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Elementos em comum entre Boca e River (Parte II)

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Ruggeri defendeu a Argentina e foi campeão pelos dois (e, ainda, pelo San Lorenzo). Mas, embora torcedor do Boca, ficou ídolo só no River

Nesta segunda parte, falaremos dos campeões em comum por Boca e River. Algo mais raro do que poderia: na maior parte do tempo, os rivais não estiveram juntos em boa fase. E, quando estiveram, a rivalidade naturalmente ficou mais ferrenha, inibindo transferências entre si.

Mesmo assim, ser campeão nos dois não chega a ser um atestado de idolatria mútua. Há até casos de jogadores campeões em um lado mas que acabaram mais adotados no outro, ainda quem sem taças nele: nada menos que Caniggia e Batistuta viveram isso, ambos reservas em elencos vencedores do River e depois de brilho individual maior no Boca. No especial anterior (clique aqui), já abordamos três que se encaixariam neste: Norberto Menéndez, Alberto Tarantini e (como técnico no Boca) Alfredo Di Stéfano. Vamos aos demais:

Os primeiros foram Alfredo Elli e Alfredo Martín, quando a dupla era apenas rival de bairro, em La Boca, longe de magnitude atual. Em 1914, foram titulares no primeiro troféu internacional do River, a Copa Competencia, torneio travado entre clubes das associações argentina (apesar do nome, restrita a Buenos Aires e arredores), rosarina e uruguaia. Um ano depois, Elli virou sócio do Boca e foi caudilho do meio-campo boquense até resolver parar, em 1927. Com noção de posicionamento e um raçudo vaivém entre a defesa e o ataque, estilo que se tornaria muito apreciado pela torcida xeneize para seus meias, compensava a falta de técnica.

Ganharam os primeiros títulos argentinos auriazuis, em 1919, 1920 e 1923. Martín, que jogava no flanco esquerdo do ataque, passou primeiro ao Tigre, onde chegou à seleção. Manteve-se nela quando chegou ao Boca, em 1918, jogando a Copa América de 1919. Também neste ano, Elli e Martín (que em 1919 foi ainda o artilheiro do primeiro campeonato argentino vencido pelo Boca), agora bosteros, venceram outra Copa Competencia. Depois deles, houve os casos do meia Camilo Bonelli e Ricardo Zatelli, os primeiros vira-casacas da era profissional.

Bonelli até jogou uma vez pela seleção, em 1930, vindo do Millo. Eles tiveram participação média no campeonato de 1932, que foi só o segundo que o clube, ainda um emergente, venceu – jogaram 11 e 10 vezes, respectivamente, com Zatelli marcando o último gol dos 3-0 na final contra o Independiente (veja). Chegaram em 1934 ao Boca, onde Bonelli atuou só 3 vezes no time campeão argentino naquele ano. Zatelli jogou 8 em 1934 e 15 em 1935, quando o clube foi bi. Mas sua continuidade foi só um pouco maior que a de Bonelli e saiu em 1936.

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Zatelli e “Puma” Morete

Juan Vairo fez o inverso: do Boca, onde foi campeão em 1954 jogando só 5 vezes, ao River (depois de escalas na Juventus e no Liverpool uruguaio), onde seu irmão Federico Vairo era ídolo (jogou a Copa de 1958). Já Juan não teve êxito, jogando só 3 vezes no time campeão de 1957. Depois desse torneio, o River viveu jejum de 18 anos sem ganhar nada e perdendo de forma traumática algumas taças.

A seca acabou em dose dupla: em 1975, faturou tanto o Metropolitano quanto o Nacional, os dois torneios que dividiam o calendário anual dos principais clubes do pais. O ponta Carlos Salinas esteve presente, mas muito pouco: só 3 vezes no Metro e uma no Nacional. Torcedor do Boca, se deu muito melhor no rival: fez até um dos gols nos 3-0 sobre o Borussia Mönchengladbach na Intercontinental de 1977, dentro da Alemanha, na primeira vez em que os xeneizes venceram o torneio. Veja aqui.

Carlos Morete era outro participante do dourado 1975 millonario, mas como protagonista, sendo até o artilheiro do Metro. El Puma foi um dos principais atacantes do River, e grande carrasco do Boca, no qual marcou 9 gols em 13 jogos só pela Banda Roja. Tais fatores o prejudicaram quando chegou aos auriazuis em 1981, ainda mais tendo a concorrência de Miguel Brindisi e Maradona no ataque. Na sombra deles, foi campeão do Metro daquele ano.

Um dos titulares do tal Metro 1981 foi o zagueiro Oscar Ruggeri. Ele era ídolo e recentemente até se declarou torcedor do Boca. Mas não aguentou a terrível crise econômica vivida pelo clube a partir de 1982, a atingir também outros grandes clubes do país. Em 1985, forçou transferência para o River juntamente com o atacante Ricardo Gareca. E ter ganhado tudo em Núñez (em 1986, foi campeão argentino e venceu as primeiras Libertadores e Intercontinental do Millo, fora a Copa do Mundo) só fez El Cabezón receber ainda mais antipatia xeneize.

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“Chino” Tapia, mais identificado com o Boca, e “Bruja” Berti, com o River

Em troca por Ruggeri e Gareca, o River mandou ao Boca o defensor Julio Olarticoechea e o meia Carlos Tapia. Como Ruggeri, ambos estiveram na Copa de 1986; são os únicos jogadores que, como xeneizes, venceram o mundial. El Chino Tapia teve diversas idas e vindas pelo Boca, em quatro diferentes passagens: é quem mais foi e voltou ao clube, pelo qual venceu o Apertura 1992. Desde aquele Metro 1981, o time não era campeão argentino: veja.

Em 1990, o então atacante Sergio Berti, reserva no título da Supercopa Libertadores 1989, se via rompido com a direção técnica boquense e teve seu passe adquirido pelo empresário Gustavo Mascardi, que o repassou ao River. La Bruja Berti se converteria em um bom volante-esquerdo que passou três vezes pelo Millo nos anos 90, com velocidade, panorama, bom toque e até alguns gols – pecava só pelo temperamento forte. Venceu seis campeonatos argentinos e a Supercopa 1997, último troféu internacional do time (ver aqui).

Outros colegas de Tapia em 1992 foram o meia-armador José Luis Villarreal e o atacante Gabriel Amato. Villita não só era titular como também jogador de seleção. Mas já em 1993, passou ao rival, não se eternizando como ídolo boquense. Não se deu bem com a troca: foi reserva nas taças do Apertura 1993 (4 jogos) e 1994 (2) e perdeu lugar na Copa de 1994. No Apertura 1994, foi novamente colega de Amato, que saíra antes do Apertura 1992, tendo vencido a Copa Master da Supercopa.

No River, Amato ficou até 1996. Ainda que nunca tenha sido titular absoluto, conseguiu mais espaço. Participou ativamente da primeira vez em que a Banda Roja foi campeã argentina invicta, no Apertura 1994, além de ter vencido a Libertadores 1996, ainda hoje a última de Núñez. Ele, que era torcedor boquense, até passou a preferir o grande rival. Lembre aqui.

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O ex-gremista Amato e Maidana, mais ligados ao River

O campeão em comum mais recente evidencia a grande fase do Boca e o declínio apresentado pelo River neste início de século. O zagueiro Jonathan Maidana venceu nada menos que uma Libertadores pelos auriazuis (a última deles, em 2007) e uma 2ª divisão pelo River, em 2012. Apesar do contraste e de ter sido do Boca desde os juvenis, se apegou a onde está atualmente, a ponto de ter tatuado em si a data em que o Millo garantiu seu regresso à elite.

Atualizações após a matéria: Maidana venceria também o Torneio Final 2014, a superfinal 2013-14, a Sul-Americana 2014 e a Libertadores 2015 pelo River. Em algumas dessas campanhas foi colega de Bruno Urribarri, presente no Boca também em 2007 mas sem participar da Libertadores ou de outras campanhas campeãs do rival. Na Libertadores 2015, foi colega do volante Nicolás Bertolo, outro reserva no Boca durante a Libertadores 2007. Ambos se tornaram os primeiros a vencer o torneio pela dupla.

Considerando os técnicos, o Boca tem larga vantagem. Quatro grandes ídolos do River já treinaram elencos campeões do rival; o inverso não ocorreu. Já falamos de Alfredo Di Stéfano (único campeão por ambos como treinador, além de campeão como jogador pelo time de Núñez) no especial anterior. No Boca, ele treinou os campeãos nacionais de 1969.

No bi de 1964-65, o clube teve três técnicos, a começar por Aristóbulo Deambrossi, ponta riverplatense na virada dos anos 30 para os 40. Também foi vice para o Santos de Pelé na Libertadores 1963. Depois, ninguém menos que Adolfo Pedernera, considerado por Di Stéfano o melhor jogador que viu, centroavante de La Máquina, como era chamado o grande esquadrão do River nos anos 40 – foi só após a sua saída, em 1946, que Di Stéfano conseguiu ser titular.

Pedernera também começou treinando o time que seria campeão em 1965, mas um acidente de carro o forçou a deixar o comando para o ex-zagueiro Néstor Rossi, ex-colega dele e de Di Stéfano no River dos anos 40 e no poderoso Millonarios de Bogotá nos anos 50. Esse bi é muito lembrados pelo Boca ter levado a melhor em Superclásicos decisivos nas retas finais, com os gols dos triunfos sendo de Norberto Menéndez, que nos anos 50 já havia sido tricampeão pelo River. Falamos dele no especial anterior.

Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-RacingRiver-IndependienteIndependiente-San LorenzoRacing-San LorenzoRacing-IndependienteRiver-RacingBoca-IndependienteBoca-San LorenzoRiver-San Lorenzo, Boca-River I, Boca-River IIIBoca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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