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Técnico do San Lorenzo é o 4º maior zagueiro-artilheiro do futebol

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Bauza, à esquerda, com o vice-presidente sanlorencista Marcelo Tinelli e a sonhada taça

Os torcedores do Fluminense devem se lembrar mais do goleiro Cevallos ou do atacante Guerrón (que fim teve?) como carrascos da LDU na Libertadores 2008. O técnico do primeiro e único clube equatoriano a vencer o torneio é Edgardo Bauza, que ontem logrou outra façanha inédita, dando as ordens táticas ao San Lorenzo, que sequer havia chegado alguma vez na final, enfim deixar de ser o solitário sem Libertadores dentre os cinco grandes argentinos.

Bauza não é o primeiro técnico campeão da Libertadores por clubes diferentes (Carlos Bianchi, por Vélez e Boca, e Felipão por Grêmio e Palmeiras são outros), mas é sim o único a conseguir os primeiros títulos nela em dois times. O sucesso na carreira de treinador, porém, ofusca no exterior o brilhante jogador que foi. Atuava como zagueiro, o que não o impediu de marcar gols, muitos gols.

Quando El Patón parou de jogar, em 1992, era o terceiro maior zagueiro-artilheiro no mundo, com 108 gols segundo levantamento da IFFHS, a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol. Desde então, só foi superado pelo espanhol Fernando Hierro, que marcou dois a mais. Duvida? Eis aqui a lista do último levantamento, há dois anos, em site europeu.

Bauza brilhou especialmente no Rosario Central, onde começou a carreira em 1978 e onde também parou. Foram 82 gols pelos auriazuis: é o quarto que mais marcou pelos canallas. Mais de um décimo deles apenas no clássico com o Newell’s, pois fez 9 no arquirrival. É o profissional com mais gols no dérbi rosarino, empatado com o rubronegro Santiago Santamaría, um atacante. O primeiro gol da carreira foi justamente em um clássico. Além disso, venceu dois dos quatro títulos argentinos do Central.

O primeiro título foi em 1980 (e foi ele o artilheiro do elenco, com doze gols!) e o outro, até hoje o último Argentinão do Central, foi em 1987 – neste, o clube, recém-campeão da segundona, emendou um raríssimo bicampeonato com o título da elite. Para temperar ainda mais, deixou de vice justamente o grande rival: falamos aqui. Os auriazuis haviam sido rebaixados justamente na primeira temporada sem o zagueiro, em 1984, quando ele transferiu-se ao Atlético Junior de Barranquilla, do forte futebol colombiano da época. Edgardo Bauza voltou à Argentina já em meados de 1985, mas no Independiente. Mas um semestre depois retornava ao Rosario.

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Como jogador do Rosario Central e treinando o clube (na foto, ele e Pizzi, o mesmo que lhe antecedera como técnico no San Lorenzo)

Por que como jogador ele não ficou conhecido como deveria fora do país? Deu azar de jogar na mesma época que um zagueiro-artilheiro ainda mais fenomenal: Daniel Passarella, justamente o único argentino na posição que fez mais gols que o Patón, conforme atesta a mencionada lista da IFFHS, que ainda inclui outros dois argentinos entre os dez mais: Rafael Albrecht, ex-Estudiantes e San Lorenzo nos anos 60, em 7º, e Juan Rocchia, ex-Ferro Carril Oeste (falamos deste há uns dias, aqui), em 10º.

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Na seleção, em 1990

Se Bauza fazia muitos gols, por outro lado era lento na marcação. Passarella era mais completo e tinha boa dupla entrosada com Alberto Tarantini no River e na seleção à altura da Copa do Mundo de 1982, para a qual Bauza foi um dos últimos pré-convocados cortados. Havia feito seu primeiro jogo pela Argentina em outubro de 1981, perdendo para a Polônia dentro de Buenos Aires, 2-1. Só voltou a jogar pela Albiceleste quase nove anos depois, em Los Angeles contra o México: derrota por 2-0, em janeiro de 1990. Em março, o terceiro jogo e novo revés, 1-0 para a Escócia em Glasgow.

Bauza, já como jogador do mexicano Veracruz, foi convocado à Copa 1990 com o técnico Bilardo pensando-lhe como um substituto para José Luis Brown, líbero titular que perdeu as condições de ir após lesionar-se. Mas o treinador optou em usar Juan Simón no torneio e o Patón não teve novas chances. A negativa marca de três jogos e três derrotas, de fato, devem ter pesado também.

A carreira de técnico começou em 1998, no seu velho Rosario Central. Não conseguiu títulos, mas chegou perto. O time foi vice por um ponto para o River Plate no Apertura 1999, com os auriazuis conseguindo seu recorde de vitórias seguidas, nove.

Na última rodada, além de vencerem (o que conseguiu), os canallas precisavam que o River perdesse fora de casa, mas os millonarios conseguiram arrancar um empate – justo contra o San Lorenzo.

Dois anos depois, nova bela campanha, agora na Libertadores. Bauza conduziu o Rosario Central às semifinais, o mais perto que o clube já chegou do título, mas parou na surpreendente Cruz Azul, vice para o Boca embora tenha conseguido até vencer na Bombonera no tempo normal. Curiosamente, um de seus comandados era o veterano atacante Juan Antonio Pizzi, justamente o técnico que lhe antecedera no comando do San Lorenzo. Pizzi partiu após ser campeão argentino no ano passado.

Bauza, aliás, chegou sem pudores para peitar ninguém menos que o ídolo-mor sanlorencista Leandro Romagnoli, de quem escrevemos mais cedo hoje (clique aqui). Romagnoli estava insatisfeito com os planos de pré-temporada do novo técnico, que lhe apontou o caminho do ônibus para ir embora. A relação ficou amena com os meses e Bauza fez questão de usar o meia como titular, apesar do físico frágil, na reta final. E os dois se abraçaram aos choros ontem.

Atualização em 21-12-2015: neste dia completam-se 35 anos do título do Rosario Central no qual o zagueiro Bauza foi o artilheiro do time. Clique aqui para saber mais.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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