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Gimnasia y Esgrima de La Plata: 125 anos do decano argentino – parte I

03 de junho de 2012. Comemora-se hoje na Argentina o “cumple” de um dos mais tradicionais clubes de futebol do país, o Gimnasia y Esgrima de La Plata. São 125 anos de história de um clube que até os dias de hoje apresenta particularidades curiosas e por vezes irônicas. Nasceu rico, algo raro no mundo do futebol, e ao contrário de instituições de origem miseráveis, e que sequer tinham pano para forjar o uniforme, jamais chegou à conquista de um título importante. Contudo, se massificou, ao contrário de alguns clubes que nasceram com origem popular. E embora o futebol tivesse a cara da massa, e dos pobres, foi o esporte abraçado pelo clube; ao contrário de instituições com essa origem, que deixaram o esporte bretão em prol de outras práticas mais “sofisticadas”.

As origens – “Mens sana in corpore sano”

Nos idos de 1887, na exuberante La Plata – fundada apenas cinco anos antes, sob criação planejada, para ser a capital da Província de Buenos Aires depois que a cidade homônima tornou-se distrito federal -, os senhores das classes mais abastardas tinham a prática de dedicar o seu pouco tempo ocioso para prática de esportes. Não quaisquer esportes, mas alguns em especial. Dama, xadrez, e outros. Dois, contudo, chamavam ainda mais a atenção.

A ginástica era um deles. Tratava-se de um esporte que dotava o corpo de sanidade necessária para encarar os desafios de construírem uma La Plata com muito trabalho, mas também com muitas ideias, planejamentos e oportunismo, no bom sentido do termo. Daí a procura desse esporte passou a ser algo muito cultivado entre os nobres. Corpo saudável era uma necessidade, pois a virilidade e a boa forma física eram o símbolo da boa saúde. Era necessário, portanto, ter um corpo são. Como não eram estúpidos, entendiam que a mente também.

Ata de fundação do clube de La Plata

Neste sentido, se a ginástica era o top, outro esporte era ainda mais valorizado já que simbolizava aquilo que nem a ginástica, nem o xadrez ou a dama poderiam fazer à perfeição: a união do corpo e da mente em prol de um ser humano efetivamente sadio. Tratava-se da esgrima, prática que cobrava na mesma proporção os esforços do corpo e da mente.

Um grupo especial de senhores entendeu isso mais que todos os outros. Então, resolveram se associar, fundar um clube só para eles. Afinal, na capital federal, já existia uma instituição similar, que retratamos neste outro especial. Daí surgiu o Club Gimansia y Esgrima de La Plata. No calendário da época, constava a data histórica de 03 de junho de 1887. Razão por que o Lobo é o mais antigo clube do futebol argentino.

Uma das ruas, pouco depois da fundação de La Plata. Ao fundo, à esquerda, um prédio. Sede do clube no início. Sede do clube até os dias de hoje

Mas o futebol chegou somente em 1901. Não que antes não fosse praticado, mas na modalidade do que se conhece hoje como futsal. Era praticado dentro do ginásio e durante todo o dia. Várias competições internas e externas ocorriam ali. E pouco a pouco o futebol foi se configurando como o grande esporte do Lobo.

O futebol foi se afirmando por ser já na época um esporte de massa e que envolvia uma coletividade maior que quaisquer outros. Na esgrima, tinha-se uma dupla em disputa, no futebol, um número imenso de pessoas. Disto resultou que a interação e as relações entre a comunidade tripera eram amplamente favorecidas por esse esporte em especial. Contudo, uma regra de caráter convencional rezava que não somente dominó, dama, xadrez, esgrima e tiro continuassem, mas que também essas e outras práticas desportivas seriam incentivadas na instituição da esquina da calle 54 com a calle número 5.

Na imagem abaixo, é possível ver a primeira “cancha” de futebol do Lobo. Momento em que o clube deixou de praticar o esporte bretão nos ginásios e o levou para o ar livre. Momento também em que se instaura o contato com a massa. Eram os primeiros instantes em que isso ocorria. Marco histórico para o Gimnasia, pois é quando os triperos entram e se aprofundam no coração das pessoas simples do povo. Para muitos, o momento, contudo, em que o Lobo finca estacas nesses corações, pois o sofrimento seria, a partir de então, um símbolo eterno do ato de torcer para a instituição basurera.

Percebe-se a aglomeração da pessoas nas bordas. Era o início da massificação

E as massas o acompanhavam por todos os cantos, nas disputas amadoras pelos bairros platenses. A identificação popular se confundia com um espécie de adoração por uma instituição que a despeito de sua origem nobre caminhava rumo ao coração da gente sofrida de La Plata. Só que esse abraço popular ao Lobo não seria recompensado em forma de redenção. Um contrato com o obscuro parecia se estabelecer naquele momento e percorreria a história do clube feito uma das piores sinas do futebol: a repreensão, na garganta, do grito mais importante para um torcedor: o de campão. Mesmo na era amadora, essa sina já marcava a história do honrado Gimnasia y Esgrima de La Plata.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

7 thoughts on “Gimnasia y Esgrima de La Plata: 125 anos do decano argentino – parte I

  • Caio Brandão

    po, deixaste um “quero-mais” ao final do texto, haha. No aguardo pelos próximos fascículos…

  • Cara, não faz isso não, bota logo a segunda parte desse especial. coisa de loco.

  • Leandro Winkelmann

    Dá-le Lobo!

  • Leandro Winkelmann

    Incrível como os escudos do Gimnasia são lindos! Achei o antigo mais bonito, aliás, o FP poderia elaborar uma espécia de “linha do tempo” com todos os escudos da história do clube lado a lado.
    Será que seria possível?

  • Marcio Fonseca

    Que maravilha que vocês dão atenção para um clube maravilhoso como o Lobo. Quando sai os outros capítulos?

  • Gimnasia, Lobo, Tripero, Basurero, MensSana, un sentimiento único. El alma de la ciudad de La Plata. Campeón Primera División 1929 y Copa Centenario AFA 1993, la hinchada más fiel y seguidora, la “22” (“o maluco”), club de futbol profesional más antiguo de toda América. Estadio “Del Bosque” Juan Carnelo Zerillo. “Triperos” pelos trabalhadores de industria da carne, como o meu avo. DALE LOBO! Muito bonito artigo.

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