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Irmãos no Boca Juniors

À esquerda, o zagueiro Nicolás Burdisso em 2003, ano em que venceu a Libertadores pela terceira vez. Ao lado, o recém-chegado Guillermo Burdisso, também zagueiro

Jogos contra seleções nacionais já seriam históricos para o Boca Juniors por si só, mas cotejos assim, por vezes, ainda rendem uma anedota a mais para o clube. Em 1995, por exemplo, foi contra a Coreia do Sul que Maradona reestreou pelo time do coração. Nesta quarta-feira de 15 de agosto, contra Honduras, Guillermo Enio Burdisso adicionou mais uma dupla para os irmãos que já passaram pela instituição – nos quais, relembradas neste especial, se incluem o próprio Dieguito.

Guillermo foi contratado após disputa com o arquirrival River Plate, também interessado no zagueiro titular que ajudou o pequenino Arsenal a levantar o primeiro título argentino dos de Sarandí, no último campeonato, primeiro também da carreira do defensor. A missão será das mais árduas: Nicolás Andrés Burdisso, com quem jogou na Roma na temporada 2010-11, é simplesmente o terceiro mais vezes campeão dentre os jogadores argentinos, estando atrás somente de Alfredo Di Stéfano (21) e Esteban Cambiasso (23).

Nico tem 19, sete deles empilhados entre 1999 e 2004, quando esteve no grande Boca de Carlos Bianchi, currículo que, somado ao desempenho na Internazionale e na própria Roma, o levou às Copas de 2006 e 2010. Chegara à seleção argentina ainda em 2003, ano em que foi campeão pela terceira vez da Libertadores – a segunda como titular, pois até a de 2000 sua vaga era ocupada por Walter Samuel, futuro colega em Milão. Se tivesse permanecido na Inter na temporada 2009-10, quando ela conseguiu uma tríplice coroa e, posteriormente, um mundial, Nicolás já seria o jogador argentino de mais títulos.

Além de serem os mais recentes irmãos no clube da Ribeira, os Burdisso são o mesmo na Albiceleste: ainda atuando pelo Rosario Central, que meses depois seria rebaixado, Guillermo fizera seu primeiro e único jogo em amistoso com jogadores caseiros em 2010. Inclusive marcou um gol, em vitória por 3 a 2 na Costa Rica.

Time de 1906 do recém-nascido Boca Juniors. José Farenga é o primeiro jogador em pé e seu irmão Juan, o primeiro deitado, da esquerda para a direita. Alberto Penney é o terceiro jogador em pé (o mais alto) e seu irmão Arturo, o segundo da fileira do meio. Juan Priano é o terceiro agachado.

Laços fraternos já se faziam presentes nos primórdios do Boca. Literalmente: dois dos cinco fundadores eram os irmãos José María Cayetano Farenga e Juan Antonio Farenga. Ex-integrantes do time Independencia Sud, dissolvido no início de 1905 com a debandada geral dos membros, juntaram-se a Alfredo Scarpatti, Esteban Baglietto e Santiago Pedro Sana na ambição de formarem um clube mais sério, nomeado por Sana como Boca Juniors (ainda se estava na era britânica do futebol argentino): “os filhos do bairro de La Boca”.

A primeira secretaria do time, fundado em 3 de abril daquele ano, encontrava-se justamente na casa dos Farenga, até arranjarem outro local três meses depois. Um outro irmão deles, Teodoro, ficou inclusive na tesouraria, enquanto Juan, como capitão, ficou responsável pelas inscrições e organizar jogos. O primeiro ocorreu no dia 21 de abril, contra o Mariano Moreno. O Boca, que não era auriazul, venceu por 4 a 0 com Juan marcando duas vezes e José, outra. O placar foi fechado por Sana.

Juan jogou até 1908 pelo clube que ajudou a criar, exatamente no ano em que o time competiu pela primeira vez na liga argentina, ainda pela segunda divisão. Curiosamente, nunca mais marcou gols depois daquela partida inaugural e chegou a arbitrar um jogo do time em 1910, pela segunda divisão. Já José, que contra o Mariano fora zagueiro, atuou ainda como goleiro e atacante até 1909.

No ano seguinte à criação, o time principal do Boca Juniors recebeu outra dupla de irmãos, o centromédio Alberto Juan Penney e o atacante Arturo Patricio Penney, que ficariam até 1910 e 1911, respectivamente, estando presentes no primeiro troféu boquense, obtida naquele 1906 em que chegaram: a liga central, que reunia outros pequenos clubes da região, não-afiliados na associação argentina.

Alberto, em 1912, começou a jogar em outro time de La Boca, que desfrutava de sucesso maior, estando desde 1909 na elite: o River Plate. Arturo também ficou menos bem recordado do que poderia, tendo marcado apenas seis vezes em 45 jogos.

Elenco do River Plate que ascendeu à elite, em 1908, após o título na segunda divisão. Francisco Priano, que naquele mesmo ano chegou a defender o Boca (que também se encontrava na segundona ainda) do irmão Juan, é o último em pé. Ambos eram apenas rivais de bairro na época, longe da importância nacional que teriam

Em 1906, o Boca também recebeu o primeiro sócio não-fundador, Juan Bautista Priano. Se o clube ainda não era auriazul, trajando-se com uma camisa branca com finas listras azuis até passar a usar as cores suecas em 1907, já possuía a essência xeneize. O autoapelido deriva da palavra zeneise, que significa “genovês” no dialeto lígure, da região da cidade de Gênova (Zena), de onde haviam vindo expressiva quantidade dos imigrantes que moravam em La Boca. Espanhol, ali, era a segunda língua.

E era no restaurante dos Priano, nada menos que a primeira pizzaria conhecida em Buenos Aires, que os jogadores daqueles tempos costumavam ter refeições pós-jogos. Ao fim de 1911, o Boca foi enfrentar no Uruguai o Universal, clube de Montevidéu com quem se habituara desde a criação a jogar amistosos. O jornal La Mañana assim noticiou, sobre os preparativos: “o famoso lojista do Boca, Priano, teve de preparar 25 quilos de pão doce, 50 litros de vinho moscatel, 36 bandejas de ravióli, vitela meia cozida e um queijo piasentin inteiro, contra os desejos de Banchero, que o queria ralado”.

Juan Priano jogou pelo Boca Juniors até 1913, o ano de estreia da equipe na primeira divisão. Em 1908, um irmão seu, Francisco Priano, jogou uma única vez pelo clube. Francisco nascera na própria Gênova; futuramente, regressaria à ela e lá defenderia o Andrea Doria, clube que daria origem à Sampdoria após fundir-se com o Sampiedarenese. Já na Argentina, ele, ex-membro do Independencia Sud, era jogador justamente do outro clube do bairro, o River Plate – que usa branco e vermelho por serem estas as cores da bandeira genovesa -, para onde logo voltaria, ainda em 1908.

Por sinal, o primeiro Superclásico ocorreu justamente naquele ano, em um amistoso ocorrido em uma rodada de folga para ambos na segunda divisão (a ser conquistada naquele ano pelo River já com Francisco de volta; o dérbi poderia tê-la inclusive decidido, se o Boca não caísse para o Racing na semifinal). Ainda era um duelo de importância restrita a La Boca, longe do alcance que teria por toda a capital federal e, posteriormente, pelo país e afora.

Time juvenil do Boca Juniors em 1908, ano seguinte à adoção das cores da Suécia. Francisco Taggino é o último sentado no chão, da esquerda para a direita. Subiria para a equipe principal em 1910 e em 1913 se tornaria o primeiro boquense na seleção; entrou para a história também do Superclásico.

Outro dos primeiros vira-casacas foi o ponta-esquerda Francisco Taggino, que passou pelo rival após encerrar sua passagem de 1910 a 1916 entre os já auriazuis. Merece duplo destaque: foi o primeiro jogador do Boca a jogar pela Argentina e o primeiro dos doze que, tanto por Boca quanto por River, foram chamados por ela até hoje: depois de dois jogos em 1913 como bostero, realizou três entre 1916 e 1919 vindo dos (ainda não) millonarios. Foi o único que representou ambos os rivais na Albiceleste na era amadora, e em um período em que nenhum dos dois havia sido ainda campeão nacional na elite.

Francisco contabilizou 43 gols em 129 jogos, bons números para um ponta, ao passo que Alfredo Taggino, seu irmão, teve média até melhor. Só que foram três gols nos pouquíssimos sete jogos que teve entre 1915 e 1922. Por outro lado, integrou os elencos que deram os primeiros títulos do Boca na divisão de elite, em 1919 e 1920. Foi contemporâneo de dois irmãos, o meia Sebastián Fabiano e o atacante Leonardo Fabiano, ambos de pouco vestígio. O primeiro jogou apenas seis vezes entre 1921 e 1922 e o segundo, nove, marcando apenas uma vez.

Também nos anos 20, o Boca contou com o ponta-esquerda Mario Evaristo, cujo nome verdadeiro era Marino. Foi contratado junto ao Sportivo Palermo, de alta competitividade na liga argentina em que os bosteros competiam na década. Como ele mesmo assumiu, não era muito habilidoso, mas furava defesas graças à velocidade, característica essa que lhe rendeu o apelido de El Galgo. Chegou à Ribeira em 1926 e faturaria três títulos nacionais, incluindo um bicampeonato em 1930 e 1931, com este inaugurando oficialmente a era profissional.

Ainda em 1930, esteve no time titular da Argentina na primeira Copa do Mundo. Atuou ao lado de seu irmão, o volante Juan Evaristo, que por sua vez ainda pertencia ao Sportivo. Posteriormente, veio jogar também nos xeneizes, participando da reta final do título de 1931 e ficando até o ano seguinte. Após o fim da carreira, os Evaristo, primeira dupla fraterna em uma final de Copa (por sinal, a decisão contra o Uruguai encerrou o ciclo de ambos na seleção), seguiram no Boca Juniors por cerca de 30 anos, em trabalho nas categorias de base.

À esquerda, Mario Evaristo, em foto do Boca campeão de 1930, ano em que esteve na Copa do Mundo ao lado do irmão Juan – por sua vez, em imagem da equipe bicampeã seguida em 1931
Rodolfo Dezorzi

Já nos anos 40, chegou ao clube em 1945 o zagueiro Rodolfo Justo Dezorzi, vindo do Rosario Central. Formou uma boa defesa com os ídolos boquenses José Marante e Claudio Vacca. No caso de Dezorzi, mais na base da força e do temperamento do que propriamente pela técnica. Tanto que foi ironicamente que sua dupla com Marante recebeu o apelido de Las Mellizas Legrand, pois estas eram duas angelicais atrizes argentinas da época.

De qualquer forma, a segurança que transmitia o levou à seleção em 1945, com ele sendo titular na vitoriosa Copa América do ano. Rodolfo ficou no Boca até 1948, faltando-lhe títulos para ter ficado melhor lembrado. Ainda assim, seu relativo sucesso fez com que a diretoria contratasse Alberto Emilio Dezorzi, seu irmão, em 1947. Também vindo do Central, Alberto não emplacou. Jogou apenas cinco vezes, quatro delas em amistosos, e ainda naquele ano, passou para o River (campeão).

A dupla seguinte se compôs no início dos anos 60, e ainda é a única estrangeira. E foi brasileira. Almir Morais Albuquerque despontou no Vasco da Gama ao fim da década anterior, chegando à seleção e sendo contratado a peso de ouro pelo Corinthians em 1960. O “Pernambuquinho” não se deu tão bem no Parque São Jorge, supostamente por sofrer boicote de companheiros enciumados. Em 1961, então, deixou-se seduzir pelo ambiente brasileiro que o Boca Juniors reuniu, embalado com a boa imagem dos vizinhos após a Copa de 1958.

O ex-botafoguense Paulinho Valentim, o maior artilheiro boquense contra o River, estava desde o ano anterior, inspirando o pacote de 1961: Almir, Maurinho (ex-lateral de São Paulo e Fluminense e mundialista em 1954), o também ex-sãopaulino Dino Sani, o ex-colega vascaíno Orlando e o técnico Vicente Feola, este três últimos tendo composto o Brasil campeão mundial na Suécia. O recifense não ficou muito tempo no Boca, jogando apenas vinte partidas, (onze gols), a maior parte em amistosos.

Uma dupla brasileira, os Morais Albuquerque. À esquerda, Almir na galeria do Museu do Boca. Mas o “Pernambuquinho” ficou menos lembrado que o irmão Ayres, ao lado

Almir Pernambuquinho deixou o clube no início de 1962, jogando apenas uma rodada da campanha que renderia novo título argentino. No ano seguinte, seu irmão caçula Ayres Morais Albuquerque debutou entre os profissionais. Viera junto com Almir, mas para as categorias de base. Ainda que normalmente reserva, Ayres não comprometeu no bicampeonato nacional de 1964 e 1965, inclusive marcando 4 vezes em suas 44 aparições, números satisfatórios para um lateral-direito. Depois do bi, seguiu carreira no Colón e, aposentado, trabalhou no Sport Recife, onde ele e Almir surgiram.

Também nos anos 60, surgiu no Boca o ponta-esquerda Víctor Hugo Romero. Emergiu como promessa em 1966, mas a realidade dos profissionais se mostrou uma desilusão e fez seus últimos jogos oficiais já no ano seguinte, embora ainda tenha jogado alguns amistosos em 1969. Seu irmão Alberto Domingo Romero também não triunfou, sendo um meia reserva entre 1971 e 1973. Este chegou a trabalhar nas bases bosteras no início dos anos 90.

Como os Romero, a dupla seguinte também não conseguiu se projetar. O volante Abel Aníbal Alves e o marcador de ponta Hugo César Alves passaram pela Ribeira na metade final da década de 70, normalmente utilizados nos campeonatos nacionais quando os titulares eram poupados para jogar a Libertadores. Os auriazuis foram bicampeões do torneio em 1977 e 1978 sem nenhuma aparição desta dupla. Abel seria técnico interino algumas vezes entre 2005 e 2009, e esteve efetivado pelo Clausura 2010, mas não conseguiu bons resultados.

O Boca de Maradona (Diego é o terceiro na fileira inferior) campeão em 1981: Abel Alves é o quarto na fileira superior e o irmão Hugo Alves, o último nela

Similarmente, houve o caso de Nelson Fabían Iturrieta e de Miguel César Iturrieta. Proveniente de base, o zagueiro central Nelson acumulou 24 jogos entre 1981 e 1982, ganhando o Metropolitano de 1981 como opção de banco. Miguel jogou uma única vez, no Metropolitano de 1983 – uma passagem tão obscura que nem sempre foi levada em conta, a ponto de a aparição ocasionalmente ser creditada ao irmão.

Colega dos Alves, o atacante Carlos Alberto Musladini passou pela mesma situação e seu ciclo se resumiu em campo a quatro jogos do campeonato nacional de 1978, paralelamente à campanha do bi continental. Seu irmão Hugo Daniel Musladini estreou em 1985, mas só foi ter certa continuidade a partir de 1987. Zagueiro, no início chegou a ser comparado a Daniel Passarella. Mas não teve êxito minimamente próximo ao do Kaiser e, entre idas e vindas, deixou o Boca em 1991.

Entre um Musladini e outro, passaram por La Boca outros dois irmãos, a carregarem o sobrenome mais pesado do futebol – ou, quiçá, do esporte – argentino. Este fardo mostrou-se insuportável para Raúl Alfredo Maradona Franco. Quando Diego Armando Maradona Franco esteve no clube de coração da família, era (e continuou a ser) um xodó nacional, mas vestiu a azul y oro por cerca de um ano apenas, ganhando um campeonato em três disputados (o primeiro deles, no Metropolitano de 1981).

Diego Maradona em sua curta, mas vitoriosa, primeira passagem pelo Boca Juniors, onde o irmão Raúl naufragou

Se já seria difícil para Raúl naquela época, ser lançado logo após o irmão virar Deus só ajudou nisso: subir para os profissionais. El Lalo estreou em julho de 1986, semanas após a Copa do Mundo que, popularmente, diz-se que Dieguito ganhara sozinho. Raúl, que era atacante, jogou mais três vezes até agosto (uma delas, um Superclásico perdido pela Libertadores, com o Boca já eliminado) e uma quinta e última no início de 1987, antes de acertar com o espanhol Granada depois de apenas uma vitória, e contra o Deportivo Italiano.

Ao fim, a carreira do caçula ficou menos lembrada até que a de outro irmão, Hugo (El Turco), que surgira no também maradoniano Argentinos Juniors e chegou a jogar na Itália. Diego, por sua vez, experimentou no exterior – mais precisamente, no Napoli – o pico do rendimento, na metade final dos anos 80; mesmo pouco antes da Copa de 1986, vinha sendo um craque irregular, no Barcelona e no próprio Napoli. Já decadente e vindo com duas suspensões por doping (para cocaína, na Itália, e efedrina, na Copa do Mundo de 1994) de um ano e meio cada, voltou em 1995 ao Boca Juniors.

O time esteve perto de faturar o Apertura no retorno do Diez, mas depois ambos desgringolaram. Após campanhas desanimadoras e outros períodos de estaleiro, Diego deixou os gramados em meio ao Apertura de 1997, às turras com a imprensa (a falsa notícia da morte de seu pai lhe foi a gota d’água). O Boca perderia o título por apenas um ponto, mesmo com apenas uma derrota no certame e tendo vencido o campeão, o River Plate, dentro do Monumental.

Guillermo e Gustavo Barros Schelotto. Ou Gustavo e Guillermo… Indistinguíveis na aparência, mas bem desiguais no sucesso pelo Boca: Guille (abaixo) foi uma lenda enquanto o gêmeo, apenas um bom reserva

Aquele Superclásico acabou por ser exatamente a última partida de Maradona, cuja maior contribuição em seu segundo período no time foi recomendar para aquele ano a chegada de três jogadores de La Plata: o atacante Martín Palermo, do Estudiantes, e dois univitelinos do Gimnasia y Esgrima – outro atacante, Guillermo Barros Schelotto, e o volante Gustavo Barros Schelotto, os gêmeos mais famosos do futebol argentino. Maradona acertaria em cheio com a dupla ofensiva. Esbanjando carisma, os até então rivais Palermo e Guillermo se tornariam ídolos da torcida e entre si.

El Mellizo (“o gêmeo”) virou mito nem tanto pela quantidade dos gols que fez (85 em 300 jogos não é cifra das mais expressivas, assim como os dez jogos sem um mísero gol em seu retrospecto pela Argentina), mas sobretudo pelos vários que forneceu a Palermo e, mais ainda, pela raça e amor à camisa que demonstrava em campo. Ter marcado logo na estreia, contra o Newell’s, e nunca ter perdido um jogo contra o River quando marcou também só ajudou.

Outro fator que uniu Guille aos hinchas foram os títulos: foram 16 em seus dez anos de Boca, entre 1997 e 2007, incluindo dois terços das Libertadores reunidas na sala de troféus xeneize: quatro, tendo ido jogar nos Estados Unidos pouco após o fim da primeira fase da vitoriosa edição de 2007. El Melli, único da família a ter jogado pela seleção, chegou a ser o atleta com mais taças pelo clube, até o volante Sebastián Battaglia igualá-lo com o Apertura 2008 e superá-lo ano passado, no Apertura 2011.

Já Gustavo, mal chegado ao Boca, desentendeu-se com o então técnico Héctor Veira, com quem teria ido – ao menos perto – às vias de fato, o que lhe custou um exílio no Unión de Santa Fe em 1998. Quando regressou, o meio-de-campo escolhido por Carlos Bianchi ficou coeso com Juan Román Riquelme, José Basualdo, Mauricio Serna e Diego Cagna, todos já ou a caminho de serem ídolos. Ele ainda jogou 90 vezes em seus dois anos e meio na Ribeira, um número considerável para um reserva. Todavia, embora talentoso, acabou ofuscado pelo brilho muito maior do irmão, com quem era inevitavelmente comparado.

El Tiburón (“o tubarão”) ficou até o final de 2000. Tendo chegado ao Boca com Palermo, com este saiu após a vitoriosa Copa Intercontinental, com ambos negociados com o Villarreal, contra o qual chegara a marcar em amistoso um de seus 12 gols pelo Boca. Não ficou muito tempo na Espanha: ainda em 2001, voltou à Argentina e se deu bem, integrando o elenco titular que quebrou o jejum de 35 anos sem títulos nacionais do Racing. Falamos do volante em especial de quarta-feira passada, a falar justamente das figuras xeneizes a terem passado também pelo clube de Avellaneda.

Os Barros Schelotto atualmente compõem a dupla técnica do Lanús, e já demonstraram bom humor com o sucesso desigual de ambos: em comercial para um refrigerante da Terma (vídeo abaixo), aparecem reunidos com a mãe, Cristina. Na peça publicitária, Guille comenta que, febrio, precisa repousar para ter condições de jogar a próxima partida, pedindo então que o gêmeo o substituísse em um programa, afinal, ninguém deveria perceber a diferença. Quando o mesmo vai ao ar, se nota que Gustavo não perdeu a chance ao responder uma certa pergunta…

Mas os gêmeos não foram a última pareja fraterna no Boca antes dos Burdisso. Jonathan Ramón Maidana, antes de se associar mais ao rival River, onde acaba de vencer a segunda divisão, foi um defensor reserva do Boca campeão pela última vez na Libertadores (em 2007). Matías David Maidana veio do Los Andes como ele, mas foi testado uma única vez, em amistoso contra o Racing no verão de 2008, ainda antes da “traição” do irmão. Voltou ao time da cidade de Lomas de Zamora e chegou a passar pelo Brasil, no Linense. De irmãos produtos do clube onde só um chegou a ser profissionalizado, o caso mais famoso é certamente o do lateral-esquerdo Emiliano Adrián Insúa Zapata, que saiu do time B boquense diretamente ao Liverpool em 2006, sem jamais ter vestido a equipe azul y oro principal. Também lateral-esquerdo, seu caçula Emanuel Mariano Insúa Zapata (nenhum deles tem parentesco com o meia Federico Insúa, a brilhar no mesmo clube entre 2005 e 2006) teve essa honra a partir de 2011.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

7 thoughts on “Irmãos no Boca Juniors

  • Willian Alves de Almeida

    Amei o comercial. Sou muito fã de Gulle, nunca tinha visto!

  • Caio Brandão

    Conheço esse aqui também, ainda quando estavam no Gimnasia. Não chega a ser um comercial “deles” (o Gustavo López aparece mais, por exemplo) e é meio clicherento, mas até que é engraçado, hehe…. http://www.youtube.com/watch?v=YDz-IeygQcE

    Abraço, Willian!

  • Diogo Terra

    Eu já disse pra umas dez pessoas que o nome completo do Maradona é Diego Armando Maradona Franco.

    Agora terei algo para esfregar na cara deles :-D

    Ah, e o desentendimento do mellizo Gustavo com o Veira – justamente na estreia do Serna, num jogo com o Racing pelos Torneos de Verano – foi, segundo fofocas, obra de dois dirigentes da oposição tentando desestabilizar o técnico. Que caiu meses depois.

  • Caio Brandão

    Como assim, Diogo (pergunto sobre essa do Gustavo)? Abraço!

  • Navarro Montoya

    Como sempre mais um grande especial, não sabia que Dom Diego, teve um irmão que foi jogador, e muito menos que jogou no maior, legal também ver estas fotos destes times das antigas e observar os uniformes…..
    Gostaria de saber, porque o Boca também é conhecido como time da RIBEIRA?

  • Caio Brandão

    Valeu, Navarro. Eu conhecia a carreira “só” do Hugo Maradona antes de fazer esse, hehe.

    Quanto à pergunta, é porque o bairro de La Boca fica às margens (ribeira) de um rio, o Riachuelo. Justamente no ponto em que ele deságua no Rio da Prata. Daí o nome do bairro, refere-se à foz (ou boca) do Riachuelo.

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