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Familiares na Seleção Argentina – Parte 5: Irmãos (III)

Argentina antes de jogo contra o Uruguai em 1915. Na partida, estiveram Harry Hayes (segundo em pé) e Juan José Rithner (o quarto sentado, sendo o goleiro)

Depois que os dois especiais anteriores abordaram os pares de irmãos que contivessem ao menos um convocado para uma Copa do Mundo, este passará a destacar as primeiras duplas “não-mundialistas” em que ao menos um componente tenha disputado uma Copa América.

Juan José Rithner foi o goleiro vice-campeão argentino de 1910, quando seu Porteño só ficou atrás do Alumni (as duas equipes dedicam-se atualmente ao rúgbi, e foram abordadas na recente série de especiais do Futebol Portenho por este esporte). É justamente o jogador do Teño com mais jogos pela seleção: dez, seis deles, como capitão.

Era ele o arqueiro do jogo de volta da primeira Copa Roca (1914), que marcou os primeiros confrontos contra o Brasil. Voltou a enfrentar os brasileiros no Sul-Americano de 1916 (a primeira Copa América), sua última partida pela Albiceleste. Suas demais foram todas contra o Uruguai. Embora descrito como seguro e arrojado, sua média de gols sofridos pela seleção beira os dois por partida: foram dezenove – seis deles em um 2 x 6 contra o Uruguai, pior derrota dos argentinos em Buenos Aires até os 0 x 5 contra a Colômbia, nas eliminatórias para a Copa de 1994.

Rithner, que fora dos gramados era engenheiro, chegou a ser árbitro de um jogo da Argentina, um 6 x 1 no Uruguai em 1919, é um dos três casos de ex-jogadores da seleção que apitaram um jogo dela (William Leslie e José Susán são os outros). Seu irmão mais novo, o meia Pedro Rithner, jogou por ela uma única vez, em 1914. Ele também atuou no Porteño (fez o gol do título argentino de 1912), mas foi convocado já como jogador do Baradero, time da cidade de mesmo nome no centro-norte bonaerense e onde os Rithner nasceram. Juan também estava em campo. Pedro, por sua vez, ainda é o único jogador do Baradero na seleção.

Contemporâneo deles, Juan Enrique Hayes, mais conhecido como Harry Hayes, também debutou em 1910. Foi o primeiro grande centroavante do futebol rosarino. Com seu Rosario Central, venceu o campeonato rosarino seis vezes (o Central e o Newell’s Old Boys só foram admitidos no campeonato argentino, então restrito à Grande Buenos Aires e La Plata, em 1939), cinco nos anos 10. Ele ingressara no time adulto dos auriazuis com apenas treze anos, em 1905, no que havia sido um escândalo. Jogou ali por mais de duas décadas e é o maior artilheiro do clube, mesmo considerando apenas os gols documentados (foram 174).

Dono de arremate potente, também era hábil no drible e na assistência, logo mostrando serviço na seleção: marcou nas quatro primeiro partidas, todas naquele ano, totalizando ali cinco gols. El Inglés continuou a ser chamado pela Argentina até 1919, atuando em outras dezesseis partidas, mas marcando apenas três. Comparte com Juan Brown (abordado no primeiro especial desta série) o recorde de dezenove jogos consecutivos contra o Uruguai. As outras duas partidas de Hayes, ultrapassado apenas por Mario Kempes entre os jogadores canallas na seleção, foram contra o Chile – suas duas primeiras pela Albiceleste, com a qual esteve no inaugural Sul-Americano de 1916.

Ennis Hayes

Cinco de seus jogos foram compartidos com o irmão mais novo, Ernesto Hayes, o Ennis, que jogava na lateral esquerda. Embora geralmente prejudicado pelas naturais comparações com Harry, tinha qualidade própria: veloz, habilidoso e provocador, sabia driblar, chegando certa vez a sentar sobre a bola antes de concluir para o gol depois de ter passado para trás vários adversários. Além disso, o segundo maior artilheiro do Rosario Central é justamente ele, com pelo menos 133 tentos registrados.

Pela seleção, Ennis estreou em 1915, atuando nos Sul-Americanos de 1916 (com Harry) e do ano seguinte, e, igualmente como o irmão, realizou seu último jogo em 1919. Marcou quatro vezes em um total de onze partidas pela Argentina, todas elas contra o Uruguai.

Os Blanco foram outros a atuarem no Rosario Central e na seleção na década de 10, e, também como os Hayes, trabalhavam na própria central ferroviária que originou o clube. O ponta-direita Antonio Blanco compensava o físico pouco atlético com precisão nos chutes. Também ficou reconhecido pelo jogo limpo. Realizou sete partidas pela Argentina entre 1916 e 1918, incluindo aí participação no Sul-Americano de 1917, em que chegou a marcar na vitória por 4 x 2 sobre o Brasil (um de seus dois gols pela Albiceleste).

Eduardo Blanco (retrato ao lado), por sua vez, jogava como centromédio. Sua velocidade lhe rendeu como apelido o nome de um cavalo famoso na época, Botafogo. Sua carreira promissora acabou interrompida quando ele tinha apenas 21 anos, por uma lesão no joelho esquerdo. Teve tempo para jogar apenas duas vezes pela Argentina. A segunda e última foi a única ao lado do irmão, em partida contra o Uruguai em 20 de setembro de 1918. Permaneceu ligado ao Rosario Central, onde chegou a ser técnico já na era profissional.

Esta outra dupla, da mesma época, também era rosarina, mas do arquirrival Newell’s Old Boys, tendo convivido em cinco partidas da Argentina, duas delas no Sul-Americano de 1922. Em comum, também desfechos trágicos. Ernesto Celli, como entreala esquerdo ou centromédio, jogou sete vezes pela seleção entre 1919 e 1924. À exceção de um jogo contra o Chile no Sul-Americano, as demais partidas foram diante do Uruguai. A última delas marcou o precoce fim de carreira do irmão mais novo, Adolfo Celli.

Zagueiro de bom físico atlético, El Alemán era ágil e seguro em qualquer posição defensiva. Assim como Ernesto, seu período na seleção também se deu entre 1919 e 1924, mas com quinze partidas, incluindo lugar no Sul-Americano de 1921, que marcou o primeiro título continental dos argentinos. Três desses jogos foram contra o Brasil, com uma vitória e duas derrotas. Sua carreira acabou em partida contra os uruguaios em 2 de outubro de 1924. Foi o mesmo jogo que entrou para a história como o do primeiro gol olímpico, sobre o qual o FP dedicou este outro especial.

Apesar de ser apenas uma partida na série de três amistosos que os rivais vinham disputando desde o dia 21 de setembro, os ânimos se exaltaram, inclusive por parte do público. Nisso, Adolfo acabou sofrendo uma séria fratura na perna direita, o que na época condenava a carreira de um jogador. Já o fim trágico do irmão Ernesto deu-se na própria vida: aos 30 anos, foi saciar a sede após uma partida tomando uma água exageradamente gelada, o que lhe teria provocado algum mal estar no seu organismo, morrendo quase subitamente.

Descontente com a arbitragem, a Argentina deixou as disputas do Sul-Americano de 1922. Enquanto ainda estava no Brasil (a sede), aceitou jogar um amistoso em Ribeirão Preto, contra o Comercial. Adolfo e Ernesto Celli são, respectivamente, o primeiro e o segundo argentinos (de listras mais claras) em pé, da esquerda para a direita. O jogo terminou em 1 x 1, para o orgulho do Leão.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

8 thoughts on “Familiares na Seleção Argentina – Parte 5: Irmãos (III)

  • Prado

    Muito bom, Caio. Detalhado e com informações para os grandes admiradores do futebol argentino.

  • Caio Brandão

    Po, valeu, Prado! Boas festas e bom ano novo!

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