Especiais

Há 20 anos, o Boca encerrava seu maior jejum

Giunta, Medero, Giuntini, Navarro Montoya e MacAllister; Benetti, Márcico, Tapia, Cabañas, Carranza e Soñora

“Nos últimos tempos sinto um reconhecimento, uma devolução, que em meu país é inédita. Talvez algo parecido vivi com a galera do Boca, em 1992, mas aqui no Uruguai, não”. El Maestro Oscar Washington Tabárez declarou isso em outubro de 2011 à revista El Gráfico, quando já tinha credenciais o bastante para ser reverenciado entre os uruguaios antes das marcas de longevidade a serviço da Celeste – na época da nota, o técnico campeão da Libertadores 1987 (ainda a última do Peñarol) havia acabado de devolver os charruas às semifinais de uma Copa do Mundo e de fazê-los campeões da Copa América. Em 2002, a diretoria do Boca não teve dúvidas em contrata-lo em meio ao ano sabático de Carlos Bianchi. Exatamente em função daquele feito de trinta anos atrás: o Apertura 1992, sob Tabárez, encerrou o pior jejum argentino da torcida azul y oro.

Contexto do sofrimento

Outro fator que engrandeceu com o tempo aquele desjejum é que a taça também seria uma raridade até a própria Era Bianchi. Entre 1978 (ano do bicampeonato na Libertadores e da conquista da Intercontinental válida pelo ano anterior) e a chegada de Bianchi em 1998, o Boca até levantou outros troféus oficiais. Inclusive, internacionais. Mas a maioria de porte bem caça-níquel. E mesmo o mais prestigiado deles revelou-se financeiramente um desastre: o maradoniano Metropolitano 1981, primeira volta olímpica desde 1978, veio no embalo de um empréstimo em dólares pelo Dieguito.

A moeda ianque logo se valorizou em 240% diante dos desmandos econômicos da ditadura, agravados pela derrota nas Malvinas, e Diego logo precisou ser entregue ao Barcelona. O rombo foi tanto que em três anos o clube beirou seriamente a extinção – em um 1984 no qual, simbolicamente, sofreu sua derrota mais elástica (o 9-1 para um Barcelona já sem Maradona, pelo Troféu Joan Gamper). Foram sete anos de seca absoluta, até a conquista da Supercopa 1989. Que serviu também para valorizar gente recém-chegada que acabaria fundamental naquele Apertura 1992, notadamente o goleirão Carlos Navarro Montoya e o xerife Blas Giunta. Outra novidade era o experiente zagueiro Juan Simón, que acabou até conseguindo voltar depois de nove anos à seleção, se garantindo na Copa do Mundo de 1990.

A Supercopa foi um torneio que existiu de 1988 a 1997, reunindo somente campeões da Libertadores. A Conmebol não se conteve e lançou junto não somente a Recopa, na época um tira-teima entre o campeão da Libertadores e da Supercopa; mas também uma competição que reunia somente os campeões da própria Supercopa: foi a Copa Masters, que não chegou a ser realizada periodicamente. Mas o Boca tratou de amenizar seu jejum doméstico vencendo as duas competições – a Recopa em 1990 e a Copa Master, já naquele 1992, em maio. Ela por sua vez serviu de consolo contra o revés xeneize mais dolorido em meio ao jejum doméstico.

É que a pior seca nacional do Boca se agravava à medida em que o time sequer conseguia ter gás para ser candidato nos campeonatos argentinos. Foram somente duas as ocasiões em que a massa sentiu algum cheiro de título: na temporada 1986-87, as chances foram até a penúltima rodada, muito por conta de um embalo tardio no segundo turno após a chegada da lenda César Menotti – que, contudo, logo preferiu a vitrine europeia do Atlético de Madrid e não prosseguiu. A outra ocasião foi ainda pior, na temporada 1990-91, marcada por uma novidade da AFA: o formato Apertura e Clausura. Em fórmula com uma diferença crucial, a de que os turnos não eram campeonatos próprios; se liderados por times diferentes, eles se enfrentariam em finais para definir o campeão único da temporada.

Ataque estrangeiro: o paraguaio Cabañas e o uruguaio Martínez, que comemora sobre o River

O Boca não teve gás no Apertura 1990, embora servisse para consolidar o talentoso José Luis Villarreal na armação; a comemoração ficou para o Newell’s do iniciante Marcelo Bielsa. Carlos Aimar, o técnico da Supercopa 1989 e da Recopa 1990, deu então lugar a Tabárez para 1991. O uruguaio aproveitou a base e poliu um atacante inseguro que o River não se importou em perder para o grande rival. Era Gabriel Batistuta, que enfim decolou a partir daquele primeiro semestre de 1991, em dupla memorável com Diego Latorre. O Boca não só foi semifinalista da Libertadores, caindo em uma semifinal bastante polêmica contra o futuro campeão Colo-Colo, como comemorou de modo invicto o Clausura. Ganhou, mas faltava levar.

Sempre desorganizada, a AFA não teve o pudor de programar as finais para um momento melhor adequado. A fase de Batistuta era tão boa que ele virou ali jogador de seleção, assim como Latorre e Giunta – e Villarreal. A Argentina iria ao Chile disputar a Copa América, que não vencia fazia 32 anos (sim, a Albiceleste já viveu jejum ainda pior que o de 1993-2021 nessa competição). Villarreal não chegou a ir, mas os outros três, sim. Ainda que não deixasse de chamar gente do Newell’s, casos de Darío Franco e Fernando Gamboa, era inegável que o Boca, qualitativa e quantitativamente, estava muito mais desfalcado. A AFA ainda assim programou as finais com a Copa América em andamento, obrigando o Boca a buscar de emergência o empréstimo do brasileiro Gaúcho, flamenguista que havia sido artilheiro da Libertadores 1991.

Gaúcho foi um desastre como substituto de Batistuta. Juan Simón cairia no choro convulsivo diante de um vice-campeonato em decisão por pênaltis em plena Bombonera, enquanto do outro lado da Cordilheira, Batistuta e Latorre sofriam via rádio. Em 2018, Latorre não só descreveria a cena (“terminamos ajoelhados, não podíamos acreditar”) como iria além, ao ser indagado sobre o que faria se pudesse escolher novamente entre o Boca e a seleção na época: “escolheria o Boca, porque era coroar o esforço de seis meses”. O título na Copa América faria a Fiorentina contratar ambos.

Pela reduzida vaga a estrangeiros em tempos pré-Lei Bosman, somente Bati ficaria, com Latorre permanecendo no Boca por mais uma temporada, sob empréstimo. Foi quando a AFA enfim definiu dois campeões por ano. A situação não melhorou muito para o Boca, que viu o River vencer o Apertura 1991 e o Newell’s faturar o Clausura 1992. Latorre então foi repassado pelos italianos para o Tenerife para a temporada 1992-93, calhando de perder o desjejum…

Os talismãs do fim da seca

Em contrapartida, quem sim pôde enfim dar a volta olímpica seria o maior filho pródigo do Boca: Carlos Tapia. Ninguém foi e voltou tantas vezes ao clube, diante das quatro diferentes passagens de El Chino, também um dos dois únicos jogadores (o outro foi Julio Olarticoechea) que venceram a Copa do Mundo como jogadores boquenses – como um dos honrosos reservas de Maradona em 1986. Tapia havia se formado exatamente no River e acabou envolvido em um troca-troca entre os rivais na virada de 1984 para 1985, virando junto do próprio Olarticoechea a casaca enquanto os xeneizes Oscar Ruggeri e Ricardo Gareca protagonizavam a traição inversa.

Tapia já havia ido à equipe francesa do Brest em 1987 e voltado apenas um semestre depois, não aclimatado à chuvosa Bretanha. E passou a temporada de 1989-90 inteira emprestado ao emergente Deportivo Mandiyú, estreante na primeira divisão, enquanto os ex-colegas venciam a Supercopa e a Recopa. Fora titular então na de 1990-91 e teria sido justamente ele o último batedor de pênaltis naquela final com o Newell’s, mas acabou não tendo nem a chance de chutar diante dos numerosos erros dos colegas que lhe antecederam. Dividiu-se então o time suíço Lugano e a Universidad de Chile ao longo da temporada 1991-92, perdendo assim a presença até na conquista caça-níquel da Copa Master… e então iniciou sua quarta passagem.

Os temperamentais e raçudos MacAllister e Giunta

Além do velho ídolo, chegavam à Bombonera caras realmente novas. A mais badalada era a de um brasileiro, Charles, contratado por ninguém menos que Maradona após reluzir com o Cruzeiro campeão na Supercopa 1991 e vice do próprio Boca naquela Copa Master 1992. A pressão extra foi demais para ele, mas os outros recém-chegados puderam virar ídolos históricos: Alberto Márcico era um volante elegante que quase fora à Copa de 1986 em outra das vagas a potenciais reservas de Maradona. Do Argentinos Jrs, veio o lateral Carlos Mac Allister.

O tempo transformou El Colorado (ele era ruivo antes de perder de vez os poucos cabelos) em mero pai de Alexis Mac Allister, o habilidoso da família, pois mesmo naquela época Carlos era mais reconhecido pela raça e aplicação – mas era o suficiente para sua saída do bairro de La Paternal revoltar a torcida do Bicho, como contou em 2004: “no dia em que renunciei, havia 300 pessoas na porta do estádio, e queriam me retirar com a polícia. Olhei o chefe da operação e lhe disse: ‘não, senhor, eu vou sair daqui caminhando e sozinho’. Comecei a caminhar e o pessoal se dava conta de que não tinha medo. Terminaram me cantando ‘Colorado! Colorado!'”.

Outro de saída conturbada junto ao ex-clube foi o insinuante ponta Luis Alberto Carranza, então um xodó para a torcida do Racing, clube que havia sido o concorrente do Boca ao longo daquele Clausura 1991 – a ponto tal que El Betito diria acreditar ter revoltado mais os antigos torcedores com aquela troca do que por ter dali a uns anos virado de vez a casaca em Avellaneda ao reforçar o Independiente em 1995.

Além do brasileiro Charles, o ataque foi municiado com mais estrangeiros, ambos de sucesso. Um foi o temperamental Roberto Cabañas, saudoso paraguaio sem parentesco com Salvador. artilheiro com sete gols no elenco campeão – e outro que, como Giunta, sabia personificar o torcedor em campo, sempre provocando o River (integrara o América de Cali derrotado pelo Millo na final da Libertadores de 1986, até marcando um dos gols); outro foi o uruguaio Sergio Martínez, a quem Tabárez já havia levado à Copa do Mundo de 1990, tal como o compatriota Rubén Pereira, de menos êxito. Também chamava a atenção a vinda de outro paraguaio, Gustavo Neffa, de experiência no auge do futebol italiano, embora tampouco vingasse, a exemplo do brasileiro. Em meio ao pacotão de reforços, das categorias de base seria pinçado um certo Claudio Benetti.

O campeonato da redenção

O Boca não teve a maior paciência do mundo com o brasileiro Charles. Ele foi titular nas duas primeiras rodadas, e em ambas foi substituído por volta dos 10 minutos do segundo tempo. A saga começou com um 0-0 fora de casa com o cascudo Mandiyú da época, em 9 de agosto. Ganhou então do Belgrano por 2-0 no dia 14, gols em cabeceio de Cabañas e em pênalti convertido por Villarreal. Charles ainda foi usado nos jogos seguintes, mas saindo do banco na reta final; primeiramente, em novo 0-0 longe de Buenos Aires, na visita ao Talleres no dia 23, seguido por um movimentado 3-2 no Vélez em 2 de setembro.

Esteban González abriu o placar com 2 minutos e praticamente na saída de bola veio o empate, na certeira cabeça de Cabañas. A virada saiu aos 33, em gol contra do velezano Héctor Almandoz, mas El Gallego González anotou um segundo gol logo no primeiro minuto do segundo tempo. A vitória só foi garantida aos 32, com El Beto Márcico – a quem Charles substituiria cinco minutos depois. Três dias mais tarde, no estádio do Independiente, o Boca aproveitou da maestria de Villarreal na bola parada para vencer por 2-0 o Lanús: Villita primeiramente converteu um pênalti e depois uma falta, tudo na meia hora final.

Charles ganhou nova titularidade na sexta rodada, em 13 de setembro. Não foi a melhor jornada do Boca, embora frenética: o Huracán não se intimidou em La Bombonera e abriu o placar com Hugo Morales aos 14 minutos… mas já aos 19 os pupilos de Tabárez conseguiram uma virada-relâmpago, gols do Manteca Martínez aos 16 e de Villarreal aos 19. Contudo, Walter Pelletti reigualou aos 43. O brasileiro permaneceu em campo até os 25 minutos do segundo tempo, dando lugar ao Betito Carranza. O 2-2 permaneceu até o fim. Mas enquanto Carranza ficaria querido como um 12º jogador da campanha, Charles não teria mais a mesma receptividade: aquela seria sua última partida no torneio.

Em 20 de setembro, um San Lorenzo ainda sem estádio próprio utilizou o Monumental de Núñez para receber o Boca, vencedor pelo placar mínimo, a doze minutos do fim, em golzinho de Cabañas. Foi a jornada que iniciaria um recorde de oito partidas sem que a defesa xeneize sofresse gols, então um recorde no clube – além de representar àquela altura a terceira maior quantidade de minutos (825) da invencibilidade a qualquer goleiro na liga argentina, o onipresente Navarro Montoya. Mas em 26 de setembro a plateia na Bombonera teve motivos para chiar, diante do 0-0 em casa com o Ferro Carril Oeste, por mais que o time dos jovens Germán Burgos e Roberto Ayala fizesse naquele Apertura a última campanha verdolaga de relevo. O time do bairro de Caballito terminaria em 4º lugar.

A invencibilidade de Navarro Montoya deu uma pausa pela Supercopa, onde o Boca iniciou os trabalhos em 29 de setembro, em duelo caseiro com o Estudiantes – vencendo por 2-1. Em 4 de outubro, veio o grande momento de Carranza, que entrou no decorrer da partida para, em cabeceio aos 44 minutos do segundo tempo, arrancar o único gol de duelo com o Argentinos Jrs no estádio do Ferro. Veio então um baque três dias depois: pelo jogo de volta na Supercopa, o Estudiantes venceu por 1-0 e levou a melhor nos pênaltis. O jogo seguinte? Nada menos que um Superclásico, em 11 de outubro.

Martínez provou a avalanche na Bombonera para afastar os maus agouros, começando ali sua idolatria junto à massa ao marcar o único gol – em dérbi recordado em especial também pelo pênalti que Navarro Montoya defendeu, ocasião famosa para além da defesa em si no chute de Hernán Díaz; é que o goleiro riverplatense Ángel Comizzo se dera mal ao buscar provocar a torcida adversária ao apanhar no gramado um radinho de pilha que haviam lhe atirado para, de costas à cobrança, “ouvir” o lance.

O dia seguinte seria de ainda mais festa. O Boca reencontraria Maradona, de visita à Argentina com o seu Sevilla, em amistoso em Córdoba. Tabárez utilizou reservas, inclusive o goleiro Esteban Pogany (marcado pelos longo anos de Boca como reserva do onipresente Navarro Montoya, normalmente utilizado até em partidas em que se utilizava alguma formação mista) e até mesmo o brasileiro Charles. Os espanhóis venceram por 3-1 e houve revanche apenas 48 horas depois, na Bombonera, marcada pela noite em que Dieguito voltou a vestir depois de dez anos a azul y oro: o ídolo jogou um tempo por cada equipe. Inclusive, marcou pelo Boca, sem evitar a derrota por 3-2 na última partida de Charles pelo clube.

Benetti prestes a ter seu momento de glória

As derrotas paralelas para Estudiantes na Supercopa e para o Sevilla nos amistosos não ecoavam no Apertura, onde Navarro Montoya seguia sem ser vazado. O Boca voltou a campo já em 27 de outubro, com um 3-0 para cima do Rosario Central, gols de Martínez e dois de Cabañas. Em 1º de novembro, saiu de Rosario com um bom 0-0 contra aquele forte Newell’s. A dupla seguinte foi a platense, e um golzinho de Tapia logo aos 6 minutos foi o suficiente para vencer o Estudiantes na Bombonera no dia 8. El Chino também marcou o único gol do triunfo sobre o Gimnasia, cobrando falta, em partida no estádio do Independiente na noite do dia 14.

E então, na 15ª rodada, veio, mesmo dentro da Bombonera, uma primeira derrota, em 22 de setembro. Daniel Garnero abriu o placar para o Independiente, que sustentou o 1-0 mesmo diante da posterior expulsão de Eber Moas. Nada deu certo ao líder: a sete minutos do fim, Villarreal perdeu um pênalti. Aos 44, veio a expulsão de Giunta. Uma semana depois, o outro gigante de Avellaneda também jogou mais água fria – El Manteca Martínez abriu o placar no Cilindro logo aos 7 minutos, mas o Racing igualou no início do segundo tempo, com Claudio García. Mac Allister foi expulso aos 44 e seria a suspensão automática da vez. Em 6 de dezembro, o jogo em casa contra o modesto Deportivo Español era a melhor chance de retomar a tranquilidade na Casa Amarilla.

Só que o psicológico tão fragilizado por aquele jejum parecia ter ido pelo ralo. Mesmo na Bombonera, Los Gallegos terminaram o primeiro tempo vencendo por 2-0, em sequência de gols aos 27 (do saudoso Walter Parodi) e aos 31 minutos (Rafael Luongo). O segundo tempo parecia promissor quando Cabañas descontou logo no primeiro minuto, mas Nelson Agoglia ampliou logo aos sete. Martínez descontou tarde demais, convertendo um pênalti já aos 41. As três rodadas turbulentas permitiram que a concorrência se aproximasse, notadamente a do arquirrival River. Faltavam duas rodadas…

Na penúltima, o Boca voltou a sorrir. Em 11 de dezembro, tratou de dissipar literalmente desde o primeiro minuto as dúvidas que pairavam para o compromisso com o Platense: foi quando Martínez abriu o placar, no estádio do Independiente. Aos 22, a cabeça de Cabañas ampliou. E quando Javier Baena descontou, já aos 37 do segundo tempo, a resposta foi imediata: aos 38, Luis Medero anotou o 3-1. O problema é que o xodó Martínez saiu lesionado ainda com 25 minutos de jogo e não teria condições de participar da rodada decisiva. Outros desfalques por lesão seriam os de Villarreal e Pereira. O que abriu vaga a um estreante: o tal Claudio Benetti.

O título tão esperado.

Em 20 de dezembro de 1992, o líder teve pela frente o San Martín de Tucumán. Francisco Guillén, Mario Jiménez, Luis Moreno, Juan Carlos Barrionuevo, Pedro Robles, Gustavo Onaindia, Héctor Chazarreta, Oscar Acosta, Raúl Roldán, Eduardo Juárez e Ricardo Solbes formavam a esquadra visitante, treinada por Ángel Tulio Zof, lendário técnico do Rosario Central. Tabárez, do seu lado, mandou a campo Navarro Montoya, Luis Medero, MacAllister, Diego Soñora, Giunta, Alejandro Giuntini, Benetti, Márcico, Cabañas, Tapia e José Luis Carranza. Às vésperas da partida, houveram suspeitas de que os tucumanos teriam concordado em facilitar a tarefa do Boca. Logo eles, capazes de impor um histórico 6-1 em 1988.

Facilitação não foi mesmo o que se viu: Solbes, aos 19 minutos, abriu o marcador, recebendo entre dois marcadores um bom passe de Roldán e vazando Montoya mesmo sem chutar bem. Solbes declarou que “durante 15 minutos, não senti voar uma mosca”, em alusão ao silêncio que deixou. Guillén, a ser eleito o melhor goleiro do Apertura (e o primeiro a sofrer um gol de Martín Palermo), também ajudava a garantir a vitória dos alvirrubros. Para completar, o River conseguia vencer o Argentinos Jrs.

O alívio veio aos 2 minutos do segundo tempo. Foi quando Benetti cinematograficamente tornou-se o inesperado herói do título, ao superar as marcações de Chazarreta e Onaindia e arriscar de fora da área para em seguida comemorar subindo nos alambrados. Foi seu único gol pelo clube até deixa-lo, dois anos e apenas treze outras partidas depois. Mas o lance, a quebrar a tranquilidade comum aos domingos e fazer meio país festejar nas ruas o fim de seca de uma década, bastou para coloca-lo na história da instituição e render-lhe no dia seguinte uma espécie equivalente de participação no café da manhã de Ana Maria Braga, com ainda mais prestígio: foi no programa de Mirtha Legrand, vedete que, atualmente com quase cem anos de idade, segue superativa na televisão argentina.

O Boca Juniors, todavia, continuaria instável até o fim de década (enquanto o River continuava dando voltas atrás de voltas olímpicas), apesar dos investimentos da Parmalat e de chegar a ter em um mesmo time Maradona, Caniggia e Verón. Novas glórias, finalmente em série, só viriam a partir do segundo semestre de 1998. Quando aportou na Casa Amarilla o Virrey Carlos Bianchi.

Márcico carregado após o título e celebrando o natal boquense com Villarreal, Navarro Montoya (em pé) e Tapia (sentado a seu lado)

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

One thought on “Há 20 anos, o Boca encerrava seu maior jejum

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

quatro × quatro =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.