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40 anos do primeiro bi anual argentino

Alguns do elenco de 1972. Foto do decorrer do Metropolitano, já sem alguns participantes

Foi em 17 de dezembro de 1972 que a Argentina conheceu pela primeira vez um time campeão a conseguir no mesmo ano os dois torneios de elite do país. O feito coube ao Club Atlético San Lorenzo de Almagro, que vivia fase das mais gloriosas de sua história.

Tal época começara em 1968, ao ser o primeiro campeão invicto na elite profissional, no Metropolitano – o torneio mais valorizado, herdeiro do antigo certame argentino, historicamente concentrado entre a Grande Buenos Aires e La Plata. Daquele ano, já haviam saído Rafael Albrecht, Carlos Buttice, Óscar Calics, Narciso Doval, Pedro González, Alberto Rendo, Miguel Tojo e Héctor Veira. A outra competição era o Nacional, a reunir os melhores times do Metro e do interior. Seria com o Nacional de 1974 que o ciclo acabaria. Quanto ao bi anual, suas principais figuras estão na canção “Bravos Gauchos de Boedo”.

Con Irusta y Glaria/con Espósito y Rosl/El recuerdo de Fischer también estará/Rezza, Telch, Chazarreta/Ayala y Heredia/con García Ameijenda, Cocco, Scotta/Y otros más” são alguns versos. Antonio Rosl é considerado o melhor lateral-esquerdo do clube. Agustín Irusta é o goleiro que mais jogou pelo CASLA na função: 267 vezes entre 1963 e 1976, sendo que não atuou um minuto sequer nos anos de 1966 e 1967, na reserva de Buttice. Este, titular no Metropolitano de 1968, fora para o Brasil em 1970.

Outro que foi ao Brasil, mas já em 1972, foi o atacante Rodolfo Fischer, 5º maior artilheiro cuervo (141 gols). El Lobo, filho de um teuto-brasileiro, deixou 11 gols nos 12 jogos que realizou no Metro antes de ir ao Botafogo. Seria muito bem substituído pelo ex-reserva Rubén Ayala, que marcou 22 gols no ano. O ponta Antonio García Ameijenda, espanhol de La Coruña radicado desde a infância na Argentina, também sairia antes do fim do ano, para o Red Star, então o principal representante do futebol de Paris. Abaixo, foto com Fischer e Ameijenda ainda na campanha.

Irusta, Glaria, Cocco, Rosl, Rezza e Olguín; Scotta, Fischer, G. Ameijenda, Sanfilippo e Chazarreta

Os “outros mais” que a música deixou no ar incluem o técnico Juan Carlos Lorenzo, que dirigira a Argentina nas Copas de 1962 e 1966 e voltava da Lazio; reservas que só deslanchariam depois, como o ponta-esquerda Óscar Ortiz e o zagueiro Jorge Olguín (campeões mundiais em 1978), mantido no banco por conta da boa fase de Ricardo Rezza e Ramón Heredia (que só sofreram 6 gols em 13 jogos no Nacional, em que Heredia ainda marcou 8, sendo ali o artilheiro do elenco); e até ídolos consagrados, como Carlos Veglio e José Sanfilippo. Veglio deixara 6 gols no Metro antes de lesionar o joelho.

Sanfilippo, maior artilheiro do San Lorenzo (205 gols), fora goleador do campeonato por quatro anos seguidos, entre 1958-61. O outrora Nene, agora com 37 anos, esteve perto da 5ª artilharia seguida. Mas teria sido suspenso pelos dirigentes para que a perdesse e, assim, não lhes reclamasse um prêmio especial, o que provocara sua saída em 1962. Após passar até por Bangu e Bahia, retornou dez anos depois com bom calibre para a idade, especialmente no Metro, onde fez 8 gols em 16 jogos.

Já Roberto Telch e Victorio Cocco, que desde 1970 formavam o meio-campo com Roberto Espósito e Enrique Chazarreta, são dois dos quatro mais vitoriosos jogadores cuervos no profissionalismo, participando das quatro taças entre 1968 e 1974. Os outros dois são Irusta e o uruguaio Sergio Villar, que lesionara o tornozelo em 1971 e acabaria improvisado em outras funções, como líbero ou até ponta: seu lugar original, na lateral-direita, vinha sendo muito bem ocupado por Rubén Glaria.

Na primeira imagem, alguns jogadores do plantel, já com alguns desfalques surgidos no Metropolitano: o volante Héctor Pitarch, Villar, o zagueiro Pedro Villalba, Rezza, Irusta, o técnico Lorenzo, o goleiro Roberto D’Alessandro, Rosl, Heredia, o volante Ricardo García e o lateral Raúl Guerreño; Telch, Espósito, Cocco, Veglio, Ayala, Sanfilippo, Chazarreta, Glaria e o atacante Luciano Figueroa. Nos quadrados, os atacantes Héctor Scotta (que, embora lembrado na música, ainda não se firmara; só explodiria em 1974) e Juan José Irigoyen.

Telch, “cuervo” dos mais campeões, fez o gol do título do Metro; Espósito, apelidado “León” pela raça

No Metro, a equipe sobrou: só 3 derrotas em 34 jogos. A taça veio com quatro rodadas restantes, e em empate: 1-1 contra o Atlanta, gol de Telch para os campeões. D’Alessandro, Rezza, Rosl, Glaria, Telch, Heredia, Chazarreta, Espósito, Ayala, Cocco e Sanfilippo foi a escalação, em 3 de setembro. O vice Racing terminaria 6 pontos atrás, em época em que a vitória valia 2. A campanha chegou a incluir 20 jogos invictos, da 10ª rodada à 31ª (0-3 no clássico contra o Huracán), nesta, com o Ciclón já campeão.

Se o Metro foi disputado em pontos corridos, o Nacional teve grupos, semifinal e final. 26 times foram divididos em duas chaves de 13, com os rivais separados. Haveria um turno único de jogos no interior dos grupos, e uma partida interzonal para cada time, reservadas em geral para os clássicos. O melhor pontuador, considerando ambos os grupos, ia à final, com uma semi prevista entre o 2º e o 3º.

E os azulgranas realizaram nova grande campanha, invicta, com destaque para um 5-0 no Lanús; um 3-0 no Gimnasia LP na casa adversária; um 3-1 no Independiente em Avellaneda; e, na interzonal, a devolução dos 3-0 no clássico contra o Huracán. Ao fim da fase inicial, somaram um ponto a mais que a dupla Boca Juniors e River Plate, que assim realizaram a semifinal. Os millonarios levaram a melhor, credenciando-se para a decisão em jogo único, realizada há 40 anos no neutro estádio do Vélez.

A final prometia história: o River tinha grande chance de acabar com um jejum de títulos que completava 15 anos em 1972. E o CASLA poderia alcançar a inédita glória de ser campeão argentino duas vezes em um único ano. Também seria um duelo de irmãos, ainda que reservas: Héctor Scotta pelo Ciclón e Néstor Scotta, ex-Grêmio, vestindo a banda roja. Só Néstor, autor do primeiro gol do Brasileirão, em 1971 (para os que se opõem à unificação), chegaria a entrar. Héctor estava machucado.

“Lele” Figueroa comemorando o gol do bi e na capa da El Gráfico (o loiro)

Irusta, Rezza, Rosl, Villar, Espósito, Heredia, Figueroa, Telch, Ayala, Cocco e Chazarreta foi a escalação de Toto Lorenzo, que ainda cometeu uma travessura: convocou o lesionado Veglio (destaque do Metropolitano invicto de 1968) só para que este se aquecesse com os colegas, confundindo o adversário, formado com José Pérez, Jorge Domichini, Raúl Giustozzi, Osvaldo Pérez, Jorge Vázquez, René Daulte, Ernesto Mastrángelo, Juan José López, Carlos Morete, Norberto Alonso e Óscar Más, escalados por Juan Urriolabeitía. Morete, com 14 gols, e Más, com 13, eram os goleadores do certame.

Foi um jogo truncado que terminou sem gols no tempo normal, resultado que poderia ser outro se Chazarreta não perdesse pênalti. A vitória veio aos 12 minutos do 1º tempo da prorrogação, com o irregular Figueroa tornando-se o herói cuervo do dia. Seu único gol no ano foi o do bi. A conquista credenciou o técnico Lorenzo a acertar com o campeão espanhol da temporada 1972-73, o Atlético de Madrid. Levaria consigo Ayala e Heredia, que fariam sucesso com os colchoneros. Por muito pouco, não ganharam a Liga dos Campeões de 1973-74, dramaticamente perdida para o Bayern Munique.

Os atleticanos Ayala (que faria sobre o Independiente gol do título da Intercontinental de 1974, disputada pelos madrilenhos após desistência do Bayern) e Heredia, após o vice europeu, iriam à Copa de 1974, juntamente com os ex-colegas Chazarreta, Glaria e Telch. Já Veglio foi levado por Lorenzo quando El Toto foi treinar com sucesso ainda maior o Boca Juniors: entre as conquistas com os auriazuis, também um bi anual, em 1976; as duas primeiras taças xeneizes na Libertadores, no bi 1977-78; e a primeira Intercontinental boquense, em 1977.

Ayala, goleador cuervo do Metro, e Heredia, do Nacional, iriam ao Atlético de Madrid com Lorenzo

Este especial fecha um ano repleto de outros que ajudam a contar um pouco da história do clube do bairro portenho de Boedo, através de outras dadas redondas para ele em 2012. A seguir, os anteriores e, mais abaixo, fotos da campanha com a mencionada música “Bravos Gauchos de Boedo” ao fundo.

Dez anos da Mercosul do San Lorenzo

Isidro Lángara, o goleador basco

Cinco anos do último título do San Lorenzo

Huracán vs. San Lorenzo: as figuras que defenderam ambos os rivais

Há 30 anos, o San Lorenzo vencia a segundona

Dez anos da primeira Sul-Americana, vencida pelo San Lorenzo

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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