História dos Pumas – Parte VI: Auge
Esta série chega ao fim juntamente com o último compromisso argentino no primeiro Quatro Nações – logo mais, às 20:10, contra a Austrália no Gigante de Arroyito, o estádio do Rosario Central, em jogo a ser transmitido ao vivo pelos canais ESPN e ESPN+. Depois de finalmente ter passado da primeira fase em uma Copa do Mundo, na bela campanha de 1999, o caminho até o mundial seguinte foi agridoce para os pumas.
A trilha rumo à própria Austrália, sede de 2003, incluiu verdadeiras surradas, como os 6 a 53 para ela e 0 a 19 para a Inglaterra em 2000 e um 19 a 67 para a Nova Zelândia em 2001 (ainda que todas estas tenham ocorrido fora de casa), e histórias que deixaram por pouco de ocorrer: a África do Sul, até hoje não derrotada pela seleção argentina, venceu por 37 a 33 em 2000 em Buenos Aires e por um ainda mais apertado 26 a 25 em 2003 – esta, em plena Porth Elizabeth. Houve também uma honrosa derrota de 20 a 24 para a Nova Zelândia (o outro país ainda não vencido pelos pumas), em Buenos Aires, em 2001.
Quanto às vitórias, o maior destaque foram as três nos três tests realizados em visita francesa, também em 2001. Por muito tempo uma assombração para a Argentina, os Bleus, que os eliminaram arduamente na Copa de 1999, foram se tornando um adversário menos temível. Outro acontecimento de 2001 foi o último uso do Arquitecto Ricardo Etcheverri, o estádio do Ferro Carril Oeste (em um 38 a 27 na Itália).
Casa mais regular da seleção desde os anos 60, El Templo de Madera foi trocado pelo campo do rival Vélez Sarsfield, o José Amalfitani, El Fortín de Liniers. Cabe destacar também os primeiros argentinos vencedores da Heineken Cup, a Liga dos Campeões da UEFA para o rúgbi: Federico Méndez e Martín Scelzo participaram da campanha do inglês Northampton Saints em 2000.
Para a Copa da Austrália, o emergente Hindú foi a equipe mais numerosa na lista dos técnicos Marcelo Loffreda e Daniel Baetti. Dela, os irmãos Juan e Nicolás Fernández Miranda e Lucas Ostiglia foram reconvocados do mundial de 1999, acompanhados agora por Hernán Senillosa. Fora o Hindú, os clube franceses foram a maioria, a começar pelo Castres Olympique, dos também reaproveitados Ignacio Fernández Lobbe, Mario Ledesma e Mauricio Reggiardo. Outros remanescentes de 1999 que estavam na França eram Gonzalo Longo, Martín Scelzo (os dois, do Narbonne), Ignacio Corleto, Agustín Pichot (ambos do Stade Français), Omar Hasan (Agen), José Orengo (Grenoble) e Gonzalo Quesada (Béziers Hérault).
Também do rúgbi gaulês, vieram os “novatos” Patricio Albacete (Colomiers), Rimas Álvarez Kairelis (Arlequins Perpignanais) e Martín Gaitán (Biarritz Olympique). Os “ingleses” Diego Albanese (Leeds Tykes) e Rodrigo Roncero (Gloucester) e o “irlandês” Felipe Contepomi (Leinster) foram outros chamados do estrangeiro. Destes últimos três, apenas Roncero iria ao primeiro mundial, embora já fosse puma desde 1998, vindo da Deportiva Francesa. RoRo é justamente o mais longevo dos atletas argentinos inscritos neste primeiro Quatro Nações, onde chegou a marcar try sobre a Nova Zelândia – em Wellington. Ainda titular, o veterano pilar deixará a seleção após o jogo de hoje.
Completaram a lista Pablo Bouza (Duendes de Rosario), Manuel Contepomi (Newman), Martín Durand (Champagnat), Roberto Grau (Liceo de Cuyo), Juan Martín Hernández (Deportiva Francesa e sobrinho de Patricio Hernández, ex-Estudiantes de La Plata que estivera na Copa de 1982), Rolando Martín (SIC), Federico Méndez (Mendoza), José Núñez Piossek (Huirapuca de Tucumán), Santiago Phelan (CASI) e o veterano Pedro Sporleder (Curupaytí), em sua quarta Copa. Quem não pôde ir pela quarta vez foi Lisandro Arbizu: uma lesão o impediu de ir e Phelan, o atual técnico, o substituiu como capitão. E quem chegou pela primeira foi a Geórgia, a estreante da Copa.
Assim como em 1999, a Argentina abriu o torneio, jogando diante do anfitrião, os detentores do título na época e adversários de daqui a pouco, os Wallabies. Sem dar muitas chances, os australianos venceram esperada e facilmente, por 24 a 8. Mas, contra as frágeis Namíbia (67 a 14) e Romênia (50 a 3), os argentinos conseguiram se manter vivos na disputa. A vitória sobre os africanos ainda é a mais larga dos pumas em Copas. Houveram simplesmente dez tries (com direito a um para cada irmão Fernández Miranda). Quesada, o goleador de 1999, manteve a pontaria, acertando sete conversões e um penal.
O último jogo, contra a Irlanda, seria um confronto direto pela segunda vaga, em uma reedição do play-off de 1999 que colocara os argentinos, pela primeira vez, nas quartas-de-final. Quesada entrou novamente em ação, tendo acertado quatro chutes a gol – três penais e um drop. Seu rival no jogo de 1999, David Humphreys, apenas dois (um penal e um drop). Todavia, os irlandeses conseguiram levar a melhor. Chegaram a estar atrás do placar, com 10 a 12, mas conseguiram virar para 16 a 12 e, mesmo sufocados no fim, mantiveram um agoniante 16 a 15.
A eliminação foi a última partida de Quesada pela Argentina. Artilheiro do mundial anterior, Queso despediu-se novamente como máximo pontuador da delegação alviceleste, com 33 pontos na Copa de 2003. Já o caminho à Copa seguinte também teve seus paradoxos. Derrotas em casa para Gales (20 a 35 em 2004, 20 a 27 em 2007) e África do Sul (7 a 39 em 2004) contrastavam com bons resultados fora: honrosos 19 a 25 contra a Nova Zelândia e 26 a 27 contra a França em 2006 e vitórias sobre Irlanda (21 a 19 em 2004), Escócia (23 a 19 em 2005) e Itália (23 a 16 em 2006).
Para o bem e para o mal, o ano mais marcante foi 2005, o mesmo que quebrou o jejum de vinte anos do CASI sem títulos da URBA e dez sem nenhum título, desde o nacional de 1995. Foi em um agônico 18 a 17 obtido de virada nos últimos minutos da final, que, para completar, fora diante do arquirrival SIC, tricampeão seguido (e que levara a melhor dois anos antes, quando os dois também decidiram o título mais valorizado).
Já para a seleção, 2005 se encerrou com largos reveses caseiros para Samoa (12 a 28) e África do Sul (22 a 34), resultados que não apagaram uma grande conquista prévia. Foi num 25 a 25 no Millenium Stadium de Cardiff, em Gales, contra os British and Irish Lions, que se preparavam para uma turnê pela Nova Zelândia. A seleção que reúne para amistosos as quatro nações britânicas não era enfrentada desde 1936. Primeira adversária da Argentina (em 1910), sempre a havia vencido – e como visitante. Em casa, os Lions teriam pela frente uma equipe cheia de reservas, em razão do afastamento de alguns titulares após desentendimentos destes com o então presidente da União Argentina de Rúgbi, Alejandro Risler.
Bernardo Stortoni (Bristol-ING), José Núñez Piossek (Castres Olympique-FRA), Lisandro Arbizu (Aviron Bayonnais-FRA), Felipe Contepomi (Leinster-IRL), Francisco Leonelli (La Tablada de Córdoba), Federico Todeschini (Béziers Hérault-FRA), Nicolás Fernández Miranda (Hindú), Juan Manuel Leguizamón (SIC), Martín Schusterman (Plymouth Albion-ING), Federico Genoud (Los Tordos de Mendoza), Mariano Sambucetti (Brives-FRA), Pablo Bouza (Duendes de Rosario), Mauricio Reggiardo, Mario Ledesma (ambos do Castres Olympique-FRA) e Federico Méndez (Mendoza) foram os homens por trás da única não-derrota diante dos leoninos.
Os adversários naquele 23 de maio foram Geordan Murphy, Denis Hickie (irlandeses), Ollie Smith (inglês), Gordon d’Arcy (irlandês), Shane Williams (galês), Jonny Wilkinson (inglês), Gareth Cooper, Michael Owen (galeses), Lewis Moody, Martin Corry, Danny Grewcock (ingleses), Donncha O’Callaghan, John Hayes, Shane Byrne (irlandeses) e Graham Rowntree (inglês).
Os personagens foram Wilkinson e Todeschini, cada um a acertar seis penais e uma conversão para os seus lados. Os tries foram feitos por Smith e Núñez Piossek – recordista nisso pela Argentina. Vale ressaltar que os visitantes teriam vencido se Wilkinson não acertasse um penal no fim e o árbitro Stuart Dickinson não desse oito minutos de acréscimo. Foi uma das últimas aparições de Arbizu pelos Pumas. O capitão se retiraria naquele 2005, tendo o recorde de presenças como jogador (87) e também como capitão argentino (48).
Outro destaque rumo a 2007 ocorreu um ano antes da Copa da França. Foi na primeira vitória argentina sobre a Inglaterra dentro da maior catedral do rúgbi mundial, o estádio londrino de Twickenham. Os primeiros ingleses derrotados em casa foram Iain Balshaw, Paul Sackey, Jamie Noon, Anthony Allen, Ben Cohen, Charlie Hodgson, Shaun Perry, Pat Sanderson, Lewis Moody, Martin Corry, Ben Kay, Danny Grewcock, Julian White, George Chuter e Perry Freshwater. El Ninja Todeschini voltou a se destacar, anotando 22 dos 25 pontos argentinos, com um try, uma conversão e cinco penais – Contepomi acertou outro. A Rosa fez 18 pontos, com tries de Balshaw e Sackey e chutes de Hodgson (uma conversão e um penal) e Toby Flood (penal), que o substituíra.
Juan Martín Hernández (Stade Français-FRA), José Núñez Piossek (Aviron Bayonnais-FRA), Gonzalo Tiesi (London Irish-ING), Miguel Avramovic (Worcester Warriors-ING), Pablo Gómez Cora (Lomas), Felipe Contepomi (Leinster-IRL), Agustín Pichot (Stade Français-FRA), Gonzalo Longo (Clermont Auvergne-FRA), Juan Fernández Lobbe (Sale Sharks-ING), Juan Manuel Leguizamón (London Irish-ING), Patricio Albacete (Stade Toulousain-FRA), Ignacio Fernández Lobbe (Sale Sharks-ING), Omar Hasan (Stade Toulousain-FRA), Mario Ledesma (Clermont Auvergne-FRA) e Marcos Ayerza (Leicester Tigers-ING) foram os quinze sul-americanos que iniciaram aquele test de 11 de novembro. Todeschini só entrou no decorrer do jogo.
Na sexta Copa do Mundo, os “estrangeiros” já eram a maioria da delegação puma, notadamente os da liga francesa. Da sede do evento, Loffreda e Baetti, que seguiram como técnicos, chamaram Mario Ledesma, Gonzalo Longo, Martín Scelzo (do Clermont Auvergne), Martín Durand, Federico Todeschini (Montpellier Hérault), Rimas Álvarez Kairelis, Federico Martín Aramburu (Arlequins Perpignanais), Patricio Albacete, Omar Hasan (Stade Toulousain) e Lucas Ostiglia (Agen). Ainda viria Eusebio Guiñazú, também do Agen, que no decorrer do torneio substituiria um lesionado Ledesma.
Ainda da França, vieram Lucas Borges, Ignacio Corleto, Juan Martín Hernández, Agustín Pichot e Rodrigo Roncero, todos do Stade Français, que acabara de encerrar um jejum de 90 anos sem títulos na elite. Pichot era o capitão do time, tornando-se o primeiro argentino capitão campeão francês de rúgbi.
Outros forasteiros foram os “ingleses” Juan Manuel Leguizamón, Gonzalo Tiesi (os dois, do London Irish), os irmãos Ignacio e Juan Fernández Lobbe (ambos do Sale Sharks), Martín Schusterman (Leeds Carnegie) e Marcos Ayerza (Leicester Tigers); e Santiago González Bonorino (Capitolina-ITA) e Felipe Contepomi (Leinster-IRL). Já Horacio Agulla, Nicolás Fernández Miranda, Hernán Senillosa (todos do Hindú), Albert Vernet Basualdo (Alumni), Esteban Lozada (CASI), Manuel Contepomi (Newman) e Federico Serra Miras (SIC) eram os representantes da casa. Em uma única Copa, o conjunto igualaria as seis vitórias já obtidas pela Argentina no torneio.
A Copa da França, que teve jogos também na galesa Cardiff e na escocesa Edimburgo, foi a primeira a contar com uma nação lusófona: Portugal, o estreante da ocasião. Outro acontecimento foi o do ainda único jogador a participar de um quinto mundial, o samoano Brian Lima, seguidamente adversário dos argentinos nos de 1991, 1995 e 1999. Estes, por sua vez, ficaram outra vez no grupo da sede principal. Corleto, Borges, Manuel Contepomi, Felipe Contepomi, Agulla, Hernández, Pichot, Leguizamón, Juan Fernández Lobbe, Ostiglia, Albacete, Ignacio Fernández Lobbe, Scelzo, Ledesma e Roncero foi a escalação para o jogo de abertura.
Cédric Heymans, Aurélien Rougerie, Yannick Jauzion, Damien Traille, Christophe Dominici, David Skrela (Frédéric Michalak), Pierre Mignoni (Jean-Baptiste Élissalde), Imanol Harinordoquy, Rémy Martin (Julien Bonnaire), Serge Betsen, Jérôme Thion, Fabien Pelous (Sébastien Chabal), Pieter de Villiers, Raphaël Ibañez (Dimitri Szarzewski) e Olivier Milloud formavam o conjunto oponente.
Os franceses haviam sido derrotados nos últimos cinco dos seis jogos que fizeram contra os Pumas, mas ainda assim, como anfitriões, eram favoritíssimos. Os argentinos não os deixaram jogar, porém. A defesa alviceleste soube segurar todo o ímpeto adversário, enquanto Felipe Contepomi colocava os visitantes na frente já aos 4 minutos, em penal.
Skrela, da mesma maneira, igualou aos 7, mas Contepomi colocou a bola por cima do H aos 10 e 24. Três minutos depois, um fulminante contra-ataque resultou em try de Corleto. Skrela ainda acertou mais dois penais, mas o primeiro tempo deixou a plateia do Stade de France, no subúrbio parisiense de Saint-Denis, emudecida: 17 a 9 para a Argentina, com Contepomi tendo acertado outro penal. O máximo que os Bleus conseguiram no restante foi novo penal com Skrela, deixando o jogo no 17 a 12. Mesmo com a façanha, Pichot tratou de alertar os colegas: “esto recién empieza” (isso, o mundial, acaba de começar), no sentido de que o mais difícil logo viria.
A fase de grupos deu razão ao capitão: ainda que os Pumas tenham vencido todos os jogos, só dominaram totalmente a Namíbia (63 a 3). Os 33 a 3 na também frágil Geórgia, no primeiro encontro contra os caucasianos, só vieram com força a partir do segundo tempo. A última parada era contra a Irlanda, pela terceira vez seguida no caminho mundialista. E os irlandeses chegaram a estar duas vezes na frente, mas os penais de El Mellizo Contepomi e os drop goals de El Mago Hernández desequilibraram o placar. Com um 30 a 15 no Parc des Princes, os sul-americanos eliminaram os do Trevo e devolveram-lhes a queda na primeira fase ocorrida quatro anos antes.
Nas quartas-de-final, um oponente novo em Copas, a Escócia. A expectativa na Argentina era bem alta: jamais havia vencido todos os jogos iniciais, muito menos terminado na liderança do grupo. Além do mais, os escoceses já eram uma das duas nações da elite do rúgbi contra quem os Pumas tinham retrospecto favorável (a Itália é a outra).
Em uma verdadeira Pumamania, há praticamente cinco anos (em 7 de outubro) nada menos que um Boca Juniors x River Plate no mesmo dia teve o seu horário antecipado, para que o país todo pudesse acompanhar tanto o Superclásico quanto os Pumas, de volta ao Stade de France e com uma escalação quase idêntica à da estreia: Longo no lugar de Leguizamón foi a única alteração.
Teriam pela frente Rory Lamont, Sean Lamont, Simon Webster, Rob Dewey, Chris Paterson, Dan Parks, Mike Blair, Simon Taylor, Allistair Hogg, Jason White, Jim Hamilton, Nathan Hines, Euan Murray, Ross Ford e Gavin Kerr. Parks assustou no início, acertando um penal aos 16, mas Felipe Contepomi continuou a se demonstrar um grande sucessor de Gonzalo Quesada e Hugo Porta. Dois penais e uma conversão sua (após try de Longo) deixaram a parcial de 13 a 6 ao fim do primeiro tempo.
Paterson, de penal, fizera os outros pontos dos britânicos. Estes vieram com tudo no segundo tempo: um try seguido de acerto na conversão os colocaria à frente. Conseguiram o intento, com Chris Cusiter apoiando a bola na linha de fundo e Paterson convertendo. Todavia para os Cardos, tal jogada ocorreu um tanto tarde, aos 22 minutos, já após Contepomi e Hernández terem ampliado a vantagem argentina com suas respectivas especialidades: penal e drop.
19 a 13 foi o escore final de uma partida cansativa, cheia de substituições: Álvarez Kairelis no lugar de Ignacio Fernández Lobbe, Leguizamón no de Ostiglia, Hasan no de Scelzo, Senillosa no de Manuel Contepomi; e Andrew Henderson no de Dewey, Craig Smith no de Kerr, Scott MacLeod no de Hamilton, Kelly Brown no de Hogg, Cusiter no de Blair, Scott Lawson no de Ford e Hugo Southwell no de Rory Lamont.
A escalação inicial usada contra os escoceses foi mantida para a inédita semifinal, contra a África do Sul. Outra vez em Saint-Denis, os sul-americanos tiveram como oponentes Percy Montgomery, J.P. Pietersen (Ruan Pienaar), Jaque Fourie, François Steyn (Wynand Olivier), Bryan Habana, Butch James (André Pretorius), Fourie du Preez, Danie Rossouw (Bobby Skinstad), Juan Smith, Schalk Burger, Victor Matfield, Bakkies Botha (Johannes Muller), C.J. van der Linde, John Smit (Bismarck du Plessis) e Os du Randt (único remanescente do título mundial sul-africano de 1995, doze anos antes; substituído por Janie du Plessis).
Felipe Contepomi, novamente, foi o mais visível personagem argentino, acertando dois penais e também uma conversão, esta após try de seu irmão gêmeo Manuel. Todavia, a munição puma se esgotou aí. Já aos 6 minutos, os Springboks conseguiram um try, com Du Preez. Os adversários souberam desde aproveitar os numerosos erros argentinos como até quebrar rapidamente as senhas dos arremessos laterais dos alvicelestes, ganhando sucessivamente a disputa neles.
Habana, o maior marcador de tries do torneio, conseguiu dois e Rossouw, outro. E os hermanos, que tanto golearam a Namíbia, seriam bem vazados por um Bok namibiano: Percy Montgomery, o artilheiro da Copa (105 pontos) e da seleção adversária (893). Acertou as quatro conversões e os três penais que chutou. Os já confortáveis 24 a 6 da primeira etapa se transformaram em 37 a 13 na segunda, dando fim ao sonho argentino de fazer ainda mais história.
Restava a consolação do bronze. O mesmo time-base dos dois jogos anteriores, com algumas alterações (Martín Aramburu no lugar de Borges, Durand no de Ostiglia, Álvarez Kairelis no de Ignacio Fernández Lobbe, Hasan no de Scelzo e Vernet Basualdo no de Ledesma), reencontrou os franceses, mais modificados: Clément Poitrenaud, Rougerie, David Marty, Skrela, Dominici, Frédéric Michalak, Jean-Baptiste Élissalde, Harinordoquy, Thierry Dusautoir, Yannick Nyanga, Thion, Lionel Nallet, Nicolas Mas, Ibañez e Jean-Baptiste Poux foram os Bleus que iniciaram a disputa pelo terceiro lugar, no Parc des Princes.
O natural desânimo puma pós-eliminação desapareceu em um passeio sobre os anfitriões, ainda que estes, com Élissalde, tenham aberto o placar (de penal, aos 16 minutos). Felipe Contepomi assinou doze dos outros dezessete pontos do primeiro tempo, todos argentinos: aos 20, de penal; aos 27, marcando um try em seguida convertido por ele mesmo; e, aos 31, convertendo o try logrado por El Turco Hasan.
Qualquer reação gaulesa no segundo tempo foi esfriada cedo, com Martín Aramburu conseguindo novo try sul-americano. Contepomi errou na conversão, mas a fatura mostrou-se praticamente liquidada. Martín Aramburu e Corleto deram mais ares de vexame azul, com tries aos 24 e aos 28, também não-convertidos por El Mellizo. Mas o grande personagem argentino da Copa, mesmo já sem precisar, redimiu-se ao fim da melhor forma: convertendo outro try que alcançara, a quatro minutos do fim, completando 92 pontos no torneio, ficando na artilharia dos argentinos.
A surra na França (34 a 10) ficou simbolizada em um avassalador tackle de Leguizamón no monstruoso Sébastien Chabal, que substituíra Thion. L’Homme des Cavernes ficou estirado no chão em um lance que ficou folclórico, ainda que irregular – o icônico oitavo francês foi agarrado, sem bola, pelo alto: duas infrações que fizeram o argentino receber cartão amarelo (o que, no rúgbi, significa dez minutos de expulsão).
O jogo pelo terceiro lugar foi o último de Pichot pela seleção. O capitão, posteriormente, seria alçado ao hall da fama do International Rugby Board, honra que só coube a outro argentino: a lenda Hugo Porta. É também o argentino com mais aparições pelo Barbarians, a equipe que reúne para amistosos os melhores rugbiers do mundo (seu uniforme é uma inusitada combinação de camisa alvinegra, calção preto e com os jogadores usando meiões de seus clubes originários); foi chamado pela primeira vez em 1996, quando ainda estava no rúgbi nacional, no CASI.
Os feitos pumas, apesar de certa instabilidade pós-Copa – 14 derrotas e 5 vitórias em test –), enfim os colocaram em um torneio anual da nata do rúbgi: após anos pleiteando um lugar no Seis Nações (que reúne Inglaterra, Escócia, Gales, Irlanda, França e Itália) ou no Três (África do Sul, Austrália e Nova Zelândia), em 2009 anunciou-se que em 2012 eles seriam aceitos neste último, convertido no atual Rugby Championship.
Uma nova conquista viria em 2011. Meses antes da sétima Copa do Mundo, o Pampas XV, um selecionado de um plano de alto rendimento da UAR para jogadores-promessas, venceu a Vodacom Cup, o segundo torneio doméstico sul-africano em importância. Nove Pampas conseguiram assim cavar lugar no mundial, estando em negrito na lista escolhida pelo novo técnico, Santiago Phelan, também dominada por clubes franceses.
Maximiliano Bustos, Agustín Creevy, Santiago Fernández, Juan Figallo, Lucas González Amorosino (Montpellier Hérault), Felipe Contepomi, Martín Rodríguez, Rodrigo Roncero (Stade Français), Alejandro Campos, Martín Scelzo (Agen), Patricio Albacete, Nicolás Vergallo (Stade Toulousain), Marcelo Bosch, Manuel Carizza (Biarritz Olympique), Mario Ledesma (Clermont Auvergne), Juan Manuel Leguizamón (Lyon Olympique), Juan Fernández Lobbe (Racing Toulonnais) e Nicolás Sánchez (Bordeaux Bègles) saíram todos do Top 14, o campeonato gaulês.
As demais vagas foram preenchidas com os “ingleses” Horacio Agulla, Marcos Ayerza (Leicester Tigers), Tomás Vallejos Cinalli (Harlequins), Genaro Fessia (London Wasps), Gonzalo Camacho (Exeter Chiefs) e os caseiros Julio Farías Cabello (Tucumán), Leonardo Senatore (Gimnasia y Esgrima de Rosario), Agustín Gosio (Newman) e Juan José Imhoff (Duendes de Rosario), além de Mariano Galarza e Alfredo Lalanne (ambos sem clube). Lucas Borges, do Pucará, seria selecionado no meio da competição, para o lugar do machucado Tiesi.
A preparação incluiu jogos contra combinados especiais: os Barbarians franceses (23 a 19 e 18 a 21 em junho) e uma reeditada seleção da América do Sul (78 a 15 em agosto), usada nos anos 80 para permitir jogos dos argentinos contra os boicotados sul-africanos. Sobre o mundial em si (que teve a Rússia como estreante), comentamos jogo a jogo a trajetória puma, conforme íamos publicando ano passado a série “futebol e rugby”.
As cinco partidas até a eliminação frente à anfitriã – e futura bicampeã – Nova Zelândia nas quartas-de-final, e mesmo os jogos seguintes encontram-se em meio aos especiais que fizeram o Futebol Portenho reservar um pouco de espaço para a bola oval. Podem ser vistos aqui.
Já a lista de Tati Phelan para o primeiro Quatro Nações, em 2012, naturalmente contou com muitos remanescentes da boa Copa de 2011: Albacete, Ayerza, Bosch, Bustos, Camacho, Carizza, Creevy, Farías Cabello, Fernández, Fernández Lobbe, Figallo, González Amorosino, Leguizamón, Rodríguez, Roncero, Sánchez e Vergallo, pertencentes aos mesmos clubes do ano passado, foram alguns destes. Outros foram Agulla, agora no inglês Bath; Vallejos Cinalli, já no galês Scarlets; Senatore, no francês Racing Toulonnais; e Imhoff, pertencente ao também francês Racing Métro.
O Racing Métro (polidesportivo clube parisiense cuja equipe de futebol inspirara o nome do Racing de Avellaneda), por sinal, foi precisamente o clube que mais forneceu os nomes que não estiveram na Nova Zelândia em 2011: Álvaro Galindo, Juan Pablo Orlandi e a estrela Juan Martín Hernández, que havia se lesionado. Também da França, saíram Martín Bustos Moyano (Montpellier Hérault), Rafael Carballo (Bordeaux Bègles), Agustín Figueroa (Brive) e Eusebio Guiñazú (Biarritz Olympique).
Tomás Cubelli (Belgrano Athletic), Martín Landajo (CASI), Tomás Leonardi (SIC) e Manuel Montero (Pucará) foram os escolhidos vindos da própria Argentina. Os três primeiros foram outros Pampas de 2011; Montero foi neste ano. Já Felipe Contepomi, que em junho de 2012, contra a Itália, superou Hugo Porta como maior pontuador da seleção (possuiu agora 628, contra 590 de Porta, maior puma da história), foi surpreendentemente deixado de lado. Ironicamente, El Mellizo enfrentou o próprio país: uma série de amistosos contra o Stade Français, o clube do outrora capitão, foi o último compromisso dos Pumas antes do inaugural Quatro Nações, que hoje se encerra – como o rúgbi aqui no FP.