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Meia década do último título do River na elite

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Na volta olímpica puxada por Ortega, houve espaço para o Fluminense, que recém-eliminara o Boca na Libertadores

O River segue na disputa para emendar o título da segundona com um da elite, algo raríssimo no mundo. Caso os comandados de Ramón Díaz consigam reverter a dianteira do favorito Newell’s, o Millonario encerrará um de seus maiores jejuns. Hoje, faz cinco anos da última vez em que a primeira divisão argentina foi vencida pela equipe de Núñez.

O clube já passou um tempo bem maior sem títulos. Fundado em 1901 (há quem sustente que seja em 1904), começou a firmar-se entre os grandes do país a partir dos anos 30, ascendendo cada vez mais nas duas décadas seguintes. Uma estagnação de troféus – não de popularidade – durou 18 anos, entre 1957 e 1975.

Desde que o time voltou às glórias, o máximo de tempo que ficou sem títulos expressivos é justamente o atual, que já superou os outros: os quatro anos e meio entre o fim de 1981 e meados de 1986, época de baixa para quase todos os grandes (só o Independiente foi campeão na época; Boca também nada venceu e San Lorenzo e Racing foram até rebaixados), e os quatro anos entre o Clausura 2004 e o Clausura retratado agora, de 2008.

O título de 2008 foi um oásis nestes anos de decadência. Em 2007, sob o atual presidente Daniel Passarella como treinador, o clube foi eliminado na primeira fase da Libertadores, na 24ª colocação geral, sua pior no torneio; no segundo semestre, venceu só seis vezes em 19 jogos do Apertura, terminando na 14º colocação, e, após magistral classificação diante do Botafogo na Sul-Americana, foi eliminado em casa na semifinal pelo nanico Arsenal, futuro campeão. Apesar de todo o porte que tinha no River, Passarella não resistiu.

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O time campeão tinha os badalados Falcao García e Loco Abreu no ataque…

A diretoria chamou então um novato em Núñez: Diego Simeone, que, na Argentina, jogara só por Vélez e Racing, seu clube do coração, mas que já havia conseguido ser campeão como técnico em outro ambiente que lhe era estranho, o do Estudiantes – em 2006, encerrando jejum de 23 anos do Pincha em uma das maiores reviravoltas de fim de campeonato (o Boca seria campeão se ao menos empatasse um dos dois últimos jogos; perdeu ambos, foi alcançado pelos platenses e, no tira-teima, perdeu de virada).

Simeone não pôde contar com algumas das peças que vinham se salvando na temporada decepcionante do Millo: Fernando Belluschi, o artilheiro do time, foi ao Olympiakos, e a sua dupla Marco Rubén, ao Recreativo Huelva. Quem chegou para repor o ataque, já servido com os hoje mundialmente famosos Radamel Falcao García e Alexis Sánchez, foi outro que ficaria bem conhecido no Brasil: o uruguaio Sebastián Loco Abreu.

As figuras mais carimbadas remanescentes eram o goleiro Juan Pablo Carrizo, os zagueiros Cristian Nasuti e Eduardo Tuzzio, o lateral-direito Paulo Ferrari, o volante Oscar Ahumada e, principalmente, o veterano meia Ariel Ortega, que Simeone colocou como capitão. O meia Leonardo Ponzio, que continua no River atualmente, era apenas outro recém-chegado.

Mas nem Abreu (que mostraria mais faro goleador na Libertadores) nem o hoje barcelonista Sánchez, cada um só com 2 gols, foram os melhores companheiros de Falcao García no Clausura. O prata-da-casa Diego Buonanotte, já no time principal havia dois anos, foi quem roubou a cena. Foi o artilheiro do campeão, com 9 gols, incluindo os únicos dos 1-0 sobre Lanús e Huracán e os dois do jogo do título. Outro que se destacou foi o meia Matías Abelairas, recente fracasso no Vasco, mas que naquela campanha marcou 5 gols e só ficou atrás de Buonanotte e Falcao (6) na artilharia millonaria.

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… mas o artilheiro e grande destaque do campeão foi o garoto Buonanotte, celebrado por Abelairas (outro amuleto), Ortega e Falcao, e comemorando com o técnico Simeone o primeiro gol do título

Só na 11ª rodada veio a primeira derrota, em 20 de abril, em um 1-2 (gol de Buonanotte) fora de casa contra o Rosario Central. A outra veio duas rodadas depois, no Superclásico (1-0, gol de Sebastián Battaglia) na Bombonera, encerrando jejum de três anos sem vitórias do Boca no dérbi em jogos não-amistosos. O arquirrival mostrava-se exatamente como maior concorrente e o revés respingou na Libertadores: a partida seguinte foi pelo torneio e o River, que terminara líder em seu grupo, acabou eliminado em casa com dois jogadores a mais diante do San Lorenzo, após estar vencendo por 2-0.

Apesar de queda das mais traumáticas no continente, o Millo não desandou no Clausura. Nos sete jogos seguintes à eliminação, foram seis vitórias. A conquista foi garantida com uma rodada de antecipação, mesmo com os principais concorrentes somando pontos (Boca venceu e Estudiantes empatou). Contra o Olimpo, Buonanotte abriu o escore já aos 17 minutos, em chutaço de fora da área com a canhota em cobrança ensaiada de Ortega em falta. O aurinegro de Bahía Blanca empatou aos 20 do segundo tempo, mas a taça ficou em Núñez após novo gol do Enano (“Anão”: ele só tem 1,60 m de altura), aos 33, em chute cruzado pela direita após nova assistência de Ortega.

O reerguimento do time, especialmente após a queda na Libertadores, deixava um ar promissor para as próxima competições. Ledo engano. Na nova temporada, a partir do segundo semestre, o River fez campanha inversa: simplesmente o último do Apertura (enquanto o Boca era campeão), com apenas duas vitórias em vez de duas derrotas, fazendo Simeone, hoje com sucesso no Atlético de Madrid, dar lugar a Néstor Gorosito.

O desarranjo se simbolizou na estrela Buonanotte: campeão olímpico na China pouco após liderar aquele Clausura 2008, nunca conseguiu a mesma regularidade após provocar um acidente automobilístico em 2009 em que quatro amigos morreram. Já a lanterna no Apertura 2008 foi a primeira etapa do inédito rebaixamento riverplatense, consumado em 2011, sentenciado pela média das três temporadas anteriores: aquela primeira pós-título, de 2008-09, e as de 2009-10 e 2010-11.

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Danilo Gerlo, Gustavo Cabral, Falcao García, Carrizo e Tuzzio; Abelairas, Ponzio, Ortega, Buonanotte, Abreu e Cristian Villagra

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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