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Elementos em comum entre Boca e River (Parte III)

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Caniggia, não esquecido pelos brasileiros desde 1990, chega a ser mais ídolo na seleção do que na dupla

Nesta terceira parte, abordaremos o grupo daqueles que defenderam a Argentina tanto por Boca quanto por River. Foram um total de doze jogadores; número que, como já antecipamos na 1ª parte (aqui), é o maior de um clássico em relação à Albiceleste, com as demais – incluindo estrangeiras – oferecendo no máximo dois cada, a não ser que sejam considerados alguns clássicos “indiretos” (Boca-Racing e River-Racing são o que mais se aproximam, com cinco cada).

Se o Boca tem vantagem em expressão e taças internacionais e em vitórias no dérbi, e o River é superior em conquistas nacionais, em um ponto se equivalem: estão empatados em número de jogadores que, vindo deles, jogaram pela seleção. Cada um teve 145 (caso Fernando Gago, que estreara por ela já pelo Real Madrid, jogue contra o Paraguai, seu Boca ultrapassará o rival), dos quais doze em comum. Já abordamos alguns nesta série. No primeiro capítulo (aqui), falamos de Francisco Taggino e Alberto Tarantini. No segundo (aqui), de Oscar Ruggeri, Carlos Tapia e José Luis Villarreal.

Taggino foi duas vezes um pioneiro. Este ponta-esquerda foi o primeiro jogador do Boca na seleção, realizando dois jogos contra o Uruguai há cem anos, em 1913. E foi o primeiro em comum da rivalidade: seu jogo seguinte, em 1916, foi pelo River, pelo qual esteve outras duas vezes na Albiceleste, em 1917 e 1919. Foi o único da era amadora da rixa na seleção. E, também nada desprezível: em um tempo em que a dupla, ainda apenas rival de bairro (em La Boca) não havia ainda sido campeã argentina.

Mais de trinta anos se passaram para um segundo elemento. E também já falamos dele recentemente: o atacante José Manuel Moreno, a quem dedicamos um especial há cerca de dez dias (aqui). Tido pelos portenhos mais antigos como ainda melhor que Maradona, Moreno foi um dos principais craques argentinos dos anos 30 e 40, uma geração de ouro ocultada pela Segunda Guerra.

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“El Charro” Moreno, melhor que Maradona para alguns; “El Loco” Gatti, recordista de jogos no campeonato argentino, segundo que mais jogou pelo Boca e quem mais pegou pênaltis no país: 26

Entre 1936 e 1947, Moreno jogou 32 vezes pela Argentina vindo do River Plate, onde se consagrou (foi pentacampeão pelo clube), embora curiosamente fosse torcedor do Boca. Passou rapidamente pelo rival em 1950: os auriazuis quase haviam sido rebaixados no ano anterior e, com El Charro, foram vice-campeões. Seu desempenho o fez jogar outras duas vezes, naquele ano, pela seleção.

Duas décadas e meia depois, veio o terceiro, o goleiro Hugo Gatti, recordista de jogos do campeonato argentino, 765. Sua carreira aconteceu só em seu país, entre 1962 e 1988. Revelado no Atlanta, o fanfarrão Gatti passou ao River em 1964, alternando-se com o mito Amadeo Carrizo nas traves. Foi convocado para a Copa do Mundo de 1966, mas só em 1967 fez seus dois primeiros jogos pela Argentina. A fase má fase do River, que nada ganhou entre 1957 e 1975, não o ajudou.

Já veterano, ressurgiu justo em 1975, no Unión, jogando a Copa América vindo do clube de Santa Fe. Dali, passou ao Boca em 1976, ano em que venceu tanto o Metropolitano quanto o Nacional, os dois torneios anuais dos principais clubes do país. Foi o titular ainda nas primeiras Libertadores (bi de 1977-78) e Intercontinental (1977) vencidas pelos xeneizes. Manteve-se na seleção e era cotado para ser titular na Copa de 1978. Mas acabou fora dos planos de Menotti ao pedir dispensa para repousar de uma lesão. Jogou pela Argentina até junho de 1977, com doze partidas como boquense.

Um dos colegas de Gatti naquele Boca de 1976-77 foi o lateral Tarantini, desde 1974 na seleção. Jogou 22 vezes pela Argentina como bostero, até 1977. Em desgaste com o presidente Alberto Jacinto Armando (nome oficial da Bombonera), não renovou seu contrato e jogou sem clube a Copa de 1978. Após escalas no Birmingham City (foi um dos primeiros argentinos no futebol inglês) e no Talleres, chegou em 1980 ao River. Manteve-se na seleção por outros 23 jogos, até a Copa 1982, onde também foi titular. El Conejo é um raríssimo personagem de sucesso em ambos.

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“El Tigre” Gareca, vitorioso técnico do Vélez desde 2009; e “El Vasco” Olarticoechea: uma Copa do Mundo pelo River, outra pelo Boca e outra pelo Racing

Depois da Copa 1982, a dupla entrou em crise financeira, assim como todo o país no período final da ditadura, momento agravado também pela Guerra das Malvinas. O Boca sofreu mais, chegando a ter a Bombonera simplesmente fechada em 1984. Não aguentando mais, dois de seus símbolos forçaram uma greve de jogadores só encerrada com polêmica saída ao rival no início de 1985: Ruggeri e o centroavante Ricardo Gareca. Em troca, o River passou Julio Olarticoechea e Tapia ao Boca. Todos os quatro seriam novos elementos em comum e só Gareca não foi à Copa 1986.

O próprio Gareca, porém, teve papel decisivo na Copa, já que foi seu o salvador gol da classificação ao torneio. Promessa do Boca, estreou pela Argentina em outubro de 1981, após voltar de satisfatório empréstimo do Sarmiento de Junín e enfim se firmar nos auriazuis (marcava muito no River: 8 gols em 14 jogos). Em 1983, teve seu outro grande momento na seleção: fez o gol da vitória de 1-0 no Brasil que encerrou o maior jejum da Albiceleste contra o rival, treze anos sem vencê-lo.

Foram 20 jogos e 5 gols de El Tigre como boquense, até 1984. No primeiro semestre de 1985, realizou outros seis, já pelo River, com um gol, aquele salvador. Mas resolveu ir no meio do ano ao América de Cali. Embora o time estivesse poderoso, sendo trivice na Libertadores de 1985-87, isso lhe atrapalhou. Não jogou mais pelo país, ao contrário do colega Ruggeri, que estreara pela seleção em 1983, seguiu no River e foi membro ativo do grupo que ganhou tudo em 1986: nacional (o primeiro desde 1981) e as primeiras Libertadores (sobre o América de Gareca) e Intercontinental do Millo.

Ruggeri, que também foi titular na vitoriosa Copa do Mundo de 1986, ficou no River até 1988. O zagueiro defenderia a seleção ainda pelo San Lorenzo, na Copa de 1994. Só El Cabezón jogou por ela vindo dos três grandes clubes da cidade de Buenos Aires. É também quem mais jogou pela Argentina vindo de clubes diferentes, oito, dentre eles também o Real Madrid (na Copa de 1990) e o Vélez. Pelo Boca, foram 9 jogos entre 1983-84 e pelo River, 30 entre 1985-88.

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Villarreal deu mais certo no Boca e “El Negro” Cáceres, no River

Fora Ruggeri, só outro jogou pela Argentina por três dos cinco grandes clubes do país, o volante (ou zagueiro) Olarticoechea, que foi a três Copas como jogador de cada um deles. Em 1982, como jogador do River, embora só estreasse pela seleção em 1983, jogando 3 vezes. Os jogos seguintes só viriam a partir de abril de 1986, pelo Boca: dois amistosos pré-Copa e todos os sete jogos da Argentina no mundial. Em 1987, passou ao Nantes. El Vasco esteve na Copa de 1990 como jogador do Racing, clube do coração e onde surgira nos anos 70 e a para o qual voltara em 1988.

El Chino Tapia surgiu como um meia-armador canhoto ao estilo classudo bem apreciado no River. Ainda promessa, estreou pela Argentina em 1980, jogando uma vez como millonario. Mas nunca explodiu em Núñez. Voltaria à seleção só em maio de 1986, já vindo do Boca. Tem história nos auriazuis: ao lado de Olarticoechea, é o único campeão mundial pela Argentina vindo do clube. E foi quem mais foi e voltou a ele, tendo quatro diferentes passagens pelos xeneizes. Esteve por eles de 1986-88 na seleção, em nove jogos: dois na Copa 1986 e quatro na Copa América de 1987.

Outro meia ofensivo, Villarreal, foi o próximo. Foi uma das opções pensadas por Alfio Basile, estando desde o início do primeiro ciclo do técnico na Albiceleste: estreou em 1991. Mas nunca se consolidou; o único torneio acabou sendo a primeira Copa das Confederações, em 1992, ano em que foi campeão argentino pelo Boca – que não ganhava nada nacionalmente desde 1981 (veja). Mas, em meados de 1993, passou ao River. Jogou em agosto contra o Paraguai seu último jogo pela Argentina e o único como millonario: passou à reserva ali e perdeu de vez lugar na Copa 1994. Pelo Boca, 7 jogos.

A seguir, um nome conhecido dos brasileiros: Claudio Caniggia. Como Moreno, Gatti e Tapia, foi um torcedor do Boca que surgiu no River (lembre aqui). El Pájaro esteve no vitorioso ciclo 1985-86 do Millo, mas na reserva. Ainda como joia não-lapidada, estreou em 1987 pela Argentina, destacando-se na Copa América. Ficou em Núñez até meados de 1988. Naquela etapa da carreira, o veloz ponta jogou 8 vezes pelo país. Já veterano, chegou em 1995 ao Boca, junto com o amigo Maradona.

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Vivas, o último. Sua estreia pela seleção vindo do River ocorreu há dez anos. Ao lado, possível escalação com os onze profissionais dessa lista

Eles não foram suficientes para ajudar a equipe a ganhar títulos – depois de 1992, o seguinte só viria em 1998, já com Carlos Bianchi e sem eles. As taças foram o que faltaram a Caniggia para ficar mais ídolo no Boca, pois ele teve seus bons momentos, chegando a ser pedido para a Copa de 1998. Apesar dos cabelos compridos de Cani, Daniel Passarella lhe havia dado três oportunidades entre abril e junho de 1996, ano em que o loiro chegou a marcar três gols em um Superclásico. Mas, ainda em 1996, ele largou temporariamente a carreira por conta do suicídio da mãe, perdendo continuidade.

Depois foi a vez do zagueiro Fernando Cáceres, colega de Villarreal no River. Titular lá, estreou na seleção em 1992. Ficou até 1993 no clube, jogando seis vezes pela Argentina e vencendo a Copa América; jogou a Copa de 1994 já pelo Real Zaragoza, onde ficou até 1996. Neste ano, embora torcedor da Banda Roja, passou ao Boca pelo segundo semestre (no período sabático de Caniggia). Ainda recém-chegado por lá, onde não brilharia, jogou uma vez pela Argentina. Hoje, El Negro está cego de um olho, após um tiro na cabeça em assalto que quase o matou em 2009.

Por fim, o zagueiro Nelson Vivas, colega de Cáceres e Caniggia naquele Boca de meados dos anos 90. Veloz, bom no jogo aéreo e na marcação, foi parte da espinha-dorsal da seleção até 2002, tanto que esteve na Copa de 1998 mesmo vindo da 2ª divisão suíça (conquistara o acesso, pelo Lugano). Só não esteve na de 2002 por lesão. Pelo Boca, jogou 9 vezes de 1994-97. No fim da carreira, chegou em 2003 ao River. Campeão do Clausura, acabou jogando em setembro seus dois últimos jogos pela Albiceleste. Ainda que tenha sido chamado mais por renome do que por boa fase, segue exatos dez anos depois, em setembro de 2013, como o último da rivalidade na seleção.

Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-RacingRiver-IndependienteIndependiente-San LorenzoRacing-San LorenzoRacing-IndependienteRiver-RacingBoca-IndependienteBoca-San LorenzoRiver-San Lorenzo, Boca-River IBoca-River IIBoca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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