pontos corridos e depois adotou mata-mata, mas antecedido de fase de grupos e às vezes sucedido por quadrangulares ou octagonais finais), e com seus campeões também sendo considerados campeões argentinos de elite.

O Nacional deu lugar ao sol a muitas equipes fortes do interior, especialmente as cordobesas, que se destacaram tanto que algumas foram afiliadas ao Metro (Talleres em 1980, Instituto em 1981 e o Racing local – não confundir com o principal, de Avellaneda – em 1982). Clubes de Jujuy e Salta, da região norte, chegaram a ter jogadores testados na seleção. Mas o grosso eram clubes com futebol amador que acabavam servindo de saco de pancadas. Um desses foi o Puerto Comercial, da cidade de Bahía Blanca, que é da província de Buenos Aires mas distante demais da capital federal.

A única participação deste clube no Nacional foi em 1974. Jogou dezoito vezes e só venceu duas. Há 40 anos, em 6 de outubro daquele ano, sofreu impiedoso 13-1 do modesto Banfield, no que é a maior goleada em um jogo da elite argentina. O recorde de gols não se limitou a isso, pois a partida rendeu também a maior artilharia individual em um só jogo na elite: os sete anotados por Juan Carlos Taverna. Mas o jogador mais ilustre daquele Banfield era o goleiro, Ricardo La Volpe, posteriormente campeão da Copa 78 (na reserva de Fillol) e técnico do México na de 2006.

Sobre a partida duas vezes recordista, o próprio Taverna afirmou, com sentimentos mistos, que “depois que fiz os sete gols contra o Puerto Comercial me pus a pensar nos rapazes de Bahía Blanca que trabalham a semana inteira e nos domingos têm que jogar. Compreendo que assim dão muita vantagem às equipes profissionais, cujos jogadores se dedicam exclusivamente ao futebol. Mas, no gramado, não levei em conta essa situação em nenhum momento. Porque entendo que minha obrigação, já que é para isso que me pagam, é fazer gols contra qualquer rival e estabelecer diferenças”.

Taverna, contudo, também teria uma marca negativa, ao ser o primeiro jogador flagrado no antidoping por um clube da elite, em 1975 (o primeiro considerando todas as divisões foi o pai de David Trezeguet, Jorge, do Estudiantes de Buenos Aires -o filho só nasceu na França porque o pai foi jogar em um pequeno clube de lá após o doping melar uma transferência quase realizada ao grande Independiente da época). Apesar disso, foi contratado pelo Boca em 1976, ano em que venceu tanto Metro como Nacional.

Mas Taverna era reserva no Boca e em 1977 foi ao Gimnasia LP, onde encerrou a carreira por não superar as críticas que recebia ao jogar mal, normalmente relacionadas ao seu passado no arquirrival Estudiantes. Recentemente, ele venceu uma batalha pela vida, chegando a ficar em estado crítico em 2009 após um coágulo no cérebro paralisar o lado esquerdo do seu corpo e dificultar-lhe a fala, sequelas que ele vinha tratando com fonoaudiologia e fisioterapia, além do apoio de familiares, ex-colegas e mesmo dirigentes do Banfield e Estudiantes.

Observação: o jogo de 40 anos atrás tem dois recordes de gols na elite, mas não no futebol argentino como um todo, marcas que pertencem aos 18-0 do mencionado Estudiantes de Buenos Aires sobre o Lomas Athletic em 1909, em jogo pela extinta Copa Competencia (que reunia clubes de Buenos Aires, Rosário e Montevidéu). O Lomas, outrora supercampeão no século XIX, não por acaso, foi rebaixado naquele ano. O Estudiantes BA, que revelou Ezequiel Lavezzi, era forte no início do século XX e foi o primeiro clube argentino a excursionar no Brasil. Seu jogador Maximiliano Susán fez doze gols naquele dia, tendo até hoje o recorde geral de artilharia em uma partida no país. Saiba mais clicando aqui.

FICHA DA PARTIDA – Banfield: Ricardo La Volpe; Eduardo Pipastrelli, José Romero, José Terzaghi yeRaúl Giustozzi; Silvio Sotelo, Hugo Mateos (Ricardo Girado) e Rubén Flotta; Enrique Lanza, Juan Taverna e Luis Roselli. T: Héctor D’Angelo. Puerto Comercial: Juan Tolú; César Colman (Contardi), Raúl Lugones (Rubén Viani), Osvaldo Baley e Núñez; Mario Rachi, Enrique Dekker e Solís; Jalil, Juan Carlos Nani e Diego Romero. T: Rufino Bugarini. Gols: Taverna (5 e 7/1º), Lanza (11/1º), Roselli (15/1º), Taverna (31, 37 e 39/1º), Romero (2/2º), Lanza (7/2º), Racchi (13/2º), Roselli (16/2º), Pipastrelli (26/2º) e Taverna (42 e 43/2º). Árbitro: Roberto Goicoechea.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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