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Lanús já jogou duas finais continentais: uma taça e um vice

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Ibagaza, maestro do campeão de 1996, rege a festa em Bogotá

Há quase dez anos um clube dos mais organizados e de metas a longo prazo, o Lanús pode ter sua visão premiada hoje, caso vença a Sul-Americana, o que faria justiça também ao bom trabalho dos gêmeos Barros Schelotto no comando técnico desde que o assumiram em 2012. O Granate comportou-se como candidato dos dois últimos campeonatos argentinos (acabou não sendo páreo para a eficiência do ainda mais organizado Vélez e pelo momento especial do Newell’s) e tem chances também no atual.

Nesta semana, os irmãos Guillermo e Gustavo não estão nada longe de se tornaram a direção técnica mais vitoriosa do clube do sul da Grande Buenos Aires, caso consigam o título continental hoje e o caseiro no domingo. Ambos seriam as segundas taças do time em cada segmento. O curioso é que o Lanús já era campeão sul-americano antes mesmo de ser, pela primeira vez, campeão nacional (foi o primeiro a passar por isso): seu único título argentino, o Apertura 2007, veio mais de uma década depois da vitoriosa Copa Conmebol 1996. Em 1997, em sua melhor época até então, foi vice nela.

Há cerca de 20 anos, os grenás estavam longe do patamar atual. Eram mais um entre tantos nanicos figurantes do cenário argentino, com um ou outro momento especial (como o elenco vice nacional em 1956, apelidado Los Globetrotters e onde figurava o zagueiro Ramos Delgado, depois ídolo no Santos de Pelé). Na virada dos anos 80 para os 90, foram duas vezes rebaixados. Voltaram em 1993 e seguem na elite desde então. As primeiras campanhas pós-volta foram só razoáveis.

Em 1995, então, um novo técnico marcou o início de uma pequena mas comemorada era: Héctor Cúper, que por muito pouco não fora campeão em 1994 com o Huracán, em jejum desde 1973. Em três torneios seguidos, o time ficou em uma ótima 3ª colocação, no Apertura 1995, no Clausura 1996 (tendo o artilheiro do torneio, Ariel López) e no Apertura 1996. Nos dois Aperturas, ficou-se na mesma pontuação do vice. Já sem Cúper, o mesmo time-base ainda seria em 1998 vice no Clausura e 4º no Apertura. Nesse ínterim, o Granate se qualificou às Copas Conmebol de 1996 e 1997.

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Roa seria o bom goleiro titular da Argentina na Copa 1998; Ibagaza comemora com Bassedas (e a Supercopa) e Astrada (e a Libertadores) a “tríplice coroa sul-americana” argentina em 1996

O torneio cumpria o papel da atual Sul-Americana: troféu de consolação aos não-classificados à Libertadores. Fora o mencionado artilheiro López, outros destaques eram sua dupla, o meia Ariel Ibagaza, campeão mundial sub-20 com a Argentina em 1995 (primeiro troféu hermano no torneio desde a maradoniana edição de 1979, pena que só Sorín realmente vingou daquele time); outro meia, Hugo Morales, que foi às Olimpíadas daquele 1996; o goleiro Carlos Roa, herói contra a Inglaterra na Copa 1998; o zagueiro-artilheiro Juan Serrizuela; Oscar Mena, artilheiro da edição com 5 gols.

A campanha de 1996 da “Cúperativa” começou contra o Bolívar, que não deu muito trabalho. Venceu só por 1-0 em La Paz e foi surrado por 4-1 na Argentina. Curiosamente, os gols bolivianos foram de argentinos: Antonio Vidal González (ex-San Martín de Tucumán, pelo qual se tornou um dos poucos a marcar 3 vezes no Boca na Bombonera num mesmo jogo) e Fernando Ochoaizpur, que jogava pela Bolívia. Na volta, o destaque maior foi Serrizuela, que marcou dois.

O torneio começava já nas oitavas-de-final. Nas quartas, o paraguaio Guaraní deu ainda menos trabalho: perdeu em casa por 2-0 e fora por 6-2. Foi nas semis que o Lanús então realmente demonstrou ser candidatíssimo à taça: contra o campeão anterior, o Rosario Central (que na final de 1995 perdera por 4-0 para o Atlético Mineiro no Mineirão e conseguiu epicamente devolver o placar na Argentina e levar a melhor nos pênaltis), deixou um 3-0 em casa e aplicou um 3-1 em pleno Gigante de Arroyito. Belloso marcou nos dois jogos e Serrizuela e López também deixaram os seus.

A final foi contra o Independiente Santa Fe. Mena, de pênalti, e Ibagaza, em cabeceio mortal para o chão, decretaram o 2-0 em casa que poderia ter sido mais elástico. Na Colômbia, uma assumida retranca e um Roa com reflexos bem apurados só foram batidos por um pênalti convertido por Wittingham, mas o Santa Fe, que marcou aos 5 minutos, só ficou no 1-0. Todo o elenco, incluindo o corpo técnico, seria nomeado cidadão lanusense honorário. Na temporada, a equipe se deu ainda ao gosto de vencer os dois clássicos contra o Banfield, ambos na última rodada. O rival acabaria rebaixado.

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Os artilheiros: Mena (comemorando o gol de Ibagaza sobre o Santa Fe) e Ariel López. E o técnico Cúper. Seu belo Real Mallorca levaria todos esses destaques

Em 1997, após o título na Conmebol e o terceiro 3º lugar seguido no campeonato argentino, Cúper foi contratado pelo Real Mallorca, levando Roa e Mena junto (Ibagaza, Siviero e López iriam depois) a um clube que, com a base hermana, viveu em 1998-99 sua melhor fase: vices na Recopa Europeia e na Copa do Rei e um 3º lugar na liga espanhola, melhor colocação nela até hoje do time das Baleares. Já qualificado para a Conmebol 1997, o Lanús sentiu no início a diferença no torneio caseiro: ficou só em 11º no Apertura. A grande novidade estava na defesa: o zagueiro Oscar Ruggeri, titular na Copa de 1986. O novo técnico fora colega seu naquele mundial, o reserva Oscar Garré.

Ruggeri foi um dos mais vitoriosos jogadores da seleção e se destacou nos três grandes de Buenos Aires (Boca, River e San Lorenzo): é o único campeão nos três e usado pela Albiceleste a partir do trio. Esteve na seleção por oito clubes (um recorde), incluindo ainda o Vélez e o Real Madrid. Só não foi a ela vindo do Lanús, já no semestre final da carreira. Seria, negativamente, o protagonista da final: El Cabezón, de fato, encarnava a exceção, mas estereótipo, que tanto combatemos do argentino-que-adora-odiar-brasileiros; se recusava a trocar de camisas com adversários ao fim de jogos contra o Brasil.

Antes das finais, Ruggeri se destacava bem: assim como o artilheiro Ariel López, marcou nas oitavas e nas quartas, quando o Granate eliminou outro boliviano (Real Santa Cruz, que ficou no 1-1 em casa e levou de 5-0 na Argentina) e o Vitória, que venceu em Salvador por 1-0 mas perdeu por 3-1 em Lanús. Nas semis, novo confronto argentino, desta vez com o Colón, que também vivia época dourada: acabara de ser vice do Clausura 1997, até hoje seu melhor retrospecto. Trimarchi e Ibagaza, porém, anotaram os 2-0 em plena Santa Fe. Na volta, Leonardo Más (filho de Oscar Más, um dos maiores ídolos do River) fez o gol grená no 1-1 em Lanús, cujo time chegou à segunda final continental seguida.

À frente, um Atlético Mineiro sedento por alguma resposta à Libertadores recém-levantada pelo Cruzeiro. Galo escaldado (com o perdão do trocadilho) pelo que passou em Rosario em 1995, o alvinegro, aproveitando erros defensivos crassos do oponente, inseguro pela temporada ruim no argentino e por vitórias mais agônicas do que fáceis, fez 4-1 de virada. Não se furtou em gritar olé após três gols no segundo tempo. O deboche foi demais para Ruggeri: aplicou empurrões e pontapés em Jorginho, que não se abateu e, segundo a El Gráfico, “se levantou e lhe disse: ‘olé, aryenchino, olé’” (a palavra se refere à forma escrita no espanhol rio-pratense aos fonemas cariocas de “argentino”).

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Ruggeri x Jorginho na vergonhosa final de 1997 em Lanús

Uma das maiores brigas generalizadas no futebol foi deflagrada – ainda assim, condenável a Placar “incrementar” em 2005 que a polícia entrou no meio para bater nos brasileiros; pelo segundo vídeo, vê-se que ela, ainda que confusa, tentou apartar. O técnico atleticano, Emerson Leão, levou a pior, talvez daí vindo sua repulsa aos hermanos; sofreu três fraturas no rosto. Mais de um mês depois, em Belo Horizonte, o Lanús, sem Ruggeri, López, Siviero, Ibagaza e Serrizuela, suspensos pela Conmebol, e o técnico Garré, que pediu demissão sem nunca ter conquistado a torcida, saiu com um 1-1. A Copa Conmebol foi extinta em 1999 e o Atlético, campeão também em 1992, ficou como seu maior campeão.

Desejamos sorte a Lanús e à valorosa Ponte Preta e, mais do que tudo, em face da relatada confusão de 1997 e também a da final passada entre Tigre e São Paulo, que o perdedor saiba perder e o vencedor, ganhar. Abaixo, fichas técnicas dos jogos que praticamente asseguraram o título e o vice de 1996-97:

Lanús: Carlos Roa, Juan Serrizuela, Gustavo Falaschi, Gustavo Siviero, Andrés Bressán, Oscar Mena, Daniel Cravero, Ariel Ibagaza, Walter Coyette (Claudio Lacosegliaz 24/2º), Marcelo Enría (Gustavo Belloso 32/2º), Ariel López (Milton Coimbra 39/2º). T: Héctor Cúper. Independiente Santa Fe: Rafael Dudamel, Nelson Flórez (Jhon Pérez 36/2º), Orlando Garcés, Grigori Méndez, Óscar Upegui, Jorge Salcedo, Robert Villamizar (Ramón Penayo 1/2º), Hurtado, Roberto Vidales, Francisco Whittingham, Farley Hoyos (Gustavo Díaz 17/2º). T: Pablo Centrone. Árbitro: Carlos Robles (CHI). Gols: Mena (31/1º), Ibagaza (31/2º).

Lanús: Pedro Rómoli, Juan Serrizuela, Oscar Ruggeri, Gustavo Siviero, Mariano Fernández; Juan Fernández Di Alessio (Leonardo Más), Daniel Cravero, Marcelo Enría (Marcelo Trimarchi); Ariel Ibagaza, Sebastián Clotet (Walter Coyette) e Ariel López. T: Oscar Garré. Atlético Mineiro: Taffarel, Bruno, Sandro Blum, Sandro Barbosa e Dedê, Edgar (Roberto), Doriva, Hernâni e Jorginho, Valdir (Cairo) e Marques (Almir). T: Emerson Leão. Árbitro: Gustavo Gallesio (URU). Gols: Ibagaza (19/1º), Bruno (41/1º), Serrizuela (contra, 11/2º), Hernâni (15/2º) e Valdir (35/2º).

http://www.youtube.com/watch?v=XZJSEgU88Fs

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=JJYrciYAxXI

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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