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50 anos do primeiro Mundial do Independiente

Originalmente publicado no aniversário de 40 anos, revisto, atualizado e ampliado

Há exatos 50 anos, um Independiente já recordista isolado de títulos na Libertadores enfim virava de vez El Rey de Copas: já na quarta tentativa, o Rojo enfim vencia pela primeira vez o Mundial Interclubes, em contornos únicos – pois foi o única vez em que uma equipe ganhou o mundo em jogo único no país adversário. Feito que ofusca outros tantos, como aquele 1973 ter sido também o ano em que os Diablos se tornaram donos, até hoje, da cidade de Avellaneda. Com direito a aplausos do próprio rival…

Os títulos nas Libertadores de 1964, 1965 (as duas primeiras do clube e do futebol argentino) e 1972 não puderam ser referendados diante dos europeus: nas duas primeiras tentativas, a Internazionale (do treinador argentino Helenio Herrera) foi a vencedora do tira-teima, enquanto na outra a glória coube ao Ajax. O futebol argentino já havia ganho o mundo, mas a partir exatamente do vizinho Racing, campeão em 1967 exatamente sobre o algoz de La Grande Inter na final europeia daquele ano, o Celtic; em 1968, havia sido a vez do Estudiantes também erguer, diante do Manchester United, o troféu que teimava em escapar da Doble Visera.

Cenas de 1964: o lateral Ferreiro (que seria o técnico em 1973) e o goleiro Santoro celebram a vitória no jogo de ida do Mundial, mas daria Internazionale: “ninguém chegou tão longe, ninguém tem tanto direito às lágrimas” foi a capa pós-vice, retratando o futuro são-paulino Pedro Prospitti

Em 1973, a América do Sul e a Europa permaneceram sob os mesmos donos: o Ajax foi outra vez campeão europeu, enquanto o Independiente era bi seguido (e tetra no geral) na Libertadores. Em Avellaneda, as mudanças em relação a 1972 estavam na ascensão da dupla dinâmica Daniel Bertoni (ainda jogador de segunda divisão com o Quilmes em 1972) e Ricardo Bochini – já membro do elenco em 1972, mas efetivamente profissionalizado somente depois da conquista continental. Com efeito, a estreia do Bocha em jogos de Libertadores veio a se dar exatamente na finalíssima de 1973, embora já fosse decisivo mesmo saindo do banco: o gol do título veio de rebote em jogada do garoto. Já quem saía era o volante José Omar Pastoriza, negociado com o Monaco, mas sintonizado com os ex-colegas a ponto de festejar pelas ruas de Monte Carlo o feito de 50 anos atrás. Ele seria o técnico no segundo Mundial vencido, em 1984.

Entre cada título continental, houve também uma ciranda de treinadores – curiosamente, ambos bastante identificados com o Racing quando ainda jogavam: o ex-volante Pedro Dellacha saíra ainda em julho de 1972, seduzido pela proposta do Celta de Vigo. Dellacha foi inicialmente sucedido por Roberto Ferreiro, lateral do elenco bicampeão continental em 1964 e 1965 e recém-abrigado na comissão técnica após ter pendurado as chuteiras. Ferreiro era treinador dos juvenis e logo voltou a esse posto diante da falta inicial de êxito no time adulto no segundo semestre de 1972: outra vez vice no Mundial e apenas 7º no Torneio Nacional. Para 1973, a diretoria ousou e chamou Humberto Maschio, campeão ainda como veterano atacante na Libertadores e no Mundial de 1967 com o arquirrival. Também apelidado de Bocha, Maschio se tornou em junho de 1973 o primeiro homem a vencer a Libertadores como jogador e como técnico.

Bochini (então camisa 16) e Bertoni (7), parceria que despontou justo na hora mais importante do clube. Que, incrivelmente, via como perdido o ano de 1973 se não vencesse o Mundial!

Apenas quinze dias depois de nova Libertadores, Maschio e o Independiente voltavam a ser campeões internacionais, dessa vez pela Copa Interamericana, tira-teima com o vencedor da Concacaf. Só que, em tempos longe da mediocridade atual, a exigência interna no clube era altíssima. O 4º lugar na disputa paralela do Torneio Metropolitano, embora a apenas quatro pontos do vice-campeonato, posição que hoje seria festejada, era cornetada. Naturalmente, essa exigência descomunal ficava dobrada para alguém tão ligado ao Racing. Sem nunca ser totalmente aceito no Rojo, Maschio acabou trabalhando no clube pela última vez ainda na 25ª rodada do Metropolitano, quando o time perdeu em casa de 1-0 para o Atlanta, em 5 de agosto. Ele detalharia em 2011 o que houve, à revista El Gráfico: “devo ser o único técnico suspenso pelo próprio clube. Não me dava bem com os dirigentes, e queriam me fazer treinar em El Pato, porque era preciso cuidar do nosso campo. Eu estava jogando a Libertadores, então treinei no campo. Se reuniram e me suspenderam por um mês. Renunciei. Ia fazer o quê?”.

El Pipo Ferreiro, assim, novamente teria a oportunidade do Mundial no colo, pois reassumiu o time principal já na 26ª rodada do Metropolitano ao passo que Maschio, em outubro, assumiria o Chacarita – a abrigar também Miguel Ángel Giachello, justamente o autor do gol do título sul-americano mas igualmente dispensado sem cerimônias. Inicialmente, a aparente inexperiência de Ferreiro parecia pesar de novo, com o time patinando no Torneio Nacional; ficaria apenas em 8º no grupo, e, embora o passado na casa prolongasse a paciência com o jovem treinador, o aparente desleixo não era mitigado em prol de alguma preparação ao Mundial. Nada disso: no início de novembro, se clamava na torcida que “para salvar o ano”, ano este que já havia visto dois títulos internacionais, “devemos ganhar da Juventus”. O time italiano havia sido o vice europeu para o Ajax. Os holandeses já haviam aberto mão em 1971 (contra o Nacional uruguaio) de disputar o Mundial e, alegando falta de datas no calendário, voltaram abdicar para 1973. Como se não bastasse, a intrusa Juve não teve maior pudor: concordou em jogar desde que uma só vez… e em solo italiano.

Francisco Sá, Miguel Santoro, Rubén Galván, Miguel López, Eduardo Commisso e Ricardo Pavoni; Agustín Balbuena, Alejandro Semenewicz, Eduardo Maglioni, Ricardo Bochini e Daniel Bertoni: o Independiente, com basicamente os mesmos titulares do Mundial (exceto Semenewicz, na vaga de Miguel Raimondo, mas usado no segundo tempo em Roma), exibindo o troféu no campo do arquirrival

“A Comissão Diretiva chamou as referências para ver o que fazer e no fim aceitamos. O Independiente já havia perdido as de 1964 e 1965 com a Inter  e a de 1972 com o Ajax. Não podíamos deixar passar”, descreveria o capitão Ricardo Pavoni em 2018 ao La Nación. “Votamos e dissemos ‘vamos jogar’”, completaria Francisco Sá em 2022, ao mesmo jornal. Sem surpresas, o compromisso de 25 de novembro pela 12ª rodada do Torneio Nacional usou um elenco de reservas de reservas, inclusive para o cargo de técnico, ocupado interinamente por Fernando Bello, glorioso goleiro rojo dos anos 30. Com Santoro e o competente reserva imediato Carlos Gay focados no Mundial, o terceiro goleiro, desde 1972 no plantel adulto, enfim estreou – era Esteban Pogany, que iniciava a obscura escalação com Héctor Cabezal, Hugo Abdala, Osvaldo Carrica e Daniel Cuiña, Víctor Palomba, José Rubén María (Raúl Silva) e Raúl Otero, Orlando Liendro (Ricardo Ruiz Moreno), Jorge Urtasun e Rubén González. Deles todos, só Ruiz Moreno teria algum brilhareco no clube, já na Libertadores 1975.

El Chivo Pavoni e El Pancho Sá são nada menos que os homens que mais venceram Libertadores: o lateral Pavoni somou cinco, todas pelo Independiente (1965 e o recordista tetra seguido de 1972 a 1975) enquanto o zagueirão Sá, presente no tetra seguido de 1972 a 1975, ergueria ainda (já pelo Boca) o bi seguido de 1977-78. Compunham uma retaguarda em que despontava Miguel Ángel López (futuro treinador campeão da Supercopa 1995, sobre o Flamengo), ainda não firmado em 1972 mas apoderado da vaga que era do uruguaio Luis Garisto a ponto do próprio Garisto acabar negociado em 1974. Cabisbaixo logo atrás do goleiro na foto que abre essa matéria por na mesma época estar despedindo-se do pai para o câncer, El Zurdo López seria outro componente de todo o tetra – assim como o ponta Agustín Balbuena, recorrente carrasco do São Paulo naquele período. E que diria em 2008 que “se nos dissessem que teríamos que pagar mil pesos para as passagens, pagaríamos”, tamanha a vontade.

Independiente na virada de 1973 para 1974: Ricardo Pavoni, Héctor Martínez, Carmelo Giuliano, Juan Merlo, Raúl Otero, Miguel López, Daniel Bertoni, Carlos Gay, Luis Garisto e técnico Roberto Ferreiro; preparador físico Claudio D’Ascanio, Mario Mendoza, Miguel Santoro, Liva Arispe, Ricardo Bochini, Rubén Galván, Rubén González, Víctor Palomba e Francisco Sá; Hugo Saggioratto, Héctor Cabezal, Eduardo Commisso, Eduardo Maglioni, Miguel Raimondo, Agustín Balbuena, Alejandro Semenewicz e massagista Saturnino Las Heras

A decisão que tomaram não representaria uma situação tão inédita ao clube; haviam ganho de modo recentíssimo a Interamericana de 1973 em circunstâncias até mais desfavoráveis – contra o Olimpia de Honduras, o Rojo aceitou jogar as duas partidas na casa do adversário. Mesmo esgotados por trinta horas de viagem intercalada com paradas em Lima e no Panamá, chegando a San Pedro Sula apenas três horas antes do pontapé inicial do primeiro jogo, os argentinos venceram os dois jogos, em 17 e 20 de junho. Mas enfrentar dentro da Itália a Vecchia Signora parecia ser outra coisa, mesmo com o jogo marcado para Roma e não propriamente para Turim. Do lado adversário, um Dino Zoff que já somava mais de mil minutos seguidos sem tomar gol. Os hermanos iam por pura fome de glória: o bicho acertado com a diretoria era os mesmos 300 dólares (“foi o jogo onde menos recebemos, e era a final do mundo!”, lembraria em 2008 o talismã Eduardo Maglioni) habituais dos jogos domésticos…

O descrédito da imprensa esportiva argentina era tanto que nenhum enviado especial foi bancado para cobrir a partida. “Era isso ou nada. A Comissão Diretiva, então, nos pediu que decidíssemos o que queríamos fazer. Nem duvidamos em aceitar”, lembrou Ferreiro nos 35 anos da conquista, em 2008, descrevendo que “a equipe estava bem equilibrada, tínhamos garotos jovens e jogadores experientes” e que “o que acontece é que a esta equipe só faltava isso. Já havia ganho tudo. E estava muito mentalizada”. De fato, o destaque inicial do lado argentino seria uma atuação impecável de sua retaguarda – do goleirão Miguel Ángel Santoro (então o maior campeão da Libertadores, presente nos títulos de 1964, 1965, 1972 e 1973) ao xará Miguel Ángel Raimondo, volante descrito como “gigantesco” e “eixo ideal na balança” na avaliação pós-jogo da revista El Gráfico.

Santoro, Pietro Anastasi, Antonio Cuccureddu, López, Claudio Gentile, Pavoni e Roberto Bettega

Foi preciso alguma sorte de campeão também: os italianos acertaram duas vezes a trave. em outro lance, os reflexos de Santoro impediram que frangasse entre as pernas, que rapidamente prensaram a bola cabeceada que ia escapando por elas; e, aos 2 minutos do segundo tempo, o bianconero Antonio Cuccureddu isolou um pênalti – claro, após a devida catimba daqueles copeiros: “fomos xinga-lo loucamente, paramos pertinho dele e lhe dizíamos barbaridades. E o cara entendia bem, porque nos olhava com um cara de susto…”, confessaria o defensor Eduardo Commisso em 2008, no que Bertoni completou: “uns anos depois, em 1982, quando eu estava na Fiorentina, estive no mesmo elenco com Cuccureddu e sempre o zoava pelo mal que havia chutado o pênalti”. A justiça estava feita: a infração, atribuída ao caudilho Rubén Galván (futuro reserva da seleção de 1978), havia sido inexistente.

A memória de El Negro Galván, ainda jogador iniciante em 1973, seguia fresca em 2008: “eu era um garoto, um doente pelo clube, por isso quando apitaram o pênalti queria me matar. Hoje, com 56 anos, te posso confirmar que não foi. Antes que chutassem, fui caminhando até o meio-campo e fiquei de costas, não queria ver. Nisso notei que os da Fragata começaram a festejar e minha alma voltou ao corpo. Teria sido catastrófico para mim”. O mencionado pessoal da Fragata, que se chamava Libertad, representava o pequeno mas sonoro (“parecia que estávamos em Avellaneda”, elogiaria Raimondo) apoio aos visitantes: eram cerca de duzentos marinheiros argentinos que por acaso estavam atracados no porto romano de Civitavecchia e aproveitaram a chance de assistir a partida, torcedores ou não do clube; acabariam contemplados também com convites ao jantar festivo preparado pela embaixada argentina. Contrastavam com a falta de fé geral de público e imprensa; apenas os familiares haviam se dignado a se despedir dos jogadores no aeroporto de Ezeiza.

“Devíamos isso a você, garoto!”: Bochini já eterno muito antes de virar o recordista de jogos e taças pelo Independiente, seu único clube

Em 2006, à El Gráfico, Bertoni – futuro autor do último gol da Copa do Mundo de 1978 – ressaltaria essa falta de fé do público geral: “não viajou quase ninguém. E o único fotógrafo, Julio Motoneta López, que era torcedor do Rojo, não tirou a foto por gritar o gol e teve que comprar os diários italianos. Tirou a câmera para festejar”. A favor da descrença, o fato de o primeiro tempo ter sido mesmo “para aguentar” para o segundo, enfim, ter sido “para ganhar”, conforme analisou a El Gráfico pós-jogo, complementando que “na hora da verdade, quando a Juventus alcançou vulnerar esse bloqueio homogêneo e seguro, apareceu Pepé Santoro”, o veterano goleiro e outro bastante elogiado do setor defensivo. Até mesmo Bochini precisava se desdobrar em auxiliar os chutões defensivos: a mesma El Gráfico pós-jogo descreveu-o como “uma roda de auxílio essencial nessa tarefa”.

Também à El Gráfico, na edição que celebrou o centenário do clube, Bochini tratou de criticar quem diminuía um título contra um intruso: “[éramos] todos jovens, 23 ou 24 anos. Que importa que era o vice, era um timaço e lhes ganhamos lá, em Roma”. O desgaste seria tanto que Maglioni estirou-se no chão ao apito final, precisando ser levantado pelo próprio adversário Francesco Morini para dar a volta olímpica… O gol do título só saiu mesmo a dez minutos do fim. Foi também o primeiro gol que o clube marcava na Europa em quatro decisões de Mundial.

Cenas de 1967 (em preto e branco) e 1973 das trocas de gentilezas entre Racing e Independiente após cada um vencer o Mundial

Bochini (então com 19 anos) e Bertoni (ainda com 18) logo floresceriam pelas tabelas açucaradas, normalmente com o Bocha, de estilo semelhante ao consagrado por Andrés Iniesta ou Xavi, armando o último passe para o colega concluir – em assistências de precisão tamanha que tal qualidade seria apelidada de bochinesca no jargão futebolístico argentino. Curiosamente, isso ocorreu de modo invertido há 50 anos; foi de Bertoni a assistência e de Bochini, o gol, assim descrito pelo meia: “estava colocado sobre a esquerda, a uns 20 metros da área italiana, quando o Perico [apelido de Raimondo] alargou o futebol para Bertoni. Vi que me olhava e a me entregou. Driblei [Sandro] Salvadore e devolvi a Daniel [Bertoni], que entrava como centroavante. Corri esperando a bola, que recebi quando já estava quase na pequena área. Ameacei chutar, e Zoff se atirou até a esquerda. Então a parei [a bola] com o lado direito, a peguei de bico e saiu forte”.

Ao fim do ano, o autor do gol acabou eleito jogador-revelação pela mesma El Gráfico. Sucesso que não lhe subiu a cabeça: “eu ainda vivia na pensão do clube. Havia umas baratas assim de enormes! E quando voltamos da Itália, tive que voltar para ali, o que eu ia fazer? Havia sido campeão do mundo e seguia na pensão”, lembraria bem-humorado em 2008. El Mencho Balbuena, por sua vez, teve a intrincada ligação telefônica costurada pelo narrador José María Muñoz encerrada logo para que “não queimassem as almôndegas” que preparava para o almoço, no fuso horário argentino…

Bochini contra o juventino Francesco Morini e junto ao racinguista Juan Carlos Cárdenas, em retrato que exaltava os talismãs dos gols dos títulos mundiais: tempos de paz nas torcidas de Avellaneda

Como se já não houvesse espaço a mais cerejas na bolo, uma outra foi colocada apenas quatro dias depois do título. Foi nada menos que um clássico de Avellaneda na casa adversária, o que para Bochini se minimizou em um pequeno aborrecimento: “queria voltar a Zárate [cidade natal dele] ver meus pais, mas tínhamos que jogar no domingo contra o Racing”. Os vitoriosos não se furtaram de desfilar com seu mais novo troféu. Até então, o rival tinha uma vitória oficial a mais, 45 contra 44. Não era uma provocação. Eram tempos em que as torcidas dos diferentes clubes argentinos costumavam se unir para torcer por quem representasse o país; não só havia torcedores do Rojo apoiando o Racing em 1967 como haveriam homenagens oficiais do Independiente ao vizinho após este ter garantido o Mundial sobre o Celtic.

Na mesma entrevista que dera em 2018 ao La Nación, Pavoni enfatizou que “quando íamos treinar, passávamos pela casa da Tita [Mattiusi, histórica zeladora e mãe postiça de diversas gerações de jogadores racinguistas], no Racing, e ficávamos tomando mate com eles. Os garotos do Racing vinham ao nosso campo tomar mate conosco. Por aí nos matávamos a pontapés em uma partida, mas ao longo da semana nos juntávamos, havia amizade. Quando o Racing foi campeão do mundo, os recebemos com uma guirlanda de flores no campo de jogo. E quando fomos nós os campeões, em 1973, demos a volta olímpica no campo do Racing levantando a taça e a torcida nos aplaudia. A torcida do Racing nos aplaudia!”.

Festa dos 35 anos, em 2008: o técnico Roberto Ferreiro, Miguel Santoro, Eduardo Maglioni, Agustín Balbuena, Eduardo Commisso, Rubén Galván, Ricardo Bochini e Francisco Sá

A recíproca era mesmo verdadeira: talismã racinguista do festivo 1967, Juan Carlos Cárdenas relembraria em 2017 também ao La Nación como aqueles tempos eram mais pacíficos entre os hinchas: “deixávamos os carros no estádio do Racing e íamos caminhando até o do Independiente, em meio a seus torcedores. Nos abraçavam e nos felicitavam. Hoje as pessoas acham que uma partida é a morte. Não posso entender. Nós fomos muito felizes com o futebol. Nos anos 70, quando o Independiente chegou a várias finais seguidas, eu ia ao estádio deles também, porque queria vê-los, era um momento histórico ter uma equipe argentina na final da Libertadores. E podia pagar meu ingresso, mas quando me viam não me deixavam, o pessoal do Independiente sempre se preocupava em me dar o melhor lugar que tinham disponível. Não estou dizendo nada raro, é o mais normal do mundo”.

Curiosamente, um dos adversários na ocasião era brasileiro – o ponta Manoel Maria, no precoce ocaso da carreira após brilho meteórico no Santos de Pelé, foi utilizado no segundo tempo, com o placar já em 2-1 para a visita. Bertoni, Maglioni e Sá anotaram os 3-1 daquele Clásico de Avellaneda, em 2 de dezembro de 1973 (“aí sim fui à minha casa festejar com minha família”, diria Bochini), histórico também por igualar ambos na estatística de vitórias. Em 1974, então, o Rey de Copas ultrapassou de vez, em alto estilo, por 4-1 (na única vez em que Bochini marcou três vezes em um só jogo) e por 5-1. Nada poderia simbolizar melhor que, a partir dali, a cidade e o dérbi teria definitivamente um novo dono. Tal como o mundo.

*Este título já foi retratado em outros dois especiais nossos: clique aqui e aqui. Abaixo, registros que incluem filmagens coloridas digitalmente pelo fã-clube La Caldera del Diablo; ao fim, registro do desfile antes do histórico clássico com o Racing

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Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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