Primeira Divisão

San Lorenzo passeia no Gasómetro; Lanús, no Cementerio de Elefantes

Romagnoli abraça ao jovem Correa, grande promessa cuerva
Romagnoli abraça ao jovem Correa, grande promessa cuerva

O sábado de futebol foi marcado por dois jogos em que o 3×0 não foi a única coincidência. Nos dois casos, os dois vencedores não fizeram grandes esforços para vencerem. Contaram com desequilíbrio defensivo dos rivais e com um bom calibre de seus atacantes. Se foi fácil para o Ciclón bater no Albo; foi ainda mais tranquilo para o Granate, diante de um Colón de dar dó. Assim, San Lorenzo se reabilita das duas derrotas seguidas, para o Arsenal; e o Granate, das três derrotas consecutivas no Torneio Inicial.

San Lorenzo 3×0 All Boys

Apesar de ser humilhado pelo Arsenal, na final da Copa Argentina, o San Lorenzo desfilava serenidade pura dentro de campo. A tranquilidade era contagiante e logo pareceu resultar em algo ruim. Time pareceu acomodado e despertou no Albo o sentimento de que teria condições de chegar lá. Só que o conjunto da Floresta é dirigido por Falcioni, o que não é garantia de ousadia, mas de preocupação excessiva com a defesa. Desta forma, os primeiros minutos de jogo sinalizavam modorra e cansaço; sinalizava aqueles cantos entusiasmados dos hinchas, de forma a compensarem a ausência de emoção dentro de campo.

Uma chance do Albo. Outra do Ciclón. E parecia ser somente isso em toda a primeira etapa. Foi então que apareceu um dos destaques atuais dos cuervos: Angelito Corrêa. Em boa trama do ataque, o jovem atacante apareceu aos 43 minutos para guardar: 1×0 Ciclón.

Na etapa complementar, San Lorenzo tentou buscar o jogo logo no início. Apenas tentou. O insucesso parecia resultar do grande esforço do elenco na derrota para o Arse. Resultava também do fato de que ao colocar Buffarini praticamente como um ponta-direita, Pizzi sobrecarregava Mercier, que precisava se desdobrar na marcação. Ocorre que o ex-atleta do Bicho tem uma ótima saída de jogo a partir da primeira linha defensiva. Efeito disso é que nem ele nem Buffarini criavam. E a pelota custava a chegar no ataque.

O Albo acordou. Percebeu que tal qual no primeiro tempo poderia incomodar a zaga à frente de Torrico. Mas novamente o problema: o Albo é um time configurado para a marcação. Só isso. Então, quando atua longe da Floresta, dificilmente consegue sair do esquema defensivo. O jeito era viver dos contras. E espaço para isso sobrava. Por duas vezes o Albo quase marcou. Colazo perdeu. Depois foi a vez de Cachorro Cámpora fazer o mesmo. E de forma bizarra.

De tal forma que sem rival dentro da cancha o Ciclón não precisava de grandes esforços para matar a partida. Também perdeu duas ou três chances. Parecia não se incomodar com o fato e continuava com seu jogo administrado e sereno. E sem mudar as pulsações novamente Correa, e com uma marca pessoal, foi o nome do gol: contava 29 minutos da etapa complementar: 2×0.

À essa altura do jogo, Cachorro Cámpora lamentava a chance do empate que tivera nos pés. Não fez, da mesma forma que o ataque do Albo perderia mais uma chance. Não descontou e levou: aos 40 minutos, a trama foi rápida no ataque e Tito Villalba, que havia entrado no lugar de Correa, guardou o terceiro gol para o Ciclón. Depois disso, pouca coisa aconteceu. De concreto foi a reabilitação necessária do conjunto de Pizzi. Quanto à falta de um melhor futebol isto fica na conta do desgaste físico e emocional da equipe azulgraná.

Colón 0x3 Lanús

Em Santa Fe, o Lanús se fez de local diante do Colón e aplicou um convincente 3×0. Assim, o Granate se reabilita de três derrotas consecutivas. O resultado reabilita o Granate, mas piora ainda mais a situação do Sabalero. A equipe de Santa Fe conta já sete jogos sem marcar um único gol. E retrato cruel desta estatística foi dado neste cotejo: não chegou sequer uma vez diante de Marchesín em situação de marcar.

Lucas Melano recebe os abraços dos companheiros. Fez um golaço
Lucas Melano recebe os abraços dos companheiros. Fez um golaço

Em todas as 12 rodadas da competição, em nenhum delas o Colón conseguiu criar mais situações de gols que os seus rivais. Descontado o desastre do Racing, que chegou às redes apenas três vezes, o ataque sabalero é o pior do Inicial, com apenas seis gols convertidos. Juntamente com o Quilmes, têm a segunda pior diferença de gols. São oito gols negativos de saldo para as duas equipes, que são superadas adivinhem por quem? Pelo Racing, que tem um saldo negativo de 17 tentos. A situação é complicada e a pressão já chega até mesmo nas costas do recém-contratado Mario Sciacqua, com apenas duas partidas no banco sabalero.

E no jogo não foi diferente. Só deu Lanús. Pior que isto: só deu Granate sem que a equipe do Sul fizesse grandes esforços. Após especular próximo à área de Montoya, a equipe dos Mellizos chegou às redes no último minuto do primeiro tempo. Velázquez cruzou como quis do setor esquerdo e também sem nenhuma marcação, “Pipito” González guardou: 1×0. Dois minutos antes do gol, Jocobo Mansilla fora expulso e já tinha sinalizado que a vida sabalera seria ainda mais complicada na etapa complementar.

E foi o que aconteceu. Lanús jogou como quis e como se estivesse diante de sua torcida. Além de não criar nenhuma jogada de gol, o Colón fazia ainda pior: não conseguia marcar. Ninguém marcava ninguém e o cenário era patético para os amantes do conjunto local. Símbolo disso foi o segundo gol do Granate. Ayala avançou sem marcação pelo centro do campo e do banco veio o recado. Os Mellizos gritavam para que ele chutasse a pelota, já que tinha espaço para isso. Ele chutou e marcou um golaço: 2×0, aos 12 minutos.

O desempenho visitante era contundente, mas se valia não só de sua própria competência, mas também da incapacidade sabalera de fazer o básico do futebol: ao se reconhecer inferior ao rival, ao menos o time tranca tudo na defesa e tenta aplicar o jogo da marcação. Nada disso acontecia e o que se via no Cementerio era um monólogo bem executado pelo conjunto dos Mellizos. Após várias chances desperdiçadas, aos 33 minutos, Lucas Melano guardou. Novamente a defesa local brincou de marcar e o jogador do Lanús penetrou do centro para o lado esquerdo do campo. Ainda driblou Montoya antes de arrematar cruzado e com estilo: 3×0.

Depois disso, poucas coisas aconteceram, já que o Lanús também resolveu tirar o pé. Além dos números ruins que apresentamos, tem mais um: o Colón venceu apenas 3 partidas das 12 que jogadas; tem 11 dos 36 pontos disputados. A campanha chama a atenção para o péssimo planejamento do conjunto agora dirigido por Sciacqua.

Somente um ano atrás e o Sabalero encantava com um ataque comandado por “el Bichi” Fuertes e como Fede Higuaín e Larrivey. Todo mundo foi embora. Nos seus lugares – e de outros jogadores – vários meninos da base foram colocados no time principal. Alguns deles se mostram incapazes para isso; outros, embora se mostrem promissores, indicam que não suportam carregar o Colón nas suas costas. Dos que vieram, apenas Tito Ramírez disse ao que veio.

Bem diferente é o caso do Lanús. Embora tenha somente 16 pontos na competição, e frequente o meio da tabela, o Granate tem um dos elencos mais equilibrados da Argentina. Deve brigar por coisas grandes. E tem chances de conquistá-las.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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