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45 anos da 1ª Libertadores do Estudiantes

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Zubeldía, Verón pai, Bilardo e Pachamé, com camisa do Palmeiras: protagonistas

Se a Libertadores da América de 2013 só conclui hoje suas oitavas-de-final, há exatos 45 anos a terceira de três finais representou a primeira conquista do Estudiantes de La Plata, que levou a melhor sobre a “Academia” do Palmeiras.

O estilo aguerrido daquele Estudiantes ainda divide opiniões. Detratores desmerecem quatro finais seguidas na Libertadores (as três primeiras, vencidas) e um troféu Intercontinental como fruto de pura violência e antijogo, tão grandes que afastaram europeus das disputas intercontinentais nos anos 70. Quando muito, admitem só Juan Ramón Verón (pai de Juan Sebastián Verón) como único craque.

Já apoiadores veem os campeões de 1968-70 como heróis que usaram a cabeça para vencer quatro Golias: nas finais da Libertadores, o Palmeiras e a dupla Nacional e Peñarol; na Intercontinental de 1968, o Manchester United em Old Trafford. Mas, segundo o meia Carlos Bilardo, as lendas de que usava alfinetes como fundas de Davi não procedem. “Isso é mentira. Isso foi na época de Lema, um goleiro do San Lorenzo, há mil anos: aos goleiros, abaixavam o boné ou lhes atiravam terra”, disse à El Gráfico.

Observações menos exaltadas (incluindo de fontes brasileiras mais antigas), de fato, dão margem para o antijogo, mas em outro sentido: anular o jogo adversário. Aquele elenco pouco habilidoso do Estudiantes se compensava pela estrutura sólida, forte e coletiva entre as suas peças. O técnico Osvaldo Zubeldía, mais por essa linha de pensamento do que por rivalidade com o Brasil, declarou em 1970 que “não gostaria que o Brasil fosse campeão do mundo”, arranjando – sim – críticas na terra natal.

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Ademir da Guia já reclamou que o Palmeiras teve um gol legítimo anulado na decisão. Mas vale lembrar que o deste lance foi validado. Foi o de Servílio (camisa 9) na primeira final, em La Plata, apesar da linha de impedimento do Estudiantes – uma de suas inovações

Adepto do futebol de resultados e da bola parada, Zubeldía justificou-se, para “Muricy Trabalho” algum pôr defeito, que “prefiro a Alemanha, ou a Inglaterra, ou então o Uruguai. Esses times trabalham, são disciplinados. Os brasileiros deixam tudo livre, entregue ao talento de seus jogadores”. Outros hábitos seus incomuns: jogadas ensaiadas, concentrações com dias de antecedência e, em tempos de 4-2-4 ou ainda com resquícios do WM (3-2-5; veja aqui), congestionar o meio-de-campo com quatro jogadores brecando o desenvolvimento de jogadas oponente.

Aquele Estudiantes também se retrancava após ter vantagem no placar. Heresia para os tempos clássicos, como a catenaccio da grande Internazionale do argentino Helenio Herrera (também dos anos 60), ainda ensejam críticas na Argentina hoje. Os platenses também irritavam os puristas pelo forte uso da linha de impedimento – inovação normalmente atribuída à Laranja Mecânica da Holanda em 1974, que, vale lembrar, tinha jogadores do Feyenoord que enfrentaram o Estudiantes na Intercontinental de 1970.

Dos jogadores daquele Estudiantes, estrelas como Verón pai surgiram pelos títulos, pois a equipe era formada por encostados de outros clubes, como o próprio Bilardo (sem sucesso no San Lorenzo) e Marcos Cornigliaro (ex-Independiente), com garotos da base, como Verón, Alberto Poletti, Ramón Aguirre Suárez, Oscar Malbernat, Juan Echecopar, Eduardo Manera e Carlos Pachamé.

Aquele plantel quase se tornara o primeiro a vencer no mesmo ano os dois torneios argentinos: em 1967, venceu o Metropolitano e classificou-se à Libertadores como vice no Nacional. O título do Metro, além de ser o primeiro profissional do clube, quebrou o oligopólio dos “cinco grandes” (Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo) estabelecido até então no profissionalismo, pós-1931. O último não-grande campeão da elite fora justamente o rival Gimnasia y Esgrima La Plata, em 1929.

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Arremates de Verón e Flores virando nos últimos 7 minutos a primeira final

Quanto ao Palmeiras, eventual desculpa de que valorizaria mais o Estadual do que a Libertadores, os palestrinos não podem dar: de forma realmente incomum para aqueles anos, priorizaram o continente, a ponto de só não serem rebaixados no Paulistão por “sorte nos seus dois últimos jogos”, escreveu a Placar em 1971. Segundo Zubeldía, era um adversário rápido e prático, mas distraído. Por sinal, o técnico alviverde era argentino: Alfredo González, ex-jogador do clube nos anos 40 e que havia treinado o último campeão carioca fora dos quatro grandes, o Bangu de 1966.

Aquela Libertadores teve duas fases de grupos. Na primeira, com quatro com duas duplas cada de um mesmo país. Os líderes e segundos avançavam. Palmeiras e Estudiantes saíram invictos aí – os pincharratas foram supremos no seu, com cinco vitórias e um empate, batendo o Independiente em Avellaneda por 4-2 (dois de Ribaudo, um de Echecopar e outro de Verón).

A segunda fase de grupos consistiria em três, dois com três clubes, outro com quatro. Só os líderes iam às semifinais, onde receberiam a companhia do campeão anterior (o Racing). Os futuros finalistas não se complicaram muito, perdendo apenas uma vez e classificando-se em casa contra o concorrente direto. Nesta fase, o Estudiantes outra vez superou o mais-que-tarimbado Independiente tanto dentro como fora de casa, para na semifinal pegar o outro clube de Avellaneda: o campeão Racing.

O Racing, o primeiro argentino campeão da Intercontinental, fora o vencido na final do Metro de 1967 – mas com um time reserva, visto que paralelamente estava priorizando a Libertadores daquele ano. Com os titulares, foi mais difícil: após 3-0 em La Plata (dois de Verón e um de Rodolfo Fuccenecco), em Avellaneda foi 0-2, o que na época forçou um jogo-extra em que os platenses teriam vantagem do empate: em uma batalha, 1-1, gol de Verón, e Estudiantes na final.

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O gol de Verón que sacramentou o título “pincharrata” há 45 anos e sua emocionada comemoração, seguido por Conigliaro

O Palmeiras superara o Peñarol, também em melhor de três, e em La Plata ficou perto de um triunfo: Servílio, em impedimento, abriu o marcador, inalterado até os 38 minutos do segundo tempo. Foi quando, em jogada individual, Verón ziguezagueou entre Ademir da Guia, Ferrari e Osmar para chutar com a direita (sua perna ruim) antes de chegada de Baldochi e Valdir. Flores virou aos 42, com uma bomba de canhota ao emendar cruzamento de Pachamé onde Conigliaro fez corta-luz, enganando os alviverdes.

No Pacaembu, em 5 de maio, a Academia fez valer sua força. Abriu 3-0, com três gols de Tupãzinho, e até perdeu pênalti. La Bruja Verón novamente fez das suas, mas apenas um. Sem o critério de gols fora de casa, a decisão foi à neutra Montevidéu, em 16 de maio. Pelo melhor retrospecto, haveria vantagem do empate para os paulistas, benefício ruído aos 13 minutos, com Ribaudo. Cara a cara com Valdir, o onipresente Verón garantiu a taça ao deslocá-lo e decretar os 2-0 a oito minutos do fim.

O título foi o primeiro dos três que o Estudiantes de La Plata conseguiu em sequência na Libertadores, então um recorde nela que o fez ser, ainda, o maior vencedor da competição, na época, antecipando em alguns anos o fenômeno Nottingham Forest (ter mais títulos internacionais que locais). Também teria ecos na seleção: Carlos Bilardo, jogador daquele Pincha e pupilo de Zubeldía, seguiria cartilhas parecidas ao tornar-se técnico da Albiceleste.

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Pachamé cumprimenta Servílio, Rinaldo e Osmar no vestiário visitante após a final em La Plata. Em Montevidéu, Ribaudo, autor do primeiro gol da finalíssima, segura com camisa trocada a taça

Ele foi na contramão ao futebol vistoso ordenado pelo antecessor César Menotti – “o verdadeiro futebol argentino”, para os defensores deste, mas manchado por ser aproveitado pela sanguinária ditadura. “Se eu der condições física e velocidade a meu time, a técnica nos levará à vitória. Não quero uma equipe só de estrelas. Preciso é de um bom conjunto”, explicou Bilardo. Ainda hoje, há dilemas, enveredados até com política, entre menottistas e bilardistas no país. Falamos aquiaquimais aqui e aqui também.

“As chaves eram sempre as mesmas: o treinamento duro, a disciplina dentro e fora do campo”, escreveu Bilardo em Así Ganamos, sobre a Copa de 1986, lembrando quando Zubeldía treinara rapidamente a Argentina, em 1965: “Seu anúncio foi concreto: ‘vamos buscar bons jogadores, mas que venham à frente. Que joguem, mas que o façam durante os 90 minutos. Gente que transpire a camisa, que seja viva, que lute sempre. Buscamos caras que corram todo o mundo, que joguem para todo o time. (…) Enfim, jogadores que rendam’”.

De fato, a seleção campeã em 1986 tinha semelhanças com o Estudiantes em que El Narigón jogara: um cracaço (Verón, depois Maradona) em time sólido e operário, que corria todo o campo sem esquecer marcação individual e até uso de líbero (Flores, depois Brown). Segundo ele em 1986, “não me apresentei na seleção como um homem de novidades. (…) Quando não se ganham títulos de ressonância, essas ideias deixam de ser divulgadas. Agora, depois da Copa do Mundo, elas foram resgatadas outra vez”. Vertente que, para leigos, virou sinônimo do próprio futebol argentino.

FICHA DA PARTIDA – Estudiantes: Poletti, Aguirre Suárez, Madero, Malbernat, Pachamé, Medina, Bilardo, Flores e Ribaudo; Conigliaro e Verón. T: Osvaldo Zubeldía. Palmeiras: Valdir de Moraes, Escalera, Baldochi e Osmar; Ademir da Guia, Ferrari, Suíngue e Dudu; Tupãzinho, Servílio (China) e Rinaldo. T: Alfredo González. Árbitro: Orozco (PER).

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Volta olímpica, Bilardo e Pachamé (futuro assistente do “Narigón” na seleção) com a taça e festejos “pinchas” em Montevidéu

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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