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Elementos em comum entre River e San Lorenzo

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O ex-botafoguense Abreu

Hoje é dia de River x San Lorenzo pela Sul-Americana. Ambos têm motivos para vencer tal torneio secundário: ao Millo, que não é campeão continental deste a Supercopa 1997, aliviaria um pouco a seca internacional. Ao Ciclón, campeão da primeira Sul-Americana e que vem montando um elenco promissor, seria o passaporte para a Libertadores 2014. O CASLA é o único grande que ainda não venceu a Libertadores, e tal sigla (de Club Atlético San Lorenzo de Almagro) é satirizada por rivais como Club Atlético Sem Libertadores da América. Ambos, por sinal, já fizeram grandes duelos pelo torneio.

O River teve quatro jogos duríssimos contra os cuervos na vitoriosa Libertadores 1996 (veja aqui). O troco veio em 2008: com dois jogadores a menos e perdendo de 0-2 no Monumental, o San Lorenzo conseguiu chegar ao empate que o levou às quartas-de-final. Mas ficou a pendência de ser eliminado nelas. Apesar de estarem longe dos triunfos de outros tempos, trata-se do confronto de grandes que mais reúne campeões em comum, em boa dose reflexo dos anos 70, que começaram dominados pelos azulgranas e terminaram empilhados pela banda roja. Vamos a quem se destacou em ambos:

Pedro González

Não era virtuoso e a aparência esquelética também não ajudava. Mas era rápido e de bom arremate para assistências e marcar alguns gols. Chegou ao San Lorenzo em 1966 e se consolidou na taça de 1968, substituindo o suspenso Narciso Doval (o mesmo de Flamengo e Fluminense) na ponta-direita. Na campanha, que falamos recentemente, aqui, marcou 10 vezes, só três a menos que o artilheiro Fischer (depois, do Botafogo). Saiu em 1971 e voltou rapidamente em 1973 antes de ir ao futebol peruano.

Do Peru, chegou já à beira dos 30 anos ao River em 1975, alimentando críticas de que o Millo o contratara em fim de carreira. González as superou ficando até 1981 e sete títulos argentinos depois. Os mais importantes, os duplos que quebraram o jejum no ano em que chegou. Lembrado também pelo do Metro 1977, ao marcar o gol da vitória de virada no Boca na Bombonera na penúltima rodada, que colocou o River na liderança, até voltou à seleção. Trabalha hoje nos juvenis millonarios.

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González e o ex-gremista Ortiz, titular da Argentina campeã em 1978

Oscar Ortiz

Um dos últimos grandes pontas, raça em exceção, ainda que os críticos achassem que “driblava demais”. Era a sua característica: um ponta driblador e habilidoso. Ficou de 1971-76 no Ciclón, na melhor época do clube: ganhou três argentinos, embora só no último, em 1974, fosse titular. Em 1975, Héctor Scotta conseguiu um recorde anual de 60 gols no país muito por conta das assistências de Ortiz. Passou ao Grêmio (onde jogara o irmão de Héctor, Néstor Scotta) em 1976, não se dando tão bem. Logo foi ao River. Ganhou quatro títulos em Núñez entre 1977-81 e foi um dos quatro millonarios titulares da Argentina campeã mundial pela primeira vez. Já havia ido à seleção quando ainda estava no CASLA.

Obrigado pela mãe a jogar futebol, El Negro já havia se declarado à Placar em 1976 como um “desencantado”: “futebol é uma coisa muito triste. (…) Sou um frustrado. Ou é o dirigente que tenta enganar, ou é o técnico querendo modificar o seu estilo, o público que exige vitórias e mais vitórias. Um mundo tão enganoso, que muitos astros acabaram tão miseráveis como iniciaram (…). Amanhã podem lhe virar a cara”. Parou com só 30 anos, reserva no Independiente campeão de 1983.

Héctor Veira

Não foi o maior artilheiro nem o maior campeão do Ciclón. É dito como torcedor do rival Huracán (ver aqui), onde também jogou. Em sua única taça como jogador, em 1968, era reserva; o corpo pagava pelos excessos de boemia. Mas foi eleito em 2008, no centenário, como maior ídolo dos primeiros cem anos cuervos. O carisma muito lhe ajudou, bem como a habilidade que tinha no início dos anos 60. El Bambino liderava o jovem e irreverente ataque apelidado de Carasucias, onde estava também Doval. Com 18 anos, foi artilheiro do campeonato argentino de 1964. Mas o mais decisivo para a eleição do folclórico Veira foram as numerosas idas e vindas como técnico, cinco entre 1980-2005.

Treinou um time recém-saído em 1982 da 2ª divisão (cuja volta olímpica teve ele, então treinador do adversário Banfield, como carregado pelos torcedores, em vez do técnico campeão José Yudica; veja aqui) ao vice argentino de 1983. Em 1988, foi com o time às semis da Libertadores, o mais perto que o CASLA chegou da taça. E em 1995, conduziu o elenco que finalizou no Clausura 1995 um jejum de 21 anos sem taças. Foi como técnico que esteve no River, de passagem rápida mas da mais importante: campeão de tudo em 1986 – nacional e as primeiras Libertadores e Intercontinental de Núñez – veja.

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Veira e Ruggeri no San Lorenzo e celebrando no River

Oscar Ruggeri

Surgiu como um raçudo zagueiro no Boca, protagonista do maradoniano título de 1981. Mas estrelou também o polêmico troca-troca com o arquirrival em 1985: os millonarios Carlos Tapia e Julio Olarticoechea foram trocados pelos xeneizes Ricardo Gareca e ele. Foi quem se deu melhor: ao contrário de Gareca, que não durou muito no River, seguiu no clube até 1988, ganhando tudo em 1986: argentino, Libertadores (a primeira do River, sobre o América de Cali do próprio Gareca), Intercontinental (única de Núñez) e até a Copa do Mundo como titular. Em 1988, passou a rumar por diversos clubes do exterior, o Real Madrid entre eles. É quem mais a Argentina convocou de clubes diferentes, oito.

No San Lorenzo, não foi diferente: foi à Copa 1994, quando veio ao Ciclón. Novamente treinado por Veira, El Cabezón foi líder na quebra do jejum de 1995 e quase eliminou o River na Libertadores 1996 (veja aqui). É o único que foi campeão e jogou pela seleção vindo dos três grandes clubes de Buenos Aires; Racing e Independiente são de Avellaneda. Também foi duas vezes técnico cuervo, embora sem taças, conseguidas justamente pelos sucessores (Pellegrini e Díaz) dos elencos que formou.

Ramón Díaz

Díaz surgiu como promessa campeã mundial juvenil com Maradona em 1979. No River, teve dois ciclos: ainda como um tímido atacante, entre 1978-81, com mais explosão nos pés do que nas palavras e nunca firmado como titular, embora até fosse à Copa 1982 (marcou belo gol de honra no Brasil). Voltou dez anos depois com experiência de Europa – protagonista no título italiano da Internazionale em 1989, último dela até 2005 – para jogar dois anos mais, já se destacando também pela verborragia além dos gols. El Pelado foi artilheiro e campeão argentino assim que regressou, em 1991.

Cinco vezes campeão como jogador, se daria ainda melhor como técnico: é o mais vitorioso do River na função, com outros quatro nacionais, a Libertadores 1996 e a Supercopa 1997; lembre aqui. Após sair em 2002, voltou em 2013 na esperança de recolocar Núñez nos trilhos de outros tempos. Nesse período, seu trabalho de maior destaque foi no San Lorenzo campeão argentino pela última vez, em 2007: veja. Era o técnico do clube naquele épico frente o River na Libertadores 2008, junto de outros do ex-clube, como Ferreyra, Tula, Ledesma e D’Alessandro.

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Ramón Díaz, novamente atual técnico do River, e Zapata

Em comum na seleção…

Fora González, Ortiz e Ruggeri, só outro jogou pela Argentina vindo de ambos, Gustavo Zapata. A titularidade nas taças de 1990 e 1991 pelo River o levou à Albiceleste; esteve no vitorioso primeiro ciclo de Alfio Basile. Mas sua ida ao Japão em 1993 acabou decisiva para tirá-lo da Copa 1994, embora tenha chegado a defender a seleção pelo Yokohama Marinos. Veio em 1996 ao CASLA: o meio-campo do brasileiro Silas e Néstor Gorosito era talentoso para armar jogo, não para recuperar a bola – função que Zapata vinha fazendo bem até romper os ligamentos do joelho em abril de 1998 e perder de vez as chances para a Copa da França. Saiu em 2000.

…e em comum em títulos

Fora González, Ortiz, Ruggeri e, como técnico do Ciclón, Díaz, outros foram campeões. Os primeiros, obscuros: o lateral-esquerdo Cecilio Wilson jogou só 5 vezes no título cuervo de 1933 e uma no millonario de 1936. O centroavante Roberto Aballay sofreu com a concorrência de Adolfo Pedernera no River e René Pontoni (de quem falamos aqui) no CASLA. Campeão em 1941 e em 1946, jogou só uma vez em ambas as taças. Héctor Pitarch foi um irregular volante do Ciclón bi em 1972, na sombra dos titulares Roberto Espósito e Pedro Chazarreta. No River, jogou 19 vezes na taça de 1977.

Pablo Comelles teve altos e baixos nos títulos de 1975, 1977, 1979 e 1980. Reforçou o San Lorenzo em 1982, sendo o lateral titular que venceu a 2ª divisão. Outro lateral, Eduardo Abrahamian, foi colega seu nos dois clubes. Como Aballay, El Turco (embora seu sangue fosse armênio) ganhou dois títulos e só jogou uma vez em ambos: Metro 1980 e a segundona 1982. Jorge Borelli foi mais ídolo no Racing, pelo qual foi à Copa de 1994, do que na dupla de hoje. No River, este zagueiro foi campeão de tudo em 1986, nem sempre titular. Veira, seu técnico ali, pediu-o ao CASLA em 1995. Borelli foi campeão do Clausura, mas machucou o joelho na 2ª rodada e perdeu o restante.

O goleiro Oscar Passet passou a virada dos anos 80 para os 90 no River: campeão em 1990 (jogou 5 vezes) e 1992, mas na reserva de Ángel Comizzo. Foi ao San Lorenzo para ser titular por quase todos os anos 90. Campeão em 1995, foi à seleção. Um de seus colegas foi o volante Roberto Monserrat; chegou em 1993 e de cara foi artilheiro do time. El Diablo fez boa dupla com o brasileiro Silas em 1995. Após a queda para o River nas quartas da Libertadores 1996, foi a Núñez. Em 1997, ganhou Clausura, Apertura e Supercopa. Falamos aqui e aqui.

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“El Diablo” Monserrat e Ameli, ex-Internacional e São Paulo

Guillermo Rivarola foi outro que esteve no início dos anos 90 no River. Cabeça-de-área titular nas taças de 1991, 1993 e 1994 e da Libertadores 1996, era um não-craque em um time estrelado. Esteve de 2000-02 no San Lorenzo, começando como titular no vitorioso Clausura 2001. Mas rompeu os ligamentos do joelho na 13ª rodada e não foi mais o mesmo. Horacio Ameli, colega naquele Clausura, nunca foi porém unânime na torcida. Venceu o Apertura e a Mercosul em 2001, pedindo a rescisão para ir ao Brasil. No River, esteve nos vitoriosos Clausuras 2003 e 2004, sob o comando do mesmo técnico do vitorioso 2001, Manuel Pellegrini, antecessor de José Mourinho no Real Madrid.

Gastón Fernández era uma pedra não-lapidada do River. Jogou uma no vitoriso Clausura 2003. Sucessivamente emprestado, brilhou no Estudiantes, onde está desde 2009, e, antes, no CASLA: campeão em 2007 e artilheiro do time. Aquele plantel de Ramón Díaz era cheio de outros refugos do Millo: o volante Cristian Ledesma (Apertura 1999, Clausura 2000, Clausura 2002, 2ª divisão 2012) e os laterais Osmar Ferreyra (Clausura 2003) e Cristian Tula (Clausura 2004) jogaram lá no início do século. Ledesma e Ferreyra estão hoje de volta a Núñez, após caírem com Tula no Independiente.

O ídolo botafoguense Sebastián Abreu, hoje no Rosario Central, teve duas passagens pelo San Lorenzo, 1996-97 e 2000-01. Somou 41 gols em 76 jogos, especialmente na primeira passagem. O título só veio na segunda, no Clausura 2001, na reserva do artilheiro Bernardo Romeo. No River, o uruguaio esteve entre 2008-09, participando do último título do Millo na elite, o Clausura 2008 – ver aqui. Sua insistência em ir à Real Sociedad magoou a torcida. O zagueiro Eduardo Tuzzio foi colega de Abreu nas duas ocasiões (não muito bem: chegaram a discutir quem bateria um pênalti no River em 2001) e, como El Loco, também é mais querido no Ciclón.

No San Lorenzo, Tuzzio jogou duas vezes no Clausura 1995 e na reta final do Clausura 2001, após a lesão de Guillermo Rivarola. No River, refez com Ameli dupla defensiva dos tempos de CASLA e chegou à seleção em 2005, mas nesse mesmo ano descobriu que a esposa tinha caso extraconjugal com o amigo. O elenco estava nas semifinais da Libertadores e se abalou, posicionando-se a favor de Tuzzio. Ameli entrou no ostracismo. Mas o escândalo também fez Tuzzio deixar o clube, sendo emprestado ao Real Mallorca por um ano. Embora campeão no Clausura 2008, virou bode expiatório dos vexames pós-taça, quando o time ficou em último no Apertura 2008. Foi em 2009 ao Independiente.

Atualizações após a matéria: os mencionados Osmar Ferreyra (na reserva), Cristian Ledesma e o técnico Ramón Díaz viriam a ganhar também o Torneio Final 2014 e a superfinal 2013-14 com o River; e Ferreyra também a Sul-Americana 2014 e a Libertadores 2015 (embora tenha sido relacionado em apenas um jogo). E o San Lorenzo, enfim, conquistou a própria Libertadores, além do Torneio Inicial 2013; os dois clubes se enfrentaram pela superfinal da temporada 2013-14 e também pela Recopa Sul-Americana 2015, com o River vencendo ambas.

Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-RacingRiver-IndependienteIndependiente-San LorenzoRacing-San LorenzoRacing-IndependienteRiver-RacingBoca-IndependienteBoca-San Lorenzo, Boca-River IBoca-River II, Boca-River IIIBoca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.

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Pellegrini, atual técnico do Manchester City, e Tuzzio

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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