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Há dez anos, o Boca de Schelotto e Delgado se vingava do Santos na final da Libertadores rumo ao Penta

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Morumbi, 02/07/2003. Santos e Boca Juniors decidiam o título da Libertadores, da mesma forma que fizeram em 63. Naquela época, Pelé e sua trupe levaram a melhor. Há 10 anos, porém, Diego e Robinho cairam diante dos comandados de Carlos Bianchi, e a equipe chegou à quinta volta olímpica, em São Paulo.

Desde o início, já peço licença aos amigos leitores para passar uma visão pessoal dessa Copa. Afinal de contas, das quatro conquistas nos anos 2000, esta para mim trouxe maior satisfação como torcedor Xeneize. 90% disso graças ao resultado desta final.

Não eram exatamente tempos difíceis para o clube. Apesar do sucesso dos rivais em três torneios locais seguidos (Apertura 2001, Clausura e Apertura 2002) e da derrota impactante em 2002 no Superclássico na Bombonera, o Boca ainda tinha resultados de elite. Dividiria justamente com o River as atenções na Argentina como favorito nessa Libertadores 2003.

Fase de grupos também sem grandes emoções. Três vitórias nos primeiros duelos contra Colo-Colo, Independiente de Medellin e Barcelona de Guayaquil. Classificação tranquila, mas na vice-liderança do grupo 7 devido aos maus resultados nos últimos jogos (dois empates e uma derrota na Colômbia), que aliás deveriam ter funcionado como um sinal amarelo para Bianchi e seus subordinados. Era hora de atenção para não sair dos trilhos.

A chacoalhada final veio nas oitavas, em plena Bombonera. 24 de abril, aos 22 do segundo tempo, Iarley vence Abbondanzieri e faz o gol da vitória do Paysandu no jogo de ida. Histórico para os paraenses. Para os Xeneizes, um chamado para acordar e (spoiler alert) conseguir sete triunfos seguidos depois. Em Belém, Schelotto brilhou, anotou três gols para eliminar o Papão e avançar às quartas.

El Mellizo voltaria a destoar no Chile diante do Cobreloa, com mais dois gols. Nas quartas também começava a aparecer a estrela do jovem Carlos Tévez. A expectativa era encarar o River Plate na semifinal. Infelizmente (ou não), em Cali os Millonários foram arrasados pelo América local. O Boca, porém, nem chegou a sofrer na Colômbia, mais uma vez graças à Carlitos. 4 x 0, fora o baile.

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Enfim, a final. Agora sim, o texto fica realmente pessoal.

Muitos podem não lembrar, mas aquela época marcava o auge dos “Meninos da Vila” no Santos. Diego, Robinho, Elano, Léo, e até o Ricardo Oliveira que entrou depois. As pedaladas da revelação alvinegra em 2002, e o chapéu logo no primeiro jogo da Libertadores. A imprensa brasileira estava maravilhada, tanto quanto com o time de Neymar nos dias atuais. Ou seja, nada muito longe do oba-oba de sempre.

Só que me irritou o desrespeito com que tratavam essa final, como torcedor. Alguns dias antes, o Milan faturou a Champions League superando a Juventus. Então, se passasse pelo Boca, o Santos enfrentaria o Rossonero no Mundial. Assim como em 63. Talvez por serem os “Meninos da Vila”, ou apenas por ufanismo corriqueiro, a vitória já era certa por aqui.

Fiquei muito mais motivado para torcer do que nos anos anteriores. Antes era mais comedido como Xeneize em terra rival, mas aquela cobertura foi meu limite. Precisávamos vencer. De qualquer jeito. Por sorte, esse oba-oba fechou os olhos de todos para a campanha excelente pós-Paysandu que citei acima.

Em 63, o Santos venceu na Bombonera. Em 2003, tentaram fazer o mesmo. Esqueceram quem estava do outro lado, nem tanto pela torcida, mas pelo próprio Boca Juniors, e principalmente pelo estrategista Carlos Bianchi. O Peixe de Emerson Leão se lançou ao ataque de forma pouco prudente. Deram espaço e perderam energia para aguentar a resposta xeneize. Delgado deu o primeiro golpe aos 32 do primeiro tempo. Finalizou nos lances finais do jogo, com um homem a mais: 2 x 0, placar final.

Sublime resultado, simbólico. Mas os jornais continuaram na empolgação com “o Brasil na Libertadores”. Agora o discurso é que “com Robinho e Diego, dá para virar”. Não aguentei, e senti vontade de ir ao Morumbi, mas minhas limitações aos 14 anos não me permitiam ir tão longe por conta própria ainda. Tive que ver de casa.

Só que o clima lembrava o que foi a final Brasil x Espanha deste domingo. A torcida dos outros times entrou na onda pró-Brasil (ou anti-Argentina). Estava sozinho com minha remera da época do Caniggia, e aliás hostilizado quando saia com ela na rua, horas antes da final.

Veio o jogo, mas meu nervosismo durou 21 minutos. Nervoso pela bola que Villareal tirou em cima da linha. Irritado pelo “pênalti” que tentaram inventar em Diego, mas por sorte o árbitro não era o Wright. Foi o tempo que esperei para Tevez fazer um dos poucos gols que jamais vou esquecer. Uma tabela linda entre o “Robinho da Argentina” e Sebastian Battáglia. A zaga santista, estática, só viu a bola entrar. Só podiam lamentar, e como os comentaristas da transmissão brasileira lamentaram por eles!

Naquela época ainda não havia vantagem pelo gol fora de casa, mas alí eu já me senti feliz e aliviado. O que me irritava dos brasileiros, agora me fazia rir, com tons de revanche mesmo. Porque dali já nem tinha mais disputa. A reação santista não me assustava. Só aos 30 do segundo tempo que o zagueiro Alex achou um gol num chute de muito longe.

Mesmo assim, o nervosismo estava todo do lado deles. Tanto que gerou outro dos gols que até hoje me fazem arrepiar só pela lembrança. Depois de um escanteio, a zaga lançou Delgado, que incrivelmente saiu do campo de defesa e já estava sozinho, cara a cara com o afoito Fábio Costa. Ele chutou de onde Pelé não fez ‘aquele’ gol, e se garantiu como artilheiro daquela Copa. Durante o jogo todo, eu gritava os cânticos da torcida pela janela. Depois do 2 x 1, eu não tinha mais concorrência, gritava sozinho.

Ainda teve espaço para uma última risada. Pênalti no último lance, o goleiro deles expulso, e o zagueiro Paulo Almeida (lembram dele?) pegou o cartão amarelo do Jorge Larrionda para mostrar contra o próprio juiz. Até o uruguaio achou ridículo, e riu dos jovens que claramente não entendiam a Libertadores. Schiavi entendia, e fez o gol. Bianchi entendia, e levantou a terceira taça dele só no Morumbi. Por último, eu entendia, e vibrava também pela terceira vez.

No dia seguinte, voltei a sair na rua com a mesma remera do Caniggia. Fui pro colégio com ela, comprei todos os jornais, vi todos os VT’s. Era o dia da redenção. Sempre soube da grandeza do time que aprendi a torcer por ver de perto desde pequeno, mas alí eu percebi algo que me consola hoje, diante de um cenário triste, oposto ao de dez anos atrás. Ser xeneize é ser paciente. Não importa o que vem pela frente, o Boca Juniors sempre acha um jeito de superar tudo.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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